sábado, 30 de outubro de 2021

Injustiça e Ecolalia, Jeferson, Lúcia, Regina... Prá não dizer que não falei de flores. - Parte IV

Injustiça e Ecolalia, Jeferson, Lúcia, Regina... Prá não dizer que não falei de flores. Parte IV Retornando ao tema, interrompido pelos textos sobre o “Dia das Crianças”, e com mais alguns episódios de Injustiça a acrescentar, mais um jovem preso por ser filho de alguém que tem um homônimo de um traficante já preso, o que rendeu ao garoto de 21 anos, que nunca havia visitado, sequer, o Rio de Janeiro, uma detenção de 9 dias em Presídio, sem visita, nem advogado. Ninguém lembrou de olhar a filiação desse pai homônimo de um criminoso, o CPF, a carteira de trabalho, o endereço, enfim, os dados que compõem a identificação civil de alguém. Como agentes da Segurança Pública não se lembram desta verificação para efetuar uma detenção? Elementar, parece. Mas, não é. Dois meninos, do povo Ianomami, morreram afogados, assassinados pela draga oculta no fundo do Rio para onde foram aspirados. Garimpo ilegal de ouro em terras de povos originários. Lúcia continua tendo que ir assinar um livro de presença na fila de criminosos apenados e em regime da condicional. Ela teve seu pedido de visita ao filho negado sob alegação fraudulenta de que é louca e perigosa. Não pode ver o filho há quase 6 anos por ter denunciado o pai por abuso sexual intrafamiliar, após algumas denúncias de violência doméstica com Exame de Corpo de Delito atestando as agressões físicas, ali descritas e fotografadas pelo Perito Público. E Regina, queremos nos debruçar sobre sua história. Teve sua sentença por ter protegido seu neto de uma busca e prisão para entregar o garoto para o pai abusador. Foi considerada “facilitadora de sequestro de criança”. Esta conotação nova para esta situação, tentar proteger uma criança na esperança, vã, que a Justiça tenha um pouco mais de tempo para ler a realidade dos fatos, a ilusão de que os operadores de justiça vão enxergar as provas e se dar conta das afirmações insustentáveis se vistas com algum bom senso. O desaparecimento do termo rapto foi proposital. O seu substituto, “sequestro”, também foi escolhido com precisão, como alienação, alienadora, programação, constelação, quântica, implantação. O termo sequestro de incapaz induz, imediatamente, o leitor ou ouvinte à identificação de uma criminosa contra o próprio filho. No entanto, nunca se teve notícia de nenhum pedido de resgate feito pela “sequestradora”. A vida delas e das crianças que precisam fugir das garras da injustiça, se torna um tormento continuado, perdem até a existência para se defender de um abusador sexual contumaz que passa a ser protegido pela Justiça, sob os auspícios da Lei de Alienação Parental. A Desembargadora Maria Berenice Dias já remarcava antes de 2010, em seu livro “Incesto e Alienação Parental, Realidades que a Justiça insiste em não ver”, que o Judiciário legitima o incesto quando a criança “é ouvida por pessoas não capacitadas para esse tipo de escuta”. E completa: “A Justiça acaba sendo conivente com o infrator, culpabilizando a vítima. E, de maneira surpreendente, a absolvição por falta de provas é o resultado na imensa maioria dos processos.” (pág. 176). Se já acontecia em 2010, a multiplicação dessa conivência veio se multiplicando em progressão geométrica. Regina a avó, é idosa, tem graves problemas de saúde por conta de uma cirurgia para retirada de um cisto em local delicado e de risco, o cisto voltou a crescer. Mas sua sentença já saiu e teve o “benefício” de poder pagar seu “crime” em liberdade com “Serviços Voluntários”. Ou seriam Serviços Forçados? E seu benefício ainda lhe concedeu a benesse de escolher entre um hospital no subúrbio e uma creche na ladeira de uma favela. Regina trabalha para sustentar o neto e a filha que ficou com sequelas pelos anos do processo judicial e de todas as graves ameaças feitas pelo abusador. Mas, Regina é obrigada a cumprir as 30 horas semanais do “benefício” de sua condenação. BENEFÍCIO? Ela, desde sempre, protege o neto como pode. Quando refletimos sobre o romance de Kafka, O Processo, logo pensamos que ele é fruto de alguém que quer retratar a arbitrariedade que habita os Regimes Políticos Autoritários. O exercício da arbitrariedade fornece o prazer do exercício do Poder. Mas, os regimes autoritários não são exclusividade dos regimes políticos de nações. Ele acontece, igualmente, nas relações interpessoais, de pequenos e médios grupos, muito próximo de todos nós. Um exemplo de arbitrariedade, para evitar de usar o termo mais justo, foi evidenciado no caso do neto da Regina. A busca e prisão do menino foi evitada pela Prova de áudio feito em avaliação por Psicóloga “consagrada” como de notório saber pelo Conselho Regional de Psicologia e pelo meio profissional. Uma Ata Notarial foi feita da gravação da referida profissional de notório saber se fez documento aceito pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima e verificado pelo CAAC, Centro de Atendimento ao Adolescente e à Criança, Órgão Público Competente. A degravação, autenticada como Documento de Fé Pública pelo Cartório, mostrava a psicóloga retrucando a fala do menino ao descrever detalhes sórdidos dos abusos, ao que ela afirmava que aquilo eram coisas que os homens faziam entre eles, e que era amiga da juíza que ia bater o martelo e mandar ele morar com o pai. Nada disso foi aceito pela Juíza. E foi o laudo da Psicóloga da confiança dela que dizia que a Criança queria ficar com o pai abusador que ela escolheu para justificar o injustificável. Todos são capazes de enxergar uma grosseira Falta de Ética, de Honestidade Profissional, mas como na ficção de Kafka, isso não tem a menor importância. Vivemos ao vivo o romance de Kafka. A arbitrariedade sobre Crianças e Mulheres tornadas invisíveis para que a perversidade reine, mutilando e desresponsabilizando. Não devemos negligenciar, no entanto, a também semelhança entre a personagem do livro e o neto da Regina. A absoluta impotência diante de uma injustiça que se perpetua e se expande, leva a desistência da vida. Faz-se necessário considerar que podemos nos deparar com suicídios volumosos. No México, houve um suicídio de toda uma família como resultado de uma sentença que retirava as crianças da mãe para entregá-las ao pai abusador, com justificação na Lei de Alienação Parental. As Crianças, a mãe e os avós maternos, um suicídio familiar. Só assim, o único país além do Brasil, Revogou a lei. Hoje, somos o único no mundo a insistir com essa tese acientífica que mata. Essa lei está a serviço de outra coisa. A Proteção Integral da Criança já está plena no ECA, na Constituição Federal, na Convenção de Belém do Pará, nas Recomendações do CEDAW, na Declaração dos Direitos da Criança da ONU e da CIDH.

Injustiça e Ecolalia, Jeferson, Lúcia, Regina. Prá não dizer que não falei de flores... Parte III

Injustiça e Ecolalia, Jeferson, Lúcia, Regina. Prá não dizer que não falei de flores... Parte III Há justos na justiça. Conheço alguns, em quem confio inteiramente. Mas, infelizmente, são alguns. Quando penso em Jeferson, “reconhecido” por uma foto 3x4 quando tinha 14 anos, com rostinho de criança ainda, preso como assaltante. Como Jeferson, existem Raoni, João Carlos, José, Paulo, etc. Jeferson ficou 6 dias numa cadeia. Tem alguns que ficaram meses, ou até 370 dias. Esses são os casos midiáticos que pertencem a algum grupo mais estruturado que ligou o megafone. Quantos serão? Nunca saberemos. Não há nenhum controle disso. Quando penso em Lúcia, que não vê nem fala com seu filho há quase 6 anos, ele lhe foi arrancado do berço, tinha 4 anos, saiu no colo de um PM de arma em punho. Como faz a Polícia, a porta foi arrombada a pontapés às 6 horas da manhã. Lúcia perdeu tudo. O filho, a profissão, a moradia própria, a credibilidade, o futuro. Responde a vários processos, e foi condenada por denunciação caluniosa porque denunciou os abusos sexuais sofridos pela Criança. E, nesta condenação, foi “beneficiada” pela juíza que, lhe retirando toda a possibilidade de comunicação, também lhe cerceou o Direito de Ir e Vir, como se estivesse num regime de condicional por um homicídio. É obrigada a fazer uma fila, com criminosos, esses sim, na condicional, para assinar um livro, a cada 15 dias. É proibida de sair da cidade. Vai pagar essa detenção transparente por 2 anos. Seu crime foi ter feito uma denúncia, como obriga o Art. 13 do ECA, obrigação de todos, aliás. Ela só queria proteger seu menino. Como Lúcia, conheço, pelo nome, sei a história, mais de 100 mães. Não é tão difícil guardar as histórias das Lúcias. São todas quase iguais em seu começo e no desvio de propósito tomado pelos processos. E, é o mesmo modus operandi do genitor. E da justiça. E, quando penso em Regina, sinto uma dor diferente. É indigno uma avó ser condenada à multa e à prestação de Serviço Comunitário pela acusação de ter induzido (sic) a filha a “sequestrar” o neto, quase adolescente que implorava para que alguém o protegesse do pai, seu abusador contumaz. Como não atender, minimamente, um menino de 11 anos que, com toda a clareza e coerência expõe sua agonia e extrema revolta, frente à ameaça de ser entregue, judicialmente, ao seu abusador. Nenhuma escuta, nenhum crédito ao que relatava. Por 6 anos foi abusado sem ter consciência do que era. Havia 2 anos que tinha descoberto que o que o pai fazia nele e exigia que fizesse no pai eram abusos sexuais. E, agora, teria que ir morar com esse pai, que também era muito violento e cruel com ele. O desespero invadiu sua mente, a ideação de suicídio se instalou com força. Ansiedade e angústia em quantidades que preencheriam a necessidade de várias pessoas, e era apenas um menino. Cansado de repetir para inúmeras peritas que distorciam, perversamente, suas palavras, o menino não via saída. A mãe o levou para casa de parentes para evitar aquela cena grotesca da polícia invadindo sua casa de dedos nos gatilhos, para entregá-lo ao seu abusador. Esse foi o crime de sequestro, e pelo qual, ela e a avó, foram condenadas. Ficou fora apenas o tempo de sustar a inversão de guarda concedida pelo juiz de família, porque o juiz criminal, acatou a sugestão de indiciamento feita pela Delegacia Especializada em Violência Contra a Criança, quando o pai, sentindo o perigo de uma possível justiça, fugiu. Essa mãe, não conseguiu mais voltar a ter seu funcionamento normal. E, a avó, com vários problemas de saúde, desrespeitados pelo Estado que fere o Estatuto do Idoso, agora condenada por ter protegido o neto. Quantas Reginas eu conheço! E quanto tempo elas vão aguentar? A Ecolalia repetida por profissionais que, por ignorância ou intencionalidade, violam os Direitos mais Naturais, que deveriam garantir. Mas sonegam. Usurpam. A retórica de maquiagem pseudocientífica, engana bem. Afinal, os termos técnicos, que foram forjados em anos de trabalho científico, em pesquisas seguindo os rigores das leis da Ciência, são encaixados em método de copiar/colar inescrupuloso. O romance de Franz Kafka, O Processo, ilustra bem o tema aqui tratado. A personagem do livro, Josef K., é surpreendido por 2 guardas pela manhã cedo, no dia em que estava completando 30 anos. Os guardas entram em seu quarto, tomam o café que ele havia preparado para si, e sugerem que teriam sido subornados, levando Josef K. preso. E sem saber o motivo daquela detenção, sem ter cometido nenhum ato que justificasse, começa sua trajetória de ilusão, acredita que vai explicar, esclarecer, e a verdade se imporá. A sequência vai se desenrolando, e sempre confiando na justiça e na verdade, aquele homem correto, bem sucedido no trabalho, competente para várias coisas da vida, não consegue voltar para sua vida. Nem Inspetor, nem seu advogado, nem tribunal do júri, sem saber qual teria sido seu crime, é condenado. Desiste, como chegou e nunca saiu de perto o neto da Regina. “O Processo” de Kafka, é real e atual. Na próxima semana, pretendo continuar a pensar o contexto de Regimes Autoritários que propiciam o aparecimento desse tipo de situação. O momento é muito grave. Josef K., todos conhecemos muitos porque existe o Regime Autoritário Transparente, exercido por pequenos grupos, de rótulo intelectual, que se valem da Deturpação, da Semântica à Ideológica para experimentar o prazer do Pequeno Poder sobre o outro.

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Dia das Crianças - Parte II

Dia das Crianças Parte II Eram 2 meninos do Povo Ianomami. Um tinha 7 anos, o outro, 9 anos. Morreram afogados. Estranho acontecimento, que não teve nenhuma repercussão na mídia. A verdade é que os meninos estavam tomando banho no Rio perto da aldeia, e foram mortos pela draga instalada para a extração ilegal de minério. Submersa para aspirar o fundo do Rio, a potente draga aspirou os dois meninos. Muito provavelmente, o “dono da draga” não permitiu que esta tragédia de ilegalidades em cadeia se tornasse midiática. As ocorrências com povos nativos, aliás, não encontram espaço nos noticiários, haja vista a presença de mais de 6 mil indígenas em Brasília, que ocupou uma borda pequena dos informativos, e menor ainda, dos comentários jornalísticos. Nem se soube muito do resultado da votação do Supremo. Do mesmo modo, não teve eco a morte de um grupo de 30 crianças Ianomamis, de menos de 5 anos: fome. Mas, para as Crianças urbanas a situação não está muito diferente. Surgiram as Crianças catadoras de ossos nos lixos dos grandes açougues e supermercados. Quantos milhares de Crianças morreram de fome no Dia da Criança? Isso é bárbaro. Não vou discutir as motivações irracionais que embalam a ausência de Políticas Públicas de dignidade, que pudessem garantir a segurança alimentar das nossas Crianças. TODAS. Gostaria de sair da esfera dos políticos, para pensarmos o “polítikos” em cada um de nós. Falta vontade política em cada um de nós. A polis, a cidade-estado teve início no Século VIII a.c., na Grécia, atingindo seu auge nos séculos VI e V a.c. Na ágora, praças, espaços abertos, os cidadãos conviviam, comercializavam os produtos agrícolas, e resolviam as questões da coletividade. Esse foi um dos fundamentos da democracia. No entanto, o Poder sempre foi uma cobiça para o ser humano. O Poder é egoísta. A ideia de coletivo precisa ser sustentada pela maturidade, pela desistência do egoísmo, o que vem se mostrando um enorme obstáculo a ser superado, ao longo de todos esses séculos vividos. E a vocação para ditador/imperador sempre atraiu alguns, enquanto muitos se sentem atraídos pela posição de dominados. Essa combinação, dominador-dominado, incluindo uns dominados que fazem a manutenção do dominador, tem garantido a permanência na não-coletividade. Parece que ter alguém “forte”, que dá a sensação de mantenedor, satisfaz uma grande parcela de indivíduos que preferem ficar nessa posição infantilizada. Daí a dificuldade de responsabilização social e de cidadania. Essa não responsabilidade fornece uma ilusória sensação de permanência na infância, período em que há sempre alguém que olha por nós. Esse estreito corredor do Poder tem papéis muito definidos. Aquele que detém o Poder, chefe/dono/ditador/líder, e, até em certos casos, o “dono de uma votação”, exerce a tirania prevista e esperada pelos seus súditos/dominados. Esse “casamento”, opressor/oprimido, vem se repetindo, independente de todo o corolário jurídico, por vezes, belíssimo. Tudo está muito bem previsto na letra da lei. Mas, quem cumpre a Lei? Ela é interpretada das mais diferentes maneiras, até de ponta a cabeça. A lei de alienação parental é emblemática nisso. Ela traveste a vítima em culpada, entregando a criança estuprada ao seu estuprador, e punindo a mãe que denunciou um abuso intrafamiliar incestuoso. Se pensarmos nos dois meninos assassinados por uma draga de mineração oculta no fundo do Rio onde nadavam, certamente, a culpa foi deles. Ou ainda, e muito provavelmente, da mãe negligente que deixou os meninos sozinhos na água. Afinal, é cada vez mais comum que a vítima seja julgada como culpada. E, com dolo. A leniência com os mais diversos infratores e criminosos, nos levam à cena de uma Cultura de Transgressão generalizada. O ancião Aruká Juma, com idade entre 86 e 90 anos, levou para a morte a memória viva de sua etnia. Morreu de covid. Tão vulnerável quanto os meninos, tão negligenciado também. Será que alguma responsabilização será demandada? O futuro e o passado são desprezados não só nos Povos Originários. É uma generalização que já não nos provoca indignação, tamanha sua incidência. A dor da morte de Crianças, a dor da morte de um acervo vivo, na aldeia, na periferia, na favela, já não importam. A dor de não ver a mãe no dia da criança porque está proibido por uma lei que se baseia em termo inventado por um pedófilo que enriqueceu defendendo outros pedófilos, não importa. Ser, traiçoeiramente, aspirado por uma draga potente que invadiu seu habitat para explorar, ilegalmente, o ouro do fundo do rio, não faz sentido para as duas Crianças que estavam vivendo as alegrias de sua infância. Como a “bala perdida” que acha a cabeça da menina de 6 anos na porta de sua casa, como o menino 3 anos que é estuprado em seu quarto pelo seu pai, será que conseguimos nos colocar no lugar dessas Crianças? Como será ser dragado para o fundo da água durante um divertido banho? Dia das Crianças. Sem chance de defesa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Dia das Crianças! E os 130 mil.

Dia das Crianças! E os 130 mil. Mas, e as mais de 130.000 crianças órfãs da covid19? Precoce orfandade. Será que são mesmo 130.000? Mais? Menos? Onde estão? Quem são? Como passaram o Primeiro Dia das Crianças sem seus pais, sem suas mães? Mas, e as Crianças que estão sob o Regime de Privação Materna Judicial pela lei de alienação parental? Parece que são mais de 5.000. Ninguém sabe também. Foram entregues a seus agressores como punição à Mãe que denunciou abuso sexual intrafamiliar ou violência doméstica. Mas, e as Crianças que estão em situação de “insegurança alimentar”? Nome bonito para dizer da fome. Uma comida para o Dia da Criança. Um brinquedo? O imaginário está com fome. É melhor não gastar energia com sonho. Ser Criança é uma beleza! Não é tão fácil quanto parece, vida de Criança, para a Criança, é muito dura. E falamos de condições normais. Ter que crescer e perder os privilégios dos pequenininhos. Todos os dias buscar novas respostas sobre o mundo, todos os dias ter que cumprir o que adultos dizem que é para o bem dela, sem que consiga alcançar esse “bem”. Por que estudar? Por que tomar banho? Por que comer cenoura e espinafre? Por que ir dormir quando ainda quer brincar mais? Por que cumprimentar outros adultos que mal conhece? Tudo isso, e muito mais, lhe é repetido diariamente. Mas, somos obrigados a ouvir que mães programam a cabeça de seus filhos para que eles rejeitem o pai, só por vingancinha. Como será que essas mães conseguem implantar esse chip, se nem o que é repetido diuturnamente não é decorado? Qual seria essa mágica? É a tal da “implantação de falsas memórias”, propagada como tendo pesquisas “comprobatórias”, o que não consta, cientificamente. Nesse ponto caímos naquela equação: pseudociência/Ciência, mentira/verdade. O Estatuto da Criança e do Adolescente, ECA, reza em seus Artigos 3º, 4º, 5º, e 7º, todos entre muitos outros, pelos Direitos Fundamentais, pela Proteção Integral da Criança. E, enquanto indivíduo em formação, portanto, vulnerável, é dever de TODOS proporcionar as condições que proporcionem seu pleno desenvolvimento. E, a nossa Carta Magna nos determina: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à Criança e ao Adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e ao convívio familiar e comunitária, além de coloca-la a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” Mas, os 130.000 órfãos da covid19 me maltratam. Quem vai garantir os Direitos Fundamentais dessas Crianças e Adolescentes? Vale ressaltar que os pais são os mantenedores de seus filhos. Na ausência deles, há que se garantir, minimamente, a sobrevivência básica. Não vi nenhum pequeno traço de RESPONSABILIDADE DEVIDA para com esses órfãos. Nada. Diria mesmo que essa é mais uma forma de violência transparente, avassaladora em suas sequelas irreversíveis. Quem conhece uma Criança que perde o pai ou a mãe para a morte, sabe do que está sendo tratado aqui. Ter a vida do pai interrompida quando ainda se é Criança é muito doloroso. Ter a mãe subtraída quando se tem poucos anos, é o desamparo absoluto. Muitas entre essas Crianças tiveram pai e mãe retirados abruptamente por um vírus invisível. Para a Criança, que ainda nem acedeu à noção de morte de maneira completa, esta é a vivência da amputação de um ou mais membros. Uma mutilação irreparável que marca com uma sombra sempre à espreita. Onde está o Estado? Onde está a nossa reponsabilidade? O que podemos fazer? São mais de 130.000 Crianças e Adolescentes. Na próxima semana daremos continuidade às reflexões sobre a Injustiça e a Ecolalia. Mais um jovem está preso há 11 dias sob acusação de ser filho de um traficante que já está preso. O “ponto” é que o pai do jovem, músico de uma Igreja e funcionário com trabalho regular, tem o mesmo nome do traficante que é pai de outro jovem. Não foi olhado o nº de CPF, nem a filiação do pai, os avós do garoto que tem 21 anos, que está esperando o final do feriadão para que seja apreciado seu pedido de Habeas Corpus. Estamos mesmo cumprindo nossas leis? E que leis são feitas para serem obedecidas? Como explicar para as Crianças e Adolescentes que a Justiça é para todos? Mesmo assim, há justos na Justiça.

domingo, 3 de outubro de 2021

Injustiça e Ecolalia: Jeferson, Lúcia, Regina... Prá não dizer que não falei de flores. - Parte II

Injustiça e Ecolalia: Jeferson, Lúcia, Regina... Prá não dizer que não falei de flores. Parte II Está ocorrendo um fenômeno que se torna cada vez mais enlouquecedor à medida que vai se alastrando e se banalizando. É um ataque ao pensamento, aos argumentos, e quando se trata de tema técnico, somos surpreendidos por uma espécie de ecolalia, sintoma frequente nos quadros psicopatológicos da ordem do grupo das psicoses. Mas, essa ecolalia do discurso corrente não se refere a indício de psicopatologia. As falas, em especial as que se pretendem “teóricas”, estão cada vez mais parecidas com uma colcha de retalhos onde a linha do pensamento muda de critério sem a menor cerimônia. Além da mudança de critério, há mudança de significado, neologismos são criados, por vezes, sem nenhuma preocupação com a etimologia. Você brincou na infância de “remendar”, como chamávamos, o colega? Era uma brincadeira que irritava, mas que exigia muita atenção para pegar uma palavra mal pronunciada, ou uma pergunta que conseguia quebrar a repetição monótona trazendo uma resposta, e, assim, inverter o jogo. Quem brincou, lembra como era irritante ter o outro a ecoar tudo o que era dito. Como todas as brincadeiras, talvez tenha outros nomes em outros cantos do Brasil. Mas o que está acontecendo não é brincadeira. A Deturpação Semântica ataca o pensamento lógico que assola a comunicação com um arremedo do que é o seu eco. Teses nascem sem nenhum compromisso com a lógica, apesar de imitá-la num copiar/colar que prima pelo caráter de pseudo. Mas, reivindica o lugar científico. Um mosaico de cacos tirados da tese de outros campos que estudaram, pesquisaram, seguiram os rigores dos critérios científicos. Como se uma maquiagem de pseudociência fosse. No entanto, propagada como se fosse de verdade. Aliás, mentira e verdade têm hoje tamanha proximidade que se tornaram, praticamente, uma equação, embalada pela superficialidade vazia, ou pela desonestidade intelectual. Aqui também, temos dificuldade em distinguir quem repete teses absurdas por desconhecimento, por ignorância, de quem repete por má-fé. Outra equação de difícil discernimento. Não estou me referindo à criatividade linguística, à arte de fabricar metáforas, às invenções poéticas, que tanto nos ajudam na dureza da vida. A arte de fazer pinturas com letras, nos salvam em momentos agoniantes. Estou tocando nos desvios que baseiam os casos dos Jefersons, das Lúcias, das Reginas, e tantos outros vítimas de inversões de propósito. Quando falamos em desonestidade, logo associamos àquela monetária. Mas a desonestidade intelectual é, igualmente, nociva, principalmente, quando se trata da formação de Criança. Na formação do caráter de uma Criança, é preciso que seja bem nítida a diferença entre mentira e verdade. O mundo virtual oferece o imediatismo, anulando os processos que trazem as etapas, o tempo. Este foi abolido, e não reduzido. É um click que leva a tempos e espaços sem que haja intervalo. Esta é uma mentira que deve ser corrigida para que a criança aprenda a esperar, a percorrer os diversos processos da vida. No entanto, há um tempo injusto com a criança: o tempo judicial. A infância acaba e os processos de família continuam, não dando crédito à voz da criança, escrita como Sujeito de Direito, mas, na realidade, recebendo a alcunha de mentirosa. Encontramos mentiras em vários pontos a que submetemos nossas Crianças. Afirmações, maldosamente, inventadas para encobrir a verdade de crimes contra a Criança, ou Sofismas que induzem ao erro de conclusão, por conta de operadores de justiça pouco ou nada comprometidos com a Criança, e com a verdade. Além da mudança de critério, encontramos mudança de posicionamento técnico, que deixam transparecer, talvez, um motivo financeiro mais promissor, apontando para a falta de coerência. Mas, isso não é notado. Assim como também não é notado que se afirme consequências impossíveis de ocorrer, porquanto pertencem a outra esfera. Refiro-me aqui às consequências da prática de alienação parental da mãe, por exemplo, que foram usurpadas da lista de comportamentos resultante de estudos científicos, que consta da Cartilha “Abuso Sexual – Mitos e Realidade”, publicada pela ABRAPIA, 2002. Também a afirmação de que é provada a “implantação de falsas memórias” foi provada por pesquisas, não corresponde à verdade. Não há pesquisa sobre falsa memória sobre a ocorrência de abuso sexual na infância, pelo óbvio. Não é possível infligir um sofrimento, o convencimento de que aconteceu um abuso, só para medir a ocorrência. E, por ser um tema específico, não é científico fazer uma generalização a partir de um convencimento de um passeio ou um sorvete diferente. Estas tentativas de implantar uma falsa memória com uma história do cotidiano, não ultrapassam os 15% como resultado, demonstrando que a Criança apresenta uma resistência ao convencimento de falsa memória. A corrupção intelectual está se banalizando. Em um vale tudo desenfreado, assistimos formas silenciosas de violências perpetradas contra a Criança. Não é correto. Nem possível para o pleno desenvolvimento saudável de nossas Crianças. A invasão de Ecolalia argumentativa é uma retórica vazia, desconectada de sentido. Uma arma contra o pensamento lógico construtivo.