sexta-feira, 28 de julho de 2023

Ideias pseudocientíficas, por que é tão fácil vendê-las em nosso país? Parte V

Ideias pseudocientíficas, por que é tão fácil vende-las em nosso país? Parte V Precisei dar uma parada, e, gentilmente, o Jornal republicou um artigo meu de 2020. Tive uma virose bem severa que me obrigou a fazer repouso absoluto. Nesses momentos, somo ajudados pela luz da realidade: a fragilidade de nosso corpo. Por melhores cuidados que tenhamos com ele, ele nos aponta o único caminho que trilhamos desde o primeiro minuto de vida. Pensar sobre a importância do brincar para o desenvolvimento pleno da Criança, é um tema apaixonante para mim. A Função do brincar é constitutiva da personalidade e do caráter em Formação. Mas hoje, quero retomar essa proliferação daninha de ideias de pseudociência que vem assolando nosso país. O Conhecimento, a Lógica, o Bom Senso, nada consegue trazer lucidez quando se trata de afirmar absurdos sobre a Criança. Aviltada, desrespeitada, destituída de sua condição de Sujeito de Direito, afirma-se, de maneira inescrupulosa, que Crianças são fantoches de mães que implantam chips em sua mente, fazendo com que ganhem imagens mnêmicas para muito além de sua faixa etária, portanto anterior à aquisição do conhecimento que precisariam para reproduzir essas tais implantações que beiram o demoníaco. Gostaria de lançar um fecho de luz numa nova pseudotese que espalhou mais uma mentira com uma maquiagem pseudoteórica. Ocorre que espalhou-se a afirmação que “mães alienadoras”, coisa que é outra pseudociência, produziriam um rompimento do vínculo afetivo com o pai que elas estariam afastando. Antes de tudo, é preciso estudar e tomar conhecimento do Conceito Científico do Vínculo, introduzido, especialmente pelo teórico em Desenvolvimento da Criança, Bowlby. Este autor estudou e escreveu 3 bons Volumes sobre a Teoria do Vínculo, a partir da observação do comportamento fisiológico dos bebês humanos, recém nascidos, em buscar “escalar” o corpo do adulto que o sustenta. Bowlby é precioso em sua fundamentação. Faz-se necessário aprender que o conceito de Vinculo se refere a afeto. Quem estudou sabe. Não é convivência, passa longe disso. Uma Criança cujo pai morreu pode desenvolver um vínculo afetivo saudável com esse pai já falecido. É afeto puro que pode ser alimentado por comportamentos de cuidado e responsabilidade, estruturando melhor, qualitativamente, esse vínculo. Mas esse é um ponto de manipulação de termos que parecem sérios para ganhar uma expansão enganosa. Assim, falar que um pai, melhor dizendo, um genitor que é afastado por comportamentos inadequados e criminosos com seu filho/a, não é a mãe que rompe o vínculo, é o comportamento mesmo desse genitor que invade o corpo da Criança, que passa então a rejeitá-lo. Claro. Mesmo as condutas libidinosas que não machucam, não laceram, não causam dor, causam medo, causam vergonha, causam indignidade para a Criança. Medo, vergonha, indignidade são o alicerce do padrão do Ciclo da Opressão que se instala, e vai permanecer na mente da Criança como modelo relacional. À mentira de uma aludida “desvinculação” segue uma proposta mirabolante: a revinculação. Surgem então especialistas, psicólogas que se auto intitulam “Reprogramadoras”. Difícil aguentar que pessoas que frequentaram uma Faculdade, e se dizem pós- graduadas e Especialistas, possam confundir uma questão afetiva com uma questão instrumental. Propor “consertar” um vínculo, é, no mínimo, muito estranho. Nós desenvolvemos métodos e técnicas para estimular e corrigir alterações instrumentais, como as que se referem aos distúrbios de fala, de aprendizagem, de lateralização, de habilidades motoras, mas não existe possibilidade de “corrigir” afetos. E aqui entramos num terreno pantanoso. Lança-se mão de desmentir a Criança em seu Relato, de convencê-la que o que guarda como vivência não aconteceu, propondo um enlouquecimento para essa mente em formação. É enlouquecedor passar por um torturante dementido, quando os recursos psíquicos ainda não adquiriram a resistência necessária para uma sustentação diante de um adulto cheio de autoridade, uma reprogramadora, que é uma operadora de justiça. De justiça? Como misturar afeto com instrumentos? Como desconhecer o conceito de Vínculo Afetivo? Como aceitar e promover a tortura de desmentir uma Criança para atender ao capricho de Poder de seu genitor? Essa é uma ideia de pseudociência que coloca a Criança com um robô. Talvez um desses robôs hoje vendidos na internet para ganhar tamanho. Não tem nem um fiapo de razoabilidade em achar que a Criança teve memórias implantadas pela mãe, e seguir essa tese de implantação, implantando o desmentido. A memória da Criança é o acervo de suas vivências porque seu raciocínio durante toda a infância só se operacionaliza através da experiência que ela vivencia. Robotizar Crianças é ferir seus Direitos Fundamentais. Em tempo, nessa mesma linha de robôs, fake News, e manipulações semânticas, há 2 semanas, tivemos a gratíssima satisfação de escutar, ao vivo, as falas oficiais do MDHC, da Secretaria de Direitos da Criança e do Adolescente, do Ministério da Mulher, e do Ministério da Saúde, uníssonas, como Vozes de um Coral, afirmarem sobre a necessidade da Revogação da Lei de Alienação Parental. Foi emocionante! Mas eis que um tempinho depois é divulgado pelo mesmo Governo Federal o cancelamento da Visita da Relatora Especial Reem Salem, da ONU. Baseada numa enxurrada de fake News que caluniava a Relatora, com acusações infundadas. A Secretaria da Relatora Reem, convocou um grupo de resistentes, organizações civis, e nos propôs um webnário, que foi realizado com sucesso. Vergonha constatar esse tipo de armadilha sórdida contra as Crianças. E saber que não estão permitindo que saibamos aqui o que o mundo já tomou conhecimento, porque, apesar da forte tentativa de impedimento que ela fizesse a leitura na tribuna da ONU, o movimento de resistência que luta pela Proteção da Criança, conseguiu garantir essa leitura. Urge que se entenda que Criança é suprapartidária.

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