sábado, 12 de março de 2022

Precisamos falar de Moïse e Henry Parte V

Precisamos falar de Moïse e Henry. Parte V Precisamos falar de muitos Moïses e de muitos Henrys. A barbárie da guerra, das guerras só se agravou nos últimos tempos. Moïse fugiu da guerra no Congo para ser assassinado a pauladas numa linda e muito frequentada praia no Rio de Janeiro, à vista de quem quisesse ver. Henry era agredido dentro de casa, mas os hematomas e queixas de dor estavam aos olhos e ouvidos de várias pessoas da casa e da família. Há dois ou três dias uma menina de 11 anos morreu queimada em sua cama porque o padrasto “não se conformou com o terminou do relacionamento” com sua mãe e incendiou a casa. Esta frase de inconformismo está presente em muitas notícias de Feminicídio. O recente relatório do Fórum Nacional de Segurança Pública aponta para índices ainda mais vexatórios para uma Nação. Uma mulher é estuprada a cada 10 minutos em nosso país. E neste índice não constou o exorbitante número das crianças e adolescentes vítimas de estupros intrafamiliares de repetição. A invisibilidade garante a sonegação desses dados. A cada 7 horas uma mulher é assassinada por ser mulher. Se usarmos o critério da imprevisibilidade, característica que sustenta o animus do desejo de aniquilar o oponente, mergulhando em extremo prazer, as mulheres e crianças servem como se oponentes fossem a uma guerra travada dentro das casas das famílias. A imprevisibilidade da guerra dá o tom. Mas são muitas as guerras, as de lama também têm imprevisibilidade para soterrar pessoas, tem terra arrasada e mentes, as que sobreviveram, destruídas. E essa imprevisibilidade é garantida pelas forças políticas de interesses escusos. Mas a guerra, com toda a sua estupidez e barbárie, se instalou. Crianças chorando. Crianças morrendo. Crianças presas, atrás das grades, literalmente, porque estavam colocando flores numa calçada de um local de representação do atual oponente. Terra arrasada. Falência humanitária. E tudo isso, toda essa barbárie é resultado de uma pessoa que representa um grupo de interesse sobre algo que está no território do outro. E a sana de Poder traz a barbárie, derramando tragédias e tragédias. Não importa quem tem razão. Não há razão. Não há sentido nenhum em matar, mutilar, aniquilar vidas, interromper histórias de vulneráveis que estavam apenas vivendo suas vidas. Matar Crianças, totalmente, indefesas e frágeis diante de armas de destruição múltipla. São violências arrasadoras que se multiplicam em estupros coletivo de meninas pequenas, vivendo nesse momento um triunfo de Poder absoluto sobre a submissão do outro. Essas Crianças ficarão mutiladas em seu psiquismo, para sempre. Matar doentes já feridos deitados em cama de hospitais. Matar idosos que o tempo já tornou, também, vulneráveis e frágeis. O primitivismo da guerra expõe a incivilidade com a consagração e comemoração da crueldade e da tortura em suas diversas formas. Tanto para as Crianças da guerra de mísseis e artilharia de tanques, quanto para as Crianças da Guerra de lama, e as Crianças da guerrilha urbana que é travada, cotidianamente, e já naturalizada, nas comunidades onde dois grupos se enfrentam a bala, as imagens mnêmicas estão seladas para sempre na mente dessas milhares de Crianças que ainda não morreram. As imagens afetivas, emoções não objetiváveis, que dizem respeito ao apavorante medo, serão responsáveis pelo mal-estar psicológico crônico que produzirá toda uma geração de inválidos sociais. Em meio a essa invasão de flagelo humanitário de grandes proporções, quando estamos imersos em sofrimento e dor intensos, o calendário nos indica o Dia Internacional da Mulher. O que comemorar? A resistência talvez, a sobrevivência e a persistência nas lutas contra armas que têm equivalência a bombas que caem do céu. Hiroshima e Nagazaki, parecem continuar para as Crianças e as mulheres. Aquela imagem de Crianças fugindo do horror da devastação, tem uma menina em desespero, desnuda, em lágrimas de pavor. Temos hoje meninas que tudo perderam, desnudas de sua dignidade, de seu direito à proteção, de sua voz. Denunciam crimes intrafamiliares, mas não são escutadas, são mentirosas em “aliança” à mãe vingativa. Segue-se o dogma de que mulher tem sinônimo de louca. Assim dizem, unissonamente, os processos que tratam de família. Comportam-se como vitimadas, mas não são vistas. E mais tarde serão chamadas de “fáceis”. São muitos Moïses e muitos Henrys. O corpo das meninas e das mulheres ainda não pertence a elas, e assim pode ser usado sem escrúpulos, sem respeito, nas guerras concretas e nas guerras em quatro paredes do “lar

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