sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Como cresce uma Criança? Parte VI

Como cresce uma Criança? Parte VI O afeto é, pois, o combustível essencial para impulsionar o motor da aquisição das competências que humanizam os bebês. É o afeto, e, essencialmente, o afeto que torna o homem passível de socialização e de civilização. Observamos afetos in bruto em animais, em especial nos mamíferos. É um próton afeto, em geral, relacionado à preservação da espécie. Um cuidado na amamentação dos filhotes, na proteção diante de perigos para os pequenos. E, entre os animais humanizados, nossos pets, é possível constatar um afeto, muitas vezes, até incondicional. Histórias bonitas chegam a afirmar que esse seria o melhor afeto do mundo, que supera qualquer afeto entre humanos. Se considerarmos a desigualdade de autonomia e liberdade entre homem e bicho de estimação, poderíamos até concordar. No entanto, o afeto saudável é bem mais amplo e prevê justas condições. A primeira relação afetiva é construída na amamentação. Como já dissemos, anteriormente, a necessidade de receber alimento está prevista em dois tipos de alimento: o nutriente, que é o leite materno, e o afeto. Na última semana, reportamos o experimento do fisiologista Harlow que constatou a importância do afeto, no caso dos bebês chipanzés órfãos, chegando a contrariar o comportamento instintivo da preservação da espécie ao comprometer a vida para permanecer no aconchego de um colo macio. Spitz se inspirou nessa observação e explicou o quadro de autoabandono em crianças internadas e separadas de suas mães. Denominou de Hospitalismo o mesmo comportamento depressivo em crianças com desinvestimento no mundo e seus estímulos, motivado pela ausência do cuidado materno, de tal ordem que comprometia, severamente, a saúde da criança. O corpo a corpo entre bebê e mãe é o alicerce da estrutura psicológica das crianças e, depois, das pessoas. E o início crucial é a amamentação. Fixar os olhos nos olhos da mãe enquanto mama, enquanto mantem a mãozinha pousada em seu seio, para algum tempo depois, segurar o indicador da mãe durante todo o ritmo coordenado entre o respirar, o sugar e o deglutir, constitui uma ação bem orquestrada quando a relação mãe-bebê está sendo bem construída. Esse olhar do bebê é encantado e encantador. Movido pelo afeto, ele alimenta a interdependência da mãe e do filho, um depende do outro, afetivamente. A mãe se vê, cada vez mais, envolvida pela responsabilidade de sustentar aquele ser frágil. O bebê necessita do nutriente mãe. Ele não tem clareza de cognição ainda, mas ele sente, momento precursor do pensamento, que está requerendo o cuidado necessário. Esta troca de olhares, com o acompanhamento da sensação tátil do tocar a pele da mãe, assim como, da sensação olfativa de seu cheiro, fazem desses momentos de amamentação tempos de crescimento seguro e prazeroso. É um ato de várias músicas. E precisa ser bem vivido para que cumpra sua função estrutural no desenvolvimento afetivo. Portanto, não é difícil pensar que esses tempos de conexão mãe-bebê devem ser respeitados e esperados, para que satisfação. Uma fase mal preenchida, irá acarretar uma falha que será rolada por todo o desenvolvimento, afetando também os outros vetores do desenvolvimento. Como já dissemos, o afeto é o combustível para toda a saúde de desenvolvimento. Assim, o que pode ser visto como falha não se esgota na ausência total de um bom cuidado. A falta de afeto assim como a precipitação na interrupção de uma necessidade afetiva de um bebê, são danosas. Permitir que uma mãe cumpra essa primeira etapa de dependência absoluta do bebê, dando-lhe suporte e acolhimento ao seu cansaço, é fundamental. Por vezes, a mãe é criticada por alguém daquele núcleo familiar, forçando a separação da dupla, precocemente. Isto pode provocar uma falha, o bebê é empurrado para uma fase que ele não está amadurecido para encarar, o que acaba por provocar uma certa cronicidade daquele estágio de dependência, desarmonizando seu desenvolvimento e atrasando suas aquisições. Bowlby lançou um olhar sobre essa fase inicial do bebê, e nos ensina sobre a importância do apego, a dor da separação e a angústia. Mahler, observou a dependência absoluta se movendo para a dependência relativa em busca da autonomia. Winnicott nos ofertou o conceito de objeto transicional, que nos dá a compreensão do processo que o bebê vive com seu ursinho de pelúcia, ou com seu paninho de dormir, um objeto que dá segurança a ele porque tem parte da realidade, parte dele, e parte da mãe, em seu simbolismo, permitindo que se encoraje em se afastar da mãe com a segurança desse significado. Se o afeto primário precisa ser da mãe, não esqueçamos que o vínculo afetivo com a mãe é visceral, há um certo reconhecimento tranquilizador de impressões corporais deixadas pelo período intrauterino, a plasticidade afetiva de um bebê vai dando permissão à diversidade de pessoas constantes em seu mundo. E, todos esses outros afetos, aos poucos permitidos, são muito importantes em seus papéis específicos ou no papel de substitutos, também muito saudável. Afago é afeto. Cuidado é afeto. Balanço é afeto. Limite é afeto. Responsabilidade é afeto. Estimular o crescimento é afeto. Mas, com segurança.

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