segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A NOSSA CULTURA DO ESTUPRO, CULTURA DO PATRIARCADO




A NOSSA CULTURA DO ESTUPRO,  
CULTURA DO PATRIARCADO

       O que seria mulher que se dá ao respeito? A pergunta cultural brasileira na pesquisa que reafirmou evidência já ditas pelo IPEA, não trouxe nenhuma surpresa se considerarmos, por exemplo, que no aniversário de 10 anos da LEI MARIA DA PENHA chegamos ao pífio resultado de 10% de diminuição na violência contra as mulheres. Uma moça estuprada na escadaria de uma estação de metrô, não consegue fazer um B.O. porque o Operador de Polícia, não acredita no que ela está relatando, teve que ir até outra delegacia para conseguir fazer a Ocorrência e ser encaminhada ao IML. A neta de 16 anos que foi estuprada pelo avô teve culpa porque não disse que não queria ter uma relação sexual com ele, que foi absolvido por este motivo. O fato de serem avô e neta, não veio ao caso. A menina de 14 anos que se retratou, comportamento resultante de pressão, ameaça, sedução ou culpabilização, muito frequente e esperado pelos profissionais que tem conhecimento da dinâmica do abuso sexual, como bem lembrou o desembargador Daltoé, foi humilhada, desqualificada, e ameaçada de estupro, por um Promotor. Ela tinha ficado grávida do pai aos 13 anos, denunciou, teve autorização da Justiça para fazer um aborto, e na audiência seguinte, sob a pressão da mãe, tentou livrar o pai. Mas a Justiça havia feito exame de DNA no embrião, e confirmada a positividade para o pai/avô. O Promotor sabia. A Juíza, silenciosa e conivente com a violência praticada numa sala da Justiça. A menina do estupro coletivo, mais de 30, divulgado na internet, atendida em hospital, produziu a fala de um investigador: “a gente não sabe nem se ela foi mesmo estuprada”. Então, 1% ao ano de diminuição de violência contra a mulher é até um bom resultado. O defeito não está na Lei, e sim na Cultura do Estupro, na Cultura da Misoginia, no Retorno ao Patriarcado.  
       Se acrescentarmos à LEI MARIA DA PENHA os estupros a vulneráveis intrafamiliares, conjugados à perspectiva do Projeto de Lei 4488/2016, que criminaliza as mães já devastadas por uma pandemia de uma acusação invencionista que foi cunhada por um pedófilo, Richard Gardner, defensor da quebra da interdição do incesto, marco civilizatório da humanidade, o resultado é ainda menor. Este Gardner, para defender pais agressores e abusadores de seus filhos, não sendo psiquiatra, espacialidade que lhe deveria ser exigida para fazer perícia psiquiátrica, armou uma tese em que invertia os papéis: vítima criança/mãe passa a ser o algoz, e o abusador é a vítima. Temos exemplo disso também nesta pesquisa, a culpa é da vítima. O autor do conceito de alienação parental, que entre nós virou lei, raríssimos os países que adotaram este olhar que ataca a maternidade, escreveu: “alguns meninos e meninas experimentam altos impulsos sexuais. Há uma boa razão para acreditar que a maioria senão todos os meninos e meninas tem a capacidade de chegar ao orgasmo ao nascer”. Suas instruções para que a Justiça, neste bloco de aberrações, siga a terapia da ameaça, e sua execução, a retirada da guarda da mãe e seu afastamento do filho/a pequeno. A privação da maternidade está sendo praticada levianamente. Mais de 2.000 crianças estão sem suas mães, com risco de serem apenadas porque buscaram proteção para seus filhos, discaram 100 ou foram fazer um BO.  Graves consequências virão.
       Cultura do Estupro está diretamente relacionada com a Cultura do Patriarcado, como toda violência doméstica contra a mulher, incluindo a execução da lei de alienação parental, montada com este propósito acima exposto, se relaciona com a Cultura do Patriarcado. Curioso constatar que 1 em cada 3 pessoas tem medo de sofrer violência sexual. Mas, se é a criança que revela um abuso intrafamiliar, a psicóloga forense faz uma acareação e manda a criança sustentar na frente do pai abusador o que contou com coerência e detalhes acima de seu conhecimento e capacidade mnêmica. Longe de serem fragmentos soltos, o que poderia se fosse adolescente ou adulto ser classificada como “falsas memórias”, a voz da criança é desqualificada, e, a criança é intimidada, institucionalmente. Os adultos têm medo de seus estupradores, as criança e adolescentes, não? Alguém já perguntou? Alguma pesquisa científica já foi feita para saber se a acareação é o melhor método de duvidar da criança? Já sim, só que é desprezado. A Escuta Protegida, Childhood, fruto de estudos e pesquisas, é renegada. Os serviços públicos que praticam a Escuta Protegida, são subutilizados, e desqualificados nas Varas.
       Esta Cultura do Estupro Social tem por objetivo devastar a mulher, e em consequência a criança. Estuprada é desacreditada por um delegado, por um promotor. Estupro coletivo, viralizado nas redes sociais, “talvez nem tenha havido estupro” ouviu-se de um operador de justiça. Estuprada pelo pai, durante anos, que a engravidou aos 13 anos, é humilhada e ameaçada por um promotor quando, seguindo o esperado e muito frequente, tentou uma retratação dizendo que tinha mentido no processo que a autorizara a fazer o aborto daquele filho do incesto, tão defendido por Gardner e seus seguidores. O promotor que cometeu esta crueldade sabia do resultado positivo de DNA do embrião.

       A nossa Cultura do Estupro à Vulnerável Intrafamiliar acabou sob a égide dos discursos e das execuções institucionais que deveriam proteger e seguir o Princípio do Melhor Interesse da Criança, hoje violado. O Estupro à Vulnerável Intrafamiliar está sendo varrido para debaixo do tapete, debaixo dos nossos olhos.

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