sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Vulnerabilidade na Criança Parte I

Vulnerabilidade na Criança, suas diversas formas. Parte I O termo é claro. Na nossa área, uma fragilidade que diz respeito à discrepância de “tamanhos” entre duas pessoas, deixando uma delas em flagrante desvantagem, e a outra com uma supremacia indiscutível. A vulnerabilidade nos remete, rapidamente, à menor resistência da Criança frente ao adulto ou mesmo à outra Criança que apresente diferença de 5 anos ou mais nas idades. A fragilidade física, tão nítida quando olhamos os idosos. Se, por um lado, o acúmulo dos anos traz a experiência, a paciência, e, muitas vezes, uma visão de mundo mais adequada à realidade, o idoso carece de força física, de resistência física. Esse critério é concreto e objetivo. Portanto, não há dificuldade de compreensão quanto a ele. Mas, existem outros fatores de vulnerabilidade que não têm sido muito considerados. Pela maior facilidade, preferimos continuar pensando em raciocínio concreto, como permanentes crianças em desenvolvimento. Para além do visível concreto, temos a vulnerabilidade da dependência afetiva. Antes de adentrar o campo psicológico da Criança e suas consequências, precisamos pensar que o fator de vulnerabilidade pode ser instalado em qualquer pessoa, adulta, forte, experiente, dentro de certas condições. Ela pode ser provisória, como quando fraturamos um osso, pode ser temporária, quando temos um mal estar, pode ser passageira, durante um assalto, pode ser crescente como na velhice. A vulnerabilidade é um estado subjetivo de insegurança misturada ao medo, uma sensação aguda de exposição acima do suportável. A experiência da vulnerabilidade é, quase sempre, desagradável ao adulto porque traz consigo a evidência da impotência diante de um estímulo, que é tão mal tolerada por muitos. Os idosos relutam um pouco, mas a realidade acaba por se impor ao declínio da vitalidade. Com a Criança, a impotência é bem tolerada, porquanto ela está sempre às voltas com os pedidos de ajuda de adultos diante de suas precariedades físicas e intelectuais. O que importa e sedimenta esses seguidos pedidos de ajuda é sua curiosidade cognitiva. A aquisição do conhecimento, todo conhecimento, é sua maior atração que impulsiona seu crescimento. A Criança é epistemofílica por excelência. E é esta sede de conhecimento que serve de combustível à dependência dos adultos, em especial, dos adultos mãe e pai. A Criança tem noção de que não é capaz de se prover sozinha, de produzir sua alimentação, de gerenciar seu tempo, de garantir seu abrigo, da roupa ao teto. Ela sabe que não tem autonomia, luta para conquistá-la. Mas, exatamente por isso, ela tem uma impulsão para a aprendizagem, toda aprendizagem. Justamente, é o adulto sua maior fonte de informação, de aprendizagem. Todos lembramos daquela fase dos “por ques”. Por que isso, por que aquilo, e quando você responde o primeiro por que, ela emenda com o “mas por que?” sobre a sua resposta, mostrando que ela não respondeu, satisfatoriamente. Se, é o adulto responsável que lhe garante a alimentação, o sono, a higiene, a roupa, o teto, uma rotina, uma família para pertencer, a Criança vai nutrir uma dependência por esse adulto que demonstra seu afeto por ela. Mas, essa é uma questão que tem ida e volta, tem duas faces dinâmicas que se retroalimentam, que precisa ser considerada em seus dois vetores. A Criança precisa dos cuidados de qualidade para que sua sobrevivência seja alcançada. Na ausência desse adulto cuidador, em geral, função exercida pela mãe e complementada pelo pai, ou substitutos desses dois, a Criança tenta, desesperadamente, sobreviver se cuidando como consegue. O resultado deixa muito a desejar. É fácil apreender o processo de dependência instalado na Criança. Mas, o processo de dependência pela Criança que movimenta o adulto, não é tão claro. Até porque o adulto não tem consciência dele, não admite que precisa do que chama de “trabalho” com a Criança. Pode cansar, mas lhe dá uma satisfação profunda. E, quanto mais imaturo ele é, mais dependente da dependência da Criança ele se torna. Como se não lhe rendesse nenhum prazer, nenhum proveito subjetivo, o adulto nega, até para ele mesmo, que necessita dessa sensação de Poder, de ter alguém dependente dele que lhe confere uma importância, que, certamente, ele não se auto-assegura. Quando a sensação de Poder, frente à dependência da Criança muito lhe apraz, o adulto passa a cultivar essa dependência para obter o prazer do Poder de que necessita. Esse apego à sensação de Poder faz com que o adulto dificulte o processo de aquisição de autonomia que a Criança precisa percorrer. Alimentar uma dependência para retardar competências e autonomia na Criança, não é tarefa difícil para um adulto. O que precisamos atentar é que a Criança tem, naturalmente, uma crença enorme no adulto cuidador. Romper esse processo de credibilidade e confiança traz graves consequências e sequelas. Esta Vulnerabilidade é muito séria. Falaremos no próximo artigo.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte IV

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte IV Uma invenção que se arvorou como pretensa psicoterapia, sem nenhuma fundamentação científica, saída diretamente do mundo da magia. Mas, para dar um ar de pseudociência, termos são jogados para confundir o que é puro obscurantismo. Termos psicanalíticos e termos da Física Quântica. As posições que os atores da constelação tomam no espaço são lidos seguindo os significados interpretativos numa perspectiva da Psicanálise. Sabemos, e a Psicanálise trouxe isso mais fortemente, que existem linguagens corporais, gestuais, faciais, mas não podemos aferir esse tipo de “significação” dogmática. Quando se está numa sala grande com pessoas desconhecidas para encenar suas dores com essas pessoas que não conhecem seu sofrimento, sob a direção de um “constelador” que está, segundo a tese, em conexão com seus antepassados mortos há muitos anos, os quais nem foram vistos em vida, num espaço que é designado pelo “constelador” como quântico porque recebe as vibrações morfogenéticas desses mortos. Difícil pensar que esse imbróglio possa convencer alguém que dedicou muitos e muitos anos da vida acadêmica ao estudo, com seus critérios de questionamentos a serem comprovados. Como comprovamos que isso acontece? O curioso é que aceitamos sem nenhuma comprovação que houve um antepassado da família da mãe, sempre da mãe, há muitos anos atrás, décadas, que foi predador, e que ele, por ter sido rejeitado pela família da época, “promoveu” um predador atual para vinga-lo. Mas não se fala de vingança e, sim, de refazer o elo do amor que foi quebrado quando o criminoso não foi acolhido no seio da família da época. E esse elo do amor partido será recomposto pelo pedido de perdão que a vítima deve ao agressor atual. Se isso não for realizado, os infortúnios/crimes continuarão. Entendo como vingança, intimidação, ameaça. Uma reedição das pragas da idade média que buscavam pela ameaça de severa punição catastrófica, o controle social, que justificavam jogar as mulheres na fogueira por serem bruxas. Hoje temos fogueiras sem visibilidade, mas que queimam mulheres que ousam denunciar homens agressores. Uma sessão de constelação familiar, publicitando uma dor de vergonha e humilhação que compõe o crime do abuso sexual intrafamiliar, em momento tão sofrido e devastador, equivale a uma fogueira onde a mãe é queimada. Não precisa de comprovação de que os ancestrais estão ali falando pelas posições assumidas pelos atores, ou pelos cavalos mordicando a orelha de sua proprietária consteladora. Assim como não precisa provar os tais “atos de alienação parental” cometidos pela mãe, apenas uma interpretação rasa de uma perita é o suficiente para afastar uma mãe de seu filho, e violar o Direito do filho de ter sua mãe. No entanto, quando se fala de abuso sexual onde, na maioria dos casos, temos apenas a palavra da Criança e a palavra do abusador, são exigidas provas materiais, que estão sempre fora do escopo do abusador. E, mesmo quando há positividade no Exame de Corpo de Delito para conjunção carnal adversa, termos técnicos da linguagem pericial, é preferido atribuir os doutrinários “atos de alienação parental” à mãe, e fazer a sugestão coercitiva da constelação familiar. Trazida para nosso país por um juiz da Bahia que se encantou com “solução mágica” dogmática da descoberta do “verdadeiro” autor das violências físicas e das violências sexuais dentro da família, essa manobra alcunhada de “técnica psicoterápica”, o que nunca o foi, as constelações familiares contaminaram facilmente outras comarcas. Fonte volumosa de ganho fácil, essa tese conseguiu a autorização para seu uso junto ao Conselho Nacional de Justiça, e seu uso foi estendido ao SUS e às Escolas. O juiz que introduziu essa tese infundada, recentemente, pediu exoneração do seu cargo de magistrado. Imagino que vai se dedicar, inteiramente, à consolidação dessa seita para tratar crimes, desresponsabilizando os autores. Evidentemente, que as pilhas de processos de família diminuem, uma vez que cada sessão de constelação já “soluciona” muitos processos na mesma sala, só trocando de atores, a cada nova constelação proposta. Um mutirão de dores e angústias que são passadas para a “solução definitiva” com a descoberta da história oculta de cada família exposta. E, paralelamente, a pontuação de desempenho atribuída aos operadores de justiça. Hoje, há um PL, Projeto de Lei no Congresso Nacional para que seja regularizada a Profissão de “Constelador”. Sim, a regulamentação de uma “profissão” que não tem nenhum compromisso com a Ciência, mas, que faz intervenções na vida de milhares de pessoas vulneráveis que tiveram seus Direitos Fundamentais violados, está em curso, sob um forte e competente lobby. Teremos, se regularizada for essa “profissão”, leigos julgando e sentenciando crimes cometidos entre quatro paredes, crimes difíceis e indeléveis, crimes quase perfeitos. Desresponsabilizar o autor e culpabilizar e penalizar a pessoa que tentou proteger. Será que os operadores de justiça têm o conhecimento da realidade a que eles estão sendo induzidos? Sabem o que estão cometendo com o Princípio do Melhor Interesse da Criança? Onde encontrar material sobre a violação do Direito à Maternidade, alienação parental, falsas memórias, constelação familiar: - Rádio Escafandro, episódio 66 e episódio 77. - Instituto Summum Iuris: live sobre constelações familiares. - Física e afins: lives da Dra. em Física Quântica, Gabriela Bailas. - Texto sobre Constelação Familiar do Psicanalista Luis Hornstein, facebook: “Constelaciones familiares: la peligrosa pseudoterapia creada por um nazi se cuela em la universidad pública”. Um Natal Feliz para as Crianças que são protegidas. Um Natal menos doloroso para as Crianças que sofrem.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte III

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte III Onde entram os cavalos puro sangue? Devem estar pensando que passei a escrever contos. Não. São fatos que descrevo, com alguma emoção, confesso, porque não me são inócuos. Antes dos cavalos, preciso esclarecer um pouco sobre o script de uma constelação familiar. Existem algumas ditas revelações que são muito frequentes, quase uma unanimidade. Abandono, aborto secreto, relação extraconjugal secreta, desvalorização, vingança inconsciente, perdão. A escolha aleatória das posições no espaço, dito, quântico e suas movimentações, virar para um lado ou virar para o outro, tem a leitura de significado peremptório na história da violência. Explicando melhor. As pessoas que encenam o teatro da dor daquela pessoa que denunciou um abuso ou uma violência doméstica, incluindo agressões físicas graves, fraturas, esses “atores’ escolhidos pelo constelador ou consteladora, se posicionam parados no lugar indicado pelo constelador, podendo ficar de frente, de lado, ou de costas, o que será, imediatamente, interpretado como sendo um significado afetivo de quem ele está representando, mesmo que aquele que foi escolhido para encenar o papel ali, não tenha nem ideia do que se trata. Mas, sem nenhuma fundamentação, o constelador “diz” que a posição assim ou assado que os “atores” do improviso assumem, significa tal ou qual coisa na história de vida da pessoa agredida pelo familiar. A posição de costas, por exemplo, é sempre interpretada como um “dar as costas” para o problema familiar, logo, abandono, rejeição. Como adivinhos, tudo é clarificado pelo constelador, explicando as emoções, principalmente as antigas, que ele garante, foram sentidas pelo ancestral excluído da família por ter praticado uma violência contra um de seus componentes, esposa, filha e filho, em geral. Como a dita formação de Consteladores nada exige na área do conhecimento Científico, do conhecimento Formal, qualquer pessoa, qualquer, pode se tornar um constelador e, com sorte e indicação, pode vir a ser um preferido de alguma Vara de Família. Assim, existe uma variedade de perfis que vão de A a Z nas profissões anteriores praticadas. Importante ressaltar aqui que seria impossível formular um Conselho Profissional, que acompanha cuida e fiscaliza a prática, posto que vindo de várias áreas de conhecimento formal e também de não conhecimento formal, pode, o que tornaria bem difícil. Código de Ética? Como? Quais critérios poderiam ser elencados? Mas, para a Justiça, nada disso importa. O encantamento pela magia de se iludir com uma solução dada por um ancestral morto há muitas décadas, é maior que tudo. Nesse contexto, cada um inova como bem quiser. Assim, uma consteladora, que é proprietária de cavalos puro sangue no Jockey de São Paulo, pratica as sessões de constelação familiar no estábulo, não sei se esse é o nome correto, ao lado das baias de seus cavalos. É um serviço que presta individualmente, ou seja, a pessoa que busca ajuda, ela, e 3 cavalos. As duas pessoas, sentadas, os cavalos no entorno. O jornalista independente, Tomás Chiaverini, foi conferir e relata uma sessão que pagou para ter o “benefício” de tomar conhecimento de segredos de família que iriam ajudá-lo em determinada situação. Ele relata tudo em podcast, Episódio 77 da Rádio Escafandro. A consteladora faz algumas perguntas e muitas afirmações. Orientada pelos cavalos que interpreta como sendo uma comunicação precisa sobre a vida e a história familiar do jornalista. Um dos cavalos mordisca a orelha, o cabelo, da consteladora, o que “significa’ que está lhe dizendo isso ou aquilo, porque ele estaria em conexão com antepassados do jornalista. A cada mordiscada do cavalo, uma “revelação”, porque, segundo a consteladora, os cavalos seriam mais competentes, mais fidedignos nas transmissões, ao se conectar com os mortos. Para dar um toque de “ciência”, a tese usa alguns termos da física quântica. A doutora em Física Quântica, Gabriela Bailas, refuta, inteiramente, essa alusão. Nada tem de física quântica em explicações sem fundamentação dos doutrinados em Constelação Familiar. No site “Física e afins” encontramos material científico sobre esse tema. Na próxima semana, trarei os locais onde encontrar os estudos e posições científicas que criticam essa tese que pega carona na pseudociência. Adolescentes definiriam como “é muita viagem”. Falta lógica, falta realidade, falta bom senso. Falta responsabilidade com a Dignidade Humana. Sobra magia, sobra arbitrariedade, sobra insensibilidade, sobra irresponsabilidade com a dor da vítima de uma violência intrafamiliar. Cabe ressaltar que o fator intrafamiliar agrava sobremaneira o ato violento porque está inserido em meio de afetos. A formação de uma família, em qualquer formato que tenha, é feita por afetos vários. Daí, a dor de ser agredido por um familiar potencializa as consequências da violência. As crenças religiosas têm importância para os seres humanos. No entanto, o empirismo, a extrema subjetividade, o sobrenatural, o esotérico, o obscurantismo, não devem ser o árbitro de sofrimentos físicos e psicológicos que causam sequelas permanentes. Há que se compreender que quem sofre uma violência física, uma violência sexual, precisa de um tempo indeterminado para que haja alguma cicatrização daquele golpe. Sabemos que é muito difícil para os senhores da Justiça viver a impotência diante de uma repugnante violência. Mas culpar a vítima e desresponsabilizar o autor, como faz a tese das constelações familiares, só agrava a questão a níveis inacessíveis. É a injustiça. Cavalos na baia e posições no espaço físico de uma sala, não podem elucidar e tratar angústias, nem o “motivo” de um espancamento ou de um estupro. Repito a pergunta: será que os Operadores de Justiça têm certeza que estão praticando o bom exercício da argumentação para o convencimento do justo julgamento?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Constelaçõees Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte II

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte II Será que os operadores de justiça acreditam mesmo que todas as vezes, e foram muitas, que aquele agressor doméstico ou abusador de filho, cometeu o crime de violência doméstica ou de estupro de vulnerável, ele estava “possuído” pelo espírito do ancestral, o “verdadeiro” criminoso que viveu há décadas atrás? E, em “acreditando”, nesse espírito ou em alguma outra denominação vibratória, têm a certeza de que estão julgando corretamente? Será? Eu não posso acreditar. Muitas pessoas me procuraram estupefatas diante do que escrevi no artigo publicado na semana passada. Infelizmente, é a verdade sobre essa seita aceita e autorizada para ser usada nos espaços judiciais, a decidir a vida de milhares de pessoas que procuraram a Justiça para se proteger ou proteger sua Criança de um agressor. Parece-me que o teatro armado nessas sessões que não respeitam o fato do país ser laico, não respeitam o segredo de justiça, tão severo quando se trata de expor equívocos, erros e injustiças, não respeitam os códigos de Ética Profissional diante do sofrimento de pessoas, não respeitam a função do julgar. O julgamento é o principal nesse momento em que a impotência de um vulnerável é o horror que potencializa as violências sofridas. Como já falei, para ser “constelador” não precisa ter graduação de Psicologia nem Medicina. Na verdade, qualquer graduação sem nenhuma relação com o conhecimento do mundo psicológico das pessoas, serve. E mais, não precisa nem sequer ter graduação universitária. A dita “formação” para se tornar um “constelador”, é feita junto aos gurus que mantêm esses grupos, grande parte por via online, e que se completam em 20 horas. É bem semelhante, aliás, à formação de peritos forenses: em um final de semana, online. E, para os peritos, o certificado e a inclusão na lista nacional de Peritos Forenses registrados na Justiça. Online por um final de semana, o que se aprende? Só dá tempo de instruir sobre alienação parental que é uma acusação que não precisa fundamentar teoricamente. As questões complexas e difíceis, como o abuso sexual intrafamiliar, não são tocadas, sequer. Claro. Esse é o objetivo da lei de alienação parental. Como escreveu Gardner, se um pai é denunciado por abuso incestuoso, ele deve tirar o foco da Criança e colocar a mãe em cena acusando-a de praticar a tal alienação. Ele mostrou esse caminho exitoso nos mais de 400 laudos que fez para inocentando pais abusadores de seus filhos. Mas esses filhos cresceram. E ao completarem 18 anos, voltaram à polícia e à justiça e o acusaram e ao Estado de serem abusadores. Investigado pelo FBI, Gardner tentou um primeiro suicídio com uma overdose de heroína. Foi salvo no hospital. Então, se muniu de um objeto pontiagudo, aquele tipo de arma fabricada condenados em presídios, e se furou diversas vezes, por todo o corpo, inclusive dilacerando os genitais, até que atingiu a carótida, e morreu. Esse é o guru da lei de alienação parental que seguimos por aqui. No lugar de cumprir a lei penal que não aceita a violência e de responsabilizar, devidamente, aquele que infringiu a lei, aquele ancestral trazido pelas vibrações morfogenéticas no campo magnético imaginado ali no meio do teatrinho, a desresponsabilização é coroada, e acredita-se que ela veio para salvar o infrator, visto como vítima. O mito da família feliz nega a gravidade do crime cometido. A mulher deve lhe pedir perdão diante de todos, por ter ousado acusar aquele homem de ter cometido os crimes de violência doméstica ou de violência sexual contra uma Criança. Perdão para o agressor. Para alguns consteladores esse pedido de perdão deve ser feito de joelhos. Sim, diante de seu agressor, por exemplo, ela se ajoelha, em geral aos prantos de desespero e humilhação, deixando bem claro a supremacia masculina e a impunidade autorizada. Ao invés da responsabilização, a culpabilização entra em cena. A mulher é a culpada por ter sido espancada pelo marido. A mãe é a culpada por ter um filho abusado ou filha abusada sexualmente pelo pai. Essa ideia de culpabilizar a mulher por ser espancada pelo marido foi inventada pelo pai das constelações familiares, Bert Hellinger. A ideia de culpabilizar a mulher/mãe pelo abuso do filho ou filha, é do Gardner, foi inventada pelo pai da alienação parental, mas também corroborada por Hellinger. É tão óbvio o que os dois têm em comum. Trocando em miúdos, grande incômodo com a figura feminina. O incômodo faz com que a pessoa busque o ataque àquilo que a está incomodando. Mas não vamos seguir esse caminho. É preciso tentar entender o motivo dessa ânsia por Poder e Dominação, a qualquer custo. Até dispensando a realidade. Hellinger, pelo seu lado, é o inventor dessa tese pseudocientífica das constelações familiares, que tem em seu cerne a crença no retorno e pro-atividade dos mortos, e uma ilusão e mágica “solução de harmonia”. Ele era um padre missionário que foi enviado para catequisar em aldeias zulus na África. Interessou-se muito pelos rituais religiosos dos zulus, que inseriam os ancestrais em suas cerimônias. Voltando para a Europa, se desligou do sacerdócio, casou, e estudou teologia. Não se formou em Psicologia, leu alguns textos. Foi-lhe pedido por Hitler que buscasse algo para recuperar soldados da S.S. que voltavam com muitas dificuldades psicológicas do front. Era grande admirador de Hitler, a quem dedicou um poema especial. Foi assim que Hellinger montou a saída para desculpabilizar e desresponsabilizar os soldados: eram os ancestrais que haviam voltado e cometido os crimes que os soldados apenas executaram. Apenas. Bert Hellinger se dedicou a escrever livros onde afirma aberrações parecidas com as escritas por Gardner. Somar essa tese à tese da alienação parental torna essa última mais robusta ainda, sem medir os estragos que ambas provocam. O critério para medir a eficácia da aplicação da constelação familiar é a baixa procura depois de passar por ela. Ou seja, as pessoas que não voltam à justiça, sem que se saiba o real motivo, servem de argumento para dizer de um efeito. Mas não são computados nem esses motivos, que podem ser desistência e desilusão com a justiça, nem os desastres psicológicos que uma exposição dessa magnitude promove. Temos notícia de alguns suicídios pós- constelação. Pessoas frágeis e fragilizadas por ocorrências delicadas e dolorosas em suas vidas afetivas que são escancaradas sem nenhum pudor entre pessoas desconhecidas, e que dizem passar pelo mesmo sofrimento, são colocadas no iminente risco de surto, de ataque de desorganização mental. A revitimização é publicada, agravando mais ainda a angústia e o desespero do desrespeito à pessoa humana. E, quem está ali dirigindo o ato, o constelador, é um leigo. É brincar com fogo. Sugiro que escutem o Podcast Episódio 77 da Rádio Escafandro, produzido pelo Jornalista independente, Tomás Chiaverini. Conhecemos nesse podcast a consteladora que utiliza seus cavalos de raça que “falam” com ela, trazendo as informações dos antepassados mortos. Não é brincadeira, é sério. Falaremos sobre os cavalos na próxima semana.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte I

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte I Necessário se faz trazer a grande dissimulação que é praticada a partir do momento que uma mãe que denunciou abuso sexual ou violência intrafamiliar foi alcunhada com o título perene de “alienadora”, título apoiado na falácia da implantação de chip de falsas memórias. Dirigidas como se fossem encenar uma grande peça de teatro, as mães que levaram a denúncia feita pelo seu filho, ou filha, para os órgãos encarregados da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, passam a ser corrigidas e mandadas desde a maneira de vestir, de falar, de não chorar, à casa, ao trabalho, à sua vida social, tudo. Nada escapa às orientações coercitivas dos seus advogados. Aliás, os noveleiros têm assistido a essa invasão sem limites na maneira de vida de uma mãe de uma novela atual. Com maestria, a autora tem sido muito fiel à realidade. Toda a espontaneidade do afeto e da realidade da mãe é jogada fora, sempre sob a ameaça de que irá perder a guarda do filho ou filha. Assim essa mãe, movida a medo e aterrorizada, cede e vai se montando numa outra pessoa. Não importa ser ou não verdade o emprego de carteira assinada que “arruma”, nem o estilo novo de suas roupas que têm que ser sóbrias e discretas, sob a ameaça de se tornar uma “prova” de ser uma “mãe narcisista”, mais um neologismo, vindo de uma pequena distorção conceitual, para a desqualificação de sua maternagem. O que importa é parecer ser para agradar o acervo de preconceitos dos Operadores de Justiça. No entanto, a condenação como “alienadora”, apesar de não constar no Código Penal, é severa e precede o processo. Como afirma o Juiz Romano Enzweiler, a desproporcionalidade entre a alegada alienação parental e a punição é incompatível. Injustificável. Já vi inúmeras mães que perdem a guarda da criança em 2 meses, 3 meses, 6 meses, e o processo transcorre há 8, 10 anos. Já vi inúmeras, e inúmeras, que ao cabo de todo esse esforço para “parecer” como ditam os advogados, perdem a guarda. Ser considerada “alienadora” é pior do que ser condenada como homicida. De verdade. Perde o convívio com o filho ou filha que contou o que o papai fazia, enquanto que as mães apenadas por terem cometido algum crime, preservam o Direito à convivência com os filhos Crianças. Os “estudos psicossociais”, realizados por profissionais da “confiança” do magistrado, e só as de confiança, não apresentam nem fundamentação teórica científica, nem fundamentação na sequência de fatos do próprio caso. Não raro, encontramos redações muito semelhantes, sugerindo um “copiar/colar”, onde se encontram alterações de datas, com inversão de sequência temporal, dando outra impressão, que penaliza a mãe, para o magistrado que lerá. Até mesmo novos filhos que não existem para aquela mãe, com nome e idades que foram escritos, provavelmente, no último laudo confeccionado. Mas isso é visto como pequeno “erro de digitação”, e desconsiderado. As instruções do “faz de conta” são draconianas. Sempre com o aceno da perda da guarda, mães ouvem, frequentemente, aquele “você quer ficar sem ver seu filho para sempre?” ou bradado por aquelas que presidem as audiências, em sua maioria mulheres, um “se não parar de chorar agora, eu tiro seu filho de você, ninguém pode chorar porque eu é que sofri mais, eu perdi meu filho, ele morreu, então, para de chorar”! Mas se a mãe estiver muito controlada, é interpretada como fria, portanto a denúncia de abuso sexual ou violência física é mentirosa. Há sempre um Silogismo de plantão que desemboca, depois da Premissa Maior e da Premissa Menor, no: “logo, é alienação parental”. Eis que seguindo como um carneirinho todas as instruções, sufocando emoções que dilaceram por dentro, as mães são “aconselhadas” a fazer uma constelação familiar. Evidente que se trata de um conselho coercitivo, vindo do juiz ou juíza, amarrada e amordaçada pelas instruções para não perder a guarda e ser afastada do filho, ou filha, a mãe se inscreve e paga uma sessão desse procedimento, já judicializado. Tão encantados com a magia das interpretações constelares, magistrados se fizeram “consteladores”, o que torna ainda mais impossível se negar a seguir o “conselho”. Qualquer pessoa pode ser constelador, não é necessário ter nem mesmo um curso universitário, qualquer que seja. Isso se coaduna com o objetivo do procedimento. Reunidos, várias famílias em processos de família, todos juntos, sem nenhum respeito ao Direito e Dever do sigilo de cada caso, arma-se um teatro de catarses, que deveriam ser impedidas. Afinal, serão revelados para todos ali numa grande sala, os constrangimentos maiores e criminosos, que ocorrem dentro de 4 paredes, ou algumas mais, atos praticados intrafamiliarmente. O caráter vexatório é desconsiderado, porque será descoberto o verdadeiro autor das práticas, legalmente, rejeitadas: um antepassado da linhagem da mãe. Esse tataravô, ou tio tetravô, entra em contato com o constelador através de vibrações morfogenéticas num campo magnético que se abre ali. Sim, parece um pouco estranho. Mas a magia sempre atraiu o ser humano que não consegue lidar bem com a sua impotência diante de uma grande dúvida, ou diante de uma grande dor. É preciso crer que conseguimos nos comunicar com os mortos, que eles falam e reclamam porque foram excluídos da família quando cometeram alguma atrocidade durante suas vidas. O morto que vem em vibrações morfogenéticas é que era um estuprador, ou predador, e há algumas dezenas de anos ou até séculos, teve a “ordem do amor” quebrada quando não foi perdoado e acolhido com todo o amor dentro da família, inclusive pela sua vítima. Nesse teatro improvisado, publicando um crime como sendo uma injustiça sofrida pelo autor de um crime contra Mulheres e Crianças, esse “acolhimento” é indispensável. Assim, o pobre autor de espancamentos ou de abusos sexuais em seus filhos, tem que receber o perdão de sua vítima. E, fica, então, tudo resolvido. Logo, é alienação parental da mãe. É a consagração absoluta da desresponsabilização. Constelações Familiares, técnica pseudocientífica, que se localiza no rol das seitas, são autorizadas pelo Conselho Nacional de Justiça, pretendendo a resolução dos Processos de Família. Além da Justiça, o uso dessa seita está autorizado também no SUS e nas Escolas Públicas.

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Falsas memórias, uma falácia nos laudos psicológicos de Crianças Parte VI

Falsas memórias, uma falácia nos laudos psicológicos de Crianças Parte VI É muito fácil construir, propositalmente, “pegadinhas”, armadilhas verbais, meticulosamente, preparadas para afirmar nos laudos que a Criança entrou em contradição porque era uma falsa memória dentro do intuito de alienação parental da mãe. Vista, preconceituosamente, como rancorosa, vingativa, interesseira, e louca, observa-se que as avaliações são simples “confirmações” dessa adjetivação pejorativa alcunhada à mãe. As armadilhas verbais são usadas por policiais e pelo judiciário para obter a alegação da contradição. É fácil de levar um adulto à contradição ou a perder o equilíbrio pela tática da acusação de contradição em cortes compulsivos durante seu relato. Muito fácil desestabilizar com uma saraivada de “mas você disse que” e antes que ele explique, já lhe interromper como uma “prova” forjada de contradição. Com a Criança é menos fácil porque ela não abre mão de seu relato, mas é possível distorcer no laudo o que disse, afirmando que ela decorou um texto, o que, como já dissemos, contraria a Natureza, porquanto ela só memoriza o que ela experimentou. Se a avaliação usada, desobedecendo a lei, for o “estudo psicossocial”, incluindo a devastadora acareação com o suspeito, o texto é interpretativo. Totalmente. Se for usada a Escuta Especial, a gravação em áudio e vídeo da fala da Criança é desqualificada pela alegação da tal “implantação de falsas memórias”. Essa tese tomou espaço, exatamente, quando se começou a usar a Escuta Especial. A intenção é sempre a de invalidar a voz da Criança. Partindo dessa tese de “achismo” sem fundamentação teórico-técnica, os laudos passam a ser um rol de desqualificações da voz da Criança e da Mãe. Não precisa estudar muito para compreender que uma Mãe que descobre uma situação de abuso físico ou sexual perpetrado pelo genitor da Criança, vai, claro, querer evitar as ocasiões em que esse agressor tem possibilidade de repetir o ato traumático. Só basta ter capacidade empática para sintonizar com a Criança, se aproximar da dimensão avassaladora do sofrimento que lhe foi imposto. Não se sabe quem espalhou uma falácia nociva que determina que uma Criança não se desenvolve se não houver convivência com o pai. Qualquer que seja ele. Qualquer que seja seu comportamento para com a Criança. Não sei como essa conta fecharia se vivemos num país que tem uma Cultura de abandono paterno tão intenso que somam milhões as Crianças que não conhecem seu pai, porque ele foi embora. Mães solo garantem a sobrevivência dos pequenos. Mas quanto a esses a justiça não vai atrás, não se importa com os filhos abandonados. Os pais das Crianças acometidas por microcefalia pelo Zika Vírus sumiram. 69% desapareceram deixando para trás uma mãe com uma Criança, totalmente, dependente para sempre. Os filhos de Mães Solo se desenvolvem, sim. Qualquer que seja o motivo, nem sempre a ausência do pai estraga o desenvolvimento da Criança. Mas a presença abusiva destrói. É preciso entender que um pai que viola o corpo de um filho, ou filha, rasgou sua possibilidade de exercer a função de pai. Essa violação quebra a formação do Código de Ética e do Código Moral da Criança. E deforma. Os filhos de pais mortos, são muitos pela situação que vivemos de guerra urbana, podem ter preservada a imagem afetiva do pai, e tomando, por exemplo, uma guerra, os filhos podem ter a presença saudável do pai trazida pela mãe. Causa saudade, causa falta, mas não deforma. No entanto, parece que os estudos para uma parte do corpo técnico no que tange a área da Psicologia não leram as definições e os textos sobre vínculo afetivo. Há uma distorção no que se refere ao vínculo. Não é a frequência, não é a convivência ordinária, que constrói ou mantem um vínculo. Ele está embebido e vetorizado pelo afeto. Não se sabe também quem espalhou que a visitação assistida ao agressor, ou a visitação por vídeo, não faz mal à Criança. Essas formas de exposição ao agressor são, absolutamente, nefastas. O fato de ter alguém acompanhando não garante a integridade da Criança. Sabemos de inúmeros casos de pais que se trancam no banheiro com a Criança, que se afastam, que colocam alguém para impedir a proximidade do acompanhante. O vídeo é também uma forma de repetir gestos, palavras, recordações dos episódios de abuso. São revitimizações. São formas de violência institucional contra a Criança. Precisamos entender que a mente da Criança que sofreu violência intrafamiliar ou incestuosa precisa descansar, se regenerar. Depois, ela algo recuperada pode por decisão própria procurar esse pai. Mas, em outra condição de não mais total vulnerabilidade. Sabemos que a Ciência do Conhecimento da Psicologia não é exata. No entanto, as Ciências Humanas têm Método, têm objetividade na subjetividade. Sobretudo, ter bom senso, ter coerência, seguir a realidade. Mas o que se constata é que as “interpretações” se sobrepõem aos fatos, a imparcialidade sumiu abrindo espaço para os preconceitos e os estigmas seculares, e o estudo é cada vez mais escasso entre esse corpo técnico que sentencia sem a menor cerimônia. Pune-se a Criança que perde a Mãe. Pune-se a Mãe que é impedida de seu Direito à Maternidade. E pior, quem deveria julgar considerando o Princípio do Melhor Interesse da Criança e seguindo os Artigos do ECA, obedece à sentença dada por um profissional da Psicologia.

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos psicológicos de Criança Parte V

Falsas memórias, uma falácia nos laudos psicológicos de Crianças Parte V A Criança nunca foi tão ultrajada como está sendo agora. Desacreditada, tomada por mentirosa, vista como marionete nas mãos da mãe, tudo isso para manter a perspectiva negacionista pela adesão dogmática dessa ideia de alienação parental. As Crianças fazem um incrível malabarismo circense para “decorar” o que não experimentaram, proeza impossível se considerado o desenvolvimento cognitivo em suas fases infantis. Mas, para que serve estudar as fases cognitivas se tudo é alienação parental de todas, todas as mães que “não se conformaram com o fim do relacionamento”? Aliás, essa é a explicação dada pela polícia em mais de 90% dos casos de Feminicídio, em alta de 60% em relação ao ano passado. Os ex maridos, ex namorados, ex companheiros, matam, simplesmente matam, e, na frente dos filhos. Não temos números de mulheres que matam porque não se conformaram com o fim da relação. Seria porque nem para estatísticas, mulheres, e seus filhos, não importam? Não há nenhuma preocupação com a falta de lógica e de realidade de afirmar falsas memórias como se Crianças fossem tábulas rasas, totalmente, programadas por mães maliciosas. Aliás, esse era o primeiro título que Gardner quis batizar essa desqualificação da voz da mulher para proteger o genitor abusador. A Síndrome de Alienação Parental foi antes “Síndrome da Mãe Maliciosa”. Mas ficava muito óbvio seu objetivo, então, ele mudou para algo que remonta aos asilos de loucos, depósitos de doentes mentais, onde ficavam as pessoas chamadas na época de alienadas. Na língua jurídica, usa-se o termo alienado para objetos, bens materiais, imóveis, carros, hoje as Crianças foram incluídas, como se objetos fossem. Trouxemos várias situações em que a realidade que a Criança comunica é desqualificada e interpretada com um enorme escape da realidade. O “segredo de Justiça” fornece o edredon para que ninguém possa ter acesso à barbárie que é cometida contra as Crianças em afirmações infundadas. Assim, se a Escuta Especial entra no Processo, onde já há uma manobra que desloca a equipe de psicólogas da Vara de Família, que segue o Mito da Família Feliz, com perdão e acolhimento total do abusador, para a Vara Criminal. Ou seja, a mesma equipe da dogmática alienação parental e negação do abuso sexual intrafamiliar, é quem faz também o laudo para o Processo Criminal. No último artigo, trouxemos o caso do menino molestado pelo pai, que foi condenado a mais de 10 anos de prisão pela Vara Criminal, mas a Vara da Família o absolveu. Foi dito que eram falsas memórias do menino. E no tempo em que não tinha ainda essa Resolução do repeteco da mesma equipe técnica. Ficou ainda mais fácil cercar e esvaziar qualquer denúncia de abuso sexual de uma maneira “legalizada”. Sabemos que esta é uma conduta dos humanos. Ao longo da História, todas as vezes que um grupo queria praticar livremente uma perversão, esse grupo montava uma lei. Assim, a Exploração das Riquezas no tempo das Colonizações, era legalizada. O Comércio Internacional de Escravos, era legalizado. O Apartheid tinha uma lei que o amparava. O Holocausto estava também amparado numa lei que acabou por garantir a tortura e o assassinato de 6 milhões de judeus, ciganos, homossexuais, negros, em câmaras de gás, uma das modalidades desse flagelo da humanidade. Quando sustentamos uma tese sem validade científica, estamos calando e deformando o caráter da Criança em questão. Na semana passada nos deparamos com um vídeo de uma Criança, ainda na 1ª Infância, submetida a uma psicóloga que permite a entrada do genitor na salinha, e a Criança desespera em choro convulsivo. É chocante, para usar um adjetivo educado para a postura da psicóloga. Ela não demonstra um só pingo de empatia para com a dor da menina. Segue em verdadeira sessão de tortura, insistindo de maneira fria, controlada, e controladora que a menina aceite a presença próxima do genitor, dito pela menina que praticava atos libidinosos, até que depois de algum tempo, quase chegando à exaustão ela pega a Criança no colo e sai com ela, provocando o aparecimento de várias pessoas no corredor do Fórum. Ninguém interveio. Ao sair, ela fala para o genitor segui-la, e lá fora, longe dos olhares testemunhas, já em difícil percepção, ela entrega a menina aos gritos para esse genitor. Se o Princípio do Melhor Interesse da Criança tivesse sido lembrado, talvez essa profissional. Com o aval da Justiça, pudesse respeitar a angústia explícita da Criança. Não estou afirmando se houve ou não houve o que a Criança fala. Estou apontando a dureza fria de uma lei que não tem comprovação científica, que recai sempre no interpretódromo. O que ela relata não existiu, são falsas memórias. Sua mãe não é protetora e cumpridora dos Artigos do ECA, que exigem inclusive a denúncia ao Conselho Tutelar em caso de suspeita ou confirmado, aprendeu na sua restrita vida um código simples, pode e não pode, mas o não pode passa a poder sem que ela possa entender. Isso tudo é enlouquecedor. Como será que essa Criança vai lidar com a lei, com a justiça, com os operadores de justiça? Aos gritos, em pânico, não foi escutada. Um adulto, ou, uns adultos a subjugaram pela supremacia da força física. Foi serrada sua súplica. É a invisível motosserra que ceifa o desenvolvimento da Criança. É um holocausto de Mulheres e Crianças cuja invisibilidade permite sua existência a céu aberto. Você sabe se tem alguma Criança próxima a você que está nesse Holocausto Legalizado?

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Falsas memórias, uma falácia nos laudos psicológicos das Crianças Parte IV

Falsas memórias, uma falácia nos laudos psicológicos das Crianças Parte IV Já vimos que essa tese, a “implantação de falsas memórias” não tem fundamento científico, portanto, não tem confiabilidade. O curioso é como algo tão insustentável é aceito no setor judicial que se ocupa da família e seus problemas. A impressão que temos é que, diante da dificuldade tanto objetiva quanto subjetiva dos crimes de abusos contra a Criança, essa tese que compõe o combo da desqualificação e punição das vítimas, chegou para “aliviar” esse mal estar enorme do impacto e do consequente enfrentamento do abuso sexual intrafamiliar. Para tal aceitação irrestrita, a justiça reduziu os crimes sexuais contra Crianças e Adolescentes ao bojo do simples ou ruidoso conflito familiar. Apoiada no inconformismo da mulher quanto à separação, nada do mundo real é considerado. No mundo real a mulher havia pedido a separação, a mulher manteve bom relacionamento e visitação livre pelo genitor, a mulher se chocou com os relatos da Criança no pós- separação ou mesmo durante a vigência do casamento. É evidente que a Criança só se encoraja a falar depois que constata que o seu agressor não dorme mais na mesma casa, não vive mais dentro da mesma casa. A Criança pode não ter seu desenvolvimento cognitivo completo para fazer abstrações, nem ainda iniciado, seu raciocínio é concreto, mas a Criança tem um sistema de preservação de sua vida psíquica em funcionamento. Ou seja, a Criança só revela práticas incestuosas quando se sente segura para tal, à exceção dos menores, os que pertencem à faixa da 1ª Infância. Até os 6 anos, a Criança não tem um esboço de código moral bem formado, é rudimentar, então, sendo autorizada por um adulto que ela ama e obedece, e confia, ela não vê nenhum mal no que ele pratica em seu corpo. Assim, ela, facilmente, fala sobre os abusos sem ter em conta a dimensão do errado que é. Não podemos desconsiderar que o abusador de Crianças não provoca dor ou machucados. Ao contrário disso, busca as sensações prazerosas para a Criança que mistura com ameaças de matar a mãe para obter o silêncio da pequena vítima. A vulnerabilidade da Criança, em sua essência, assegura para o agressor que ela acredite que aquilo está certo, e ainda leva a Criança um pouco mais velha a pensar que o que aconteceu ontem foi a última vez, e a se relacionar “normal” com seu algoz. A tese infundada, mas aceita pela justiça, da implantação de falsas memórias, tem recebido outros nomes correlatos. Buscando despistar, tática usada também para acusar de Alienação Parental, ou falar que “feitos” e “descobertas” entre os mortos da família da mãe como os verdadeiros culpados na constelação familiar. Essa é uma estratégia para escapar da identificação de falácias num primeiro momento. O mais importante é o teor da estratégia de descrédito da voz da Criança, e, num jogo de 2 em 1, a determinação da mãe como louca e vingativa, a um milímetro de ser vista como nociva, perniciosa, perigosa, passando a ser tratada pela justiça como criminosa de alta periculosidade, enquanto exercia a maternidade. A força desse dogma psico-jurídico sem comprovação, mas dogmático, é capaz de demolir até mesmo laudos do IML, Instituto Médico Legal, que aponte materialidade. Profissionais da Psicologia se arvoram a afirmar que a Criança foi “programada” pela mãe para relatar os abusos. Não importa a constatação de lesões, por exemplo, fissuras anais com a coerente descrição da Criança sobre a penetração anal digital. Vale até a apelação de dizer que a fissura, o edema e a equimose, foram provocados por papel higiênico na limpeza da Criança. A interpretação ganha espaço e uma confiabilidade inabalável em contraposição à constatação feita por médico legista de lesões visíveis. Se há um papel higiênico tipo lixa de parede sendo usado para fazer a higiene da Criança, isso não importa, não precisa provar nada. É só dizer que a mãe é a autora da falsa memória do abuso. Às vezes isso inclui a avó também. A contestação a laudos de outros profissionais que tenham avaliado a Criança, ou aqueles que a acompanham em psicoterapia, não necessita de comprovação. É só citar a tese das falsas memórias, afirmando que a mãe “ensinou” o relato para a Criança. Não precisa comprovar essa afirmação. É uma suposição imaginária que se torna uma verdade absoluta. Pergunto: a perita convivia por anos com aquela Criança e sua Mãe para “saber” o que a mãe implantava? Como essa psicóloga sabia disso? No entanto, ninguém explica como uma implantação de falsa memória por um discurso falado, se expressa em desenhos, ou em brincadeiras de faz de conta com bonecas e bonecos. Será que o Poder da mãe implantadora porque é alienadora, chega a alcançar a produção espontânea de imagens, de diálogos repetidos, deslocando conteúdos sexuais que não fazem parte do acervo de conhecimento da Criança nessa faixa etária? Uma coisa seria fazer decorar um textinho. Coisa que é facilmente identificável para quem tem competência em examinar Crianças. Outra coisa é demonstrar e relatar os abusos através de outros canais de expressão. Geralmente, esses desenhos são jogados na lixeirinha para não atrapalhar o dogma. Questionar, contestar, recorrer? De nada adianta. Entre nós o Conselho que deveria regulamentar o exercício profissional, arquiva qualquer tentativa de processo com o apelido, “pessoa de notório saber”, dado a quem dissemina essa desinformação que expõe Crianças ao abuso, com ares de sapiência. Pelo bom senso básico uma conjectura não pode demolir a voz, as evidências, a materialidade quando esta existe. Mas vai tudo ao chão quando se fala de falsas memórias, de alienação parental, de um antepassado morto há décadas que é o culpado pelo abuso sexual de um genitor efetuado hoje. Parece impossível, mas é o que vem acontecendo sob os auspícios da justiça que acata e propaga pseudo ciência, ancorada em seitas ou em preconceitos. Em 2010, um menino, com menos de 6 anos, revelou os abusos sexuais cometidos em seu corpo perpetrados pelo seu genitor. Exame de Corpo de Delito comprovando, laudos de profissionais da Psicologia, servidoras públicas comprovando o relato do menino, laudos de psicólogas particulares que corroboravam a descrição dos atos libidinosos, a Criança desenhou, encenou, sofrendo, medo, pavor. O genitor foi condenado pela Vara Criminal à pena de mais de 10 anos. Contratou uma Psicóloga particular que falou, apenas falou, que a mãe havia programado o filho para falar abusos sofridos, contatados pelo IML e por diversos profissionais e que foram desconsiderados por essa única profissional. O Genitor foi absolvido, pela Vara de Família. O menino cresceu sob o medo e o terror. Essa condenação à Criança e à Mãe que denuncia abuso sexual intrafamiliar segue impávida! Continuamos punindo a vítima.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Criança Parte III

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Criança. Parte III Há um aspecto de nefasta importância quando se acusa uma Criança de estar repetindo uma "implantação de falsas memórias". Ela que vivenciou aquilo que está relatando, um abuso sexual intrafamiliar, é obrigada a se sentir julgada como boba, como papagaio da mamãe, e pior, como louca a dizer que aconteceu o que aquela "autoridade em psicologia" afirma que não aconteceu. E na linha sequencial, aquela negação do abuso pela "autoridade em psicologia", lhe é determinado que passe a viver com aquele que abusou dela. Com base na afirmação que vem no laudo psicológico, a Guarda é revertida em favor do genitor abusador. A mãe? É afastada como "alienadora" que implantou falsas memórias no cérebro da Criança. E enquanto "alienadora" é tratada como sendo de altíssima periculosidade para seu filho ou filha, lhe é cassado o Direito à Maternidade, Direito que vem da Natureza, obrigando, assim, a Criança a crescer em Privação Materna Judicial. Saibam todos que uma vez "alienadora" sempre "alienadora". Não há saída. Recurso? São "provas" adicionais dessa condição permanente de "alienadora". A tese não científica da implantação de falsas memórias faz parte do combo de teses nada científicas que fazem uma sustentação, também não científica da alienação parental para amordaçar Crianças e Mães, calando-as sobre as práticas dos abusos incestuosos. Fazendo parte desse combo de teses infundadas, existe a Constelação Familiar, ou constelação Sistêmica, para parecer que é outra coisa, um hábito de rebatizar o mesmo factoide, para despistar um pouco. A Constelação Familiar é uma tese/seita que é praticada nas Varas de Família para “descobrir” entre os ancestrais, valendo até a 5ª ou 6ª geração de mortos, o “verdadeiro” culpado por um abuso sexual perpetrado pelo genitor. Nessa área, não precisa ter a Formação de Psicologia ou Psiquiatria, encontramos cavalos puro sangue “falando” e conduzindo uma sessão de constelação. Vamos nos dedicar à tentativa de explicação da constelação nos próximos artigos. Retornando ao nosso objeto de hoje, as falsas memórias, como assinar um laudo de uma Criança, afirmando que não houve abuso sexual porque o pormenorizado relato das práticas libidinosas a que ela foi submetida, é resultado de uma implantação de falsas memórias. Chegamos a um impasse nesse ponto: ou o profissional de psicologia não teve a disciplina da Psicologia do Desenvolvimento Infantil, ou há má fé quando essa tese é abraçada e venerada. O conhecimento intelectual pode ser corrompido de várias maneiras. Logo nos remetemos à corrupção mais falada, a financeira. Mas, gostaria de pensar nos desvios intelectuais que estão submetidos a outro tipo de ordem: o modismo, por exemplo. Também os profissionais psicólogos sofrem, uns mais e outros menos, da necessidade de aprovação do grupo. Alguns chegam a ser dependentes dessa aprovação em níveis narcísicos, não conseguindo suportar os questionamentos, as contra argumentações, as provas científicas da inexistência de suas teses, adquiridas na superficialidade do conhecimento. Sabemos o quão custoso é se desprender de uma crença e se deixar invadir pelos argumentos contrários. A começar pela preguiça de pensar, pelo conforto do “tudo pronto”, o fast food do conhecimento. Livros, em geral, são muito grossos. A internet veio facilitar com a abreviatura, o resumo, e a rapidez que agrada, mas nem sempre traz a reflexão. Como na língua da internet, seguimos abreviando e arredondando conceitos bem mais complexos, em detrimento da Saúde Psíquica e da Proteção da Criança. Imaginar que um mecanismo de defesa de adulto pode ser reduzido por contiguidade à implantação de falsas memórias para entrar na moda e abreviar a trabalhosa e penosa suspeita ou constatação de que aquele genitor com cara de bonzinho abusa de seu filho ou de sua filha. Esses indícios doem no examinador. Abandonar uma Criança que sente a dor e a excitação no seu corpo para se apegar à tese de que seu relato é uma falsa memória, me parece cruel demais. Desconsiderar o sofrimento da Criança que se vê desacreditada em seu relato, preenchido com suas metáforas infantis, com detalhes de cor, cheiro, gosto, textura, do sêmen, que ela, por força da natureza não podia ter conhecimento nem mesmo para decorar um texto da mãe, é cruel demais. A dimensão desse desmentido, sem ter sido mentira, em fase de formação de personalidade e construção do caráter, é muito desastroso para o futuro adulto. O peso que recai sobre a fala da Criança para o processo, ela falou o que experienciou e foi travestido nas tais falsas memórias, e por causa disso a justiça determina uma punição para ela, viver com aquele que ela aponta como o autor dos abusos, perder a mãe, que também é castigada com o afastamento e a interdição da maternidade, o que rende para a Criança um estigma de ter sido abandonado pela mãe, é assim que é visto por todos do entorno, até porque não se fala a verdade do início dos acontecimentos. É o que todos veem. A mãe não está mais nos lugares e nas ocasiões que antes estava. Não tem mais mãe. Existe uma frase que fica de plantão: “juiz não tira filho nem de prostituta, se tirou dessa mãe, uma coisa muito grave ela fez, a gente não sabe, mas fez”. O uso dessa acusação de implantação de falsas memórias recai sobre a mãe como autora de violência psicológica, desproporcionalmente, punida. Uma busca de proteção e o devido cumprimento do dever de notificar à autoridade trazem uma pena criminal para mãe e Criança. Não consta do Código Penal. Mas há condenação pelas falsas memórias implantadas. Mesmo que isso não exista como instituto. De verdade, nas linhas não. Só no faz de conta social, o efetivo da sociedade cenográfica. Mas, quem se importa?

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças Parte II

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças Parte II Defensores dessa falácia, as “falsas memórias”, bradam ditas pesquisas, ditas científicas. No entanto, essas alegações de comprovação científica, não contemplam as verdadeiras Regras de uma Pesquisa Científica. No livro “A invisibilidade de Crianças e mulheres vítimas da perversidade da lei de alienação parental – Pedofilia, Violência, Barbarismo”, a Promotora de Justiça e Coordenadora Estadual do Núcleo de Gênero do Ministério Público de São Paulo, e Professora de Processo Penal, Dra. Valéria Scarance, expõe as falhas dessas ditas pesquisas sobre as falsas memórias de Crianças. No capítulo “Abuso Sexual Intrafamiliar: o efeito alienante das teorias”, a Promotora Valéria historia que na década de 80, nos EUA, os casos de abuso sexual tiveram um aumento considerável no noticiário, o que demandou, na década seguinte, anos 90, a proliferação de legislações estaduais, em resposta às denúncias, que autorizavam as vítimas, então adultas, a processar os abusos sofridos na infância. Foi então que advogados de abusadores começaram a lançar a tese das falsas memórias para defender seus clientes. Essa necessidade das defesas dos abusadores incentivou o surgimento de “associações” que foram fundadas por pais que haviam sido acusados de abuso sexual incestuoso. Não são de Instituições Acadêmicas a propagação de resultados numéricos, que se pretendiam pesquisas, que não estavam dentro do rigor do procedimento científico. Assim, as pesquisas sobre memória foram bem detalhadas por Chris R. Brewin e Bernice Andrews, que apontam a falta de uniformidade de métodos, concluindo que o índice real de implantação de falsas memórias não chegou a atingir 15% no experimento. Além do baixo índice de êxito, menor que 15%, essa implantação de falsas memórias não se referia a abusos sexuais. Eram falsificações de memórias de fatos do cotidiano, de passeios que não tinham existido, ou um sorvete estranho que não tinha sido tomado, por exemplo. Ou seja, além do baixo resultado dessa tese de implantação, não se pode generalizar a partir de fatos sem importância emocional uma lembrança de um fato traumático. É evidente que não se faria uma falsa informação de um abuso incestuoso sofrido. Portanto é, absolutamente, nulo o resultado. Esses autores chamam a atenção para a RESISTÊNCIA da criança para aceitar uma implantação de memórias. Ao contrário do equívoco divulgado de que é muito fácil “criar falsas memórias”. Concluem que são inconsistentes as conclusões das tais pesquisas, e que essa Resistência contra a falsificação de lembranças é infinitamente maior nos casos dos Abusos sexuais incestuosos. Nesse mesmo livro, “A invisibilidade de crianças e mulheres vítimas da lei de alienação parental – Pedofilia, Violência, Barbárie”, Ana Liési, Doutora em Sociologia das Relações Sociais de Gênero pela Universidade de Brasília, em seu capítulo: “Violências Domésticas e Guarda Compartilhada: uma Oposição Inconciliável”, a autora discorre sobre a história legislativa e o descrédito que, apesar de leis de Garantia de Direitos, mulheres e crianças vivem nas dependências da Justiça. A violência doméstica é vista como uma invenção da mulher ressentida, e os relatos de abusos sexuais intrafamiliares são jogados para essa denominação, sem cientificidade, das falsas memórias. Mulheres e Crianças desacreditadas quando aparece uma suspeita ou confirmada conduta criminosa de um homem. A dra. Ana Liési traz a linha do tempo das leis, quando fica evidenciado uma retaliação a cada passo conquistado pela Mulher. Nossa resistência em manter a ilusão da “família feliz”, tese bem elucidada pela Desembargadora Berenice Dias em seu livro “Incesto e alienação parental – Realidades que a Justiça insiste em não ver”. Como refere a Dra. Valéria, persistimos na ilusão de que a família é um lugar seguro e de paz, a dra. Berenice aponta grandes falhas no sistema judiciário, com operadores que não têm capacitação específica para lidar com esse tipo de criminoso que usa a dissimulação. Não conseguindo escutar devidamente a criança, duvida dela e a abandona nesse momento tão difícil. Para ela a Justiça, por causa dessa deficiência, acaba por ser conivente com o crime. Ela denomina de Mito da Família Feliz essa negação da realidade do incesto. O que consegui saber sobre o surgimento dessa tese de impossível comprovação, porquanto a criança não tem cognição para descrever coisas e comportamentos que não experimentou, seu raciocínio, repito, é concreto até os 11/12 anos, refere-se à defesa de pais que foram acusados de terem cometido abuso sexual intrafamiliar e associações, poucas, fundadas por pais acusados de abuso incestuoso, que funcionaram com verbas privadas, longe do Estudo Científico Acadêmico. Mas, me parece que uma dose de seriedade, como acontece com outras teses, também. A constelação familiar, por exemplo, enxertou termos da física quântica para dar um ar de “ciência” ao que é uma seita. No caso das falsas memórias, talvez, movidos pelo ponto de vista adultomórfico, o que é muito frequente, ver uma criança como um adulto em miniatura, negando sua essência, a “inspiração” tenha sido o texto de Freud sobre as Lembranças Encobridoras. Mas aqui também falta estudo. O conceito de Lembrança Encobridora é aplicado apenas ao adulto, não à criança. Esse conceito explica um tipo de mecanismo de defesa que opera uma espécie de mosaico de lembranças para encobrir um ponto traumático que tenha sido sofrido. Ou seja, os pedaços de lembranças são verdadeiros, mas são costurados de maneira que uma parte, a traumática, fica encoberta. Assim fabrica-se uma lembrança que não corresponde exatamente aos fatos ocorridos, mas não é falsa, a emenda de duas partes é que é incorreta. Contudo, este mecanismo não opera na infância. Há fortes indícios de ignorância. Sabemos que as grades curriculares, muitas vezes têm falhas grosseiras. O não conhecimento do desenvolvimento infantil em seus aspectos motor, neurológico, cognitivo, linguístico e afetivo, certamente, leva a erros também grosseiros. Seria por preguiça de pensar, de estudar? Para fugir da angústia da dificuldade inerente ao abuso sexual intrafamiliar? Mas há uma dúvida minha aqui. Será que é só ignorância de conhecimentos básicos, ou haveria uma intencionalidade em desqualificar a Criança e a Mulher? Talvez o exercício do Poder esmagador seja muito excitante.

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças Parte I

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças. Parte I Essa é mais uma tese que afronta nosso pensamento lógico, o simples bom senso, o conhecido senso comum. O mais espantoso é que advém dos técnicos do judiciário que defendem essa tese sem prestar atenção no absurdo que estão falando. Uma Criança não tem desenvolvimento cognitivo para armazenar e recuperar, de seu acervo de memória, um relato sobre fatos sexuais que não tenha experimentado. As ditas “falsas memórias” fazem parte de um combo que tem como objetivo descreditar a Criança e silenciar a mãe que tenta protegê-la da violação de sua integridade. Compondo esse “combo” de violência institucional que referenda a violência física, contra a mãe, e a sexual, contra a Criança, temos a outra estratégia, também não científica, a sugestão coercitiva da constelação familiar. Sob a ameaça da reversão de guarda com afastamento da mãe, explicitada em audiências e em negativas de advogados de família, a dogmática alienação parental, também não reconhecida cientificamente, cumpre o objetivo a que foi destinada: a proteção do agressor. Já falamos em outras ocasiões que o desenvolvimento cognitivo durante toda a infância, tem no raciocínio concreto seu único meio de pensar. A visão de mundo nessa etapa acontece pela percepção, através dos nossos sentidos. Como falamos nos últimos artigos, em especial no último, quando o pensamento na adolescência e na primeira etapa da vida adulta foi o foco de nosso texto. É na adolescência que se dá a expansão do pensamento na amplitude do pensamento abstrato, quando já podemos prescindir do objeto concreto para levantar uma hipótese, com os rigores que lhe conferirão fidedignidade no resultado obtido. Ou seja, é na ampliação do pensamento, despregado do objeto real e concreto, como era na infância, que podemos executar o pensamento hipotético dedutivo, o pensamento lógico, aquele que é o condutor da Ciência, em qualquer de suas áreas. Se, na infância, todo raciocínio se dá em modo concreto, como afirmar que uma Criança de 4 anos, ao relatar, com coerência etária, que o “piu-piu do papai faz ginástica, cresce e sai uma gosma branca” seria uma falsa memória. Como??? Aos 4 anos a Criança, seguindo a Lei da Natureza, vê o pênis do pai como o lugar onde sai a urina, e nada mais. Ela não tem noção de que há outros estados para esse órgão, o estado de ereção e o estado de ejaculação. Se ela não viu, não passou pela experiência de acompanhar uma ereção e uma ejaculação, ela não possui condições de reter esse tipo de informação. Inventar que ela irá “decorar” um texto ditado pela sua mãe para repetir para o/a examinador/a que escreverá no laudo pericial que seu relato pormenorizado, que faz referência a coisas concretas, é uma falsa memória implantada pela sua mãe. Não conseguimos alcançar o “poder mágico” de tamanha eficácia, se nem hábitos cotidianos, como tomar banho todos os dias, por exemplo, a Criança consegue decorar. Mas, querem induzir o juiz a crer, que a mãe implantou essa espécie de chip na mente da Criança. O que não é explicado é como a Criança fala, desenha e encena as práticas de abuso. Tudo por instrução e implantação da mãe? Se é uma falsa memória falada, a Criança também foi programada para desenhar? E desenhar o que ela fala? “Piu-piu grande com gosma pingando”? Essas Crianças, simplesmente, seriam prodígios!!! A questão que chama a atenção é que são todas as Crianças nessa categoria de excepcionais gênios. Relatou abuso sexual, é falsa memória. É como se alguém afirmasse que a Criança anda com destreza e sozinha e fala, fluentemente, aos 3 meses de idade. Uma acusação de falsa memória desqualifica a Criança, colocando-a como um robô da mãe. Ao mesmo tempo, que atribui a ela uma competência incompatível, muito acima de sua idade cognitiva. Com isso, a Criança e sua mãe são, completamente, descreditadas. Interessante é que SÓ nos abusos intrafamiliares existem as falsas memórias. Quando o abuso foi praticado pelo vizinho, pelo motorista da van escolar, pelo professor da escolinha de futebol ou de ginástica olímpica, é dada à criança toda a credibilidade que ela é capaz de sustentar. Não há lugar para chama-la de fantasiosa, de mentirosa, de má, como nos casos dos abusos incestuosos. Por que será que sendo um abuso extrafamiliar, a Criança é acreditada, mas se for intrafamiliar ela é desacreditada? Qual seria a diferença? Como em relação ao termo “alienação parental”, inventado por um médico pedófilo que defendia pedófilos com seus laudos, acusando e culpando Crianças e mães pelos abusos incestuosos, a expressão “falsa memória”, não tem comprovação científica. As “pesquisas” que são referidas como atestado científico, não cumpriram as leis da cientificidade. Mas são alegadas e reverenciadas por Técnicos que deveriam zelar pela proteção da Criança. Falaremos das intituladas “pesquisas” das falsas memórias na Criança vítima de abuso sexual no próximo artigo. A outra parte do combo, a constelação familiar também será trazida para tentar fomentar o pensamento científico, ao qual devemos estar comprometidos enquanto profissionais dessa área, ou, pelo menos, o bom senso de todos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XIV

Como cresce uma Criança? Parte XIV Para além do crescimento postural, associado ao desenvolvimento motor, acompanhado pelo desenvolvimento da linguagem, a Criança tem nos afetos e na cognição seu motor para chegar à idade adulta e poder usufruir com bastante autonomia a sua vida. Pretendo lançar luz à importância do desdobramento da vida intrafamiliar da Criança. Quando ela entra para a escola, o mundo afetivo se multiplica em dois, com as devidas proporções. A escola, desde a pré-escola, introduz desafios cognitivos e aprendizagens diversas. Assim, os primeiros esboços de códigos de convivência social muito simples são estabelecidos, regras devem ser respeitadas, aumentando o acervo do restrito “pode” e “não pode” que estava inserido dentro da família. Logo surge o aprendizado da língua extensa, a falada e a escrita, e as relações afetivas se consolidam com afetos e desafetos. A Criança vivencia não ser gostada, nem amada por todos, aparecem as escalas de preferências afetivas, e ela sente que precisa aprender a administrar essa nova tarefa. Os tropeços são muitos, mas necessários para a vida de adulto. A escola é este campo de experiências sociais insubstituível. A lei que permitiu o Schoolying, a escola em casa, usurpou da Criança este campo de desenvolvimento. E aqui, uma crítica mais forte: a escola é o segundo local em que a Criança pede socorro quando está sendo espancada ou abusada sexualmente. Assim, ela perdeu essa possibilidade e ficou ainda mais vulnerável, entregue, completamente, a seus agressores familiares. Este alerta foi dado por ocasião do Projeto de Lei que foi votado, mas não foi escutado pelo Ministério que tinha conhecimento dessa importância para a proteção da Criança. A cognição ganha um terreno fértil. Novos conhecimentos são lançados e ampliam a capacidade de raciocínio. Mesmo que a competição seja acirrada, ela não é maléfica, salvo certos exageros. Faz parte do crescimento o ganhar e perder em competições limpas onde se seguem regras claras, mesmo que a sensação seja, muitas vezes, de resultado injusto. À medida que a escolaridade avança, a proposta de conhecimentos é ampliada. É um erro pensar que agradar as Crianças e adolescentes diminuindo a diversidade de disciplinas, vai fazer com que “estudem mais”, e pior, que fiquem “felizes”. O comprometimento da Educação pela escolaridade em toda a sua linha, é com a transmissão de conhecimento através da cognição. É preciso saber que as disciplinas que, aparentemente, não vão ser usadas depois, têm a função de provocar os diversos raciocínios. O raciocínio usado nas Ciências Exatas, nas Ciências Humanas, nas Ciências Biológicas, nas Ciências Tecnológicas, e nas Pesquisas de todas as Ciências, é alimentado pela escola e pela escolaridade. A universidade é o celeiro da cognição plena, da possibilidade de raciocinar pela abstração, considerando muitas variáveis ao mesmo tempo. Entrar em contato com pensadores, filósofos, matemáticos ou humanistas, permite que se tenha a noção de como formular uma tese, ou mesmo, uma opinião. Por isso, sabemos que o desenvolvimento cognitivo só se completa por volta dos 25 anos. Para que a capacidade de pensar consiga abranger um espaço que faça daquele jovem alguém mais competente para os problemas da vida, de qualquer ordem, faz-se necessário o estímulo nas diversas áreas do raciocínio. É com pesar que assistimos o reducionismo ganhar espaço na Educação. A proposta de tornar obrigatório o ensino apenas de 03 disciplinas, português, matemática e inglês, deixando a livre escolha do adolescente de outras disciplinas que passam a ser “eletivas”, quando esse adolescente ainda não alcançou seu desenvolvimento cognitivo, e nem o emocional, para realizar essa escolha, é incompreensível. É incoerente para técnicos em Educação, que têm, ou deveriam ter, o conhecimento científico desse desenvolvimento ainda incompleto, defendendo essa proposta como sendo a “solução” da evasão escolar, ou do baixo resultado de escores de avaliações de aprendizagem. Não é pretendendo tirar o tédio de estudar uma disciplina que o tédio de cumprir obrigações na adolescência irá sumir. Vamos apenas reduzir a possibilidade de raciocinar desses adolescentes. E, consequentemente, diminuir a capacidade de avaliar uma dada macro situação, de macro consequências, que será pensada em raciocínio concreto, bem limitado. Se o pensamento é empobrecido, a tendência é cair no preconceito que se baseia em tese de única variável, dispensando inclusive a comprovação científica. Em lugar de capacitar melhor e mais os professores, de equipar mais as bibliotecas das escolas, de tornar mais vivo o curriculum das séries, optamos por abolir a repetição por resultado abaixo da média, optamos por liberar a escola em casa, (lembrando que a Pedagogia é uma Ciência, e achar que pai/mãe podem ser professores, é desqualificar todos os professores), optamos por diminuir o número de disciplinas para agradar os adolescentes, ou seja, optamos por rebaixar a importância da escola. É muito grave uma sociedade que decide retirar da Criança e do Adolescente o Direito à Escola, e sua competência e sua convivência. A escola é o mundo familiar inicial aumentado, é a primeira etapa da inserção à sociedade. É na escola que a Criança e o Adolescente aprendem não só as disciplinas que alimentam seu desenvolvimento cognitivo, mas também as regras de cidadania, os Direitos e Deveres que têm. O desenvolvimento afetivo tem na escola um grande laboratório vivo e cotidiano das relações interpessoais. Não há como negar que esse foi um grande favorecimento de cobertura para pais/mães agressores, incluindo, principalmente, os abusadores sexuais. Parece que nós não pensamos com uma cognição plena. Ou, não queremos pensar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XIII

Como cresce uma Criança? Parte XIII Vimos como se dá o crescimento da Criança. E, quando ela adquire as devidas habilidades motoras, cognitivas, linguísticas, eis que se inicia uma verdadeira revolução: a chegada da adolescência. Precedida pela puberdade, período intermediário quando o intenso movimento interno do corpo faz demolir a autoimagem para que uma reconstrução seja edificada, a Criança de ontem parece se perder do momento presente. Ela acorda um dia “grande”, mas no outro, acorda “pequena”, numa oscilação em velocidade difícil de acompanhar. Essa montanha russa leva ao momento de se apartar da infância. Entre nós psicanalistas, é comum se ouvir que o adolescente precisa matar os pais da infância, para que possa ser fundada uma relação nova, de menos dependência afetiva, menos dependência de aprovação. Isso, geralmente, é vivido pelo adolescente como uma necessidade de contestação de tudo. Para se desprender da condição de dependência que atribui ao pai e à mãe um status de onipotência, de perfeição, o adolescente precisa demolir esse pedestal dos pais. Para quebrar esse conforto afetivo infantil, o adolescente passa a ser contra tudo. Todos estão errados, ele está sempre certo, não aceita mais os modelos que seguia até então. Anda em tribos que se vestem igual e têm uma língua customizada, assim como os comportamentos e as roupas do grupo. Ou se isola de todos. Acredita que suas ideias vão salvar o mundo. Mas seu desenvolvimento cognitivo ainda lhe prega peças. Está apenas iniciando a capacidade de operar pensamentos por raciocínio abstrato, prescindindo do dado concreto, aquele que lhe chegou por toda a infância através de seu sistema perceptivo de mundo. Essa mudança, do raciocínio concreto para o início das operações em raciocínio abstrato, amplia a capacidade de pensar, a visão de mundo começa a crescer e ganhar qualidade em seu conteúdo. O adolescente vai adquirindo, gradativamente, a possibilidade de operar com muitas variáveis, seu pensamento científico vai se consolidando. Até os 25 anos, para além da adolescência, o desenvolvimento cognitivo se completará. Grandes decisões, filhos, casamento, vida no crime, identidade de gênero, por exemplo, tomadas antes do desenvolvimento cognitivo pleno, podem ser, parcialmente, prejudicadas em alguma coisa por essa incompletude. No entanto, isso não quer dizer que não possa haver, posteriormente, uma boa adaptação àquela falta no momento da decisão tomada precocemente. Afinal, os erros nos ensinam muito, também. Guardamos a impressão equivocada que o desenvolvimento termina com o crescimento da estatura, mas ele começa antes, os hormônios têm sua produção iniciada aos 2 anos, e nós não vemos, e termina depois, quando já estamos, por aparência na idade adulta. As aquisições estão contidas na faixa etária que vai de zero a 18 anos, mas a cognição plena precisa se edificar por mais algum tempo, até os 25 anos, mais ou menos. Ver faz parte da égide do pensamento concreto. Muita coisa acontece sem ser vista concretamente. As aquisições estão contidas na faixa etária que vai de zero a 18 anos, e podem ser constatadas por simples observação. Mas a cognição plena precisa se edificar por mais algum tempo, até os 25 anos, mais ou menos. Ver com os olhos faz parte da égide do pensamento concreto. Contudo, muita coisa acontece sem ser vista concretamente. O crescimento motor, o cognitivo o linguístico, o afetivo que perpassa a todos os setores, o desenvolvimento do sistema nervoso, no seu aspecto fisiológico e no aspecto funcional das estruturas neuronais, foram objeto de nossas reflexões. Olhamos para o Impacto de Extremo Estresse, tendo a repetição de práticas abjetas como fator cumulativo de trauma permanente, com as sequelas de atrofias físicas e disfunções de estruturas cerebrais que humanizam e socializam o ser humano. O corpo é nosso único bem inalienável que possuímos. É concreto. Mas necessita ter a sua representação em imagem mental. Faz-se necessário que ele esteja funcionando em relativa harmonia, o corpo real e o corpo mental, numa relação estruturada, íntima e querida, sem estranhamentos causados por violações. Um corpo violado é também uma mente violada. É sentido como estranho, com um pedaço do violador presente e dominando, como sujo e vexaminoso. Não é reconhecido como pertencido nem pertencente, quebrando assim a formação da identidade em curso misturada ao desenvolvimento. Freud afirmou que há 3 tarefas de realização completa impossível. Educar, governar e psicanalisar. Ajudar a crescer é mesmo muito difícil. Os bebês chegam sem manual de instrução, cada filho é único, demandando sempre prontas respostas, quaisquer que sejam. Ajudá-los para terem capacidade responsiva, ajudá-los a construir códigos de Ética, e Moral, abrir caminhos para que busquem um começo de empatia, estimulá-los à civilidade, para se humanizarem é tarefa árdua e única a cada vez. Uma Criança cresce como se fosse uma orquestra a tocar todos os instrumentos musicais para executar várias partituras e peças. Mas uma orquestra onde os músicos nunca se viram, não se conheciam antes, e, é tocando que passam a se conhecer. Porque a vida não tem ensaio.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XII

Como cresce uma Criança? Parte XII Os percalços que uma Criança sofre durante a infância, são muitos e de várias ordens. Crescer dói. Crescer dá trabalho. Crescer, não tem manual de instrução. O método mais seguido é, sem dúvida, o método de ensaio e erro. Em consonância com o raciocínio concreto, típico dessa faixa etária do desenvolvimento cognitivo, o experimentar é o único caminho sustentado pela cognição. Sabemos que os bebês humanos nascem ainda muito incompletos em vários de seus sistemas. Dependentes de um adulto cuidador que lhe garanta a sobrevivência. Sua necessidade prevê dois tipos de alimento: o nutriente e o afeto. O sono e a higiene completam as condições básicas da sobrevivência, sua dependência nessa fase, portanto, é absoluta. Essa condição de dependência absoluta em relação a alguém deve ser sempre considerada, posto que ela alicerça a consequente necessidade humana de construir vínculos. Somos seres, essencialmente, relacionais. E, como tal, essa condição humana imprime uma contínua troca de emoções. O crescimento emocional vai se dando à medida que as experiências relacionais vão se desenrolando. No entanto, queremos propor agora um exercício para se tentar dimensionar os efeitos de episódios de impacto de extremo estresse a que a Criança é submetida. Por definição, o impacto de extremo estresse se refere a atos de violência física e de violência sexual contra a Criança. Essas duas formas são paralizantes pela sensação brutal de impotência que causam. E, por esse motivo, produzem impressões permanentes no corpo e no cérebro da Criança. Não me parece muito difícil raciocinar sobre os efeitos da violência física e/ou sexual contra a Criança, considerando que está em desenvolvimento. É preciso ter o conhecimento que o sistema nervoso continua a se desenvolver durante a infância. Existem neurônios que crescem durante a infância. Existem estruturas nervosas que são responsáveis pelo filtro e pela administração das emoções. O sistema límbico é o local cerebral conhecido como o sistema que modula as emoções. Se pensarmos em como o aparelho que tem como função decodificar e filtrar ameaças ao corpo e fica exposto, continuamente, ao extremo estresse, como essa estrutura cerebral pode se desenvolver plena e saudável? Ou seja, se a função daquela estrutura é dar o alerta para a defesa do organismo, mas, a sobrecarga de estímulo, qualitativa e quantitativamente, invade e inunda, de maneira avassaladora, a mente daquela Criança, causando a disfunção daquela estrutura. Do ponto de vista fisiológico, o crescimento previsto dos neurônios é comprometido, e verifica-se a atrofia desses nervos. Será que é muito difícil pensar que esse desenvolvimento nervoso sendo obstruído pelo extremo estresse das violências sofridas, acarretará prejuízo irreparável? Estamos acostumados a pensar nas consequências psicológicas de uma violência física ou de uma violência sexual contra uma Criança, e deixamos de dar atenção às sequelas irreversíveis do sistema nervoso. Há estudos em Universidades e Centros Médicos que acontecem na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha, que buscam relações entre os abusos físicos e sexuais e algumas doenças, que já evidenciam conexões, por exemplo, entre essas violências na infância e o aparecimento de epilepsias de lobo temporal na idade adulta. Outras patologias têm sido observadas nessa relação com o sofrimento dessas violências na infância. Outro aspecto, esse não estudado, é o endocrinológico. Desconheço estudos e pesquisas que se dediquem à relação entre abusos sexuais praticados contra a Criança, e alteração hormonal na puberdade. É preciso estudar qual a consequência, por exemplo, do estímulo causado por penetração digital anal em pequenos que crescem com essa massagem diária de próstata, ou útero. É notável a precocidade da puberdade, o aparecimento dos caracteres sexuais secundários em Crianças, cada vez mais novas. Sabemos que é um estudo difícil de ser realizado, pela dificuldade de estabelecer hipóteses, de ter um grupo de controle nas pesquisas, mas também é difícil sobrecarregar Crianças com uma precocidade sexual desconectada do desenvolvimento da maturidade emocional. Talvez, a maior dificuldade seja verificar com critérios que respeitem o Princípio do Melhor Interesse da Criança, a ocorrência de abusos sexuais, aqueles que não deixam marcas visíveis, em sua grande maioria. E respeitar o critério que mais tem sido violado, dar crédito à voz da Criança, Sujeito de Direito, que tem sido tão desconsiderada e desqualificada. Como cresce uma Criança assim?

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XI

Como cresce uma Criança? Parte XI Quantas coisas precisariam ser ditas sobre os efeitos e sequelas do impacto de extremo estresse, composto pela violência física E/OU violência sexual praticadas contra uma Criança. A repercussão dessas violências, na mente e no corpo da Criança, tem, por excelência, a sensação de impotência absoluta, que permeia essa prática. E, essa repercussão terá uma variação de padrão, segundo a idade, a etapa de desenvolvimento. Como já dissemos no último artigo, o extremo estresse vivido pela Criança marcará a sua existência em expressões compatíveis com as aquisições já conquistadas. Mesmo quando a Criança ainda não adquiriu algum código moral, ela terá impressa a impotência para impedir a violência, acompanhada do medo paralisante. Nessa semana tivemos a divulgação de crimes, que estavam acontecendo há muito, espancamento e abuso sexual, emblemáticos em seus conteúdos perversos e cruéis, que provocaram, mais uma vez, indignação de todos. Ver por imagens de vídeo um menino de 4 anos, como o outro que a mídia revelou no ano passado, quando foi assassinado por espancamento, encolhido, acuado, torturado, causou revolta. Leis, temos para ambas as situações. Mas, é a cultura da transgressão e o desejo de Poder Absoluto sobre um mais frágil, que, cada vez mais, rege nossa sociedade. Cotoveladas fortes no rostinho, seguidas de sufocamento de nariz e boca. A fragilidade daquele corpinho se assemelhava ao corpinho do outro, o que morreu. É obsceno. É indigno. É inumano. Animais não fazem isso com seus filhotes. Aquele ator, premiado, competente no que fez na dramaturgia, detentor da admiração de uma multidão de apreciadores das artes cênicas, acima de qualquer suspeita. Abuso de enteado de 4 anos e de garoto de 12 anos. Em seu celular e em seu computador, muitas imagens de pedo-pornografia. Muitos vídeos de estupro de bebês. Apenas 10% do total de abusos sexuais contra Crianças é denunciado. 10%, só. Entre 75% e 85%, aproximadamente, é o montante dos abusos sexuais intrafamiliares. Apesar dessa subnotificação, são cerca de 130 denúncias por dia. Pais, avôs, tios, padrastos, irmãos, primos, são os promotores desse crime dentro das famílias. Mães aparecem como coadjuvantes em alguns casos. Essa cumplicidade pode estar associada à intimidação e violência doméstica que sofre por parte do agressor, à dependência afetiva, à dependência financeira. Ser conivente com um crime de violência contra a criança é se tornar criminosa. Os maus tratos físicos e espancamentos também ocorrem, predominantemente, dentro da família, praticados pelos mesmos familiares acima citados. As mães entram aqui quando usam os castigos físicos como disciplina, o que é inadequado e está proibido por lei. Tomamos essas duas ocorrências que se tornaram midiáticas, para exemplificar o que ocorre aos milhões, com milhões de Bebês e Crianças, todos os dias. Os 90% restante permanece nas sombras, nos segredos de família, no silêncio pactuado, protegido pela Criança, e protegido pelas Instituições que têm por função, a garantia dos Direitos Fundamentais. Com uma boa distorção, opera-se a inversão do objetivo. E, ainda, “legalizada”. Não raro, aparece um vazamento de uma ocorrência macabra. Há poucos dias, um operador de justiça, bem graduado no Sistema, foi flagrado em estupro de vulnerável. Começou com uma menina, e logo eram 6 meninas. A violência é triplicada. A primeira, aquela entre um adulto abusando de uma Criança, a segunda, aquela que coloca a Instituição para proteger o abusador/operador, a terceira, a da decepção, aquela que obriga a vítima, e quem toma conhecimento, a enxergar sua vulnerabilidade elevada à potência máxima, quem é pago pela sociedade para exercer a função de guardião da lei, transgride. Assim também o é em relação à violência física. Bebês e Crianças são mortas todos os dias porque estavam chorando, ou fizeram uma bobagem, ou acordaram de noite e incomodaram. Se os hematomas ou fissuras somem em alguns dias, as marcas para dentro da pele ficam invisíveis no corpo para sempre. E são registradas como alerta de morte porque é como uma ameaça letal que o Bebê e a Criança sentem e memorizam. A confiança no outro é trocada pelo medo, difuso ou bem localizado, dependendo da faixa etária. A dor física ou afetiva, como placas tectônicas em abalos sísmicos, não conseguem mais se encaixar. Não é de ordem disciplinar na violência física, muito menos de ordem sexual nos abusos. Numa grande cadeia social permissiva, que se apraz com o sofrimento dos mais frágeis e invisíveis, é o Prazer Supremo do Poder Absoluto sobre um vulnerável, com o acréscimo da sensação de superioridade por enganar a todos. Parece que nos acostumamos a isso que impera. Sim, nos horrorizamos, mas logo esquecemos, até que chegaremos a naturalizar essas atrocidades. A pornografia infantil, indústria internacional muito rentável que tem tentáculos domésticos, intrafamiliares, trabalha para isso. E a Criança, como cresce?

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte X

Como cresce uma Criança? Parte X Os acontecimentos extremados, de alegria ou de sofrimento, que ocorrem na infância e, mais precisamente, os acontecimentos traumáticos, tomam contornos e conteúdos compatíveis com a faixa etária da Criança. Tendo como palco o corpo da Criança, corpo espancado, corpo violado e corpo desejado sexualmente, mesmo que não tocado. O corpo dela em diversas dimensões, mas sua única posse legítima. Assim, um mesmo fato pode repercutir de diferentes maneiras. Mas, se é de extremo estresse, haverá sempre uma repercussão permanente, é um impacto de consequências imprevisíveis quanto à sua nocividade. A violência física e/ou sexual praticadas contra uma Criança/bebê que ainda não desenvolveu sua imagem corporal na mente fica com um registro mnêmico difuso estendido a todo o corpo. Pela incapacidade de localização mental da parte afetada no corpo, o bebê receberá como uma descarga elétrica que percorrerá todo o corpo. Como no sorriso, ou no choro, é o corpo todo que sorri ou que chora. Quando um bebê é espancado, ele não consegue localizar a parte do corpo que está sendo agredida. Do mesmo modo, quando um bebê está sendo abusado sexualmente, ele sente o excesso de estimulação e de dor no corpo todo. Portanto, a lembrança não será armazenada enquanto memória, mas um registro dessas sensações, difusas, e não pertencentes ao seu pequeno acervo de registros, será guardado. Confuso, espalhado pelo corpo, sensações que não encaixam nas “caixinhas” que precisam ser “alimentadas” com as experiências, da maneira mais organizada possível para que tenham eficácia no momento de um resgate. Ou seja, como toda a apreensão de mundo se dá por sensação boa ou ruim, sempre em experiência vivida, enquanto sensação difusa não é nomeada, não é registrada pela localização no corpo, mas fica a impressão marcada nessas condições. Essa é a memória afetiva rudimentar, agradável ou desagradável, estimulante ou dolorosa, que vai sendo construída. Portanto, quando um bebê é espancado ou abusado sexualmente, esse registro de memória segue esse padrão de ainda desorganização, mas o registro mnêmico vai sempre existir. O mal estar produzido por cada episódio traumático é cumulativo. Há pouca, pouquíssima, possibilidade de haver um processo de adaptação, porquanto cada episódio é surpreendente. Se não é entendido nem, minimamente, classificado, pela incapacidade da imaturidade dessa faixa etária. Faz-se necessário reforçar que não há episódio isolado, único, de violência física e sexual. Há uma escalada crescente ininterrupta. O agressor se descobre viciado na sensação de Poder que retira do bebê. Mas não é um vício qualquer. Ele mantem o controle sobre o momento que irá repetir o ato do abuso. E, ainda, não necessita de nenhuma substância para praticá-lo. Nenhum predador, espontaneamente, sacia sua vontade de abusar ou de espancar. Ele é capaz de adiar para ter as circunstâncias perfeitas para sua crueldade que se inscreve na condição ideal de ficar sozinho com sua vítima. Isso é meticulosamente calculado porque tem como razão a situação de ter duas palavras apenas, a da criança e a dele. Portanto, todo agressor de bebê, de Criança e de adolescente, é responsabilizável pela violência que pratica. Ele sabe o que está fazendo e é dissimulador de sua agressividade para obter a manutenção da sua impunidade. Hoje, esses predadores de Crianças, de todas as idades, contam com a cobertura da lei de alienação parental, lei inconstitucional que viola Direitos Fundamentais, que se pretendem garantidores no Ordenamento Nacional e nos Tratados Internacionais, acordados e assinados. A existência de uma lei que, tendo por objeto de justificação o afastamento do pai promovido pela mãe, executa o mesmo objeto, o afastamento da mãe alcunhada de “alienadora”. O pai, mesmo criminoso, segundo algumas vozes psico-jurídicas, não pode ser afastado em razão da proteção da Criança. Mas a mãe se torna de altíssima periculosidade por ter buscado essa proteção junto aos órgãos que têm essa prerrogativa em sua definição. Esses mesmos órgãos promovem, então, a Privação Materna Judicial, causando mutilações afetivas nessas Crianças, que perdem a mãe e são entregues, “legalmente”, aos seus algozes. A humanidade em sua história demonstra em vários momentos de práticas de atrocidades esse mecanismo do “legalizar” um comportamento de perversidade. Foi assim com a colonização de novas terras, os colonizadores estavam amparados em uma lei que permitia a extração voraz das riquezas do país ainda vulnerável. Foi assim com o comércio internacional de escravos, era legalizado. O Apartheid era legalizado. Assim como com o Holocausto, havia uma lei que justificava matar grupos de pessoas, torturando-as e “experimentando” aberrações com requintes de crueldade, porque se encaixavam em preconceito racial absurdo. Aliás, uma das experiências do laboratório humano era exatamente arrancar os filhos dos braços de suas mães, observar o aniquilamento delas, anotando tudo, e devolvê-los quando estavam morrendo em consequência das loucuras praticadas nos tais laboratórios de comportamento humano. Era possível, por exemplo, isolar mãe e filho, para contar quantas horas uma Criança aguentava chorar pela sua mãe, sozinha numa sala branca. Estava amparado numa lei. O impacto de extremo estresse promovido durante a infância pela violência física e pela violência sexual causa danos irreversíveis à mente. Bebês são arremessados contra paredes, socados, sacudidos, e, se já ficam de pé, são chutados. São fraturas de base de crânio, fraturas de ossos da face e de fêmur, dilaceração de vísceras com hemorragia interna. Ao darem entrada nas Urgências Pediátricas, a frase que os acompanha é “Caiu da cama, doutor”. Quantos Bebês e Crianças passam pelos Serviços sem terem o diagnóstico de maus tratos. Só o óbito mexe um pouco com o procedimento devido. Joana Marcenal passou, e nem os indícios claros foram capazes de causar um estranhamento no que deveria ser uma equipe de pediatria. Mas, seu óbito não levou a julgamento, até hoje, 12 anos depois, os responsáveis. Também Bebês e Crianças, abusadas sexualmente, passam por serviços médicos, por creches, escolas, e ninguém repara nos sinais dos abusos que sofrem. É preciso que haja uma situação concreta grave de materialidade, e, mesmo assim, a grande, grande, maioria de casos é desviada para uma acusação de alienação parental da mãe. Quantos Bebês vitimados crescem e, durante a infância, relatam os abusos, mas, são interpretados como mentirosos e fantasiosos, que têm “falsas memórias”, outra tese não científica que fere a inteligência média de qualquer um pelo absurdo engendrado para acobertar um predador e oprimir mais uma Mulher. O Princípio da Razoabilidade, Princípio Constitucional, é soterrado por uma falsa ciência.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte IX

Como cresce uma Criança? Parte IX Durante a infância, as aquisições de novas competências nos diversos campos, são visíveis. De tal ordem de volume, que temos escalas e curvas de faixas de “normalidade”, para criar um parâmetro, e que são muito usadas na Pediatria. Mesmo assim, temos um fator do imponderável apontado por algumas Crianças que fogem dessas faixas desenhadas em estatísticas. Nas últimas semanas, me dediquei a trazer alguns aspectos do desenvolvimento da Criança, o desenvolvimento psicomotor, o cognitivo, o linguístico e o afetivo. Descobertas de soluções simples feitas por observadores atentos e empáticos com as dificuldades, e por vezes, com as dores e o sofrimento da Criança, muito nos esclareceram e colaboraram para a saúde integral da Criança. A importância para os prematuros do pele-a-pele em contato contínuo formatou o Método da Mãe Canguru. O cuidado personalizado por uma única enfermeira nas internações longas mostrou que a Síndrome do Hospitalismo pode ser evitada em suas formas mais graves, são duas situações afetivas que atingem a sobrevivência de bebês e Crianças. O colo como alimento. Faz-se necessário compreender o conceito de mãe canguru para além da bolsa usada para a efetivação desse importante método. O colo é aconchego e é proteção. É sustentação e sustentabilidade. Como vimos, as falhas no componente afeto são muito danosas, posto que o afeto é o combustível da formação de um indivíduo. Então, a sua falta ou a sua má qualidade têm efeitos distintos. Quando falta, provoca uma busca incessante, vista nas carências afetivas que vão acompanhar essa Criança por longo tempo. Por vezes, pela vida toda. O abandono efetivado por uma mãe, seguido de abrigamento, marca no bebê/Criança essa falha inscrita em camadas profundas, dificilmente, modificável. Por outro lado, a má qualidade desse afeto recebido durante a infância será responsável por um auto sentimento de desprezo, de raiva. Se aquela pessoa preferencial a tratava com agressividade, a Criança conclui que ela é errada, ela não é gostável. Os tempos e as intensidades das falhas afetivas provocam efeitos distintos. Mas, sabemos que elas são promotoras de psicopatologias várias que vão influenciar no convívio social e na cidadania. Se a Criança aprende as regras e os códigos humanos através dos jogos e brincadeiras, precisamos lembrar que ainda sofremos de preconceitos educacionais ligados à questão de gênero, muito arraigados, que reforçam sobremaneira comportamentos de desigualdade entre meninas e meninos, que irão se cristalizar em mulheres e homens mais tarde. Deveríamos nos perguntar por que os meninos têm frequente comportamento de agressividade em relação às bonecas das meninas? Por que arrancar a cabeça de bonecas é tão repetitivo? Haveria alguma relação com a violência doméstica posterior? E, como tratamos esse comportamento na infância? Ninguém ensina ao menino, mas, como a brincadeira dos bebês de se esconder atrás da fraldinha, ele arranca a cabeça das bonecas. A questão de gênero merece uma reflexão maior, voltaremos em breve. Mas, também nas situações de abuso sexual intrafamiliar, ela atrapalha e desprotege, aqui, os meninos. Por preconceito e falta de conhecimento, temos a tendência a atribuir uma espécie de “companheirismo” entre pai e filho, padrasto e enteado, avô e neto, e, assim, nos desviamos dos sinais de abuso sexual que esse adulto está praticando com o menino. O comportamento de negação de “macaquinho não vê, macaquinho não ouve, macaquinho não fala”, dos adultos do entorno é o mecanismo de defesa que abandona a Criança nas mãos de seu agressor. Precisamos nos debruçar nesse ponto para que possamos dimensionar melhor os estragos causados pelo abuso sexual e pela violência física, as duas formas de violência consideradas no conceito que vem sendo estudado como impacto de extremo estresse. E, mais ainda, os estragos causados nas diferentes faixas etárias, em relação às deficiências de percepção, de ressonância no corpo, de culpa, de decepção pelo afeto existente em relação àquele adulto. O impacto de extremo estresse, em suas duas formas de violência imprime marca compatível com a idade, mas, sempre, causa uma desestabilização do que poderíamos, usando uma metáfora, chamar das placas tectônicas da mente humana. Esse abalo não é de fácil posterior acomodação. Mesmo que não haja ainda uma capacidade de armazenamento mnêmico, como quando ocorre com bebês, o registro assume o formato do comportamento aqui descrito, de resposta de corpo inteiro, como no choro ou no sorriso. Impressões, sensações difusas, ou bem contornadas nas Crianças maiores, não são esquecidas. E causarão prejuízos que serão objeto do nosso próximo artigo.