sábado, 19 de setembro de 2020

O abuso sexual de criança também ocorre em Público.

 

 O abuso sexual de criança também ocorre em Público

     Temos a equivocada impressão de que o abuso sexual só acontece na calada da noite, em ambiente fechado. O abuso sexual de crianças e adolescentes acontece de noite e de dia, no cantinho privado ou em meio às pessoas da família, no banho de mar, disfarçado por baixo de um determinado edredon na sala de televisão, ou explícito e público.

     Era verão, um final de tarde de domingo. No ponto carioca apelidado de “baixo-bebê”, em meio àquela multidão de bebês, crianças, mães, pais, babás, avós, uma família se preparava para voltar para casa. A mãe se ocupava do bebê recém-nascido, um pouco mais de 1 ano de idade. Este pai, ali no calçadão em meio a todos, a despeito de trocar a menina, tirou seu biquíni e colocou-a escanchada na sua barriga, também nua. O roçar de sua genitália na barriga e nos pelos da barriga do pai produziram uma resposta imediata: uma sensação prazerosa. O alheamento da menina fez-se visível, o pai parecia se orgulhar de estar como “o dono”, também se satisfazia com o contato de intimidade excitante pele-mucosa, pele dele, mucosa genital dela, por ele estabelecido, a mãe não querendo ou não podendo ver, ficava com o recém-nascido. Quando alertada, preferiu continuar não vendo. O pai, então, atravessou a extensa faixa de areia, levou a menina até a água, e, depois de alguns minutos, voltou com a pequena menina extasiada, como que paralisada na mesma posição. Uma cena de masturbação pública de uma menina quase bebê.

     A atitude desinibida e confiante do abusador opera uma inversão na sensação de dúvida nas pessoas em torno. É tão explícito que, rápida e facilmente, afastamos a percepção que estamos tendo, desviamos nosso olhar, não estamos mais vendo o que estam0os vendo. E, muitas vezes, ainda nos culpamos por termos tido aquele pensamento, aquela mente suja passa a ser a nossa.

          “Ele entrou no mar com o fulaninho no colo, chorando sem querer ir, passou o quebra mar, ficou no fundo com o filho no colo por algum tempo. Quando saíram, o menino não chorava mais, e ele estava com ereção. Fiquei chocado e imobilizado, não fiz nada, não sabia o que fazer, desviei o olhar achando que estava vendo “coisas”. Só hoje sei o que aconteceu.” (Relato de um tio do menino, 4 anos, abusado pelo pai.)

     Sair do mar com uma criança no colo e evidência de ereção compõem uma cena tão repugnante que muitas vezes nos damos explicações mudas, preferindo, como aquela mãe citada, não ver o que vimos, porque esta aberração, como se nada fosse, não cabe na nossa mente.

     A criança abusada, frequentemente, é mantida pelo abusador em seu colo em lugares públicos, em festas familiares, até em festas de aniversário de outra criança. Esse comportamento está relacionado a 3 fatores: o primeiro refere-se à compulsão do abuso, ao prazerzinho da pequena excitação ou ereção do abusador; o segundo ao prazer da onipotência delerante do “ninguém me pega, faço na frente de todo mundo e ninguém vê”; o terceiro refere-se ao medo de ser denunciado pela criança neste tipo de situação de mais difícil controle sobre sua vítima. Este a mais de adrenalina que tanto aprecia.

          “Mãe, aqui nesta foto tinha uma coisa dura embaixo de mim, era no colo do pai, e ele me segurava, eu queria ir brincar com meus primos e ele me apertava.” (Menino de 7 anos, abusado pelo pai, vendo uma foto do aniversário do irmão menor.)    

     Outra situação de abuso público, muito frequente, se passa na festinha da menina de 6-7 anos. A música que divide radicalmente opiniões, mas para parecer “estar por dentro da moda”, a festinha passa a tocar, as meninas se põem a dançar até o chão com poses sensuais explícitas, logo rodeadas pelos adultos a filmar e fotografar, mas, sobretudo, a olhar. Tios, avôs, outros pais, olham com interesse masculino adulto, com fantasias sexuais. É uma sessão de voyeurismo público compartilhado por todos que, babando, parece se divertir muito, com o exibicionismo, atendido pelas meninas ainda muito pequenas para saber qual o tipo de satisfação que estão provocando naqueles homens adultos.

         “Vamos parar de dançar porque você me deixou de pau duro”. (Disse o tio-padrinho à aniversariante em seus 15 anos, no meio do salão cheio de pessoas, familiares e amigos.)

     Este é um capítulo de meu livro “Abuso sexual, uma tatuagem na alma de meninos e meninas”. São muitas as formas de abusar de uma criança, inclusive na presença de muitas pessoas.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário