segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Amor de Vó!

Amor de vó! Amor de vó? Amor de vô! Neto é a única coisa na vida que começa ótima e cada dia fica melhor! Para a avó, o neto é a oportunidade de fazer uma nova edição revisada da maternagem. Isso também é válido para o avô, que pode reeditar a sua função de pai. A dose de responsabilidade é menor do que foi na maternidade, e na paternidade, mas continua existindo, mesmo assim. É preciso dar limites, é preciso dar cuidados de qualidade, é preciso, sobretudo, amar. Se a responsabilidade diminui, a paciência aumenta muito. É possível esperar para que aquele neto gaste muitos minutos para recolher uma folhinha no chão que ele quer oferecer para a vovó, como se fosse um buquê de lindas rosas. Ou esperar pelas brincadeiras com seus bichinhos num banho que, por ele, não precisava ter fim. Ou atender os pedidos seguidos de repetir a mesma brincadeira do vô que provoca aquela gargalhada gostosa. E o avô repete, pacientemente. Quantas vezes os avós escutam aquela reclamação, “comigo você não deixava”, ou “comigo não era mole assim”. Os excessos de exigências dos pais com os filhos correm por conta de uma fantasia que vão acertar em tudo, que vão ter filhos exemplares. Não há lugar para os pequenos erros, as pequenas falhas, tão necessários para que os filhos queiram se tornar pais para “corrigir” essas falhas. Uma mãe ou um pai perfeitos não deixariam o espaço para os filhos terem o desejo de ser mãe ou pai. Muito movidos pela ilusão de que não vão falhar como seus pais, conseguimos nos tornar pais, repetindo muito mais do que havíamos projetado. Repetimos as falhas com pequenos ajustes, e isso é saudável também, porque é o possível. Apesar do estigma de que avó e avô estragam os netos, há um espaço que se inicia e que reconhece a função importante da função avoenga. Faz-se necessário entender que uma dose de um certo afrouxamento de alguma regra, deve ser vista como um estímulo para a Criança lidar com diferenças, com sistemas que têm pequenas diferenças de uma maneira enriquecedora, se for afastada, claro, a competição entre as duas gerações. A Criança, pode lançar essa pegadinha, “você é minha mãe, mas minha avó é sua mãe, ela é que manda mais”, tentando alguma vantagem na crença de que a avó é mais mole na disciplina, como é mais comum. Se para os pais dos pais surge essa possibilidade de reeditar o laço afetivo primário, o fundamental, para a Criança, a presença e o afeto da avó e do avô é o atestado que aquela vó, aquele vô são as pessoas mais confiáveis no mundo e competentes, porquanto eles criaram sua mãe ou seu pai. Isso traz uma carga de esperança e confiança para os netos, pois, afinal, vale a pena vivenciar esse afeto de outro patamar de maturidade. Essa escala de tempo que vem de um passado inacessível à Criança, quando seu pai e sua mãe foram Crianças, é possível apreciar, mesmo que sem saber direito que está apreciando, a linha do tempo de gerações sucessivas. O tempo é uma noção de difícil aquisição para a Criança. Não é concreta, como ela necessita na infância, para que ela consiga formatar uma noção de antes e depois, de dimensão temporal para se localizar nesse tempo, esse elemento tão fluido. Todos já ouvimos aquela Criança, na fase que está tentando aprender os advérbios de tempo, relatar “amanhã eu fui no cinema com a mamãe”. O tempo é difícil. Ontem, fui arrebatada por um novo neto. Que sentimento forte, que afeto direto. Aquela pessoa, nasceu grande, mas é pequeno, e já é uma pessoa, que se entrega no meu colo e dorme tranquilo. Essa dependência absoluta, que deve ser tratada com responsabilidade, igualmente, absoluta suscita um enternecimento de difícil tradução. É sentida, não falada. Nunca. As palavras corrompem os afetos puros. Vó coruja? Com orgulho. Vi esse pequeno adormecer e viver sensações que arrisco afirmar, eram sensações e expressões de sonhos. Eram sorrisos acompanhados de suspiros que relaxavam a expressão do rosto, e se seguiam de novos sorrisos. Se tinham essa conotação ou se seriam interpretados por alguns como movimentos faciais espasmódicos, a mim, pouco importa. Afirmo que estava sonhando com o que nunca saberemos, e sorrindo. A satisfação era inegável. Todas as Crianças precisavam ter um colo de vó, um olhar de vó. Uma companhia de vô. Todas. É pura saúde. Cada novo neto, é uma nova experiência afetiva única. Hoje eu agradeço a essa pessoinha luminosa que chegou e me arrebatou de maneira doce com uma alegria imensa. Aos meus netos muito queridos.

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