sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Como cresce uma Criança? Parte XII

Como cresce uma Criança? Parte XII Os percalços que uma Criança sofre durante a infância, são muitos e de várias ordens. Crescer dói. Crescer dá trabalho. Crescer, não tem manual de instrução. O método mais seguido é, sem dúvida, o método de ensaio e erro. Em consonância com o raciocínio concreto, típico dessa faixa etária do desenvolvimento cognitivo, o experimentar é o único caminho sustentado pela cognição. Sabemos que os bebês humanos nascem ainda muito incompletos em vários de seus sistemas. Dependentes de um adulto cuidador que lhe garanta a sobrevivência. Sua necessidade prevê dois tipos de alimento: o nutriente e o afeto. O sono e a higiene completam as condições básicas da sobrevivência, sua dependência nessa fase, portanto, é absoluta. Essa condição de dependência absoluta em relação a alguém deve ser sempre considerada, posto que ela alicerça a consequente necessidade humana de construir vínculos. Somos seres, essencialmente, relacionais. E, como tal, essa condição humana imprime uma contínua troca de emoções. O crescimento emocional vai se dando à medida que as experiências relacionais vão se desenrolando. No entanto, queremos propor agora um exercício para se tentar dimensionar os efeitos de episódios de impacto de extremo estresse a que a Criança é submetida. Por definição, o impacto de extremo estresse se refere a atos de violência física e de violência sexual contra a Criança. Essas duas formas são paralizantes pela sensação brutal de impotência que causam. E, por esse motivo, produzem impressões permanentes no corpo e no cérebro da Criança. Não me parece muito difícil raciocinar sobre os efeitos da violência física e/ou sexual contra a Criança, considerando que está em desenvolvimento. É preciso ter o conhecimento que o sistema nervoso continua a se desenvolver durante a infância. Existem neurônios que crescem durante a infância. Existem estruturas nervosas que são responsáveis pelo filtro e pela administração das emoções. O sistema límbico é o local cerebral conhecido como o sistema que modula as emoções. Se pensarmos em como o aparelho que tem como função decodificar e filtrar ameaças ao corpo e fica exposto, continuamente, ao extremo estresse, como essa estrutura cerebral pode se desenvolver plena e saudável? Ou seja, se a função daquela estrutura é dar o alerta para a defesa do organismo, mas, a sobrecarga de estímulo, qualitativa e quantitativamente, invade e inunda, de maneira avassaladora, a mente daquela Criança, causando a disfunção daquela estrutura. Do ponto de vista fisiológico, o crescimento previsto dos neurônios é comprometido, e verifica-se a atrofia desses nervos. Será que é muito difícil pensar que esse desenvolvimento nervoso sendo obstruído pelo extremo estresse das violências sofridas, acarretará prejuízo irreparável? Estamos acostumados a pensar nas consequências psicológicas de uma violência física ou de uma violência sexual contra uma Criança, e deixamos de dar atenção às sequelas irreversíveis do sistema nervoso. Há estudos em Universidades e Centros Médicos que acontecem na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha, que buscam relações entre os abusos físicos e sexuais e algumas doenças, que já evidenciam conexões, por exemplo, entre essas violências na infância e o aparecimento de epilepsias de lobo temporal na idade adulta. Outras patologias têm sido observadas nessa relação com o sofrimento dessas violências na infância. Outro aspecto, esse não estudado, é o endocrinológico. Desconheço estudos e pesquisas que se dediquem à relação entre abusos sexuais praticados contra a Criança, e alteração hormonal na puberdade. É preciso estudar qual a consequência, por exemplo, do estímulo causado por penetração digital anal em pequenos que crescem com essa massagem diária de próstata, ou útero. É notável a precocidade da puberdade, o aparecimento dos caracteres sexuais secundários em Crianças, cada vez mais novas. Sabemos que é um estudo difícil de ser realizado, pela dificuldade de estabelecer hipóteses, de ter um grupo de controle nas pesquisas, mas também é difícil sobrecarregar Crianças com uma precocidade sexual desconectada do desenvolvimento da maturidade emocional. Talvez, a maior dificuldade seja verificar com critérios que respeitem o Princípio do Melhor Interesse da Criança, a ocorrência de abusos sexuais, aqueles que não deixam marcas visíveis, em sua grande maioria. E respeitar o critério que mais tem sido violado, dar crédito à voz da Criança, Sujeito de Direito, que tem sido tão desconsiderada e desqualificada. Como cresce uma Criança assim?

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