segunda-feira, 15 de maio de 2023

Tragédia, massacre de Crianças assassinadas à machadinha. Parte V.

Tragédia, massacre de crianças assassinadas à machadinha. Parte V Por que tanta raiva de mãe? Por que tanta raiva de Mulher? Há muitas armas de fogo sendo usadas para exterminar mulheres-mães. Machadinhas têm sido improvisadas, pedaços de madeira servem para golpear, compulsivamente, repetidas vezes mulheres-mães, até que fiquem inertes. Com toda a facilitação de acesso a diversas armas de fogo e respectivas munições em quantidade, qual seria o motivo que leva alguém a usar um método tão primitivo, a arma branca, ou, a mais rudimentar improvisação de arma similar, o conhecido e velho pedaço de pau? Logo, tendemos a imaginar que esse método seria o preferencial de agressores desvalidos sociais, das periferias das cidades, de agressores que não tiveram acesso à educação e instrução formal. Engano. Para espanto nosso, também encontramos professores universitários, agentes da justiça, profissionais autônomos com diploma universitário, predadores com status sócio-econômico privilegiado. Parece-me que esse exato ponto, completamente, incongruente, nos aponta para a reflexão que gostaríamos de compartilhar nesse artigo. Para efetivar um ato de tamanha barbárie, faz-se necessário um elemento específico. É o prazer do triunfo, do Poder absoluto sobre alguém em imensa vulnerabilidade, que rege o motor do braço que desfere os golpes que levam à morte, quantos forem necessários. E por que a luta corporal, que sempre faz parte da violência pela tentativa de defesa da vítima, é tão fascinante para o agressor? Por que é tão importante para o agressor pegar no corpo da vítima, em diferentes partes, fortuita ou intencionalmente, por todo o processo do assassinato? Considerando que estamos jogando um pouco de luz nos Feminicídios, quando já é consagrada a justificação emitida pela polícia de que o marido/companheiro/ex, não se conformou com o término do relacionamento, entendemos que esse jogo de corpo a corpo tem um sentido de recuperar a acessibilidade que já existiu. É nessa luta corporal que a força física sobre o corpo que vai sendo ferido, que vai desfalecendo, gradativamente, produz a perdida sensação de dominação. Essa talvez seja a dimensão do desejo inconsciente do agressor, tocar o corpo daquela que ele sentia como sua propriedade, ao mesmo tempo que se regozija triunfante com a determinação que impõe de que será o último a tocar esse corpo. É sua ordem, é ele quem manda. Esse roteiro bárbaro expõe algo espantoso. Parece que o desenvolvimento cognitivo, e o processo educacional, o familiar e o formal, não alcançam esse reduto de primitivismo selvagem. Há um defeito na estrutura psíquica desses predadores bárbaros que obstrui a racionalidade humanizada. É preciso ressaltar que nada detém um assassinato com as mãos munidas de uma faca, uma machadinha ou de um pedaço de pau. O agressor parece ser invadido por um estado de automatismo, uma espécie de transe, que só cessa quando a vítima não mais tenta se defender e é vencida pela morte. A brutalidade não respeita a presença das crianças. Os filhos assistem na maioria das vezes, porquanto esse é um crime intrafamiliar, na maioria das vezes, um dos últimos capítulos de um longo período da prática de violência doméstica, também cometida na frente das crianças, quando uma delas, ainda bebê, não está no colo da mãe, ou mesmo mamando ao seio. Esses pontos de extrema covardia, quando o agressor se aproveita da maior impossibilidade de qualquer pequeno gesto de defesa da sua vítima preferencial, devem ser considerados para dimensionar. Mas, o que vemos é que, se o processo acontece antes do Feminicídio, não raro, aliás, quase sempre, as Medidas Protetivas são desqualificadas. As extensivas das Crianças são retiradas pelas Varas de Família, obstinadas pelo mito da família feliz, como bem apontou em seu livro a desembargadora Maria Berenice Dias. Já em 2010. E as Medidas Protetivas concedidas pelas Varas Criminais às mães espancadas, repetidamente, são afrouxadas e colocadas em risco pela aproximação do agressor determinada pelo regime de visitação, por exemplo. Também não raro, lemos em sentenças afirmações, baseadas em laudos psicológicos, que garantem que era um problema do casal mas que aquele “agressor não bateu ainda na Criança”, (sic). Alguns desses casos terminaram em óbito das Crianças. É evidente que um homem violento, que passa ao ato, que não suporta uma frustração que arranhe seu “Poder”, será violento com as crianças. Afinal, elas são “pedaços” representativos da mãe, elas trazem a presença dessa mãe. E... É um erro reduzir crime a conflito, e não deixa de ser uma tentativa de minimizar e banalizar a violência. É ingenuidade achar que um genitor que bate na mãe, está batendo só nela. Bater na mãe é bater também nos filhos, é uma violência familiar, de graves sequelas, incluindo o ensinamento da violência.

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