sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Vulnerabilidade na Criança, suas várias formas. Parte V

Vulnerabilidade na Criança, suas diversas formas. Parte V Por fim, a vulnerabilidade social da Criança. Quando escutamos a notícia que mais uma menina de 10 anos é assassinada por um tiro de fuzil na porta de sua casa quando foi falar com outras Crianças que vieram chamá-la para brincar na rua, até então pacata, como fazem as Crianças no final da tarde de férias, os pensamentos embaralham. São tantos os casos que tendemos, cada vez mais, a normalizar, a banalizar, a ter aquela sensação estranha de que já tinha ouvido ou visto essa notícia. Uma espécie de déjà vu. Afinal, foi a pouco tempo atrás que outra Criança morreu alvejada por um tiro ou por vários tiros. Quando a vulnerabilidade transborda do individual e atinge uma parcela da população de Crianças, falamos de vulnerabilidade social. A ausência de Políticas Públicas efetivas, persistentes, consoantes com a infância, que sejam instaladas para promover a Cultura do Respeito à vulnerabilidade da infância, e, portanto, o exercício do nosso Estatuto da Criança e do Adolescente, com seu objeto na Proteção Integral, tem dizimado por tiro, por violência intrafamiliar, ou por fome, as nossas Crianças. Cada Criança que se torna midiática pela sua morte, para muitas o único momento de existência, ainda provoca uma comoção social. Se for da periferia, e a grande maioria pertence ao grupo dos 3 Ps, pobre, preto e da periferia, já vivia uma morte lenta, mas cotidiana. A morte pela precariedade da habitação, pela falta de escola decente, pelo apartheid escondido em maquiagem de “bondade”, pela insegurança alimentar, a fome em várias formas. Na cidade ou na aldeia, é igual. A Criança está cada vez mais vulnerável. Em qual momento do dia dedicamos 3 minutos para pensar que, naquele exato momento, muitas Crianças estão vivendo um enorme medo do barulho da guerra do outro lado de uma parede que logo será vasada por uma rajada de metralhadora ou alguns tiros de fuzil? Como continuar depois de, tão precocemente, ter entendido o significado do conceito de vulnerabilidade, na concretude? É preciso que entrem em ação mecanismos de defesa do ego para minimizar, banalizar, negar, o risco que cada Criança vive todo o tempo. É um fenômeno psíquico ainda mal estudado. Mas, há uma engrenagem que separa em duas partes distintas a nossa sociedade. A cidade partida desconhece como é a vida da outra parte da cidade. Há um desconhecimento de parte a parte. Assim também, nos surpreendemos com as recentes imagens de Crianças semimortas, sem força para chorar, sem força para lutar pela vida. Os pequenos Ianomamis, em esqueletos, nos chocam com o horror de um matar cruel. Muitos entre nós, não imaginavam que iriam se deparar com essa dimensão da vulnerabilidade. Um povo que evidenciará, logo ali na frente, uma falha geracional com tantas mortes de tantas Crianças. E se atingir um determinado contingente, empurrará para a extinção desse povo. Isso já foi feito. Infelizmente, o ser humano é o animal que mata por prazer, ou desprazer. O cuidado com a vulnerabilidade de uma Criança requer a empatia. Não há como atentar e reparar a fragilidade sem o ato do se colocar no lugar do outro e tentar sentir como o outro sente. As patologias narcísicas, muito em alta atualmente, não permitem a empatia. Ou seja, a frieza de afetos garante a muralha que impede sentir como o outro está sentindo. E, assim, aprofundar e eternizar a vulnerabilidade. Vivemos um tempo muito difícil para os portadores de vulnerabilidade. Quantas vezes já assistimos mães, parentes e amigos, com cartazes nas mãos, pedindo “justiça” para a morte cruel de uma Criança. A fala sempre marca que é a única coisa que resta. Justiça para a morte? Se não houve justiça para a vida, será que haverá justiça para a morte? E as “justiças” não chegam. Vão se amontoando, soterrando a vulnerabilidade da classe das Crianças. Afinal Criança não vota, Criança só dá trabalho e despesa. Faz-se necessário acrescentar aqui que, para além da omissão social, da ausência de Políticas Públicas que cuidem e garantam a dignidade da Criança, existem “leis”, como a da alienação parental, que promove a Privação Materna Judicial e que viola Direitos Fundamentais, a começar pelo Direito à Maternidade, e o Direito garantido aos mamíferos pela Natureza, de ter uma mãe, a sua mãe, e ficar com sua mãe, sendo amamentado de leite e de afeto.

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