quarta-feira, 4 de maio de 2016

12 anos de estupros de crianças, advogado, professora, creche: NOSSA CEGUEIRA DELIBARADA

12 anos de estupros de crianças, advogado, professora, creche:
NOSSA CEGUEIRA DELIBERADA.

       É incrível esta hedionda notícia! Há, pelo menos 12 anos, uma professora aliciava crianças de uma creche em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, para servir ao seu colega de perversão, um advogado, casado, pai de 2 filhos, sócio de um escritório no centro do Rio.
       Não vou cair na bobagem de tentar explicar este comportamento subanimal da pedofilia. Não há sentido possível, não se explica pela sexualidade. O prazer de um pedófilo está na Síndrome do Pequeno Poder. Este é o único objetivo deste comportamento perverso. Sentir-se poderoso em subjugar um vulnerável, indefeso, impotente, incapaz de lhe negar esta potência, a do poder absoluto. E enganar a todos como parecendo uma pessoa acima de qualquer suspeita, característica de todos os pedófilos. Nada, além disso. Prazer sexual está ausente nesta perversão, aparecendo apenas na criança que tem sensações prazerosas provocadas intencionalmente pelos pedófilos, para amordaçá-la com a culpa.
       Gostaria de perguntar algumas coisas.
1 - Como se passaram DOZE ANOS de pedofilia sendo usadas crianças pequenas de uma creche?  
2 – Como esta professora abusava frequentemente destas crianças dentro da creche? Com fotos e atos libidinosos.
3 – Como esta professora saía com uma criança escolhida para levar para o advogado? O outro pedófilo.
4 – Como estas crianças entravam em motéis?
5 – Como havia um farto material fotográfico, em vídeos, até calcinha na casa do advogado?
6 – Será que nenhuma destas crianças nunca falou nada para ninguém? Será que a eficácia da professora e do advogado em calar estas crianças foi tão completa por 12 anos?
7 – Por que as denúncias de pedofilia intrafamiliar não dão em nada?
8 – Como uma denúncia anônima é tão fácil de ser averiguada, mas 12 anos depois?
9 – Por que a investigação policial é tão desqualificada nos processos judiciais?

       Começando pela última pergunta o impecável trabalho da Delegada da DECAV, Cristiana Bento, a presteza da ação, o cumprimento da lei de proteção a vulneráveis, são irretocáveis. Sabendo de sua competência e dedicação séria, não temos dúvida sobre as respostas do inquérito que ela irá promover.
       O horror não está circunscrito à pedofilia praticada por estas duas pessoas. O horror se estende a todos do entorno destas crianças. Moedas de troca foram usadas. Além do vil metal pago pelo advogado à professora, é evidente que a conjugação da carência de todos os tipos destas crianças, associada ao medo pelas intimidações e ameaças, e aos “presentes” oferecidos às vítimas, tão comuns nesta prática de pedofilia. Balas chocolates e sorvetes, certamente, regaram estes inúmeros episódios de perversão. Presentes também devem ter sido usados para o pacto do segredo. O silêncio das crianças, meninos e meninas, assim comprado. O silêncio dos adultos, trocado pelo não ter trabalho, raiz da omissão escolhida.
       Mas, onde estavam as pessoas do entorno? O pessoal da creche, as famílias destas crianças, a família do advogado que tinha a casa recheada de material produzido com os estupros praticados, as pessoas nas redes sociais, onde estavam? Por que ninguém deu crédito às revelações que, tenho certeza, de alguma forma foram feitas por algumas destas crianças? Fiquei com a impressão que deve ter sido a menina, a de 2007, que hoje com 18 anos fez a denúncia anônima, porque é preciso crescer para ter coragem de denunciar. Mas já surgiu na investigação uma criança de 10 anos em 2004.  
       As mães têm uma mania de recomendar, em tom de perigo, que sua criança não aceite nenhuma bala ou doce de pessoa estranha. Mas não completa o alerta, não esclarece sobre o perigo, e, quando esta criança está fazendo brincadeiras de conteúdo sexual fora de sua faixa etária e de seu conhecimento, esta mesma mãe, finge para ela mesma que não está vendo nem escutando a comunicação da criança, porque ela, mãe, prefere ficar com a aparência “acima de qualquer suspeita” do pedófilo.   
       As crianças falam em brincadeiras e muitas vezes verbalmente, com todas as letras. Mas os adultos surdos, todos, preferem correr para a cegueira deliberada. Nada mais cômodo do que “macaquinho não vê, macaquinho não ouve, macaquinho não fala!” Este é um crime que estamos cometendo. Quando entramos na área da pedofilia intrafamiliar incestuosa a cegueira deliberada se amplia. As denúncias de abuso sexual praticado pelo pai em filhos e filhas é, imediatamente, que é travestido em Alienação Parental da mãe. Pai é pai, diz o calo social vazio de fundamentação, é o argumento pífio. Pai é função, não é título. Protegido o pedófilo pela inversão em vítima, é a mãe que passa a ser a sentenciada com a perda da guarda do filho ou filha, entregue para o pai abusador, e é condenada a pagar multas cada vez que abre a boca para reclamar da injustiça e da desproteção da criança abusada. São inúmeros estes roteiros judiciais, hoje dogmatizados, totalmente nefastos para a criança. No afã de contemplar a ideia de família, é descumprido o Princípio do Melhor Interesse da Criança. Numerosos Operadores de Justiça, encantados com o conceito sem comprovação científica da dogmática Alienação Parental, criado por Richard Gardner, que defendia a pedofilia como sendo uma prática normal do elenco da sexualidade humana, que beneficiaria a procriação estimulando a criança, escolhem a foto cenográfica de “família feliz”.
       Este é um caso emblemático. Como acreditar que nenhuma criança nunca tenha se referido à saída da creche, como acreditar que nenhuma criança nunca se referiu ao ambiente, absolutamente estranho, escuro dos motéis, como acreditar que nenhum desconforto corporal, machucado, ou “dodói” nunca tenha sido relatado, como acreditar que nenhum menino ou menina tenha se referido a um “tio” que lhe deu um presente? Sem escuta de qualidade, sem olhar cuidadoso, resta à criança vítima de abuso sexual cumprir o pacto do silencia acordado com seu algoz. Este é o cuidado que temos com nossas crianças. Sem qualidade. Esta é a responsabilidade que dispensamos a elas. Sem qualidade. A ausência da responsabilidade empática promoverá danos irreversíveis.
       Jogadas ao abandono intrafamiliar, é o pedófilo que lhes dá importância. É muito provável que o processo de identificação, fundamental pilar da formação da personalidade, se faça tendo o pedófilo e a perversão como modelos para ela.

       A criança, mesmo tendo o título de “Sujeito de Direito”, não tem crédito. O despreparo para a escuta abrange pessoas em todas as funções sociais e afetivas, família, professores, profissionais de saúde, instituições, operadores de justiça, que no aperto, correm para a exigência de materialidade, saída de praxe nos abusos intrafamiliares. Mas, se é um crime às escuras? A cegueira deliberada é o estupro culposo de todos que se aliam aos pedófilos. Muitos e muitos entre nós. E, está assassinando milhares de crianças.

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