segunda-feira, 15 de março de 2021

Mais uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar - Parte I

 

Mais uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar

Parte I

     Dinheiro, muito. Glamour, com sonhos de fama, de estrelato. Só coisas boas. Turismo. Empregos. Arrecadação. Prazeres. Diversões. Este é o lobby que é feito em prol da legalização dos jogos de azar. Sou consciente que não é a ilegalidade que soluciona. Sabemos todos que eles só são ocultos, mas existem. Alguns, ficam nas esquinas, sentadinhos apontando, auxiliados em seu serviço por árvores e postes onde exibem os resultados diários. E, mais. Temos conhecimento, pela mídia, do funcionamento de empresas de caça-níqueis, de cassinos clandestinos. E, no país que os jogos são proibidos e combatidos como contravenção e crime, temos um cardápio de loterias, que não raro são alvo de escândalos. O que é proibido, é praticado pelo próprio governo. Para alegria do povo, talvez. Quantos, para viver esta “alegria”, gastam um dinheiro escasso que serviria para algum equilíbrio financeiro? Tudo em nome da ilusão de ganhar, do sonho infantil de, magicamente, virar rico! Vender ilusão é uma prática humana corrente.

     Não por acaso, articulistas diversos têm escrito, praticamente, todos os dias, sobre as vantagens de legalizar os jogos de azar. São muitos. A velha estratégia de falar muito para naturalizar, efetivando o lobby.  A técnica do convencimento por reconhecimento subliminar. E, claro, que essa banalização do mesmo conteúdo repetido à exaustão planta uma “familiaridade” e uma ilusão de pseudo-verdade. Assim, passa mais fácil. Não duvido que a porteira está aberta para passar a manada de jabutis. Talvez na véspera do próximo feriadão. Mesmo em tempos de pandemia, isto funciona bem. Não se discute com a sociedade civil, que acorda um dia com a lei votada. Mas, pela familiaridade plantada meticulosamente, acha até que vai ser boa. Foi exatamente assim com a lei de alienação parental, numa noite, ao apagar das luzes, durante a Copa das Confederações. E ela saiu do Congresso com o apelido de ser uma lei de proteção da Criança. Hoje, já temos um livro que expõe as suas perversidades contra Crianças e Mulheres, invisíveis. Mas, já se tornou dogma jurídico que nutre uma cadeia alimentar sobre a dor desta invisibilidade de atrocidades. E, quem se atreve a contestá-la, é visto como alguém que é contra a Criança. A inversão é uma estratégia perversa, mas, eficiente.

     No caso da legalização dos jogos de azar, fala-se de aumento de empregos, incremento no turismo, e entrada de arrecadação de impostos. Todos, benefícios, vistos superficialmente. É sonegado o “x” da questão nestes discursos. Cassinos e caça-níqueis são frequentados por dependentes. Os frequentadores são portadores de uma das doenças da compulsão. E, se fizermos uma rápida avaliação sobre nossas Políticas Públicas de tratamento de outras compulsões, álcool e drogas, por exemplo, vamos encontrar um vazio de atitude política séria e consistente. Programas existem, ideias ótimas são muitas, mas na efetividade, quase, quase nada. Não damos conta de nossos alcoólatras, nem dos nossos cocainômanos, nem dos nossos, recentes e degradantes, usuários de craque. Estes últimos, zumbis, são varridos daqui e dali em meio às grandes cidades.

     Políticas Públicas Sociais para estes doentes da nossa sociedade? Onde? Não há nem para a sobrevivência ou o combate à morte provocada por um vírus. Talvez o “Glamour’ justifique a defesa deste lobby da vez. Certamente, vão argumentar que nem todos sucumbem ao vício do jogo. No entanto, há que se reconhecer que são os viciados que sustentam estas indústrias de ilusões. Todas. E os adoecidos, se inutilizam para a vida em sociedade. Precisam de ajuda técnica, dentro de programas de Políticas Públicas. E, quais?

     Interessante prestar atenção ao argumento do incremento do turismo. Jogadores frequentadores de cassinos, não fazem turismo. Não viajam com a família, que poderia fazer turismo. A família atrapalha o jogo. Crianças, nem pensar. As esposas também não, vão demandar a presença para ir ao restaurante. Não saem das mesas, exceto quando o cansaço lhes parece estar atrapalhando a sorte. Aliás, os empresários do Jogo, aprenderam que a melhor localização para um cassino é dentro de um hotel de luxo. Assim eles só se ausentam das mesas e das roletas para pegar o elevador, descansar um pouco no quarto confortável, e pegar o elevador de volta para a mesa de jogo. Este é o turismo deles. Não se interessam por nenhum monumento, nem praia, nem mesmo um rápido city tour. Como alegar incremento de turismo?

     A outra alegação é a de arrecadação de impostos. Mas, é do conhecimento de todos que jogadores da sorte não são muito claros nos negócios. Além disso, sabe-se também que o jogo, muitas vezes, vem acompanhado com outros “negócios”, tráficos variados e não explícitos. Também na hora de pagar impostos, muitas vezes, vale a arte de blefar. Afinal, faz parte do jogo.

     E os empregos. Vamos abordar na próxima semana estes “empregos” porque eles fazem parte de um combo, muito bem elaborado, onde cabe prostituição juvenil, e redes de tráfico. Vamos nos deter nesta parte que diz respeito à adolescência e juventude no próximo artigo. Aqui há o nascedouro da tese da diminuição da maioridade, que vem sendo vendida como referente aos adolescentes infratores, que não ultrapassa os 5% do total de crimes. É a casa de jogo e suas redes que precisam de novinhas e novinhos.

     Precisamos refletir mais sobre esta fábrica de ilusões, antes que este jabuti cruze a porteira.           

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