segunda-feira, 15 de março de 2021

Mais uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar. Parte III

 

Mais uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar.

  Parte III

     O combo que está contido na legalização doas casas de jogos de azar, envolve a diminuição da maioridade de meninas e meninos, novinhas e novinhos, para preencherem os “empregos” que proporcionarão o atendimento total aos jogadores, incluindo serviços extras, que passam a fazer parte. Afinal, os jogadores são o sustento das casas de jogos, e a satisfação deles, o principal objetivo pela garantia de fidelidade às casas de jogos.

     É necessário atender a tudo que é demandado pelo jogador. Entenda-se aqui que não é o jogo esporádico, o recreativo, o dos curiosos, o que importa aos empresários dos cassinos. É o jogador dependente, os nacionais e os internacionais, que dão sustentação ao negócio. E nada que tire um jogador ou jogadora de uma sensação de fracasso na mesa, quando perdeu uma fortuna, do que o prazer imediato dado por sexo com alguém vulnerável, mas legal. É a recuperação ilusória, mas imediata, do Poder perdido nas cartas ou na roleta. Revigorado vai retornar para seu trono, voltando a alimentar sua sede de Poder, entrincheirado em seu castelo. Sua socialização é, geralmente, escassa, ausente, ou dissimulada pois esconde seu isolamento cristalizado.

     Para garantir o melhor atendimento aos jogadores, os mantenedores das casas de jogos, meninos e meninas, novinhos e novinhas, na idade de deslumbramento com o consumo que lhes faltou na infância. A redução da maioridade, que acena com o brilho da juventude dos meninos e meninas que assim, aos 16 anos, podem entrar nesta roleta de vida. A redução da maioridade está bem escondidinha embaixo do casco do jabuti, enquanto o discurso gira em torno da alegação da delinquência juvenil, que, na verdade, não ultrapassa o índice dos 5% na totalidade da criminologia. A redução da maioridade vem por baixo de um pseudoargumento dos delitos e crimes, que são cometidos, alguns com muita crueldade, e envolvimento com os crimes do tráfico, para conceder autonomia aos jovens, retirando os impedimentos que viriam pela necessária autorização dos pais ou responsáveis.

     Além deste tentáculo do combo, a redução da maioridade, facilitadora nos contratos e nas “transferências” internacionais entre cassinos, sonho/pesadelo, existe outro tentáculo da profissionalização da prostituição. Num primeiro olhar, também, parece algo bondoso com as mulheres que trabalham com o corpo. Sedutor falar de carteirinha de SUS, aposentadoria. Mas é com foco nas meninas e meninos que este tentáculo surge vestido de bondade, em consideração a quem nunca é considerada ou considerado. Com maioridade e número de INSS, meninas e meninos podem também ser cambiados para outros países, sem a necessidade de autorizações. Vale lembrar que estas meninas e estes meninos, ainda quase crianças, serão muito facilmente manipulados e seduzidos por promessas de sucesso e dinheiro. Quantos sonhos de encontrar em meio àqueles homens ricos, o “Príncipe Encantado” serão sonhados. Ou a Rainha, em menor número, mas existem jogadoras compulsivas também, que levará para um castelo para serem felizes para sempre. Vulneráveis. Mão de obra garantida, para toda obra, muito maleáveis pela pouca idade e pela inexperiência.        

     Por outro lado, prontos para trilhar as vias que levam aos endereços dos cassinos, não o contingente dos necessitados por sobrevivência, os necessitados por empregos, mas o contingente formado pelas crianças e adolescentes que fazem intenso treinamento com os jogos virtuais, treinamento que foi incrementado enquanto alívio para os pais quando todos estavam restritos em casa. Temos milhões de crianças e adolescentes viciados nos joguinhos eletrônicos, onde matar é banalizado, a regra é a rapidez digital, e a mágica está acima da razão. A concentração é enorme, mesmo para os que são dispersos nas tarefas escolares. O alheamento para um mundo paralelo é similar ao alheamento do jogador de pôquer numa mesa.

     Eles, parece, nasceram com um celular nas mãos, tamanha a intimidade que têm com o aparelho. Hoje, é muito comum que se imagine que é um sinal de mais inteligência uma criança bem pequena conseguir mexer com o dedinho para mudar de imagem, atrás de uma preferência. Não é. Os chipanzés também conseguem. E, vale ressaltar que este “dedinho que desliza” vai tirar aquela criança de treinamento psicomotor que lhe é necessário: a preensão dos 2 dedos, indicador em oposição ao polegar, que dá sustentação para o lápis. Esta aquisição psicomotora é importantíssima porquanto se inicia no lápis e progride para a caneta, o pincel de arte e o bisturi da cirurgia. Lápis, caneta, pincel, bisturi, todos salvam vidas.

     Preocupa-me muito pensar onde caberão tantos indivíduos que vão vir de infâncias viciadas em joguinhos eletrônicos, neste último tempo, ainda incrementadas pelo comportamento determinado pela pandemia. Para os pais, ainda bem que há joguinhos nesta hora, para a criança, o excesso de isolamento na telinha, só tem retardado de maneira comprometedora a socialização e o desenvolvimento cognitivo. Sozinho, dentro daquelas imagens rápidas, quase sempre binárias, acerto ou erro, onde não há possibilidade de vivenciar a solidariedade e a empatia, será que haverá espaço para a humanicidade?

     Serão os próximos habitantes dos cassinos.  

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