segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Precisamos falar sobre Moïse e Henry. Parte II.

Precisamos falar sobre Moïse e Henry. Parte II JUSTIÇA! É o grito de mães e de pais que choram sobre os corpos de seus filhos vítimas da barbárie. Justiça, justiça, justiça, vem em fumaça de pneus queimados para obstruir vias públicas, na esperança que a sociedade, impedida de circular, pare, e tome uma providência. Outras mães e outros pais ganham voz nas matérias jornalísticas pelo período do tempo midiático. O horror das atrocidades, as mais cruéis, exposição de vísceras sociais podres ou anômalas, ganham uma visibilidade intensa. Mas, ver exaustivamente, como é preceito midiático, não ajuda na compreensão de comportamentos sub-animais, porque não há possibilidade de compreensão. No entanto, em nome da Civilidade, esses comportamentos têm que ser banidos. É pontual o grito. Precisa se tornar uma linha contínua, um conjunto internalizado, uma Cultura da Não-Violência, uma Cultura do Respeito ao Outro. Escrevemos leis belíssimas. Mas não aprendemos a obedecer ao básico acordo social de cumpri-las. A cada barbaridade que surge, um parlamentar empunha uma nova lei se segue, muitas vezes duplicando o que já temos no ordenamento jurídico. Mas isso é arrumado para parecer novo, costume legislativo. Em lugar da urgente necessidade de se inaugurar uma Cultura do Respeito, temos a Cultura da Violência em diversas formas, das mais explícitas quando vemos assassinatos como o de Moïse e de Henry, a formas Vicárias, praticadas, surdamente, por procuração. A Cultura da Violência vem sendo alimentada pela banalização, pela naturalização fortuita, mas, também, por uma espécie de encantamento indizível. Espinhoso ponto, mas temos que falar sobre essa escalada de Violência de todos os tipos. Por cima da barbárie do espancamento de Moïse, assistimos um representante institucional afirmar que a culpa da morte foi da vítima, e aproveitar para desqualificar o morto. O fuzilamento da vereadora também teve esse capítulo de culpar a pessoa, barbaramente, assassinada. Vemos o depoimento de alguém negando o óbvio que, no mínimo, aponta para uma condição culposa no assassinato de Henry. Dependendo do olhar, a ciência de agressões, essa autorização transparente, que, acrescida da vulnerabilidade da Criança, pode ser vista como dolo. A tortura, nos dois casos, precede o momento da morte por tortura. Ou seja, tortura antes, tortura para matar. Até que ponto estamos compactuando com a tortura e as violências para exercer aquele momento de “escoamento do mais primitivo”, sem sujar as mãos. Paradoxos são misturados, em coexistência inimaginável. Se é evidente a Xenofobia, sustentada pelo racismo estrutural, nas pauladas sub-animais, é também evidente a Xenofilia, também sustentada pelo racismo estrutural de uma supremacia de estrangeiros que exibem traços característicos de branquitude. Sei que piso em terreno minado, mas acrescento ainda a “femininofobia”, ou misoginia estrutural. Parece haver um protopensamento de comparação escalonada em superior e inferior, que se move para os dois lados, o da repulsa e o da idolatria. Mulher é inferior, certas etnias são inferiores, homem é superior, estrangeiro de outras etnias também gozam dessa fictícia superioridade. O termo alienação parental, que o Brasil, único país que ainda tem uma lei sobre esse termo criado por um médico pedófilo, é um exemplo disso. Tornou-se um dogma jurídico, sem que houvesse nenhuma comprovação científica. Mas era um americano que estava falando, mesmo que ele se atribuísse títulos que não possuía, e que escrevesse a defesa da pedofilia intrafamiliar, como sendo benéfica para as Crianças, ninguém se interessou para ler o que ele escreveu. Outro exemplo é o da tese, também sem nenhuma comprovação científica, conhecida como “psicoterapia das constelações familiares”. Usurpando um título de “psicoterapia”, absolutamente fraudado e iníquo, porquanto seu inventor também não tinha nenhuma formação na área da Psicologia ou Psiquiatria, e por não cumprir, também, o mínimo dos Princípios exigidos pelos Conselhos Profissionais, igual ao inventor da alienação parental. Vozes do além são mais audíveis e críveis que as vozes das Crianças, nesta prática autorizada para uso irrestrito pelo Conselho Nacional de Justiça, e pelo Ministério da Saúde no SUS. Tudo pago pelo dinheiro público. “Constelador”, e “Consteladora” dão a solução para os crimes incestuosos que ocorrem dentro de casa. Descobrem quem foi o antepassado, o “real” estuprador, de várias gerações passadas, que faz contato com este “constelador” ou “consteladora”, e tudo fica “resolvido”. Era a mãe histérica que não aceitou a prática de abuso do pai com o filho ou filha. Alienação parental dessa mãe histérica ou esquizofrênica, as tarjas mais frequentes. As vozes do além são aceitas pela justiça. A voz da Criança, é interpretada como mentira ou fantasia, como se a Criança tivesse equipamento cognitivo para formular a descrição detalhada de um abuso sexual. E, se é mentira que a mãe implantou, como essa Criança, espontaneamente, sem pedido do examinador, desenha a cena do abuso, brinca com os bonecos, repetindo o mesmo que está em seu relato? Mas o dogma segue. O Conselho Nacional de Saúde emitiu a Recomendação Nº 003, neste 11/02/2022, onde escreve o banimento do termo alienação parental, suas derivações, e todos os termos sem comprovação científica, convocando os Conselhos de Medicina, de Psicologia e de Serviço Social, Conselhos que regem os exercícios dos profissionais que emitem laudos sobre os processos de Varas de Família. Urge fazer cumprir essa Recomendação, para que Crianças sejam salvas da tortura sexual a que são condenadas. A barbárie se alimenta, vorazmente, de preconceito, esse fantasma que desperta comportamentos muito primitivos, dos verbais aos mais rudimentares de aniquilamento físico, diante do que é sentido como um perigo mortal. A pessoa, alvo do preconceito, não existe na realidade. O agressor que se utiliza de barbarismo, está travando um combate mortal contra alguém que ele imagina ser, insuperavelmente, ameaçador. É imaginária a ideia que domina sua mente, como se colocasse em risco sua sobrevivência. E, justamente, os mais frágeis é que permitem que experimente a garantia do prazer de uma vitória absoluta, da supremacia sobre o outro. Isto acontece nas situações de bullying, entre Crianças, ou quando um taco de baseball golpeia, repetidas vezes, uma pessoa, ou pelos socos e pontapés contra uma Criança de menos de 1 metro de altura, ou com arma de fogo. A repetição do ato é uma característica comum em todas as formas dessa violência sub-animal. Barbárie com Joanna, com Bernardo, com Isabella, com o menino e mais 9 mulheres da família materna, incluindo a mãe na sua frente, da chacina de Campinas, com Henry. Barbárie com Daniela Perez. Barbárie com a vereadora fuzilada à deformação de seu rosto e corpo. Barbárie com a Juíza morta por 16 facadas em frente a suas filhas. Barbárie com Moïse. Barbárie desqualificar, verbalmente, Moïse. É paradoxal ter um chiste de não julgamento, e passar todo o tempo julgando. É paradoxal exigir que se tolere, infinitamente, a rígida intolerância. É paradoxal praticar “alienação’ contra a mãe porque ela “alienou” o pai, alegação para fazer sumir a denúncia de abuso sexual intrafamiliar. É paradoxal defender e pregar a positividade radical, perdão, perdão, perdão, proibindo sentir a saudável raiva, e praticar um discurso de intolerância e ódio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário