segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Por que há mulheres Misóginas?

Por que há mulheres Misóginas? Muito me intriga a quantidade de mulheres que acederam a algum espaço de autoridade e são aguerridas à Misoginia. Em tempos de avanços na conquista de espaços afetivos, civis, e sociais mais amplos, de luta por respeito a Leis que lhes garantem os devidos Direitos, encontramos mulheres posicionadas contra mulheres. Não estou fazendo uma defesa por uma “guerra de sexos” cega e, totalmente, inadequada. Definitivamente, Não. Aliás, é um argumento ardiloso lançado com o objetivo de desidratar nossa voz. Uma estratégia manipuladora para menosprezar a defesa de mulheres por mulheres. São advogadas, promotoras, juízas, psicólogas, parlamentares, assim como, familiares das vítimas de violência doméstica. Quantas vezes encontramos mulheres que sofrem violência por meses, anos, e que não contam com a solidariedade das mulheres da família. E as desculpas esfarrapadas são aquelas que citam o “não se mete a colher”, ou o desprezo pela acomodação daquela que é espancada e/ou humilhada, desconsiderando por completo a intimidação sofrida junto com as pancadas. E logo vem aquele qualificativo desqualificante, “não tem vergonha e aceita de novo”, ou “ela gosta de apanhar”. Difícil de compreender o motivo de desqualificar a outra em estado de vulnerabilidade. A incapacidade de se conectar com aquela que está sofrendo, quando ela está pedindo ajuda ou quando não consegue pedir. Não raro escutamos comentários depreciativos sobre a vítima, apontando ausência de Empatia, e de Compaixão. Ao se referir àquela que foi brutalmente estuprada, faz coro com as vozes de machistas: “também com aquela roupa”, ou “naquela hora estava na rua”, ou “por que não gritou”. São manobras para culpabilizar a vítima por ter sido vitimada. E assim aliviando o comportamento de violência do autor do estupro. Caminhando de par com a culpabilização da vítima pelo estupro sofrido, vem a cobrança pelo dizer “não” ao estuprador. Campanhas grandes são feitas com esse objetivo: diga Não, ou, Não deixe tocar suas partes íntimas. Como se o adulto estuprador fosse respeitar o não da criança. Como se ela, do seu tamanho e força infantis pudesse impedir um adulto de possuir seu corpo como bem quiser. O que fica é uma carga pesada em seus ombros. Aconteceu porque ela deixou. Ninguém se lembra que aquele adulto, em torno de 80% dos casos, é alguém que ela ama e obedece. Obedece. Aqui reside um nó que se forma em sua mente. Como aquela figura de autoridade afetiva para ela está transgredindo o limite que está combinado na família? Ou seja, como acomodar em sua mente essas duas premissas contrárias: pode e não pode. O que ela deve seguir? Mas ela não é atendida em sua escolha, “nem no não, não quero”, “nem no quero, e quero toda hora com todo mundo”. Porque há crianças que se viciam nas sensações excitantes que lhes são praticadas pelos abusos, excedendo o parâmetro da auto exploração do corpo. Quando isso acontece, não faltam mulheres da família e da justiça para acusar a mãe. É um esporte favorito de muitos, culpar a mãe por tudo. Então se a criança pequena está se masturbando ou pedindo para as pessoas lhe masturbarem, é culpa da mãe, mesmo que o genitor autor tenha sido flagrado em ato libidinoso com a criança. E não faltam mulheres a defender o estuprador de criança. Na justiça e na família, encontramos as misóginas que protegem o predador. Então recorrem às acusações maliciosas e perversas de que a mãe é louca, que o autor é pessoa ilibada, que a mãe é uma mulher ressentida e vingativa, as mesmas frases que escritas nos livros do inventor do termo alienação parental. Gardner via como solução a permanência do agressor dentro de casa e o estímulo à masturbação, estímulo que deveria ser dado pelos terapeutas dessas mães denunciantes. Preciso lançar uma luz sobre um ponto que muito me intriga. Como entender a cumplicidade de mães de abusadores de crianças na defesa e acobertamento deles? Não me refiro às mães que, de maneira torta, inconsequente e perversa, negam a verdade sobre o comportamento de seus filhos que poderia trazer respaldo a casos complicados, que são a maioria. Estou me referindo a muito mais perversão de avós paternas que testemunham abusos com o neto, ou neta. Estou me referindo a avós paternas que ficam encarregadas dos registros áudio visuais dos abusos cometidos pelo filho em seu neto ou neta. Parece um horror, não? Mas é um horror. Apesar de não ter conseguido ainda chegar a uma compreensão, minimamente, científica ou, pelo menos, razoável dessa grotesca crueldade, continuo me esforçando para avançar em alguma reflexão que trouxesse alguma clareza à dinâmica familiar e à transmissão transgeracional dessa aberração. Encontramos também alguns avôs paternos que se aliam ao filho predador do neto ou neta. Mas nesses casos a aliança entre avô e filho corre por conta da replicação dos estupros. O que chama a atenção é que o compromisso de fidelidade é inigualável se tomamos qualquer outra situação de pacto. Não encontramos em nenhum outro terreno interpessoal tamanha solidez de aliança. Por que? Por que não acontece em outros lugares humanos? O que sustenta, quais as estruturas psíquicas, essa solidez de fidelidade? Afinal, o que move uma avozinha a filmar os estupros praticados pelo filho no neto ou neta? Sigo, e convido todos a me fazer companhia nessa busca reflexiva, buscando respostas para essa sombria questão. Por que uma mãe, pertencente ao grupo que teve escolaridade, inclusive universitária, em confortável situação socioeconômica, se torna cúmplice, com imensa intensidade de intenção criminosa, validando a perversidade do filho contra um neto/neta? E cuja imagem aparente é ilibada, denominação muito usada por juízes e juízas, inocentando agressores. Com a mesma intensidade na cumplicidade, encontramos aquela mãe, que teve pouquíssimas oportunidades, pouco estudo formal, e que exerceu sua maternidade com muita luta, que denunciou o filho para que fosse preso. Apesar do esforço para criar aquele filho, ele se tornou um matador de aluguel, que negociou a morte de uma jovem mãe, morta enquanto empurrava o carrinho do seu bebê indo para a creche. Com muita dor visível, a mãe evidenciou sua cumplicidade com a Ética. Talvez nem saiba a definição do termo filosófico. Mas sabe o que é errado, e suas nefastas consequências. Sabe cumprir a Lei. Sabe o que é coletividade. A intensidade da cumplicidade talvez seja a mesma, se pudéssemos medir. Mas a maternidade é vivenciada em oposição.

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