quarta-feira, 4 de junho de 2025

Espancamentos e Feminicídios. Parte II

Espancamentos e Feminicídios Parte II Todos os dias assistimos o noticiário, os noticiários dos Feminicídios das últimas 24 horas. São 4 a cada dia. Mas houve uma aceleração nesses números, e no feriado da Semana Santa, enquanto se pensava numa injustiça, a condenação à tortura e morte sem crime, ou se relaxava para aproveitar os dias de folga de trabalho, foram assassinadas 10 mulheres num só Estado, o Rio Grande do Sul. E os espancamentos? Os tapas, os socos, os empurrões, as cabeças contra a parede ou o chão, os pontapés, as queimaduras, quantos são? Se acrescentarmos os espancamentos psicológicos e os morais, praticados nos recintos familiares. Fala-se em 1 violência física a cada 8 minutos. Será? Certamente, sem acrescentar a violência praticada pela arma de via oral. O calibre dos ataques verbais, por vezes, é tão devastador quanto um fuzil. E dói e sangra por dentro. Se Feminicídios têm sido “interpretados’ como suicídio por mãos alheias, no caso mãos do ex, que sem nenhuma intenção dispara 6 balas contra o rosto da Mulher, isso tudo sob o “comando” dela, imaginemos qual seria a autoria dos tiros verbais. Não importa se não tem nenhuma migalha de realismo, de lógica, de razoabilidade. Aquele pobre homem só cumpriu, sem intenção, a vontade da Mulher, de se matar com 6 tiros que saíram, por acaso, e obediência, da arma dele. O espantoso é que toda uma sociedade, a começar, muitas vezes, pela família da vítima, assiste, cala, e só abre a boca para insinuar que a Mulher errou. Ou deixou de queixar, de denunciar, ou fez alguma coisa (?) que ensejou a violência. Apontar a vítima como a culpada é o esporte favorito hoje. A sociedade imediata do entorno das violências, muitas vezes, sem que seja explicitada uma ameaça, mas já sombreada pelo predador, se posiciona ao lado do agressor. Temos muitos e muitos casos em que mãe, irmãos, primos, preferem se defender, fazendo a identificação com o agressor. Mecanismo de Defesa do Ego que, resumidamente, impõe que se você não pode enfrentar um inimigo, então junte-se a ele. Assim, não raro, constatamos que familiares próximos se posicionam justificando o comportamento do predador, até se prestando a ser testemunhas a seu favor em audiências. Esse fenômeno de uma omissão proativa é a famosa “pá de cal” no enterramento da vítima. Mágoas antigas são ressuscitadas, competitividades ressurgem, e saborzinho da vingança está posto à mesa. A aniquilação da Mulher é o Projeto. As mulheres ao redor entrar no modo “antes ela do que eu”, trazendo com essa postura de alinhamento com o agressor a garantia de que estão “protegidas” por essa vez. Precisamos refletir sobre o sobressalto crônico em que vivem as Mulheres. Permanentemente, em risco, ameaçadas explícita ou veladamente, o que produz uma tensão basal responsável por uma insegurança generalizada de local e de pessoas. O estímulo à violência contra a Mulher é articulado por grupos, extremamente, dedicados à causa da aniquilação feminina. O ódio à Mulher vem se tornando um instituto, usado como arma nos Processos da dita “Família”. Também o estímulo à submissão da Mulher, segue estrutural. Há uma programação pronta que é compartilhada por todos, uns mais outros menos, mas todos executando. As colunas dessa programação só ficam mais robustas. Seguimos com muita dificuldade de compreender onde se esconde essa perversidade contra Mulheres, submeter, desqualificar, torturar, espancar e matar, perversidade que mora ao lado, muitas vezes. É difícil de ser detectada a priori. Só após muito tempo, quando o predador começa a relaxar um pouco sua dissimulação e começa a deixar escapar alguns indícios, é que se torna possível a suspeita. Daí a pergunta frequente, por que não denunciou antes, é mais uma perversidade cometida contra a vítima de violência, de qualquer forma. O predador é meticuloso. Ele só é agressivo com seu alvo. Com todos ele é simpático, muitas vezes muito agradável, de tal maneira que ele se torna alguém acima de qualquer suspeita. Assim, ele goza da garantia do descrédito que se instala quando a vítima decide denunciar. Essa performance é planejada, e lhe garante a não suspeição, e consequente desqualificação da voz da Mulher. É preciso não esquecer que um espancamento mata a dignidade. Além de tudo isso, a Mulher que denuncia violência doméstica não tem para onde ir. Não há abrigos suficientes, não há rede de apoio, não há compreensão jurídica da dimensão da vulnerabilidade, que ainda questiona duvidando da necessidade de Medida Protetiva de Urgência. Aliás, a MPU não protege, quantas foram assassinadas com ela na mão, na bolsa, na gaveta. Até quando seremos assassinadas em série?

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