MENINO
BOLDRINI
X
BERNARDO
BOLDRINI
O menino Boldrini postou ontem as fotos
de sua mãe espancada pelo seu pai no facebook. O menino Boldrini escreveu que
não adiantava dizerem que a sua mãe tinha feito alguma coisa errada porque ela
não tinha feito.
Grave sintoma de uma sociedade que
mostra suas vísceras apodrecidas. Uma criança de 11 anos expõe na mídia o rosto
deformado de sua mãe. Nariz quebrado, vários cortes, vários hematomas. Seu pai,
o autor da violência, é um sargento do exército, corporação que prima pela
disciplina e o respeito, onde a desobediência a uma regra é punida, portanto
acostumado no trabalho a seguir a lei. Entre o quartel e a residência, este
sistema, regras, respeito, punição, se desfaz? O menino, aos 11 anos, ainda denuncia
em suas palavras mais uma grave podridão social quando diz que não venham dizer
que a mãe fez alguma coisa errada porque ela não fez. Aos 11 anos ele já
aprendeu que a sociedade justifica o espancamento de uma mulher se ela fez
alguma coisa errada. Não há algo muito errado nisso? Quer dizer que se fizer
uma coisa errada ela pode ser espancada.
Bernardo Boldrini, assassinado há 2 anos
e 3 meses, pelo pai e pela madrasta, tinha 11 anos também. Foi procurar ajuda
no Ministério Público, falou com um Juiz Fernando, e não foi acreditado pelo
Juiz nem pela Promotoria. O Juiz mandou que o pai, pai é pai no calo social, voltasse
e promovesse um bom entendimento na família, marcando nova audiência para 3 meses
depois. Audiência que Bernardo não compareceu porque foi morto nos primeiros 30
dias de “bom entendimento”. Bernardo foi mandado de novo para a calçada, no
frio e sem agasalho, ocasiões que pedia abrigo na casa de amigos, e para o
buraco embaixo da escada onde era trancado e gritava por socorro na caverna de
seu algoz, que tinha sido legitimado pela Justiça de Família como o pai que ia promover
o “entendimento na família”.
Os dois Boldrinis têm 11 anos quando
pedem ajuda. Não sei se são parentes, mas têm também o mesmo sobrenome. Outra
coincidência. O Bernardo não conseguiu e
morreu. O segundo, não foi procurar a justiça. Procurou a mídia. Talvez não
morra porque está protegido pela mídia. Há semelhanças de sobrenome, de idade,
de vulnerabilidade, de sofrimento por violência praticada contra eles, mas há
diferença na instituição que procuram para buscar proteção. E, talvez, esta
diferença, faça diferença no decorrer da vida deles dois.
Poucos dias depois que o menino Boldrini
postou as fotos da sua mãe com o rosto deformado pelo seu pai, vemos uma
celebridade se expor quando denunciou o marido pelo espancamento sofrido. E
neste ponto uma coincidência com o menino Boldrini. Ele avisou que não
adiantava dizer que a mãe dele tinha feito alguma coisa errada. Triste aviso
porque, aos 11 anos já sabe que a tese da culpa é da mulher viria se instalar,
como se qualquer coisa errada que tivesse por acaso feito fosse passível de ter
o nariz quebrado e vários cortes e hematomas no rosto, fora o resto. A
celebridade vai ter que se preparar para todas as testemunhas que seu ex-marido,
muito rico, vai apresentar para inverter as posições e vir a ser a vítima de
uma mulher agressiva que lhe unhava. Senhores, uma mulher raivosa é contida por
um homem segurando-lhe os braços, não é possível achar que para se defender de
unhadas se faça necessário quebra-lhe 4 costelas. Por pouco ela não entrava no
gravíssimo estado de S.A.R.A. que leva à morte. E, 4 costelas não se quebram
com um só pontapé dado sem querer. Há uma repetição de golpes para quebrar 4
costelas.
Mas, é sempre também a repetição de
golpes desferidos pelos misóginos, que são numerosos e cooptaram até mulheres
para a prática da misoginia.
Torcemos para que este novo Boldrini
tema mais sorte que o Bernardo.
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