sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Vulnerabilidade na Criança Parte I

Vulnerabilidade na Criança, suas diversas formas. Parte I O termo é claro. Na nossa área, uma fragilidade que diz respeito à discrepância de “tamanhos” entre duas pessoas, deixando uma delas em flagrante desvantagem, e a outra com uma supremacia indiscutível. A vulnerabilidade nos remete, rapidamente, à menor resistência da Criança frente ao adulto ou mesmo à outra Criança que apresente diferença de 5 anos ou mais nas idades. A fragilidade física, tão nítida quando olhamos os idosos. Se, por um lado, o acúmulo dos anos traz a experiência, a paciência, e, muitas vezes, uma visão de mundo mais adequada à realidade, o idoso carece de força física, de resistência física. Esse critério é concreto e objetivo. Portanto, não há dificuldade de compreensão quanto a ele. Mas, existem outros fatores de vulnerabilidade que não têm sido muito considerados. Pela maior facilidade, preferimos continuar pensando em raciocínio concreto, como permanentes crianças em desenvolvimento. Para além do visível concreto, temos a vulnerabilidade da dependência afetiva. Antes de adentrar o campo psicológico da Criança e suas consequências, precisamos pensar que o fator de vulnerabilidade pode ser instalado em qualquer pessoa, adulta, forte, experiente, dentro de certas condições. Ela pode ser provisória, como quando fraturamos um osso, pode ser temporária, quando temos um mal estar, pode ser passageira, durante um assalto, pode ser crescente como na velhice. A vulnerabilidade é um estado subjetivo de insegurança misturada ao medo, uma sensação aguda de exposição acima do suportável. A experiência da vulnerabilidade é, quase sempre, desagradável ao adulto porque traz consigo a evidência da impotência diante de um estímulo, que é tão mal tolerada por muitos. Os idosos relutam um pouco, mas a realidade acaba por se impor ao declínio da vitalidade. Com a Criança, a impotência é bem tolerada, porquanto ela está sempre às voltas com os pedidos de ajuda de adultos diante de suas precariedades físicas e intelectuais. O que importa e sedimenta esses seguidos pedidos de ajuda é sua curiosidade cognitiva. A aquisição do conhecimento, todo conhecimento, é sua maior atração que impulsiona seu crescimento. A Criança é epistemofílica por excelência. E é esta sede de conhecimento que serve de combustível à dependência dos adultos, em especial, dos adultos mãe e pai. A Criança tem noção de que não é capaz de se prover sozinha, de produzir sua alimentação, de gerenciar seu tempo, de garantir seu abrigo, da roupa ao teto. Ela sabe que não tem autonomia, luta para conquistá-la. Mas, exatamente por isso, ela tem uma impulsão para a aprendizagem, toda aprendizagem. Justamente, é o adulto sua maior fonte de informação, de aprendizagem. Todos lembramos daquela fase dos “por ques”. Por que isso, por que aquilo, e quando você responde o primeiro por que, ela emenda com o “mas por que?” sobre a sua resposta, mostrando que ela não respondeu, satisfatoriamente. Se, é o adulto responsável que lhe garante a alimentação, o sono, a higiene, a roupa, o teto, uma rotina, uma família para pertencer, a Criança vai nutrir uma dependência por esse adulto que demonstra seu afeto por ela. Mas, essa é uma questão que tem ida e volta, tem duas faces dinâmicas que se retroalimentam, que precisa ser considerada em seus dois vetores. A Criança precisa dos cuidados de qualidade para que sua sobrevivência seja alcançada. Na ausência desse adulto cuidador, em geral, função exercida pela mãe e complementada pelo pai, ou substitutos desses dois, a Criança tenta, desesperadamente, sobreviver se cuidando como consegue. O resultado deixa muito a desejar. É fácil apreender o processo de dependência instalado na Criança. Mas, o processo de dependência pela Criança que movimenta o adulto, não é tão claro. Até porque o adulto não tem consciência dele, não admite que precisa do que chama de “trabalho” com a Criança. Pode cansar, mas lhe dá uma satisfação profunda. E, quanto mais imaturo ele é, mais dependente da dependência da Criança ele se torna. Como se não lhe rendesse nenhum prazer, nenhum proveito subjetivo, o adulto nega, até para ele mesmo, que necessita dessa sensação de Poder, de ter alguém dependente dele que lhe confere uma importância, que, certamente, ele não se auto-assegura. Quando a sensação de Poder, frente à dependência da Criança muito lhe apraz, o adulto passa a cultivar essa dependência para obter o prazer do Poder de que necessita. Esse apego à sensação de Poder faz com que o adulto dificulte o processo de aquisição de autonomia que a Criança precisa percorrer. Alimentar uma dependência para retardar competências e autonomia na Criança, não é tarefa difícil para um adulto. O que precisamos atentar é que a Criança tem, naturalmente, uma crença enorme no adulto cuidador. Romper esse processo de credibilidade e confiança traz graves consequências e sequelas. Esta Vulnerabilidade é muito séria. Falaremos no próximo artigo.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte IV

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte IV Uma invenção que se arvorou como pretensa psicoterapia, sem nenhuma fundamentação científica, saída diretamente do mundo da magia. Mas, para dar um ar de pseudociência, termos são jogados para confundir o que é puro obscurantismo. Termos psicanalíticos e termos da Física Quântica. As posições que os atores da constelação tomam no espaço são lidos seguindo os significados interpretativos numa perspectiva da Psicanálise. Sabemos, e a Psicanálise trouxe isso mais fortemente, que existem linguagens corporais, gestuais, faciais, mas não podemos aferir esse tipo de “significação” dogmática. Quando se está numa sala grande com pessoas desconhecidas para encenar suas dores com essas pessoas que não conhecem seu sofrimento, sob a direção de um “constelador” que está, segundo a tese, em conexão com seus antepassados mortos há muitos anos, os quais nem foram vistos em vida, num espaço que é designado pelo “constelador” como quântico porque recebe as vibrações morfogenéticas desses mortos. Difícil pensar que esse imbróglio possa convencer alguém que dedicou muitos e muitos anos da vida acadêmica ao estudo, com seus critérios de questionamentos a serem comprovados. Como comprovamos que isso acontece? O curioso é que aceitamos sem nenhuma comprovação que houve um antepassado da família da mãe, sempre da mãe, há muitos anos atrás, décadas, que foi predador, e que ele, por ter sido rejeitado pela família da época, “promoveu” um predador atual para vinga-lo. Mas não se fala de vingança e, sim, de refazer o elo do amor que foi quebrado quando o criminoso não foi acolhido no seio da família da época. E esse elo do amor partido será recomposto pelo pedido de perdão que a vítima deve ao agressor atual. Se isso não for realizado, os infortúnios/crimes continuarão. Entendo como vingança, intimidação, ameaça. Uma reedição das pragas da idade média que buscavam pela ameaça de severa punição catastrófica, o controle social, que justificavam jogar as mulheres na fogueira por serem bruxas. Hoje temos fogueiras sem visibilidade, mas que queimam mulheres que ousam denunciar homens agressores. Uma sessão de constelação familiar, publicitando uma dor de vergonha e humilhação que compõe o crime do abuso sexual intrafamiliar, em momento tão sofrido e devastador, equivale a uma fogueira onde a mãe é queimada. Não precisa de comprovação de que os ancestrais estão ali falando pelas posições assumidas pelos atores, ou pelos cavalos mordicando a orelha de sua proprietária consteladora. Assim como não precisa provar os tais “atos de alienação parental” cometidos pela mãe, apenas uma interpretação rasa de uma perita é o suficiente para afastar uma mãe de seu filho, e violar o Direito do filho de ter sua mãe. No entanto, quando se fala de abuso sexual onde, na maioria dos casos, temos apenas a palavra da Criança e a palavra do abusador, são exigidas provas materiais, que estão sempre fora do escopo do abusador. E, mesmo quando há positividade no Exame de Corpo de Delito para conjunção carnal adversa, termos técnicos da linguagem pericial, é preferido atribuir os doutrinários “atos de alienação parental” à mãe, e fazer a sugestão coercitiva da constelação familiar. Trazida para nosso país por um juiz da Bahia que se encantou com “solução mágica” dogmática da descoberta do “verdadeiro” autor das violências físicas e das violências sexuais dentro da família, essa manobra alcunhada de “técnica psicoterápica”, o que nunca o foi, as constelações familiares contaminaram facilmente outras comarcas. Fonte volumosa de ganho fácil, essa tese conseguiu a autorização para seu uso junto ao Conselho Nacional de Justiça, e seu uso foi estendido ao SUS e às Escolas. O juiz que introduziu essa tese infundada, recentemente, pediu exoneração do seu cargo de magistrado. Imagino que vai se dedicar, inteiramente, à consolidação dessa seita para tratar crimes, desresponsabilizando os autores. Evidentemente, que as pilhas de processos de família diminuem, uma vez que cada sessão de constelação já “soluciona” muitos processos na mesma sala, só trocando de atores, a cada nova constelação proposta. Um mutirão de dores e angústias que são passadas para a “solução definitiva” com a descoberta da história oculta de cada família exposta. E, paralelamente, a pontuação de desempenho atribuída aos operadores de justiça. Hoje, há um PL, Projeto de Lei no Congresso Nacional para que seja regularizada a Profissão de “Constelador”. Sim, a regulamentação de uma “profissão” que não tem nenhum compromisso com a Ciência, mas, que faz intervenções na vida de milhares de pessoas vulneráveis que tiveram seus Direitos Fundamentais violados, está em curso, sob um forte e competente lobby. Teremos, se regularizada for essa “profissão”, leigos julgando e sentenciando crimes cometidos entre quatro paredes, crimes difíceis e indeléveis, crimes quase perfeitos. Desresponsabilizar o autor e culpabilizar e penalizar a pessoa que tentou proteger. Será que os operadores de justiça têm o conhecimento da realidade a que eles estão sendo induzidos? Sabem o que estão cometendo com o Princípio do Melhor Interesse da Criança? Onde encontrar material sobre a violação do Direito à Maternidade, alienação parental, falsas memórias, constelação familiar: - Rádio Escafandro, episódio 66 e episódio 77. - Instituto Summum Iuris: live sobre constelações familiares. - Física e afins: lives da Dra. em Física Quântica, Gabriela Bailas. - Texto sobre Constelação Familiar do Psicanalista Luis Hornstein, facebook: “Constelaciones familiares: la peligrosa pseudoterapia creada por um nazi se cuela em la universidad pública”. Um Natal Feliz para as Crianças que são protegidas. Um Natal menos doloroso para as Crianças que sofrem.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte III

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte III Onde entram os cavalos puro sangue? Devem estar pensando que passei a escrever contos. Não. São fatos que descrevo, com alguma emoção, confesso, porque não me são inócuos. Antes dos cavalos, preciso esclarecer um pouco sobre o script de uma constelação familiar. Existem algumas ditas revelações que são muito frequentes, quase uma unanimidade. Abandono, aborto secreto, relação extraconjugal secreta, desvalorização, vingança inconsciente, perdão. A escolha aleatória das posições no espaço, dito, quântico e suas movimentações, virar para um lado ou virar para o outro, tem a leitura de significado peremptório na história da violência. Explicando melhor. As pessoas que encenam o teatro da dor daquela pessoa que denunciou um abuso ou uma violência doméstica, incluindo agressões físicas graves, fraturas, esses “atores’ escolhidos pelo constelador ou consteladora, se posicionam parados no lugar indicado pelo constelador, podendo ficar de frente, de lado, ou de costas, o que será, imediatamente, interpretado como sendo um significado afetivo de quem ele está representando, mesmo que aquele que foi escolhido para encenar o papel ali, não tenha nem ideia do que se trata. Mas, sem nenhuma fundamentação, o constelador “diz” que a posição assim ou assado que os “atores” do improviso assumem, significa tal ou qual coisa na história de vida da pessoa agredida pelo familiar. A posição de costas, por exemplo, é sempre interpretada como um “dar as costas” para o problema familiar, logo, abandono, rejeição. Como adivinhos, tudo é clarificado pelo constelador, explicando as emoções, principalmente as antigas, que ele garante, foram sentidas pelo ancestral excluído da família por ter praticado uma violência contra um de seus componentes, esposa, filha e filho, em geral. Como a dita formação de Consteladores nada exige na área do conhecimento Científico, do conhecimento Formal, qualquer pessoa, qualquer, pode se tornar um constelador e, com sorte e indicação, pode vir a ser um preferido de alguma Vara de Família. Assim, existe uma variedade de perfis que vão de A a Z nas profissões anteriores praticadas. Importante ressaltar aqui que seria impossível formular um Conselho Profissional, que acompanha cuida e fiscaliza a prática, posto que vindo de várias áreas de conhecimento formal e também de não conhecimento formal, pode, o que tornaria bem difícil. Código de Ética? Como? Quais critérios poderiam ser elencados? Mas, para a Justiça, nada disso importa. O encantamento pela magia de se iludir com uma solução dada por um ancestral morto há muitas décadas, é maior que tudo. Nesse contexto, cada um inova como bem quiser. Assim, uma consteladora, que é proprietária de cavalos puro sangue no Jockey de São Paulo, pratica as sessões de constelação familiar no estábulo, não sei se esse é o nome correto, ao lado das baias de seus cavalos. É um serviço que presta individualmente, ou seja, a pessoa que busca ajuda, ela, e 3 cavalos. As duas pessoas, sentadas, os cavalos no entorno. O jornalista independente, Tomás Chiaverini, foi conferir e relata uma sessão que pagou para ter o “benefício” de tomar conhecimento de segredos de família que iriam ajudá-lo em determinada situação. Ele relata tudo em podcast, Episódio 77 da Rádio Escafandro. A consteladora faz algumas perguntas e muitas afirmações. Orientada pelos cavalos que interpreta como sendo uma comunicação precisa sobre a vida e a história familiar do jornalista. Um dos cavalos mordisca a orelha, o cabelo, da consteladora, o que “significa’ que está lhe dizendo isso ou aquilo, porque ele estaria em conexão com antepassados do jornalista. A cada mordiscada do cavalo, uma “revelação”, porque, segundo a consteladora, os cavalos seriam mais competentes, mais fidedignos nas transmissões, ao se conectar com os mortos. Para dar um toque de “ciência”, a tese usa alguns termos da física quântica. A doutora em Física Quântica, Gabriela Bailas, refuta, inteiramente, essa alusão. Nada tem de física quântica em explicações sem fundamentação dos doutrinados em Constelação Familiar. No site “Física e afins” encontramos material científico sobre esse tema. Na próxima semana, trarei os locais onde encontrar os estudos e posições científicas que criticam essa tese que pega carona na pseudociência. Adolescentes definiriam como “é muita viagem”. Falta lógica, falta realidade, falta bom senso. Falta responsabilidade com a Dignidade Humana. Sobra magia, sobra arbitrariedade, sobra insensibilidade, sobra irresponsabilidade com a dor da vítima de uma violência intrafamiliar. Cabe ressaltar que o fator intrafamiliar agrava sobremaneira o ato violento porque está inserido em meio de afetos. A formação de uma família, em qualquer formato que tenha, é feita por afetos vários. Daí, a dor de ser agredido por um familiar potencializa as consequências da violência. As crenças religiosas têm importância para os seres humanos. No entanto, o empirismo, a extrema subjetividade, o sobrenatural, o esotérico, o obscurantismo, não devem ser o árbitro de sofrimentos físicos e psicológicos que causam sequelas permanentes. Há que se compreender que quem sofre uma violência física, uma violência sexual, precisa de um tempo indeterminado para que haja alguma cicatrização daquele golpe. Sabemos que é muito difícil para os senhores da Justiça viver a impotência diante de uma repugnante violência. Mas culpar a vítima e desresponsabilizar o autor, como faz a tese das constelações familiares, só agrava a questão a níveis inacessíveis. É a injustiça. Cavalos na baia e posições no espaço físico de uma sala, não podem elucidar e tratar angústias, nem o “motivo” de um espancamento ou de um estupro. Repito a pergunta: será que os Operadores de Justiça têm certeza que estão praticando o bom exercício da argumentação para o convencimento do justo julgamento?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Constelaçõees Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte II

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família Parte II Será que os operadores de justiça acreditam mesmo que todas as vezes, e foram muitas, que aquele agressor doméstico ou abusador de filho, cometeu o crime de violência doméstica ou de estupro de vulnerável, ele estava “possuído” pelo espírito do ancestral, o “verdadeiro” criminoso que viveu há décadas atrás? E, em “acreditando”, nesse espírito ou em alguma outra denominação vibratória, têm a certeza de que estão julgando corretamente? Será? Eu não posso acreditar. Muitas pessoas me procuraram estupefatas diante do que escrevi no artigo publicado na semana passada. Infelizmente, é a verdade sobre essa seita aceita e autorizada para ser usada nos espaços judiciais, a decidir a vida de milhares de pessoas que procuraram a Justiça para se proteger ou proteger sua Criança de um agressor. Parece-me que o teatro armado nessas sessões que não respeitam o fato do país ser laico, não respeitam o segredo de justiça, tão severo quando se trata de expor equívocos, erros e injustiças, não respeitam os códigos de Ética Profissional diante do sofrimento de pessoas, não respeitam a função do julgar. O julgamento é o principal nesse momento em que a impotência de um vulnerável é o horror que potencializa as violências sofridas. Como já falei, para ser “constelador” não precisa ter graduação de Psicologia nem Medicina. Na verdade, qualquer graduação sem nenhuma relação com o conhecimento do mundo psicológico das pessoas, serve. E mais, não precisa nem sequer ter graduação universitária. A dita “formação” para se tornar um “constelador”, é feita junto aos gurus que mantêm esses grupos, grande parte por via online, e que se completam em 20 horas. É bem semelhante, aliás, à formação de peritos forenses: em um final de semana, online. E, para os peritos, o certificado e a inclusão na lista nacional de Peritos Forenses registrados na Justiça. Online por um final de semana, o que se aprende? Só dá tempo de instruir sobre alienação parental que é uma acusação que não precisa fundamentar teoricamente. As questões complexas e difíceis, como o abuso sexual intrafamiliar, não são tocadas, sequer. Claro. Esse é o objetivo da lei de alienação parental. Como escreveu Gardner, se um pai é denunciado por abuso incestuoso, ele deve tirar o foco da Criança e colocar a mãe em cena acusando-a de praticar a tal alienação. Ele mostrou esse caminho exitoso nos mais de 400 laudos que fez para inocentando pais abusadores de seus filhos. Mas esses filhos cresceram. E ao completarem 18 anos, voltaram à polícia e à justiça e o acusaram e ao Estado de serem abusadores. Investigado pelo FBI, Gardner tentou um primeiro suicídio com uma overdose de heroína. Foi salvo no hospital. Então, se muniu de um objeto pontiagudo, aquele tipo de arma fabricada condenados em presídios, e se furou diversas vezes, por todo o corpo, inclusive dilacerando os genitais, até que atingiu a carótida, e morreu. Esse é o guru da lei de alienação parental que seguimos por aqui. No lugar de cumprir a lei penal que não aceita a violência e de responsabilizar, devidamente, aquele que infringiu a lei, aquele ancestral trazido pelas vibrações morfogenéticas no campo magnético imaginado ali no meio do teatrinho, a desresponsabilização é coroada, e acredita-se que ela veio para salvar o infrator, visto como vítima. O mito da família feliz nega a gravidade do crime cometido. A mulher deve lhe pedir perdão diante de todos, por ter ousado acusar aquele homem de ter cometido os crimes de violência doméstica ou de violência sexual contra uma Criança. Perdão para o agressor. Para alguns consteladores esse pedido de perdão deve ser feito de joelhos. Sim, diante de seu agressor, por exemplo, ela se ajoelha, em geral aos prantos de desespero e humilhação, deixando bem claro a supremacia masculina e a impunidade autorizada. Ao invés da responsabilização, a culpabilização entra em cena. A mulher é a culpada por ter sido espancada pelo marido. A mãe é a culpada por ter um filho abusado ou filha abusada sexualmente pelo pai. Essa ideia de culpabilizar a mulher por ser espancada pelo marido foi inventada pelo pai das constelações familiares, Bert Hellinger. A ideia de culpabilizar a mulher/mãe pelo abuso do filho ou filha, é do Gardner, foi inventada pelo pai da alienação parental, mas também corroborada por Hellinger. É tão óbvio o que os dois têm em comum. Trocando em miúdos, grande incômodo com a figura feminina. O incômodo faz com que a pessoa busque o ataque àquilo que a está incomodando. Mas não vamos seguir esse caminho. É preciso tentar entender o motivo dessa ânsia por Poder e Dominação, a qualquer custo. Até dispensando a realidade. Hellinger, pelo seu lado, é o inventor dessa tese pseudocientífica das constelações familiares, que tem em seu cerne a crença no retorno e pro-atividade dos mortos, e uma ilusão e mágica “solução de harmonia”. Ele era um padre missionário que foi enviado para catequisar em aldeias zulus na África. Interessou-se muito pelos rituais religiosos dos zulus, que inseriam os ancestrais em suas cerimônias. Voltando para a Europa, se desligou do sacerdócio, casou, e estudou teologia. Não se formou em Psicologia, leu alguns textos. Foi-lhe pedido por Hitler que buscasse algo para recuperar soldados da S.S. que voltavam com muitas dificuldades psicológicas do front. Era grande admirador de Hitler, a quem dedicou um poema especial. Foi assim que Hellinger montou a saída para desculpabilizar e desresponsabilizar os soldados: eram os ancestrais que haviam voltado e cometido os crimes que os soldados apenas executaram. Apenas. Bert Hellinger se dedicou a escrever livros onde afirma aberrações parecidas com as escritas por Gardner. Somar essa tese à tese da alienação parental torna essa última mais robusta ainda, sem medir os estragos que ambas provocam. O critério para medir a eficácia da aplicação da constelação familiar é a baixa procura depois de passar por ela. Ou seja, as pessoas que não voltam à justiça, sem que se saiba o real motivo, servem de argumento para dizer de um efeito. Mas não são computados nem esses motivos, que podem ser desistência e desilusão com a justiça, nem os desastres psicológicos que uma exposição dessa magnitude promove. Temos notícia de alguns suicídios pós- constelação. Pessoas frágeis e fragilizadas por ocorrências delicadas e dolorosas em suas vidas afetivas que são escancaradas sem nenhum pudor entre pessoas desconhecidas, e que dizem passar pelo mesmo sofrimento, são colocadas no iminente risco de surto, de ataque de desorganização mental. A revitimização é publicada, agravando mais ainda a angústia e o desespero do desrespeito à pessoa humana. E, quem está ali dirigindo o ato, o constelador, é um leigo. É brincar com fogo. Sugiro que escutem o Podcast Episódio 77 da Rádio Escafandro, produzido pelo Jornalista independente, Tomás Chiaverini. Conhecemos nesse podcast a consteladora que utiliza seus cavalos de raça que “falam” com ela, trazendo as informações dos antepassados mortos. Não é brincadeira, é sério. Falaremos sobre os cavalos na próxima semana.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte I

Constelações Familiares, uma seita nos Processos de Família. Parte I Necessário se faz trazer a grande dissimulação que é praticada a partir do momento que uma mãe que denunciou abuso sexual ou violência intrafamiliar foi alcunhada com o título perene de “alienadora”, título apoiado na falácia da implantação de chip de falsas memórias. Dirigidas como se fossem encenar uma grande peça de teatro, as mães que levaram a denúncia feita pelo seu filho, ou filha, para os órgãos encarregados da Proteção Integral da Criança e do Adolescente, passam a ser corrigidas e mandadas desde a maneira de vestir, de falar, de não chorar, à casa, ao trabalho, à sua vida social, tudo. Nada escapa às orientações coercitivas dos seus advogados. Aliás, os noveleiros têm assistido a essa invasão sem limites na maneira de vida de uma mãe de uma novela atual. Com maestria, a autora tem sido muito fiel à realidade. Toda a espontaneidade do afeto e da realidade da mãe é jogada fora, sempre sob a ameaça de que irá perder a guarda do filho ou filha. Assim essa mãe, movida a medo e aterrorizada, cede e vai se montando numa outra pessoa. Não importa ser ou não verdade o emprego de carteira assinada que “arruma”, nem o estilo novo de suas roupas que têm que ser sóbrias e discretas, sob a ameaça de se tornar uma “prova” de ser uma “mãe narcisista”, mais um neologismo, vindo de uma pequena distorção conceitual, para a desqualificação de sua maternagem. O que importa é parecer ser para agradar o acervo de preconceitos dos Operadores de Justiça. No entanto, a condenação como “alienadora”, apesar de não constar no Código Penal, é severa e precede o processo. Como afirma o Juiz Romano Enzweiler, a desproporcionalidade entre a alegada alienação parental e a punição é incompatível. Injustificável. Já vi inúmeras mães que perdem a guarda da criança em 2 meses, 3 meses, 6 meses, e o processo transcorre há 8, 10 anos. Já vi inúmeras, e inúmeras, que ao cabo de todo esse esforço para “parecer” como ditam os advogados, perdem a guarda. Ser considerada “alienadora” é pior do que ser condenada como homicida. De verdade. Perde o convívio com o filho ou filha que contou o que o papai fazia, enquanto que as mães apenadas por terem cometido algum crime, preservam o Direito à convivência com os filhos Crianças. Os “estudos psicossociais”, realizados por profissionais da “confiança” do magistrado, e só as de confiança, não apresentam nem fundamentação teórica científica, nem fundamentação na sequência de fatos do próprio caso. Não raro, encontramos redações muito semelhantes, sugerindo um “copiar/colar”, onde se encontram alterações de datas, com inversão de sequência temporal, dando outra impressão, que penaliza a mãe, para o magistrado que lerá. Até mesmo novos filhos que não existem para aquela mãe, com nome e idades que foram escritos, provavelmente, no último laudo confeccionado. Mas isso é visto como pequeno “erro de digitação”, e desconsiderado. As instruções do “faz de conta” são draconianas. Sempre com o aceno da perda da guarda, mães ouvem, frequentemente, aquele “você quer ficar sem ver seu filho para sempre?” ou bradado por aquelas que presidem as audiências, em sua maioria mulheres, um “se não parar de chorar agora, eu tiro seu filho de você, ninguém pode chorar porque eu é que sofri mais, eu perdi meu filho, ele morreu, então, para de chorar”! Mas se a mãe estiver muito controlada, é interpretada como fria, portanto a denúncia de abuso sexual ou violência física é mentirosa. Há sempre um Silogismo de plantão que desemboca, depois da Premissa Maior e da Premissa Menor, no: “logo, é alienação parental”. Eis que seguindo como um carneirinho todas as instruções, sufocando emoções que dilaceram por dentro, as mães são “aconselhadas” a fazer uma constelação familiar. Evidente que se trata de um conselho coercitivo, vindo do juiz ou juíza, amarrada e amordaçada pelas instruções para não perder a guarda e ser afastada do filho, ou filha, a mãe se inscreve e paga uma sessão desse procedimento, já judicializado. Tão encantados com a magia das interpretações constelares, magistrados se fizeram “consteladores”, o que torna ainda mais impossível se negar a seguir o “conselho”. Qualquer pessoa pode ser constelador, não é necessário ter nem mesmo um curso universitário, qualquer que seja. Isso se coaduna com o objetivo do procedimento. Reunidos, várias famílias em processos de família, todos juntos, sem nenhum respeito ao Direito e Dever do sigilo de cada caso, arma-se um teatro de catarses, que deveriam ser impedidas. Afinal, serão revelados para todos ali numa grande sala, os constrangimentos maiores e criminosos, que ocorrem dentro de 4 paredes, ou algumas mais, atos praticados intrafamiliarmente. O caráter vexatório é desconsiderado, porque será descoberto o verdadeiro autor das práticas, legalmente, rejeitadas: um antepassado da linhagem da mãe. Esse tataravô, ou tio tetravô, entra em contato com o constelador através de vibrações morfogenéticas num campo magnético que se abre ali. Sim, parece um pouco estranho. Mas a magia sempre atraiu o ser humano que não consegue lidar bem com a sua impotência diante de uma grande dúvida, ou diante de uma grande dor. É preciso crer que conseguimos nos comunicar com os mortos, que eles falam e reclamam porque foram excluídos da família quando cometeram alguma atrocidade durante suas vidas. O morto que vem em vibrações morfogenéticas é que era um estuprador, ou predador, e há algumas dezenas de anos ou até séculos, teve a “ordem do amor” quebrada quando não foi perdoado e acolhido com todo o amor dentro da família, inclusive pela sua vítima. Nesse teatro improvisado, publicando um crime como sendo uma injustiça sofrida pelo autor de um crime contra Mulheres e Crianças, esse “acolhimento” é indispensável. Assim, o pobre autor de espancamentos ou de abusos sexuais em seus filhos, tem que receber o perdão de sua vítima. E, fica, então, tudo resolvido. Logo, é alienação parental da mãe. É a consagração absoluta da desresponsabilização. Constelações Familiares, técnica pseudocientífica, que se localiza no rol das seitas, são autorizadas pelo Conselho Nacional de Justiça, pretendendo a resolução dos Processos de Família. Além da Justiça, o uso dessa seita está autorizado também no SUS e nas Escolas Públicas.