quarta-feira, 15 de março de 2017

                                                           O TRAUMA do ABUSO SEXUAL
                                                                                  X
                                                O CÂNCER do MITO ALIENAÇÃO PARENTAL
           
       Equiparar o mito da alienação parental ao abuso sexual intrafamiliar tem sido uma perniciosa prática difundida pelos defensores e pais que têm se aproveitado desta lei 12.318/2010, para se defender da acusação feita pela criança, menino e menina, representada por sua mãe. 
       Há o propósito de confundir. Abuso sexual intrafamiliar é um trauma infringido à mente da criança, se inscreve como marca indelével no psiquismo em desenvolvimento, e, por esta razão, nas diversas aquisições em curso: aquisição do processo cognitivo, do processo de memória, do processo da moral, da ética, da cidadania. Ele, o trauma, em geral cumulativo pela repetição por anos, e pela decorrente Hipótese de Kindling, é colocado, corriqueira e erroneamente, como equivalente ao mito da alienação parental, assim como, também, equivocamente, igualadas as consequências das duas coisas. Urge explicar que no caso do mito da alienação parental, conceito criado por Gardner, médico que defendia por escrito a pedofilia, e sobre quem pesaram inúmeras queixas de práticas de pedofilia, por ocasião de seu suicídio, o fato é exógeno. Ou seja: é um conflito, não um trauma, que é causado pela dificuldade em lidar com o conflito que resultou da separação dos pais. Precisa-se considerar que este comportamento de desvalorização de um dos genitores em relação ao outro, ou, por vezes, recíproco dos genitores, acontece, não raro, na vigência da relação conjugal. Quantas vezes conhecemos este comportamento no nosso entorno. E, mesmo não sendo saudável, os filhos crescem neste ambiente e aprendem a ter crítica de ambos os pais. Em meus mais de 40 anos do exercício da profissão, nunca me deparei com nenhum caso de filho ser afetado severamente, nem moderadamente, por esta animosidade entre o casal de pais. Muito menos, quadros de depressão nem muito menos suicídio, como passou-se a divulgar. Desconheço também qualquer literatura que aponte estudos e pesquisas que possam fundamentar esta afirmação, cientificamente, leviana. O motivo: o fato de ser exógeno o fenômeno.
       Enquanto que o abuso sexual intrafamiliar, objeto de inúmeros estudos e pesquisas científicas, evidencia as sequelas permanentes da quebra do marco civilizatório, a interdição ao incesto, no próprio corpo da criança. Não é possível se afastas do próprio corpo. Ele passa a ser persecutório, é sujo, vergonhoso, testemunha, silenciosa ou barulhenta, de uma transgressão.
       A dramaticidade conferida ao mito da alienação parental está sendo imposta para encobrir o abuso sexual intrafamiliar. Criança não é marionete, criança não tem falsas de memórias, criança não decora um relato sobre uma prática de estupro, no entendimento técnico do termo que abrange toda atividade libidinosa até aquela pouco toca o corpo da criança, ou não toca, como a pornografia infantil. Uma criança de 03 anos é capaz de responder sobre um abuso sexual sofrido, com confiabilidade, “quem”, “o que” e “onde”. ANDERSON, J., 2010, citado pela Childhood Brasil. É preciso apenas que o profissional examinador seja qualificado para isso, e abandone o retrógrado e torturante método da acareação, uma verdadeira revitimização de grandes proporções nefastas.

       Conflito, para a psicanálise, pode se tornar uma fonte de crescimento, porque está do lado de fora do corpo e da mente, mesmo que muito perto. Trauma é trauma. Fica instalado no corpo, na experiência corporal, na imagem corporal, na autoestima, como uma tatuagem na alma de meninos e meninas. É uma perversão, como é perverso minimizar esta dor. Em sentido contrário do mito da alienação parental que se dissipa ao longo do processo de aquisição da capacidade critica, o abuso sexual intrafamiliar permanece, pode ser agravado ao longo da vida porque compromete a aquisição de respeito às Leis, a aquisição da Moral e da ´Ética, impedindo o exercício da cidadania.  

segunda-feira, 13 de março de 2017

INDIGNAÇÃO
       Bernardo, Joanna, Isabella, João Victor, Maria Nina, Bernardo, e todos os outros que perderam a vida por descumprimento institucional do ECA. São muitas crianças assassinadas pelos seus próprios pais/padrastos. O Feminicídio encontrou no Infanticídio uma grande motivação. Mas a Justiça é, literalmente cega! Os crimes de Feminicídio são diluídos em sua tipificação. Notificados como “crime Passional”. E o Infanticídio goza da piedade de grande parte da população manipulada por comentários que desculpam e justificam o crime hediondo como causado pela pressão praticada pela mãe, fazendo sofrer o pobre pai que “precisou” matar o filho, ou os filhos, até a facadas, são muitos golpes, muito sangue, que não deteve a fúria subanimal de um monstro em corpo humano. E encontramos a Voz da Justiça dizendo “não havia indício de violência contra a criança”. E de assassinato a facadas, então... Não seria um indício de violência trancar a mãe e as duas crianças num quarto e espancar a mãe na frente das duas crianças de 06 e 10 anos? Uma pessoa que comete este crime, espancar a mãe na frente dos filhos, sem chance de defesa ou fuga é confiável aos olhos da justiça? Ah! A justificativa de plantão: “mas ele não tinha ainda agredido os filhos”. Não? E, mesmo que espancasse a mãe sozinha e de modo “escondido”, durante o ato do espancamento porque o olho roxo, as costelas quebradas, os dentes caídos, aparecem de qualquer maneira, por que fazer experiência usando a criança como cobaia? Por que? Temos inúmeros casos de guarda compartilhada, de visitação de final de semana, em que a desculpa do judiciário é esta: “vamos experimentar”. E essas “experiências” se  cronificam, ou se resolvem com o assassinato das crianças.
       Depois é só botar o corporativismo em prática. Um Juiz pode errar. A manipulação com a autovitimização de psicopatas é exímia. Mas uma Associação não deveria encobrir erros cometidos. Crianças foram assassinadas. A advogada Clara Amado tinha TOTAL RAZÃO. Eles estavam em risco. As facadas dos óbitos são a materialidade da prova, que a Justiça tanto pede quando não há materialidade como nos casos de estupros intrafamiliar de vulnerável.
       Como escrito no Manifesto do MOVIMENTO DOS ADVOGADOS UNIDOS, a frase de Ruy Barbosa é muito atual: “a justiça tardia, nada mais é do que a injustiça institucionalizada”.
       A Programação agora é votar o Projeto de Lei que pede a diminuição da pena para Estupro de Vulnerável, considerada pelo autor como desproporcional, e a Lei da Mordaça: PL 4488/2016. A mãe, avó, professora, pediatra, etc, que denunciar um abuso sexual intrafamiliar e não apresentar as provas materiais, terá pena de prisão de 3 meses a 3 anos. Para garantir a ação dos pais pedófilos, a avaliação em acareação. Confrontar a criança com seu algoz é o que entendem técnicos sem preparo ou coniventes. A proposta de Lei de Proteção da criança e do Adolescente pela Escuta Protegida, já votada na Câmara, adequada, já nasce com a brecha para continuar criminalizando a mãe e desqualificando a voz da criança. A brecha, astutamente colocada, diz que a criança tem falsas memórias que são implantadas pela mãe por vingança contra o ex marido. Mães são, sistematicamente, acusadas de “alienação parental”, conceito forjado pelo médico pedófilo Richard Gardner, e que o Brasil e o México, apenas, transformaram em lei. Não é à toa que abrigamos 76% da totalidade de pedófilos mundiais. Implantação de falsas memórias? Este é um malabarismo intelectual de grandes dimensões. Uma criança até os 10/11 anos tem seu desenvolvimento cognitivo sob a égide do raciocínio das operações concretas. Só através da experiência dela que lhe é possível reter um dado na memória. Se a implantação de memórias na criança pequena que relata e explica e desenha um abuso sofrido, economizaríamos anos de escola, tão cara entre nós. Era só implantar memórias da tabuada, de teorias matemáticas de solução de problemas, teoremas, gramática, estrutura de redação, a geopolítica, a história dos povos, e, aos 10 anos, ela prestaria o ENEM.
       A Lei Maria da Penha em suas medidas protetivas não é respeitada por esses assassinos. Quantas mulheres têm sido mortas sob medidas protetivas, e a classificação fica como “crime passional”. Paixão? A Lei Maria da Penha tem sido objeto de deboche e até uma revista de circulação nacional dá voz ao marido que a tornou paraplégica e que a torturou por 19 anos. Ela não era acreditada. Mas ele, em sua queixa de que ela o tornou um monstro, é. Ela é culpada pelos espancamentos que ele praticou nela?
       O termo de justificativa é intrigante. Desproporcional a que? Será que à importância da criança? Nenhuma como antes do século XVII? Não se considera a tatuagem na alma de meninos e meninas marcada profundamente para sempre pelo abuso sexual intrafamiliar. Sujeito de Direito? Assim como também é intrigante que o crime de abuso sexual quando não provado, o que é muito corriqueiro com as precárias condições e o desrespeito às necessidades da criança ao ser ouvida, vira, automaticamente, alienação parental da mãe. Pergunto: quem matou P. C. Farias e sua namorada numa cama em casa de veraneio enquanto cumpria pena? A explicação para a morte dos dois levava a imaginar que eles tinham combinado no “um, dois, três e já!” Quem matou Celso Daniel Prefeito de Santo André? Nem lembro a explicação midiática. E, eles não estão mortos? Crimes nem sempre são prováveis. O abuso sexual intrafamiliar é um crime quase perfeito.

       Até o ano de 1977, a mulher que saísse de casa, seu marido tinha a prerrogativa de pedir à Justiça sua BUSCA E APREENSÃO dela, e se quisesse matá-la, tinha como alegava em defesa do crime que a tinha assassinado para lavar a honra. Sim, 1977! O Infanticídio foi tolerado até o Século XVII. Os pais, homens, tinham direito de jogar seus filhos do precipício, encarcera-los, acorrenta-los, flagela-los, e mata-los. Hoje, entre nós, é feita a BUSCA E APREENSÃO de crianças pequenas, às vezes de colo, por Ordem Judicial, sempre na calada da noite. PRIVAÇÃO DE MATERNIDADE, com o uso de alegações de alienação parental, sem provas materiais quando o beneficiado é o pai. Assim mata-se a criança e sua mãe de um só golpe. São milhares de crianças nesta situação. E, alguns pais, Matam no concreto. Crime de Ódio, já tipificado, mas nunca notificado como tal para diluir as parcas estatísticas. 

terça-feira, 7 de março de 2017

Jantando com Nélida.

       Minha resposta foi não, eu não tinha ainda programação para a sexta-feira, na boca do carnaval. Fomos. Éramos quatro mulheres. Nélida queria homenagear a Dra. Simone, pessoa especial, rara diria. A casa e seu aconchego, estava toda preparada, mas no natural. É sempre assim. Gravetinho proibido de participar, é muito autoritário, não aprecia visitas e tem uma D.R. permanente com a Susy. Ela, por sua vez, no colo da Karla, nos recepcionava à porta, uma fofa muito elegante, no vestidinho e na expressão de afeto. Jantou conosco em sua mesinha, pertinho dos pés de Nélida.
       Nélida nos recebeu na sua espontaneidade, simples e, naturalmente, requintada. Além da mesa linda, dos pratos familiares da casa, da bebida na boa medida, Nélida nos brindou com muitas histórias, às vezes pedia ajuda a Karla, acervo vivo preciso, atenta, sempre a socorria pontuando ou trazendo detalhes das histórias, ou nas dúvidas. Trazia mais riqueza com toda a delicadeza. Pessoa especial. Nélida deteve-se muito na Galícia. Voltou algumas vezes àquela fazenda. Dos 10 aos 12 anos, viveu lá, encontro de suas raízes. Olhar aquela mulher que nos fez imaginar uma menina que arava a terra. Uma viagem inesquecível. Simone, a homenageada com carinho raro de gratidão, Isabel, Virgínia, eu. Nós nos animamos e contamos nossas histórias de vida.        A diversidade daquele grupo veio de par com um fio condutor, uma dolorosa relação afetiva. Todas, temos. Parece que mulheres são sujeitas a esta dor e superação. Nélida brilhava ainda mais os olhinhos. A contadora de histórias acordou com toda a sua força. A cada curva da vida década uma, ela perguntava com uma curiosidade tão genuína, livre e séria, parecia que estava trabalhando. Muitas viagens ela nos trouxe, mas, para mim, a Galícia, foi o ponto mais importante da noite de diversos prazeres.

       Nélida arou a terra por dois anos e nunca mais parou de arar nossa imaginação com suas letrinhas. Obrigada, Nélida,