sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Constelação Familiar. Logo, animais são estrelas. Parte IV

Constelação Familiar. Logo, animais são estrelas. Parte IV Incitatus, o cavalo do imperador Calígula que foi por ele nomeado senador, vive. Um cavalo senador do Império Romano, que parece uma loucura, é menos surrealista e irrazoável do que a crença na volta dos mortos, e seu consequente julgamento, pelo “campo magnético”. Agora, por vezes, um constelador leva um cavalo, animal, concreto para receber as vibrações morfogenéticas de um morto/autor do crime intrafamiliar, que ensejou o processo, como ditam, repetidamente, as campanhas de combate às diversas formas de violência contra quem é portador de vulnerabilidade. Vemos um juiz afirmar que, hoje, julga mais pelo “campo magnético” do que pelos fatos contidos nos processos judiciais. Como compreender que uma demarcação imaginária no chão contém a “solução” para o crime intrafamiliar, que, perdendo esse status de crime, passou a ser apelidado de conflito. Qual passa a ser o lugar do regramento jurídico? Para que estudar as leis e suas aplicações, com as infinitas implicações que decorrem, se um constelador vai “esclarecer” o motivo do agora “conflito”, e dar o veredicto? A partir da ficção proposta pela Constelação Familiar, a retaliação acontece porque o ancestral criminoso, abusador de Criança ou agressor de Mulher, “volta” porque foi quebrada uma das 3 leis do amor, e desde então, esse não acolhimento carinhoso para com ele, fez e faz com que haja a necessidade do pedido de perdão e do acolhimento ao seu representante, o atual pai/marido, que, assim, irá consertar esse elo do amor. Parece complicado. Mas, não é. É simples em sua completa ausência de lógica. É uma crença. Julgar segundo a “quebra das leis do amor”? Algumas incongruências precisam ser remarcadas. O Ordenamento Jurídico continua exigindo que seja guardada a denúncia como Segredo de Justiça, com punição prevista e escrita, e sempre executada. No entanto, no caso da encenação solucionadora isto passa a ser substituído por publicitar as dores emocionais. Como são milhões de processos, juntam-se algumas dezenas de pessoas que buscaram a Justiça, como manda a lei, já ultrapassada aliás. Ecoando gritos aos 4 cantos, denuncie, denuncie, denuncie. A incoerência entre a apreciação de uma prova material de abuso sexual intrafamiliar e a descoberta do ancestral delituoso ou criminoso. A materialidade inconteste de um rompimento de hímen ou de uma fissura anal, não têm reconhecida essa materialidade, sendo relativizados. Contudo, nessa formatação ficcional, as vibrações morfogenéticas são, absolutamente, críveis. Para mais além do julgar pelo imaginário “campo magnético”, tomamos conhecimento de uma Juíza que é consteladora dos casos dos processos que julga. Insistente em acusar mães da prática de alienação parental, outra invenção acientífica de um médico pedófilo com o objetivo de inocentar pedófilos, sem nenhuma comprovação científica, tornou-se um dogma jurídico, abalizado por laudos psicológicos que seguem essa moda. Pergunto: é possível julgar, judicialmente, a partir das revelações dos mortos que voltam por vibrações morfogenéticas? A Causa Pétrea do Princípio da Imparcialidade, fundamental e indispensável ao Ato de Julgar, parece ser relativizado a tal ponto que não é possível localizá-la nessa postura mística. A lei é laica por excelência. Não se deve ter como orientação de certo e errado o medo do castigo que vem do sobrenatural. E, enquanto seita, a Constelação Familiar guarda um espírito de vingança, de retaliação, que perdura por gerações e gerações. Até o perdão, momento de difícil consentimento, é banalizado como sendo uma exigência repetitiva, mas, em contexto de humilhação da Mulher. Não precisa ser genuíno, até porque é impossível se obter que uma vítima dê o perdão a seu agressor ou ao violador de seu filho ou filha. Mas, a verdade é cada vez mais relativa e próxima da mentira, hoje esvaziada de seu caráter moral. A inescrupulosa inversão de um fato, a ausência de mínima coerência, as terceirizações diversas da Responsabilidade, as distorções Éticas, compõem um amálgama escorregadio, uma arma que atira contra a mente daquela que ousou fazer uma denúncia de um crime intrafamiliar. Muito me intriga a questão da magia, do obscurantismo, ser tão bem aceita entre juristas que, dizem, prezar a verdade. Penso que, para alguns operadores de justiça, o se sentir “imperador” de questões da vida de outras pessoas pode ser muito, muito, atraente e assegurador. A Constelação Familiar oferece essa ilusão de Poder entre dois mundos: o dos vivos e o dos mortos. E, neste segundo, ainda consegue banir qualquer vestígio de medo, da superstição em relação aos mortos, sempre tão assombrosos, porquanto habitam uma zona, completamente, desconhecida. Como nas formas silenciosas de violência, assim também são as formas silenciosas e derivativas de corrupção, tendo na corrupção intelectual, sua forma mais enlouquecedora. A vítima é a culpada, tem que pedir perdão de joelhos, e o autor do crime é desresponsabilizado. Afinal deixar o olho da mulher roxo, ou estuprar a filha ou o filho, são comportamentos repetitivos ordenados pelo tataravô, ou tetratatataravô, violento ou estuprador. O estelionato do bom senso simples, a exploração e o esmagamento da dor emocional do outro, a realidade invertida e corrompida, abrem caminho para uma retórica de “justiça humanizada”. Humanizada para quem? Justiça para quem?

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