quinta-feira, 19 de maio de 2016

Ontem foi o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Ontem foi o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

      Ontem 18 de maio de 2016 pensei em escrever aqui. Mas preferi deixar para hoje, o dia depois da data. Data que tem muito mais a lamentar seu motivo. Hoje me deparei com um dado alarmante: 76% dos pedófilos do mundo, é brasileiro. Não posso garantir este dado, mas é difícil suspeitar de uma imprecisão. O conjunto formado por ausência de uma política pública consistente e consequente, o primeiro indicador, seguido pelo instituto dogmático da Alienação Parental misógina, a cultura recursal, a cultura da transgressão que tem como ícone o jeitinho, garantem a impunidade. Este é um cenário muito favorável à pedofilia, a perversão que deixa sequelas graves e permanentes.
       O irmão do Woody Allen, cineasta de sucesso, casado com uma enteada, acusado por uma filha natural de abuso sexual, de lobby fortíssimo, como é a regra dos pedófilos, divulgou uma carta onde pede desculpas pela sua omissão, pelo seu medo, pela vergonha que sente do irmão. Durante este tempo em que sua sobrinha vem sendo alvo de severas hostilidades, se manteve calado, mas agora, ao ver mais uma vez a impunidade triunfando, confirma o que a ela disse.
       Um Juiz, em nossa Federação, absolve um delegado de polícia que havia estuprado sua própria neta de 16 anos. Justificativa: consentimento dela. Não se sabe como um juiz de Vara de Família desconhece que não é possível entender como consentimento um congelamento diante do avô, a ascendência afetiva e de autoridade, ainda mais sendo um policial, e que termina por ordenar que o que ali se passou, fica ali, nada se fala. Ela obedeceu. Mas tempos depois foi encontrada com uma arma na mão que apontava para sua própria cabeça. Neste momento último de vida, ela acabou por revelar o que a atormentava a ponto de preferir a morte. Mas, o Juiz absolve porque ela consentiu. Consentiu? Quando é adolescente este argumento para sentenciar a favor do pedófilo. O que acha o Juiz do comportamento de um homem que tem relação sexual com a neta? É homem, então é normal? Ou foi ela que o seduziu? Coitadinho! E se é criança que relata um abuso intrafamiliar é logo taxado de mentira, fantasia, construção cognitiva, falsa memória implantada pela mãe histérica, é sempre Alienação Parental. O machismo entranhado nestas posições, agora protagonizadas pela Alienação Parental, vem matando a alma de nossas crianças e adolescentes.
       Uma jovem de menos de 30 anos recebeu a autorização para o procedimento de eutanásia. Ela tinha sido estuprada dos 05 aos 15 anos. Esta repetição do estupro intrafamiliar por toda a sua infância e adolescência deixou nela a tatuagem infeccionada em sua alma. Sofria de estresse pós-traumático, de anorexia severa, de depressão crônica e de alucinações. Todas, doenças e distúrbios causados pelos 10 anos de estupro. Uma junta médica fez 03 avaliações e constatou que ela estava em pleno uso de suas faculdades mentais.  A dor diuturna profunda e silenciosa que desenhava seu sofrimento na deformação do corpo pela anorexia, que sentia a tristeza do holocausto subjetivo, e que alucinava retornando à cena da opressão dos abusos, foi insuportável durante toda a sua curta vida. Exatamente o que temos afirmado há anos pela experiência clínica com inúmeros sobreviventes do incesto e do abuso intrafamiliar. A dor psicológica, pela primeira vez, foi dimensionada respeitando-se os limites humanos, e foi reconhecida pelos médicos como tão insuportável quanto uma dor neoplásica de um paciente terminal que fundamenta as autorizações deste procedimento nos países em países onde a eutanásia é legalizada.
     E hoje, depois da “Data”, qual o combate que estamos praticando? O cartaz do Disque 100 da SDH diz: QUEM NÃO DENUNCIA, TAMBEM VIOLENTA. Já ouvi muita gente desabafar: “mas para que denunciar se o abuso tem que ser provado e não acontece nada com o abusador”.  Na Cegueira Deliberada que vigora, logo no início do processo, o Abuso é transformado em Alienação Parental.

       Precisamos ter escuta para esta dor psicológica. Torcemos para que a sensibilidade e a responsabilidade, de todos, cuidem destes sobreviventes da tortura do abuso sexual. Nosso tributo à menina que nos mostrou com a vida a dimensão insuportável desta dor.

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