sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças Parte I

Falsas Memórias, uma falácia nos laudos Psicológicos de Crianças. Parte I Essa é mais uma tese que afronta nosso pensamento lógico, o simples bom senso, o conhecido senso comum. O mais espantoso é que advém dos técnicos do judiciário que defendem essa tese sem prestar atenção no absurdo que estão falando. Uma Criança não tem desenvolvimento cognitivo para armazenar e recuperar, de seu acervo de memória, um relato sobre fatos sexuais que não tenha experimentado. As ditas “falsas memórias” fazem parte de um combo que tem como objetivo descreditar a Criança e silenciar a mãe que tenta protegê-la da violação de sua integridade. Compondo esse “combo” de violência institucional que referenda a violência física, contra a mãe, e a sexual, contra a Criança, temos a outra estratégia, também não científica, a sugestão coercitiva da constelação familiar. Sob a ameaça da reversão de guarda com afastamento da mãe, explicitada em audiências e em negativas de advogados de família, a dogmática alienação parental, também não reconhecida cientificamente, cumpre o objetivo a que foi destinada: a proteção do agressor. Já falamos em outras ocasiões que o desenvolvimento cognitivo durante toda a infância, tem no raciocínio concreto seu único meio de pensar. A visão de mundo nessa etapa acontece pela percepção, através dos nossos sentidos. Como falamos nos últimos artigos, em especial no último, quando o pensamento na adolescência e na primeira etapa da vida adulta foi o foco de nosso texto. É na adolescência que se dá a expansão do pensamento na amplitude do pensamento abstrato, quando já podemos prescindir do objeto concreto para levantar uma hipótese, com os rigores que lhe conferirão fidedignidade no resultado obtido. Ou seja, é na ampliação do pensamento, despregado do objeto real e concreto, como era na infância, que podemos executar o pensamento hipotético dedutivo, o pensamento lógico, aquele que é o condutor da Ciência, em qualquer de suas áreas. Se, na infância, todo raciocínio se dá em modo concreto, como afirmar que uma Criança de 4 anos, ao relatar, com coerência etária, que o “piu-piu do papai faz ginástica, cresce e sai uma gosma branca” seria uma falsa memória. Como??? Aos 4 anos a Criança, seguindo a Lei da Natureza, vê o pênis do pai como o lugar onde sai a urina, e nada mais. Ela não tem noção de que há outros estados para esse órgão, o estado de ereção e o estado de ejaculação. Se ela não viu, não passou pela experiência de acompanhar uma ereção e uma ejaculação, ela não possui condições de reter esse tipo de informação. Inventar que ela irá “decorar” um texto ditado pela sua mãe para repetir para o/a examinador/a que escreverá no laudo pericial que seu relato pormenorizado, que faz referência a coisas concretas, é uma falsa memória implantada pela sua mãe. Não conseguimos alcançar o “poder mágico” de tamanha eficácia, se nem hábitos cotidianos, como tomar banho todos os dias, por exemplo, a Criança consegue decorar. Mas, querem induzir o juiz a crer, que a mãe implantou essa espécie de chip na mente da Criança. O que não é explicado é como a Criança fala, desenha e encena as práticas de abuso. Tudo por instrução e implantação da mãe? Se é uma falsa memória falada, a Criança também foi programada para desenhar? E desenhar o que ela fala? “Piu-piu grande com gosma pingando”? Essas Crianças, simplesmente, seriam prodígios!!! A questão que chama a atenção é que são todas as Crianças nessa categoria de excepcionais gênios. Relatou abuso sexual, é falsa memória. É como se alguém afirmasse que a Criança anda com destreza e sozinha e fala, fluentemente, aos 3 meses de idade. Uma acusação de falsa memória desqualifica a Criança, colocando-a como um robô da mãe. Ao mesmo tempo, que atribui a ela uma competência incompatível, muito acima de sua idade cognitiva. Com isso, a Criança e sua mãe são, completamente, descreditadas. Interessante é que SÓ nos abusos intrafamiliares existem as falsas memórias. Quando o abuso foi praticado pelo vizinho, pelo motorista da van escolar, pelo professor da escolinha de futebol ou de ginástica olímpica, é dada à criança toda a credibilidade que ela é capaz de sustentar. Não há lugar para chama-la de fantasiosa, de mentirosa, de má, como nos casos dos abusos incestuosos. Por que será que sendo um abuso extrafamiliar, a Criança é acreditada, mas se for intrafamiliar ela é desacreditada? Qual seria a diferença? Como em relação ao termo “alienação parental”, inventado por um médico pedófilo que defendia pedófilos com seus laudos, acusando e culpando Crianças e mães pelos abusos incestuosos, a expressão “falsa memória”, não tem comprovação científica. As “pesquisas” que são referidas como atestado científico, não cumpriram as leis da cientificidade. Mas são alegadas e reverenciadas por Técnicos que deveriam zelar pela proteção da Criança. Falaremos das intituladas “pesquisas” das falsas memórias na Criança vítima de abuso sexual no próximo artigo. A outra parte do combo, a constelação familiar também será trazida para tentar fomentar o pensamento científico, ao qual devemos estar comprometidos enquanto profissionais dessa área, ou, pelo menos, o bom senso de todos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XIV

Como cresce uma Criança? Parte XIV Para além do crescimento postural, associado ao desenvolvimento motor, acompanhado pelo desenvolvimento da linguagem, a Criança tem nos afetos e na cognição seu motor para chegar à idade adulta e poder usufruir com bastante autonomia a sua vida. Pretendo lançar luz à importância do desdobramento da vida intrafamiliar da Criança. Quando ela entra para a escola, o mundo afetivo se multiplica em dois, com as devidas proporções. A escola, desde a pré-escola, introduz desafios cognitivos e aprendizagens diversas. Assim, os primeiros esboços de códigos de convivência social muito simples são estabelecidos, regras devem ser respeitadas, aumentando o acervo do restrito “pode” e “não pode” que estava inserido dentro da família. Logo surge o aprendizado da língua extensa, a falada e a escrita, e as relações afetivas se consolidam com afetos e desafetos. A Criança vivencia não ser gostada, nem amada por todos, aparecem as escalas de preferências afetivas, e ela sente que precisa aprender a administrar essa nova tarefa. Os tropeços são muitos, mas necessários para a vida de adulto. A escola é este campo de experiências sociais insubstituível. A lei que permitiu o Schoolying, a escola em casa, usurpou da Criança este campo de desenvolvimento. E aqui, uma crítica mais forte: a escola é o segundo local em que a Criança pede socorro quando está sendo espancada ou abusada sexualmente. Assim, ela perdeu essa possibilidade e ficou ainda mais vulnerável, entregue, completamente, a seus agressores familiares. Este alerta foi dado por ocasião do Projeto de Lei que foi votado, mas não foi escutado pelo Ministério que tinha conhecimento dessa importância para a proteção da Criança. A cognição ganha um terreno fértil. Novos conhecimentos são lançados e ampliam a capacidade de raciocínio. Mesmo que a competição seja acirrada, ela não é maléfica, salvo certos exageros. Faz parte do crescimento o ganhar e perder em competições limpas onde se seguem regras claras, mesmo que a sensação seja, muitas vezes, de resultado injusto. À medida que a escolaridade avança, a proposta de conhecimentos é ampliada. É um erro pensar que agradar as Crianças e adolescentes diminuindo a diversidade de disciplinas, vai fazer com que “estudem mais”, e pior, que fiquem “felizes”. O comprometimento da Educação pela escolaridade em toda a sua linha, é com a transmissão de conhecimento através da cognição. É preciso saber que as disciplinas que, aparentemente, não vão ser usadas depois, têm a função de provocar os diversos raciocínios. O raciocínio usado nas Ciências Exatas, nas Ciências Humanas, nas Ciências Biológicas, nas Ciências Tecnológicas, e nas Pesquisas de todas as Ciências, é alimentado pela escola e pela escolaridade. A universidade é o celeiro da cognição plena, da possibilidade de raciocinar pela abstração, considerando muitas variáveis ao mesmo tempo. Entrar em contato com pensadores, filósofos, matemáticos ou humanistas, permite que se tenha a noção de como formular uma tese, ou mesmo, uma opinião. Por isso, sabemos que o desenvolvimento cognitivo só se completa por volta dos 25 anos. Para que a capacidade de pensar consiga abranger um espaço que faça daquele jovem alguém mais competente para os problemas da vida, de qualquer ordem, faz-se necessário o estímulo nas diversas áreas do raciocínio. É com pesar que assistimos o reducionismo ganhar espaço na Educação. A proposta de tornar obrigatório o ensino apenas de 03 disciplinas, português, matemática e inglês, deixando a livre escolha do adolescente de outras disciplinas que passam a ser “eletivas”, quando esse adolescente ainda não alcançou seu desenvolvimento cognitivo, e nem o emocional, para realizar essa escolha, é incompreensível. É incoerente para técnicos em Educação, que têm, ou deveriam ter, o conhecimento científico desse desenvolvimento ainda incompleto, defendendo essa proposta como sendo a “solução” da evasão escolar, ou do baixo resultado de escores de avaliações de aprendizagem. Não é pretendendo tirar o tédio de estudar uma disciplina que o tédio de cumprir obrigações na adolescência irá sumir. Vamos apenas reduzir a possibilidade de raciocinar desses adolescentes. E, consequentemente, diminuir a capacidade de avaliar uma dada macro situação, de macro consequências, que será pensada em raciocínio concreto, bem limitado. Se o pensamento é empobrecido, a tendência é cair no preconceito que se baseia em tese de única variável, dispensando inclusive a comprovação científica. Em lugar de capacitar melhor e mais os professores, de equipar mais as bibliotecas das escolas, de tornar mais vivo o curriculum das séries, optamos por abolir a repetição por resultado abaixo da média, optamos por liberar a escola em casa, (lembrando que a Pedagogia é uma Ciência, e achar que pai/mãe podem ser professores, é desqualificar todos os professores), optamos por diminuir o número de disciplinas para agradar os adolescentes, ou seja, optamos por rebaixar a importância da escola. É muito grave uma sociedade que decide retirar da Criança e do Adolescente o Direito à Escola, e sua competência e sua convivência. A escola é o mundo familiar inicial aumentado, é a primeira etapa da inserção à sociedade. É na escola que a Criança e o Adolescente aprendem não só as disciplinas que alimentam seu desenvolvimento cognitivo, mas também as regras de cidadania, os Direitos e Deveres que têm. O desenvolvimento afetivo tem na escola um grande laboratório vivo e cotidiano das relações interpessoais. Não há como negar que esse foi um grande favorecimento de cobertura para pais/mães agressores, incluindo, principalmente, os abusadores sexuais. Parece que nós não pensamos com uma cognição plena. Ou, não queremos pensar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XIII

Como cresce uma Criança? Parte XIII Vimos como se dá o crescimento da Criança. E, quando ela adquire as devidas habilidades motoras, cognitivas, linguísticas, eis que se inicia uma verdadeira revolução: a chegada da adolescência. Precedida pela puberdade, período intermediário quando o intenso movimento interno do corpo faz demolir a autoimagem para que uma reconstrução seja edificada, a Criança de ontem parece se perder do momento presente. Ela acorda um dia “grande”, mas no outro, acorda “pequena”, numa oscilação em velocidade difícil de acompanhar. Essa montanha russa leva ao momento de se apartar da infância. Entre nós psicanalistas, é comum se ouvir que o adolescente precisa matar os pais da infância, para que possa ser fundada uma relação nova, de menos dependência afetiva, menos dependência de aprovação. Isso, geralmente, é vivido pelo adolescente como uma necessidade de contestação de tudo. Para se desprender da condição de dependência que atribui ao pai e à mãe um status de onipotência, de perfeição, o adolescente precisa demolir esse pedestal dos pais. Para quebrar esse conforto afetivo infantil, o adolescente passa a ser contra tudo. Todos estão errados, ele está sempre certo, não aceita mais os modelos que seguia até então. Anda em tribos que se vestem igual e têm uma língua customizada, assim como os comportamentos e as roupas do grupo. Ou se isola de todos. Acredita que suas ideias vão salvar o mundo. Mas seu desenvolvimento cognitivo ainda lhe prega peças. Está apenas iniciando a capacidade de operar pensamentos por raciocínio abstrato, prescindindo do dado concreto, aquele que lhe chegou por toda a infância através de seu sistema perceptivo de mundo. Essa mudança, do raciocínio concreto para o início das operações em raciocínio abstrato, amplia a capacidade de pensar, a visão de mundo começa a crescer e ganhar qualidade em seu conteúdo. O adolescente vai adquirindo, gradativamente, a possibilidade de operar com muitas variáveis, seu pensamento científico vai se consolidando. Até os 25 anos, para além da adolescência, o desenvolvimento cognitivo se completará. Grandes decisões, filhos, casamento, vida no crime, identidade de gênero, por exemplo, tomadas antes do desenvolvimento cognitivo pleno, podem ser, parcialmente, prejudicadas em alguma coisa por essa incompletude. No entanto, isso não quer dizer que não possa haver, posteriormente, uma boa adaptação àquela falta no momento da decisão tomada precocemente. Afinal, os erros nos ensinam muito, também. Guardamos a impressão equivocada que o desenvolvimento termina com o crescimento da estatura, mas ele começa antes, os hormônios têm sua produção iniciada aos 2 anos, e nós não vemos, e termina depois, quando já estamos, por aparência na idade adulta. As aquisições estão contidas na faixa etária que vai de zero a 18 anos, mas a cognição plena precisa se edificar por mais algum tempo, até os 25 anos, mais ou menos. Ver faz parte da égide do pensamento concreto. Muita coisa acontece sem ser vista concretamente. As aquisições estão contidas na faixa etária que vai de zero a 18 anos, e podem ser constatadas por simples observação. Mas a cognição plena precisa se edificar por mais algum tempo, até os 25 anos, mais ou menos. Ver com os olhos faz parte da égide do pensamento concreto. Contudo, muita coisa acontece sem ser vista concretamente. O crescimento motor, o cognitivo o linguístico, o afetivo que perpassa a todos os setores, o desenvolvimento do sistema nervoso, no seu aspecto fisiológico e no aspecto funcional das estruturas neuronais, foram objeto de nossas reflexões. Olhamos para o Impacto de Extremo Estresse, tendo a repetição de práticas abjetas como fator cumulativo de trauma permanente, com as sequelas de atrofias físicas e disfunções de estruturas cerebrais que humanizam e socializam o ser humano. O corpo é nosso único bem inalienável que possuímos. É concreto. Mas necessita ter a sua representação em imagem mental. Faz-se necessário que ele esteja funcionando em relativa harmonia, o corpo real e o corpo mental, numa relação estruturada, íntima e querida, sem estranhamentos causados por violações. Um corpo violado é também uma mente violada. É sentido como estranho, com um pedaço do violador presente e dominando, como sujo e vexaminoso. Não é reconhecido como pertencido nem pertencente, quebrando assim a formação da identidade em curso misturada ao desenvolvimento. Freud afirmou que há 3 tarefas de realização completa impossível. Educar, governar e psicanalisar. Ajudar a crescer é mesmo muito difícil. Os bebês chegam sem manual de instrução, cada filho é único, demandando sempre prontas respostas, quaisquer que sejam. Ajudá-los para terem capacidade responsiva, ajudá-los a construir códigos de Ética, e Moral, abrir caminhos para que busquem um começo de empatia, estimulá-los à civilidade, para se humanizarem é tarefa árdua e única a cada vez. Uma Criança cresce como se fosse uma orquestra a tocar todos os instrumentos musicais para executar várias partituras e peças. Mas uma orquestra onde os músicos nunca se viram, não se conheciam antes, e, é tocando que passam a se conhecer. Porque a vida não tem ensaio.