sábado, 9 de dezembro de 2023

O Direito da Criança ao MEDO. Parte I

O Direito da Criança ao MEDO. Parte I Aquela frase que vem sendo combatida, “homem não chora, engole o choro!”, não só não tem tido muita eficácia para os meninos, porque o modelo “machão” continua vivo na estrutura da diferença de gênero. Essa é uma escadinha oculta da homofobia. É um caminho escuro, tortuoso nos disfarces, mas que tem por objetivo desvalorizar a emoção, o sentimento, o afeto. Há uma pressão para esfriar afetos, e o choro entra nesse espaço. Por que ter medo da Criança ter medo? A primeira resposta que me ocorre é que ficar perto de uma Criança com medo nos contamina. E acorda nossos medos infantis. O medo é muito importante e necessário à saúde mental e corporal, quando é bem processado. Todos os medos, os referentes a um elemento concreto, ou os medos de situações subjetivas, por vezes fluidas, sem contorno, mas todos imprimem uma parada abruptas porque são recheados de impotência. O objeto do medo, concreto ou abstrato, tem como elemento primeiro a impotência. As fobias, por exemplo de animais pequenos carecem, absolutamente, de qualquer vestígio de lógica. Mas a realidade não consegue se impor diante de uma barata para quem tem fobia desse inseto. A barata não ataca os humanos, não morde, não é peçonhenta, para alguns nojenta, com razão pelo seu modo de vida e sua alimentação, enfim, tem um tamanho ínfimo em relação aos humanos, mas pode causar um pânico com fuga desvairada. Nenhuma lógica, um desvio da função do medo. Sim, o medo tem uma função muito importante no desenvolvimento da Criança. Há uma sequência que contribui para o amadurecimento e, sobretudo para a aprendizagem da preservação da vida. É o medo que dá o alerta para o perigo. No início, o medo de perder a mãe quando ela sai de seu campo de visão, é logo acompanhado do medo do estranho, seguido do medo de espaços grandes vazios, depois de animais pequenos. Na sequência aparece o medo dos grandes animais. Cada um deles deixa, gradualmente, como resultado, uma segurança em relação a lidar com aquilo que está ameaçando. No entanto, é preciso respeitar o tempo necessário à Criança para, e querer que a Criança “perca o medo” por uma exposição “curativa”. Ou seja, não se “cura” um medo de água jogando a Criança numa piscina. Não se “cura” um medo de barata, trancando a pessoa num espaço cheio de baratas. Este tipo de estratégia, alimentada de crueldade e sadismo, só potencializa o trauma existente. A exposição a um objeto fobogênico promove o aprofundamento da dor psíquica da impotência opressora. E, quanto mais nova é a pessoa, mais nocivo é. A Criança não deve ser exposta ao que tem medo sob pena de danificar sua mente ainda em desenvolvimento e, assim, trazer danos permanentes à sua formação. Enquanto ser em desenvolvimento, a Criança dispõe de poucos recursos mentais, em estado ainda de precariedade, portanto, o estrago de uma exposição é uma revitimização com todas as consequências que dela advêm. Não tem cabimento o que tem sido feito com Crianças que, em consequência de uma denúncia de inadequação, maus tratos, ou abusos sexuais que ela, a Criança, apontou seu genitor, passam a ser obrigadas a conviver com essa pessoa que as agrediu sem que seu tempo de regeneração psíquica seja respeitado. Obrigar, judicialmente, uma Criança a gostar de seu agressor é atroz. Dirão alguns defensores de afirmações, totalmente, improváveis, “mas a Criança mente, mente, mente”, e as mães são “inconformadas com a separação”. O que vemos todos os dias é que homens, inconformados com o término do relacionamento cometem Feminicídios. São 4 por dia. E a Criança tem a falta de filtro na sinceridade, na verdade que fala. Sua espontaneidade é incontestável. Para escapar da bronca e da decepção ou de ouvir aquela frase “fiquei triste”, ela nega que pegou o chocolate mesmo que a boca esteja lambuzada. Negar, sim, mentir, não. Além disso, vou me repetir, sua cognição durante a infância até os 11 anos, só se processa em raciocínio concreto. Sua memória necessita da EXPERIÊNCIA para armazenar. Dizer que ela está mentindo ou, ainda pior, que ela está repetindo o que foi implantado pela mãe “alienadora”, (de alta periculosidade?), para soltar a falácia das falsas memórias, é menosprezar nossa capacidade de raciocínio, já ampliada, incluindo as abstrações que completam o pensamento hipotético dedutivo, o pensamento lógico que segue critérios científicos, considerando, também, a experiência da vivência. É, no mínimo, primitivo querer que alguém tenha um bom afeto por alguém que praticou violência física ou sexual. Mas a alegada violência psicológica, argumento que tenta apoiar a pseudo tese de alienação, essa é penalizada a ferro e fogo. Como obrigar a gostar de quem tem medo? E, ainda, por onde passa a lógica de que ralando bastante uma ferida você vai recuperar o tecido danificado? Ralando a Criança no seu medo, que ela sente desse genitor, ela vai passar amá-lo, trocando medo por amor. Magicamente?

Nenhum comentário:

Postar um comentário