quarta-feira, 6 de julho de 2016

MENINO BOLDRINI X BERNARDO BODRINI

MENINO BOLDRINI
X
BERNARDO BOLDRINI

       O menino Boldrini postou ontem as fotos de sua mãe espancada pelo seu pai no facebook. O menino Boldrini escreveu que não adiantava dizerem que a sua mãe tinha feito alguma coisa errada porque ela não tinha feito.
       Grave sintoma de uma sociedade que mostra suas vísceras apodrecidas. Uma criança de 11 anos expõe na mídia o rosto deformado de sua mãe. Nariz quebrado, vários cortes, vários hematomas. Seu pai, o autor da violência, é um sargento do exército, corporação que prima pela disciplina e o respeito, onde a desobediência a uma regra é punida, portanto acostumado no trabalho a seguir a lei. Entre o quartel e a residência, este sistema, regras, respeito, punição, se desfaz? O menino, aos 11 anos, ainda denuncia em suas palavras mais uma grave podridão social quando diz que não venham dizer que a mãe fez alguma coisa errada porque ela não fez. Aos 11 anos ele já aprendeu que a sociedade justifica o espancamento de uma mulher se ela fez alguma coisa errada. Não há algo muito errado nisso? Quer dizer que se fizer uma coisa errada ela pode ser espancada. 
       Bernardo Boldrini, assassinado há 2 anos e 3 meses, pelo pai e pela madrasta, tinha 11 anos também. Foi procurar ajuda no Ministério Público, falou com um Juiz Fernando, e não foi acreditado pelo Juiz nem pela Promotoria. O Juiz mandou que o pai, pai é pai no calo social, voltasse e promovesse um bom entendimento na família, marcando nova audiência para 3 meses depois. Audiência que Bernardo não compareceu porque foi morto nos primeiros 30 dias de “bom entendimento”. Bernardo foi mandado de novo para a calçada, no frio e sem agasalho, ocasiões que pedia abrigo na casa de amigos, e para o buraco embaixo da escada onde era trancado e gritava por socorro na caverna de seu algoz, que tinha sido legitimado pela Justiça de Família como o pai que ia promover o “entendimento na família”.
       Os dois Boldrinis têm 11 anos quando pedem ajuda. Não sei se são parentes, mas têm também o mesmo sobrenome. Outra coincidência.  O Bernardo não conseguiu e morreu. O segundo, não foi procurar a justiça. Procurou a mídia. Talvez não morra porque está protegido pela mídia. Há semelhanças de sobrenome, de idade, de vulnerabilidade, de sofrimento por violência praticada contra eles, mas há diferença na instituição que procuram para buscar proteção. E, talvez, esta diferença, faça diferença no decorrer da vida deles dois.
       Poucos dias depois que o menino Boldrini postou as fotos da sua mãe com o rosto deformado pelo seu pai, vemos uma celebridade se expor quando denunciou o marido pelo espancamento sofrido. E neste ponto uma coincidência com o menino Boldrini. Ele avisou que não adiantava dizer que a mãe dele tinha feito alguma coisa errada. Triste aviso porque, aos 11 anos já sabe que a tese da culpa é da mulher viria se instalar, como se qualquer coisa errada que tivesse por acaso feito fosse passível de ter o nariz quebrado e vários cortes e hematomas no rosto, fora o resto. A celebridade vai ter que se preparar para todas as testemunhas que seu ex-marido, muito rico, vai apresentar para inverter as posições e vir a ser a vítima de uma mulher agressiva que lhe unhava. Senhores, uma mulher raivosa é contida por um homem segurando-lhe os braços, não é possível achar que para se defender de unhadas se faça necessário quebra-lhe 4 costelas. Por pouco ela não entrava no gravíssimo estado de S.A.R.A. que leva à morte. E, 4 costelas não se quebram com um só pontapé dado sem querer. Há uma repetição de golpes para quebrar 4 costelas.
       Mas, é sempre também a repetição de golpes desferidos pelos misóginos, que são numerosos e cooptaram até mulheres para a prática da misoginia.

       Torcemos para que este novo Boldrini tema mais sorte que o Bernardo.  

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