sábado, 23 de julho de 2016

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO AFETIVO MATERNO-INFANTIL

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MATERNO-INFANTIL
       Freud e o complexo de Édipo aos 4 anos, Melanie Klein e o seio bom e o seio mau, Anna Freud e os mecanismos de defesa do ego, Winnicott e a necessidade da mãe suficientemente boa, Lacan e a importância do vínculo mãe-bebê, Spitz e o hospitalismo, Margarth Mahler e a dependência absoluta e relativa do bebê, Bion, Piaget e o desenvolvimento cognitivo, Margarth Ribblee o abandono da mãe, Harlowe a necessidade de aconchego da mãe, Bowlby e a teoria do apego, Racamier e a relação mãe-bebê, Soulé e a psicopatologia do bebê, são apenas alguns dos autores consagrados pela competência e pelo pensamento científico. Todos aqui citados, psicanalistas, em sua maioria, fisiologista, psicólogo, todos estes e mais inúmeros outros, estudaram e escreveram sobre a relação mãe-bebê e o processo da formação do primeiro vínculo afetivo humano, o vínculo essencial. Seria enfadonho descrever todas as teorias. A razão é bastante óbvia. A criança quando nasce já tem uma sintonia com o corpo que se alimentou e habitou por nove meses. Assim os estudos ultrassonográficos mostram a maneira do bebê tentar conhecer os estímulos externos, como a posição do conforto seguro, a calma que assegura do carinho da mão da mãe. São muitos os vídeos familiares em que se pode observar o momento em que o bebê, ao nascer, é colocado em cima da mãe, minutos depois do nascimento, como param de chorar e como mostram resistência em sair do contato com ela. Alguns chegam a “pedir” para não serem retirados do aconchego do corpo da mãe. O único conhecimento que já temos ao nascer é o corpo da mãe.
       O mundo todo novo e hostil se não houver o bom filtro feito pela mãe, é assustador. Mas, é a mãe que percebe primeiro a vulnerabilidade, a fragilidade, a dependência daquele ser, e se oferece para cuidar dele. É a mãe que desenvolve o primeiro vínculo afetivo, essencial durante toda a infância. Este vínculo afetivo, mãe-bebê, garante a sobrevivência do bebê. Os bebês humanos nascem com necessidade dos dois alimentos que não lhe deixam morrer: o nutriente, o leite materno, e o afeto.
       Harlow demonstrou esta importância do afeto/aconchego com uma experiência com chipanzés órfãos, que chegavam a contrariar a lei natural da preservação da espécie, e se recusavam a se alimentar numa mamadeira encaixada em uma armação/mãe de arame, para permanecer no colo aconchegante da armação lãs e trapos/ mãe.
       Spitz, médico pediatra, observou que as crianças internadas em sua enfermaria num Hospital de Paris, cujas mães os abandonavam, entravam num quadro físico de ausência, de desprendimento pelos estímulos externos, perdiam a fala, perdiam as aquisições motoras, recusavam o alimento, e finalmente, entravam num quadro de caquexia, tendo alguns sido levados à morte, apesar de estarem dentro de um Hospital. A falta da mãe matava. Spitz experimentou, e teve sucesso, destacar uma única enfermeira para cuidar e conversar com carinho com as crianças que iniciavam este quadro que ele definiu como Hospitalismo. A substituição da mãe por uma outra mulher que lhe fava uma atenção especial, um afeto, passou a salvar as crianças que eram abandonadas pela mãe.
       Hoje, o que me espanta, depois de 43 anos de profissão, é ver a função da mãe ser desqualificada. Há uma pressão, talvez mesmo uma distorção desta evidência. Sem este vínculo mãe-bebê, que se estende por toda até a segunda infância, nenhum de nós, nem mulheres/mães, nem homens/pais, estaríamos tentando ser mãe, ser pai, função importante, mas, sinto muito, complementar.
       Mas, o pai hoje é visto como tão essencial que uma criança não sobrevive sem o convívio com ele. De onde veio esta teoria? Em que estudos científicos está baseada? E, o mais curioso, é que só os pais que tiveram algum tipo de acusação de violação de Direitos da Criança, no caso filho ou filha, que reivindicam este convívio, querendo inverter com uma falsa acusação à mãe que transforma o cuidado e a proteção dela em Alienação Parental.

       A imagem, emblemática deste vínculo afetivo, nos mostra olhar, o olho do bebê que é recebido e reinvestido no olho da mãe. O olhar no olho da mãe é a semente da capacitação de empatia. Faz parte do vínculo mãe-bebê, que se desenvolverá e se ampliará por toda a infância.       

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O 119º ANIVERSÁRIO da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, CONVITE HONROSO

O 119º ANIVERSÁRIO da ACADEMIA BRASILEIRA de LETRAS:
HONROSO CONVITE
      
       O Professor e Escritor Domício Proença Filho, Presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), pontualmente abriu a solenidade de aniversário. Um minuto de silêncio pela perda do acadêmico, crítico teatral, Sábato Magaldi, seguido pela leitura qu o Presidente da Casa fez do discurso de Machado de Assis que fundou a Academia há exatos 119 anos.
       As palavras, quanta precisão, iam até aquele verde infinito. O Professor Cândido Mendes brindou a todos com uma brilhante dissertação de nossa História através de nossos escritores, a Escritora Nélida trouxe o conceito acrescido aos já tradicionais, o conjunto da obra em sua delicadeza em sua peculiar construção de imagens, lindo, e seguiram-se as premiações Acadêmicas. Foi ao Professor Ignácio de Loyola Brandão que coube a saudação aos três Premiados. Que saudação! Passeando pelo seu passado, família, Prof. Lourdes, Araraquara, o critério da menor fila ao escolher o curso científico e não o clássico, o humor dos sábios e destemidos, perfumando as letras.
       A Banda do s Fuzileiros Navais, a música na edícula fora daquele verde do infinito, o canto, invadiu e transbordou para além muros. A arquibancada numerosa de quem, incauto, passava na calçada, mulheres em saltos altos saídas de escritórios que decidem a vida de muitos, quem procurava o ônibus para retornar à sua casa, os que conduzem estas pessoas para suas casas, ou perto delas, eram muitos. A música se doa a todos.
       Elegantes canapés, espumante, suco de pêssego, a água. Perambular pelas salas e olhar para Rui Barbosa jovem, Olavo Bilac, Casemiro de Abreu, os bigodudos em quase caricaturam, uma reunião de escritores num restaurante ou bar em 1937, a delicadeza das porcelanas. De repente, a luz, em tom de branco vinha do céu, trazia o novo. Como pode, três palmeiras ali, e mais um nome, este não das letras, mas das plantas, Burle Max. Fazer rodinhas com os Acadêmicos, ali, imortais de verdade, muitos, cedendo a vez para mim, simples mortal, para ser servida na torradinha com o foie gras aconchegado na geleia de mirtylle.
       Obrigada muito a todos pelo que aprendi. Obrigada Nélida pelo convite. Obrigada Zuenir pelo abraço, e Mary sempre sorriso. Obrigada Ignácio de Loyola pela sensibilidade leve e profunda. Obrigada Machado de Assis por ter começado isso tudo.  E perdão pela ousadia de tentar. Conheci uma riqueza que não se consegue tocar, mas se é tocado. Que acervo, que belezas, que perfumes, que conjunto de obra!   


quarta-feira, 20 de julho de 2016

PAI É PAI: RAfael, 5 anos, morto a pancadas pelo pai

http://taxiemmovimento.blogspot.ae/2016/07/felipe-de-jesus-soares-araujo-de-32.html?m=1


PAI É PAI
Rafael, 5 anos, morto pelo pai a pancadas porque não queria comer.
       Rafael foi sendo espancado ao longo do dia porque se recusava a comer com o pai. O PAI ia lhe batendo em várias sessões de violência. E Rafael com 5 anos foi morrendo, morrendo. Morreu. Não resistiu à violência do PAI. Este pai confessou o crime contra o filho. A mãe foi indiciada por omissão. Ela não estava em casa, mas se estivesse, talvez o rumo da violência tivesse a mesma historia trágica. Ela declara que tem muito medo do marido.
       Ter medo de uma pessoa violenta é genuíno. O Homem primitivo tinha 4 problemas a resolver: a fome, o frio, a dor e o medo. A fome o homem resolveu quando se fixou à terra e começou a agricultura familiar que se desdobrou, mas hoje acabou criando a exceção das aberrações extrativistas e capitalistas, da desigualdade por omissão. O frio ele resolveu, de novo não para todos, os que estão fora do sistema sentem frio até hoje. A dor, também, primeiro, as ervas e depois os fármacos e tratamentos modernos, também não para todos. Mas o medo o Homem nunca resolveu. E nem resolverá.
       Temos medo sim de uma pessoa violenta. Frente à ameaça, nos encolhemos, nos acovardamos, e passamos a obedecer nosso algoz. Muito fácil agora dizer que a mãe de Rafael devia ter se separado do marido e pai violento. Medo. Mas, se ela tivesse se separado, Rafael teria ficado mais vulnerável ainda porque a Justiça a obrigaria a entregar Rafael para a visita do pai, e se ele achasse a pensão alimentícia muito cara, ele entraria com uma falsa acusação de Alienação Parental, nunca verificada.
       A Criminalização da Alienação Parental, tão defendida hoje, é o resultado da inveja masculina para a afirmação de impunidade: no Brasil só se vai para a cadeia se não pagar pensão alimentar. Só pai vai para a prisão. Em retaliação, foi redigido um Projeto de Lei que põe na Cadeia por 3 meses até 3 anos a mãe que denunciar e não provar, isto se torna, automaticamente, uma Alienação Parental irrefutável.

       Assim os pais estão vingando o ditado da impunidade.      

PAI É PAI E A CULTURA DO ESTUPRO

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PAI É PAI
E
A CULTURA DO ESTUPRO
       Em rede nacional, o jogador, pai de outras crianças, bolina os peitinhos, passa o dedo nos mamilos em desenvolvimento da menina petrificada. Atrás, não dá para afirmar, mas há mais alguma coisa acontecendo com sua mão direita e seu corpo aproximado do corpo dela. A seu lado, seu colega jogador, tudo vê, mas naturaliza. Os fotógrafos e câmeras também nada fazem.  Iodos os telespectadores, milhões, também assistem à sessão de abuso sexual público, mas ninguém reclamou. O cidadão não responde a nenhum processo. Conclusão: é normal.
       Esta é a cultura do estupro. Todos estamos implicados. Todos somos negligentes e omissos, o que só favorece a cultura do estupro. Mais claro do que neste vídeo é impossível. Este vídeo fala tudo.
       No entanto, se aquele fosse o pai da menina, e se a mãe o denunciasse como abuso sexual, ela acabaria condenada por alienação parental porque acusou e pediu, claro, o afastamento do pai abusador. Na condenação por Alienação Parental a mãe perde a guarda do filho, e é pedido seu afastamento imediato. Como foi com a Joanna Marcenal, morta pelo pai.
       É tão banal e impune o estupro de meninas e meninos que não há nem preocupação com a situação pública. Vale ressaltar aqui que esta é uma condição excitante para o abusador. Muitas crianças são abusadas em público. O abusador se sente ainda mais triunfante, ser verdadeiro prazer, enganar a todos, viver um poder absoluto. Este é seu prazer. O abusador não busca o prazer sexual com a criança, este prazer não é o mais importante. Ele tem uma perversão do objeto sexual. É só pensar no corpo de um bebê, de um menino de 4 anos, de uma menina de 7 anos, e mesmo de uma menina de 12 anos que já tem os caracteres sexuais secundários mas não tem ainda nenhuma sensualidade no corpo, como mostra a menina do vídeo.

       Abuso sexual é crime, não é doença.

terça-feira, 19 de julho de 2016

PAI é PAI II ? - Menina de 1 ano, sequestrada da sala e do peito da mãe.

PAI É PAI ? menina de 1 ano, sequestrada da sala e do peito da mãe.
       Há 9 dias a menina de Olinda está desaparecida. Há suspeitas de que foi levada para fora do país. Como? Como diz a polícia, que as primeiras 48 horas são as de maior probabilidade de sucesso em encontrar uma criança desaparecida... Neste caso, não foi perdida, foi sequestrada, arrancada do seio materno onde ainda mamava... Pelo PAI.
       Podemos pensar que o Juiz ou Juíza cumpriu a Lei quando garantiu ao pai o convívio com sua filha. Mas, se usarmos a humanicidade, que todos devemos ter, pai agressor da mãe, sob a Lei Maria da Penha, com medidas protetivas para a mãe, um bebê que não denuncia, mais do que vulnerável, ainda na amamentação materna como reza a OMS, não seria de bom senso usar a cautela? Por que a ideia, recentemente naturalizada, de que o convívio do pai é tão essencial quanto o leite materno, que uma criança não se desenvolve sem o pai. É interessante esta implantação social, num país de sem pais, em que os homens fogem de suas responsabilidades, abandonam, desaparecem para os filhos.
       Os lobbys de determinados grupos, veiculam ideias, vendem afirmações sem etiologia nem comprovação, ou com etiologia nefasta como a da Alienação Parental, criada por Gardner que era pedófilo e defendia, por escrito, a pedofilia e a atração pelo incesto, na busca obcecada de um objetivo, transgredir e perverter.
       Aos Operadores de Justiça, em processo de soterramento pelas pilhas de processos, sobra a sensação de estar atualizado quando ouve uma “nova” ideia, garantida como certa pelos lobbys já disseminados, e ele abraça a ideia: a mãe está fazendo alienação parental, porque o pai está pedindo, tanto pai que não quer nem saber, e este está sentindo falta, postou uma foto com o filho, rostinho colado, está sacrificando seu final de semana para ficar com a filha, claro que ele é um papai bonzinho. E a ordem de visitação é dada. Se a mãe reclamar, não é por cuidado e proteção, não é porque ele vai fazer coisa que não deve com o filho ou a filha, é a prova da sua alienação, ela quer impedir o convívio do pai bonzinho com a criança, então é o suficiente para tirar-lhe a guarda, e como manda a cartilha do Gardner, aquele pedófilo, é o afastamento sumário e abrupto da mãe. A mãe, pessoa de referência durante toda a infância, pode, e tem sido afastada da vida da criança. Aquela mãe dos dois meninos em vídeo que circula na internet, que por 14 minutos se desesperam e gritam todos os porquês de não quererem ir para a casa do pai. Abusos são gritados, agressões físicas são gritadas, medo é gritado, insegurança é gritada, são vários pedidos de socorro que são gritados. Mas assiste-se ao cumprimento de Mandado de Busca e Apreensão, que é cumprido por Policiais, e Oficiais de Justiça. E um pai frio, distante, que termina por pegar os dois meninos como se pega bezerro, evidenciando seu tipo de proximidade com os filhos.
       Não é culpa dos Juízes, dos Promotores. Mas, quando acontece o que aconteceu com o Bernardo e a Joanna? Ou aquela meninazinha de 2 anos que tinha a vagina e o anus dilacerados e refeitos cirurgicamente, em consequência de abusos sexuais violentos, abrigada com a mãe, e o Juiz, sem saber, pensou que Pai é Pai, e a entregou para o Pai.
       Há que sejam revistas estas máximas distribuídas por quem interessa enganar os Operadores de Justiça. Surge neste momento que a Escuta Protegida começa a ser vista como o instrumento de respeito e dignidade, diverso da acareação de crianças com seus abusadores, um novo sofisma: as falsas memórias e as implantações de falsas memórias. É preciso estudar. É preciso conhecer o funcionamento da criança. É preciso não se deixar levar por sofismas que partindo de um erro, montam uma premissa menor, depois uma premissa maior, e, percorrendo tudo usando um raciocínio lógico, levam a uma conclusão dedutiva errada.           
       Perdão à mãe da menina de Olinda, a cada minuto mais desesperada e dilacerada, melhor dizendo, do bebê de Olinda. Perdão. Mas será que ainda a encontraremos? Torcemos firmemente para que sim. Os psicopatas encontram muita facilidade e estímulo em viver a sua perversão entre nós. São ingenuidades, são facilidades, são omissões, são prazos, são mentiras não investigadas, são negligências, são convicções infundadas, nosso sistema social, e judicial permite que as perversões contra as crianças, a parte mais vulnerável da sociedade, e a que vai nos aguentar na velhice, que estas crianças sejam maltratadas, sejam vítimas de violência física, psicológica e sexual. Nós temos uma dívida com esta bebezinha de Olinda, arrancada da mãe pelo pai na visita autorizada pela Justiça, com a menina de 7 anos que, heroicamente,  tentou salvar a mãe de uma facada mortal desferida por um ex namorado, que já a ameaçava, o crime que continua apesar da Lei Maria da Penha, assim como do menino que estava junto com os pais, fuzilados na sua frente, por uma “autoridade do crime”, figura paterna também nefasta.
     É equivocado pensar que esta menina de 7 anos esquecerá o que ela viveu vendo a mãe se esvair em sangue e ela, depois de conseguir parar um taxi, porque ninguém ajudava, entrou na frente da mão dentro do carro no banco dianteiro e sustentava a cabeça da mãe, dizia para ela ficar de olhos abertos, mandava a mãe respirar, enquanto dava ordem para o motorista ir mais rápido. 7 anos. Ela não esquecerá. Ela terá várias sequelas. Ela precisa de cuidado especializado permanente durante sua infância e sua adolescência.  O menino que viu o pai e a mãe morrerem a tiros, também se esvaírem em sangue, a morte em duplo da dupla mais importante de sua existência aos 5 anos. É, completamente, equivocada a ideia de que a bebê de 1 ano, arrancada da mãe e levada não se sabe para onde, ao ser encontrada e ser confortada e aconchegada pela mãe, tudo terá passado para ela. Não. Talvez ela é que dos três emblemáticos exemplos do abandono da infância que praticamos, seja a que mia dificuldade enfrentará. O corte do leite, do colo, do cheiro, da voz, da luminosidade, enfim do mundo perceptivo desta criança trará sequelas amplas, porquanto num momento do desenvolvimento ainda de muita desorganização, esta menina não terá imagens, mas terá sensações, terá emoções fluidas, terá impressões mal impressas. Este dano é muito grave. E encontrará uma mãe, também, danificada.    
       A todos estes órfãos da violência, violência que por ação ou omissão praticamos, nosso pedido de perdão e nosso reconhecimento de responsabilidade.

       Pai é Pai?    

segunda-feira, 18 de julho de 2016

PAI É PAI? MESMO?


PAI É PAI? É MESMO?

        Vivemos hoje o retorno, disfarçado, ao Pátrio Poder. Uma criança não sobrevive sem a convivência 50% do pai. Já perguntei se para as crianças cujo pai morreu, tão comum no Rio, se será preciso empalhar o pai sentado na sala. Como uma criança não sobrevive sem um pai perverso, por exemplo? De que pesquisa científica saiu essa afirmação que se refere apenas aos pais separados que receberam a queixa de abuso sexual? Sim, porque os pais que continuam casados não reivindicam 50% de convívio. E convívio não e cuidado, não é responsabilidade.
       Interessante que há um binômio: papai bonzinho e mamãe alienadora. Por que todas as mães que prestaram queixa de abuso, negligência e maus tratos, se torna, automaticamente alienadora. Todas histéricas, todas invejosas, todas ressentidas, todas desesperadas porque perderam o maravilhoso marido. Então, todas vão gastar seu tempo e dinheiro retaliando o ex-marido imperdível. E mais, todas vão usar o filho ou filha para isso, destruindo a criança. Com a saída do marido, todas se tornaram vingativas com o ex-marido e perversas com os filhos.
       Neste embroglio, surgem as avaliações das crianças, hoje consideradas tábulas rasas, ou bolinha de massa de modelar. Não tem querer, são obrigadas a obedecer aos Oficiais de Justiça que trazem ordens que destroem suas vidas, em desespero agudo. Atribuem-lhes fantasias, mentiras, construções cognitivas, e agora, mais recentemente, memórias falsas ou implantes de memória da mãe. Tudo isto para desacreditar sua fala. Se é sério e grave o que fala, como o abuso sexual, então é  falsa memória ou o implante.
       Curioso é que para haver uma falsa memória numa criança de 4 anos faz-se necessário que haja uma ginástica impossível. Aos 4 anos começamos a guardar as lembranças. O esforço para realizar este armazenamento é grande, a organização, toda a classificação parra que o acervo fique acessível. Como nesta situação temos memórias falsas ao mesmo tempo? Como também, quando estamos investindo para guardar o mais fidedignamente os fatos, e a sinceridade da criança nesta idade o atesta, vamos conseguir repetir o que outra pessoa enfiou na memória, alheio a nossa experiência?
      Posso afirmar que, quanto menor a criança mais verdadeira é seu discurso. Aos 4/5 anos, a criança está o mais próxima da verdade que nos é possível. Ela é regida pelo pensamento concreto, só a experiência lhe faz acumular conhecimento.
       Pai é Pai? O pai do vídeo dos dois garotos, que choram em prantos convulsivos e relatam sua história com o pai, gritam para quem quiser ouvir, não os avaliadores judiciais, evidente, esses só ouvem alienação parental, a queixa do dedo enfiado, a queixa de chupar, o genuíno desespero, que o pai ainda diz que o choro foi instruído pela mãe “alienadora”, é frio e impassível.
       Pai é Pai. Onde está Samuel? Não é o joguinho do Wally.
       Pai é Pai. A menina de 1 ano e pouco, ainda mamando no peito da mãe, é sequestrada  pelo Pai que é Pai. Frio, calculista, premeditado. Retirou dinheiro antecipadamente para não ser rastreado, a mãe "alienadora", sempre assim titulada pelos papais bonzinhos, de um bebê, está com o leite pingando há uma semana. O juiz, será o mesmo do Bernardo?
       Pai é Pai dos meninos do vídeo?
       Pai é Pai de Bernardo.

       Pai é Pai de Joanna. Este está solto.
       De quantas crianças mais?

sexta-feira, 15 de julho de 2016

NOVOS BERNARDOS, NOVOS JUIZES

NOVOS BERNARDOS  E NOVOS JUÍZES
       Dois novos Bernardos ou Samueis, ou Joannas, porque a alma não tem gênero, são vistos em sofrimento agudo no registro audiovisual que circula na mídia O link é:  https://m.youtube.com/watch?v=lzQp_uDtOl8 . (Atenção com o “under line” depois do “Qp”.)
       É visível o constrangimento dos Oficiais de Justiça. Os Policiais ficam fora da cena. E o pai, bonzinho que ganhou a guarda e a condenação da mãe por alienação parental, aparece no seu genuíno papel: frio e dominador ao pegar os filhos como bezerros que vão ser marcados. Mas fala auto o suficiente para registrar que a recusa dos filhos a ele tinha sido uma “instrução” da mãe. A cena deve engrossar sua falsa alegação de alienação parental nos autos.
       Mas deve ser editado. Claro que ele tirará o que é gritado pelos filhos, o motivo que eles estão, desesperadamente, se recusando a ir para a casa do pai. Os prantos de angústia, medo, desespero, desamparo, pedidos de socorro, são acompanhados de frases dirigidas ao pai: “maldito”, “mentiroso”, “falso”, “você enfia o dedo no meu c...”, “você bota a gente prá chupar seu peru”.
       O Juiz tirou a guarda da mãe e entregou a este pai que, segundo seus 2 filhos pratica estas atividades sexuais com eles. A justiça já havia desconsiderado uma juntada de um vizinho da mãe dos meninos, que vem a ser um desembargador, sobre um episódio que tinha presenciado e entendeu como grave.
       Talvez a mídia possa proteger estes 2 garotos da morte, como Bernardo e Joanna. Esta exemplo emblemático, guarda única para o pai, afastamento total da mãe por 90 dias, ele assassinada pelo pai dentro dos 30 primeiros dias.
       As falsas acusações de Alienação Parental estão sendo aceitas sem provas, ou com provas de manobras de autoalienação, ou alienação autoinfligida, (Maria Berenice, e Rolf Madaleno, especialistas em Alienação Parental que já escreveram sobre a autoalienação), estratégia simples fácil para pais que são abusadores. O mito, sem cientificidade, do conceito criado por Richard Gardner, pedófilo, que dizia ser natural as atividades sexuais entre adulto e criança e que isto estimularia a criança para a reprodução e a preservação da espécie, e ainda, que o incesto não era um problema, só passava a ser quando era pensado como problema, entrou como a solução dos pedófilos. Gardner tinha ligações com o Instituto Kinsey onde se faziam experiências com bebês, ao vivo, para provar que bebês sentem orgasmo. Gardner se suicidou a facadas quando foi determinada uma investigação dele por queixas abusos sexuais. E acrescente-se, além da falsa acusação de Alienação Parental, Gardner instruía a “terapia da ameaça”, hoje amplamente executada nos Processos de Varas de Família. É a ameaça à mãe, primeiro da perda da guarda, segundo da multa que irá pagar, terceiro do afastamento total do convívio, dividido em 2 partes, a primeira com visitação monitorada, a segunda, como a mãe de Joanna que não passou pelas etapas, o afastamento total, até de telefone. Assim, processa-se o engessamento da mãe, mergulhada no medo da Justiça, isto é grave, que busca a proteção de um filho. Ter medo da justiça quando há uma criança que ficou fora do tema desde o começo é muito grave. O que resta a estas mães é o silêncio.
       Como se ainda fosse pouco o calvário que mães e crianças tem sofrido, a terapia da ameaça tem agora mais um castigo e um motivo para desistir o quanto antes de uma denúncia que o disque 100 propaga,dizendo até da conivência e violência de quem saiba e não denuncia. O Projeto de Lei 4488/2016 está para ser votado e promulgado. Ele prevê pena de detenção de 03 meses a 03 anos para quem denunciar abuso sexual e não provar. Está completa guilhotina do abuso sexual intrafamiliar. A voz da criança foi desqualificada, ela é ouvida em acareação com aquele que ela está acusando de lhe praticar o abuso. É inacreditável que seja este o método das avaliações psicológicas quando se tem um método, baseado em estudos científicos e pesquisas, A Escuta Protegida., Mas, este método e o essencial PROTOCOLO  e Registro Audiovisual, que são partes componentes da Escuta Protegida, são  rechaçados pelas psicólogas forenses. A Acareação, segundo elas, permite “VER” a ligação da criança com o pai.
        Então, um crime às escuras, um estupro de vulnerável, com toda a sua gravidade e dificuldade de obter provas materiais, o abusador não deixa rastros, não pratica penetração peniana, este crime fica por conta de uma psicóloga despreparada. Lanço aqui mais uma vez, o apelo para que suspeita de crime de estupro de vulnerável, seja investigado pela Polícias Federal pela gravidade de seu percurso jurídico, hoje dominado pelas falsas acusações de alienação parental, e pelas sequela permanentes do abuso sexual. A Polícia Federal, que já tem um departamento para investigação de Pornografia Infantil, crime mais amplamente cometido do que qualquer imaginação possa pensar, poderia investigar o Estupro de Vulnerável, e assim também, as mães realmente alienadoras seriam justamente, descobertas.    
       Faz-se necessário deixar claro que o mito de que a mãe faz lavagem cerebral, etapa de convencimento dos Operadores de Justiça proposta no esquema do Gardner para livrar pais abusadores, seria bom que fosse possível executar. Não teríamos aquelas crianças desobedientes, tantas vezes inconvenientes na escola, nas festinhas, enfim era só fazer uma lavagem cerebral e não precisava nem da ritalina. Mães não são da SS. Ninguém consegue fazer lavagem cerebral numa criança que tem a experiência do convívio com um pai bom, que exerce bem sua função de pai. Não falo de papel, de título, de uso oportunista. Se uma mãe ou um pai, os homens separados também ficam magoados e invejosos da ex-mulher, denigre o outro genitor por raiva, ou por qualquer outro motivo, e a criança tem uma boa experiência afetiva, o que não quer dizer horas junto por obrigação, a criança pode repetir a metade da instrução mas o resto será a verdade da experiência. Criança não tem capacidade de mentir como agora estão falando, criança não fantasia com conteúdos sexuais que ainda lhe são desconhecidos, porque ela só acumula conhecimento experimentado. Nada abstrato fica.  
       Crianças não são uma bolinha de massa de modelar. Ninguém modela uma criança. Os estudos ultrassonográficos em grávidas, de gestação gemelar mostram já, um perfil de alguns traços de cada gêmeo, que se confirma quando aqueles bebês são acompanhados até os 2 anos. Por que difundir este absurdo como se fosse resultado de algum estudo?
       Criança tem querer. É lamentável assistir o vídeo feito por mais um menino de 11 anos, como o Bernardo e como o filho que divulgou nas redes o estado do rosto da mãe espancada pelo pai, o vídeo em que uma Desembargadora, trancada com ele, diz “criança não tem querer, você vai sim, vou dar uma multa bem grande se você não for, porque quando dói no bolso, resolve”. Criança não tem querer, ameaça, abuso de poder, isto é o exercício do ECA?

       Criança é Sujeito de Direito. Ainda.

terça-feira, 12 de julho de 2016

O QUE DÓI

           O  QUE  DÓI



       A polêmica sobre certo gênero de música está lançada. A coreografia também está em questão. Sons, palavras, gestos, são discutidos, imitados e adotados. Mas, sons, palavras e gestos, vão produzindo uma contaminação própria da nossa época: a lei do consumo. A zoologia entra em voga e, vorazmente, consomem-se tigres, cachorras, potrancas, sem nenhum critério de higiene sanitária. Mas não venho para defender os animais, estes tem muitos protetores, e sim as crianças e adolescentes, enquanto especialista em saúde psíquica deste período em que o ser humano opera seu desenvolvimento.
       Começam a surgir, em tempo, incômodos com relação ao gestual e aos conceitos contidos em músicas que andam na moda. Aparecem os primeiros sinais de uma certa inquietação movida por posições feministas, anti-machistas, conservadoras, etc., etc., etc. Por outro lado, posições  pseudo-libertárias  bradam até pelos sintomas sado-masoquistas, como se fossem saudáveis. E ainda, a turma que está lucrando, financeiramente, também começa a se preocupar, pensando que querem “queimar” este filão, e defendem-se dizendo que são boatos o que circula sobre sexo e violência. Boatos aliás, que nascem após nove meses, crianças filhas de crianças de 15, 14, e até 12 anos, geradas em cantos escuros ou  em cantos claros, explicitamente, na “dança das cadeiras” de bailes super-lotados.
      Em zona “nobre” da cidade, adolescentes ainda muito jovens bebem, fumam, tomam ecstasy, cheiram lança. E assistem a cenas explícitas de violência quando um pobre garoto medroso, mas cheio de músculos deformados pelo uso de esteróides anabolizantes, as bombas, decide, por motivo fútil, eliminar um outro pobre garoto distraído ou ingênuo nas regras espartanas da “night” carioca. O sangue é obrigatório nestas cenas de violência explícita, que deixam lesões, algumas irreversíveis, e, por vezes, trazem a morte para a festa. Há várias outras modalidades de violência praticadas nestas festas. Entre elas, gostaria de destacar aquela que é executada quando um desses musculosos decide “ficar” com uma garota e ela não aceita: ele lhe dá um soco na cara. O que deveria ser uma proposta de prazer é, instantaneamente, transformada em violência.
      Talvez alguns pensem que estou dramatizando, exagerando, que seja de alguma seita religiosa contra a diversão e o prazer, ou que estou fazendo uma maldade com os pais e os filhos, os primeiros porque não sabiam destas coisas e ficaram horrorizados, e os segundos porque vão ser prejudicados não podendo mais sair no próximo sábado. Não é, em absoluto, isto que pretendo. Faço parte desta sociedade, e, de alguma maneira, sinto-me também responsável pelo que está acontecendo e pelo que penso vir a acontecer. No entanto, quando ouvimos o noticiário, ou o relato de alguém, temos  tendência a sentir como muito distante de nós, a sentir estranheza, pois afinal se não aconteceu com um de nossos filhos, estes fatos não conseguem nos atingir por mais de alguns minutos, tempo suficiente para se deletar mais uma das inúmeras informações que sofremos por dia . São tantos os casos, tamanha a freqüência, inúmeras as modalidades, que parece se tornar comum, e, aqui está um dos problemas que gostaria de abordar: já nos acostumamos. Não dói mais. A banalização da violência e do sexo é a maior das violências que está a nos destruir. E banalizamos.  
      Caminhamos a passos largos para um caos social onde não haverá mais regras, não haverá mais sentimentos, não haverá mais “humanicidade” – neologismo que arrisco para definir um certo sentimento de pertinência ao que há de mais humano em cada um de nós, e que nos une a  quase todos. E neste estado de não-direito, tudo pode. A perversão é a marca mais prestigiada das relações que deveriam ser afetivas e se tornaram descartáveis. Os modelos identificatórios são os ditados pela mídia sob as leis do consumo descartável. É nesta perspectiva que se insere a valorização da aquisição de cada nova “dancinha”, percorrendo em pouco tempo um caminho que, partindo do simbólico (há alguns anos), foi se animalizando em uma concretude feia, para assim reinar hoje, insistindo em dominar tudo. A sutileza que alimentava o imaginário não tem mais lugar na grotesca cena erótica atual. Com que realismo crianças dançam e cantam relações sexuais perversas em festinhas infantis. E com que realismo, adolescentes, quase crianças, dançam nas cadeiras relações sexuais ao vivo e em público. Uns e outros patrocinados pela permissividade que se instalou nos quatro cantos da nossa malha social. Pais tem medo de seus filhos, mesmo quando eles tem apenas sete anos de idade. Temem dizer não. Saímos da época que criança não existia como gente, para a era da tirania infantil. As crianças passaram a dar as ordens, e, na sua imaturidade, quantas vezes se desorganizam mentalmente porque esta tarefa está acima de suas possibilidades. A psicanálise contribuiu para que descobríssemos a riqueza e importância da infância, mas também contribuiu para que se vulgarizasse, erroneamente, o conceito de trauma. Exageros foram cometidos em nome de um “psicologismo verborreico”, que tem nos levado à perda do exercício dos limites nas relações pais-filhos, professores-alunos, adultos-crianças, à perda do saudável “não pode”. Estabelecer limites para uma criança é respeitá-la e amá-la, porque os limites são estruturantes para o desenvolvimento de sua mente, capacitando-a a exercer a liberdade, de maneira responsável. Dar limite não é castrar, assim como dar liberdade não é ser permissivo. Também o adolescente necessita de limites para contê-lo em seus impulsos onipotentes, próprios desta fase. Os adolescentes de hoje fazem parte da primeira geração anti-trauma, quando todo o sistema educacional foi  revolucionado, modificando papéis exercidos dentro da família. Esta tomou cara nova, aliás, caras novas chegando a atingir a marca de 104 formas atuais de família, segundo pesquisa recente.  Filhos do divórcio, da sexualidade liberada, da psicanálise, de uma mãe profissional, do computador, eles são usuários de drogas em progressiva curva ascendente. Drogas usadas pelos seus pais e drogas novas, ainda pouco conhecidas nos seus efeitos e lesões. Valores, quais? Bandeiras, quais?  Projetos, quais?  Desejos, quais? São portadores de dois vírus: o vírus da droga e o vírus do desafeto. O primeiro é uma virose social de grandes proporções e crescimento descontrolado, o segundo uma virose familiar também avassaladora, ambas epidemias que estão destruindo o presente e o futuro de todos. Se estes dois vírus são hoje duas epidemias, em suas diversas formas, a violência, doença contagiosa e degenerativa que as permeia, já é endêmica.
      Dirão alguns, e o salário mínimo, e a reforma agrária, e a reforma tributária, e a lei de responsabilidade fiscal, e a mortalidade infantil, e a política de saúde mental infantil, agora com as vítimas do vírus Zica, e a corrupção, e a falta de educação no Congresso, e a falta de escola, e a fome, e a miséria? E a miséria. Aprendemos a gritar nestes últimos anos. A denúncia ocupa lugar de destaque na mídia, o que é muito importante para um povo que teve sua boca, arbitrariamente, calada por um período. Denunciamos, denunciamos, e denunciamos, mas não nos responsabilizamos. No entanto, somos todos responsáveis pelo estado social que vivemos. Nossos governantes não tem dado conta destas coisas por razões várias que, de tão extensas, não caberiam aqui. E, como eles não fazem nada ou quase nada, temos a desculpa de que nada podemos fazer. Aqui reside um grande erro onde nos escondemos. Continuamos a nos comportar como se  continuássemos  em exceção,  a  ter um árbitro diante do qual somos impotentes. Perpetuamos uma situação infantilizada de dependermos de um poder maior, e nos fazemos impotentes. Mas, a mortalidade infantil tem mudado sua marca pela ação da pastoral da criança, sem esperar pelas verbas. A miséria tem sido combatida com a farinha nutritiva do cuidado e da dedicação de alguns que vem se multiplicando. Portanto, podemos!
      Se a miséria social é vergonhosa e pode matar uma criança, a miséria psicológica é perversa e mata uma sociedade. Combatemos o trabalho infantil dos pequenos carvoeiros, mas nem sequer identificamos a exploração infantil pela mídia. As pequenas prostitutas nos horrorizam (por alguns minutos...), mas não identificamos o abuso sexual praticado por adultos que se divertem a olhar meninas se contorcendo e latindo. Este é o mal maior que nos aflige. A miséria psicológica não depende da situação financeira, nem mesmo da maior das pobrezas sociais. A miséria psicológica nasce do descompromisso com o outro, do egoísmo, do uso descartável do outro, da visão curta que não reflete, da desvalorização do sentir, do vazio afetivo, da banalização das dores, da concretude que matou a fantasia, da perversão com o outro para se dar bem. Crianças do carvão ou da televisão, adolescentes dos bailes ou das discotecas caras, descuidados e perdidos de seu rumo, estão unidos pela miséria de uma sociedade que não sabe proteger seus filhos, não cuida e nem se responsabiliza por eles, que não sabe ser pai e mãe, uma  sociedade  filicida.

      Dói. Dói muito.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

MENINO BOLDRINI X BERNARDO BODRINI

MENINO BOLDRINI
X
BERNARDO BOLDRINI

       O menino Boldrini postou ontem as fotos de sua mãe espancada pelo seu pai no facebook. O menino Boldrini escreveu que não adiantava dizerem que a sua mãe tinha feito alguma coisa errada porque ela não tinha feito.
       Grave sintoma de uma sociedade que mostra suas vísceras apodrecidas. Uma criança de 11 anos expõe na mídia o rosto deformado de sua mãe. Nariz quebrado, vários cortes, vários hematomas. Seu pai, o autor da violência, é um sargento do exército, corporação que prima pela disciplina e o respeito, onde a desobediência a uma regra é punida, portanto acostumado no trabalho a seguir a lei. Entre o quartel e a residência, este sistema, regras, respeito, punição, se desfaz? O menino, aos 11 anos, ainda denuncia em suas palavras mais uma grave podridão social quando diz que não venham dizer que a mãe fez alguma coisa errada porque ela não fez. Aos 11 anos ele já aprendeu que a sociedade justifica o espancamento de uma mulher se ela fez alguma coisa errada. Não há algo muito errado nisso? Quer dizer que se fizer uma coisa errada ela pode ser espancada. 
       Bernardo Boldrini, assassinado há 2 anos e 3 meses, pelo pai e pela madrasta, tinha 11 anos também. Foi procurar ajuda no Ministério Público, falou com um Juiz Fernando, e não foi acreditado pelo Juiz nem pela Promotoria. O Juiz mandou que o pai, pai é pai no calo social, voltasse e promovesse um bom entendimento na família, marcando nova audiência para 3 meses depois. Audiência que Bernardo não compareceu porque foi morto nos primeiros 30 dias de “bom entendimento”. Bernardo foi mandado de novo para a calçada, no frio e sem agasalho, ocasiões que pedia abrigo na casa de amigos, e para o buraco embaixo da escada onde era trancado e gritava por socorro na caverna de seu algoz, que tinha sido legitimado pela Justiça de Família como o pai que ia promover o “entendimento na família”.
       Os dois Boldrinis têm 11 anos quando pedem ajuda. Não sei se são parentes, mas têm também o mesmo sobrenome. Outra coincidência.  O Bernardo não conseguiu e morreu. O segundo, não foi procurar a justiça. Procurou a mídia. Talvez não morra porque está protegido pela mídia. Há semelhanças de sobrenome, de idade, de vulnerabilidade, de sofrimento por violência praticada contra eles, mas há diferença na instituição que procuram para buscar proteção. E, talvez, esta diferença, faça diferença no decorrer da vida deles dois.
       Poucos dias depois que o menino Boldrini postou as fotos da sua mãe com o rosto deformado pelo seu pai, vemos uma celebridade se expor quando denunciou o marido pelo espancamento sofrido. E neste ponto uma coincidência com o menino Boldrini. Ele avisou que não adiantava dizer que a mãe dele tinha feito alguma coisa errada. Triste aviso porque, aos 11 anos já sabe que a tese da culpa é da mulher viria se instalar, como se qualquer coisa errada que tivesse por acaso feito fosse passível de ter o nariz quebrado e vários cortes e hematomas no rosto, fora o resto. A celebridade vai ter que se preparar para todas as testemunhas que seu ex-marido, muito rico, vai apresentar para inverter as posições e vir a ser a vítima de uma mulher agressiva que lhe unhava. Senhores, uma mulher raivosa é contida por um homem segurando-lhe os braços, não é possível achar que para se defender de unhadas se faça necessário quebra-lhe 4 costelas. Por pouco ela não entrava no gravíssimo estado de S.A.R.A. que leva à morte. E, 4 costelas não se quebram com um só pontapé dado sem querer. Há uma repetição de golpes para quebrar 4 costelas.
       Mas, é sempre também a repetição de golpes desferidos pelos misóginos, que são numerosos e cooptaram até mulheres para a prática da misoginia.

       Torcemos para que este novo Boldrini tema mais sorte que o Bernardo.  

terça-feira, 5 de julho de 2016

A Violência contra a Criança e o Adolescente


                             A VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

       Até o Séc. XVII o Infanticídio era tolerado. O pai tinha o direito de flagelar seu filho, de prendê-lo em correntes, de jogá-lo para ser devorado por animais ferozes. Isto muito nos horroriza hoje, aqui. Mas não estamos longe disto, apesar d não ser mais tolerado, continua, efetivamente, acontecendo.
       O enternecimento despertado por pequenos filhotes, gatinhos, cachorrinhos, macaquinhos e bebês humanos, é substituído, em mentes perversas, pelo prazer da dominação, pelo prazer do poder absoluto.
       Crianças passam por Hospitais em Serviços de Urgência, passam por escolas em seus serviços psicológicos, passam por Processos Judiciais, intermináveis, com inúmeras avaliações periciais, passam pelo nosso olhar que prefere não ver, pelos nossos ouvidos que preferem não escutar, e preferimos o silêncio. (lâmina de macaquinho não vê, não ouve. não fala).
       São três as formas de violência praticadas contra a criança e o adolescente. A Física, a Psicológica, e a Sexual. Todas causam prejuízos irreversíveis à mente, por isto devem ser combatidas para que cesse a produção de danos, assim reduzindo suas consequências.
       Na violência física o álibi era, e continua sendo, a educação. Batia-se nua criança para ela obedecer, para ela ser corrigida. Curioso é que esta “educação” só acontecia enquanto havia uma assimetria entre os tamanhos da criança e do adulto, pai u mãe. Esta assimetria é que garantia para o adulto a sensação de Poder. É a Síndrome do Pequeno Poder, que tanto acomete o ser humano. E como uma lei não muda um comportamento, continuamos a ter no noticiário as vítimas, os infanticídios a céu aberto.
       Também não se enquadra a desculpa da “educação” a bebês que choram. Os bebês são vítimas com número elevado de entradas em P.S., a extinta Abrapia contabilizava cerca de 90% dos registros de zero a dois anos. Pais enfurecidos arremessam bebês contra a parede, mães irritadas sacodem seus bebês, ambas as situações  para fazer o bebê parar de chorar. A síndrome do Bebê Sacudido não é diagnosticada. Ao sacudir fortemente a cabeça do bebê chicoteia para frente e para trás várias vezes, ocasionando micro hemorragias cerebrais, tornando assim o bebê letárgico, que o leva a um sono profundo. A repetição desta prática faz com que, cada vez mais, ocorram as micro hemorragias e com que este sono seja cada vez mais profundo e demorado. Nestas ocasiões as mães trazem o bebê no hospital, dizendo que ele tem alguma coisa porque estava chorando muito e dormiu de repente.
       A pele é a parte mais atingida na violência física, seguida do esqueleto, e dos órgãos abdominais, a altura do chute do adulto. As lesões intracranianas, como aconteceu com a Joana, que deu entrada no Serviço de Urgência em estado comatoso, sendo liberada algumas horas depois em  coma, coma do qual não saiu mais.
       A verificação da pele de uma criança que é espancada exibe hematomas, escoriações, marcas que tem colorações diversas apontando, pela idade das impressões, para a frequência dos espancamentos. Um olhar atento pode, e deve, detectar esta história de maus tratos escrita no corpo da criança.
       Os ossos também deixam gravadas agressões anteriores. Fraturas e fissuras ficam inscritas e podem ser vistas com o olhar de qualidade nas radiografias e tomografias. Fêmur é atingido por chute, mas aparece como consequência de queda de escada, aliás, desculpa para vários espancamentos, com direito até a abuso sexual violento.
       Rompimentos de fígado e de baço, seguidos de hemorragia, são comuns neste tipo de violência contra a criança.
       O fato da criança confirmar a historinha contada pelo adulto que a levou ao hospital não é suficiente para afastar os indícios de agressão praticada por um adulto. As questões intrafamiliiares têm complicadores. Compromissos, pactos de silêncio, chantagens e ameaças de mais uma surra ainda pior, levem a criança a esconder a verdade do que ocorre. E muitas vezes, na maioria, não lhe é perguntado sema presença do adulto ao lado. O protocolo manda que em casos suspeitos, assim como nos confirmados, deve-se manter a criança internada para que as instituições devidas façam uma primeira apuração. 
       Os bebês espancados, muitas vezes com fratura de base de crânio, podem passar pelos serviços médicos sem que se levante suspeita, a justificativa da mãe é sempre a mesma, “caiu da cama”, mas é preciso olhar com cuidado e ouvir com atenção porque bebês de 02 meses não caem da cama porque ainda não se viram, mas a frase dita é a mesma.
       A Violência Psicológica raramente chega ao hospital, só quando se instala um quadro psicossomático decorrente dela, de tal ordem que começa a afetar a saúde da criança. Mas ela permeia as outras formas de violência, a física e a sexual. O comportamento da criança muitas vezes deixa à mostra o sofrimento psicológico que ela está vivendo. Retraimento, tristeza visível, desalento, autonegligência, comportamento de alto risco, são expressões desta violência psicológica.
       A Violência Sexual é a mais devastadora das violências. Ela inclui uma violação ao corpo, mesmo quando ele não é, sequer, tocado, e uma invasão à mente. A desobediência à interdição do incesto, marco civilizatório do processo de humanização, abrange em torno de 85% dos casos de abuso sexual, representados aqui por pai/padrasto, 75%, e 10% por avô, irmão e tio consanguíneo. O restante dos casos cabe ao não parente mas em sua maioria, professores, padrinhos, padres, pastores, pessoas que tem papel de autoridade conhecida da criança. Portanto, o abusador é quase, quase sempre uma pessoa que a criança ama e obedece.
       O Abuso Sexual Intrafamiliar é uma tatuagem na alma de meninos e meninas. Papéis são invertidos, a lei é transgredida sob o comando do adulto, o pacto do segredo obtido por sedução, chantagem, ou ameaça, sendo a mais comum a frase ”se você contar para alguém eu mato a sua mãe”, empurra a criança para o lugar de protetor do abusador para proteger a mãe. Por sua vez, o abusador sexual é pessoa acima de qualquer suspeita. O horror de imaginar um pai abusando de um filho ou de uma filha é tão repugnante que a mente rejeita por defesa esta possibilidade. Porque é um comportamento sub animal.
       É considerado abuso sexual qualquer ato entre uma criança ou adolescente e um adulto ou mais velho o5 anos ou mais que a vítima. E, quando da alteração do E.C.A. em 2010, até então não havia nenhuma referência escrita, nenhuma tipificação do crime de abuso, ficou estabelecida a denominação de estupro de vulnerável para qualquer ato libidinoso, com ou sem penetração digital ou peniana, esta rara, só em torno de 5% de ocorrência, porque o pedófilo não quer  deixar rastro. É um crime às escuras.
       O abusador não tem no prazer sexual o seu objetivo. Um bebê de alguns meses, uma menina de 02, 03, 04 anos, um menino de 03, 06 anos, não possuem atributos eróticos nem respostas eróticas que contemplem um desejo sexual de um adulto. Desprovidos de caracteres sexuais secundários, estes meninos e meninas não tem eroticidade capaz de atrair sexualmente um adulto. É a perversão que comanda a prática da pedofilia, muito semelhante, em vários aspectos, à necrofilia.
       As consequências da violência são nefastas. A violência física produz ao longo do desenvolvimento uma identificação da criança com o agressor. Aprender a mentir, e o gostinho de falsificação que se alastra por todas as relações afetivas e interpessoais, e principalmente as relações afetivas, durante toda a vida. Podemos observar que nos casos de Bullying na escola, há uma reprodução da cena de violência intrafamiliar. A criança que é espancada pode repetir a posição de humilhação e submissão, e ser invadida pelo medo inscrito nas agressões sofridas em casa, se tornando assim o aluno alvo, a vítima de novo, no Bullying. Pode acontecer também que a criança que é agredida se torne agressor, aluno autor, e, se colocando no lugar do pai ou da mãe, reproduza a violência com um mais fraco.

       A consequência mais danosa é o padrão psicológico que se forma, de medo, de submissão, de falsificação, de violência, que acaba sendo banalizada para se tornar suportável. A autoestima fica, severamente, comprometida em todas as formas de violência.    
O MENINO BERNARDO
E
O JUIZ FERNANDO

     Há um ano e quase três meses morria Bernardo aos 11 anos, assassinado por familiares próximos. Foi veiculado pela mídia que uma rua de sua cidade iria receber seu nome. Homenagem justa, justíssima, apesar de inócua em todos os sentidos, principalmente em relação a sua vida, precocemente, ceifada.
     Bernardo sobreviveu à tortura diária que era submetido pelas suas figuras de autoridade familiar e judicial, com a anuência do entorno social, resistindo o quanto pode. Continuaria sobrevivendo se não tivesse sido assassinado, seria mais um sobrevivente de violência e maus tratos intrafamiliares. São milhões de crianças que crescem no “seio da família”, sob este regime de tortura física, psicológica e sexual.
     Aos 11 anos Bernardo foi, por iniciativa própria, sozinho ao Fórum de sua cidade buscar socorro. Não foi atendido, o Juiz chamou o seu pai e, em acareação, deu um prazo de 03 meses para que as relações em casa melhorassem. Bernardo foi assassinado pela família em menos de 01 mês.
     O Juiz Fernando sentenciou Bernardo ao desqualificar seu pedido desesperado de ajuda, ao desacreditar no que falava, no seu limite, ao violar seus direitos fundamentais escritos no E.C.A. e na Constituição Federal. Seguindo o calo jurídico e social do estereótipo de que “pai é pai”, acrescido dos outros calos míticos de que “pai só quer o bem do filho”, ou “todo pai ama o filho”, ou “filho implica com madrasta por ciúme”, o Juiz Fernando não cumpriu sua função na Vara de Família, e condenou Bernardo a uma pena que não está escrita no nosso Código Penal.
     Sugiro, para que estes calos jurídicos e sociais míticos não matem, psíquica ou biologicamente, outras crianças, que o nome do Juiz Fernando seja dado ao Fórum da cidade de Bernardo. Não como homenagem, longe disso, mas como alerta para todos os Operadores de Justiça que ali trabalham como foi feito museu e ponto de visitação em campos de concentração do holocausto e cemitérios do massacre ocorrido. O Fórum da cidade de Bernardo deve lembrar o erro fatal e letal.
     Não se pode esquecer. A punição silenciosa da Corregedoria não contempla a ação preventiva contra este tipo de erro. Ao perguntarmos quem foi o Juiz Fernando, o nome ali escrito, estaremos cumprindo uma homenagem a memória de Bernardo. Faz-se necessário que esta lembrança seja presentificada para evitar outras mortes de criança. Nem sempre “pai é pai” e acabou. O infanticídio foi tolerado até o século XVII, e ainda hoje vigoram “máximas” infundadas. A posse das crianças é referendada por todos. Confunde-se responsabilidade com posse, agravado pelo mito de que toda mãe, todo pai, ama o filho. A violência institucional contra crianças e adolescentes tem sido tão endêmica quanto a violência das ruas. 
Só que menos midiática.