Mais
uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar
Parte I
Dinheiro, muito. Glamour, com sonhos de
fama, de estrelato. Só coisas boas. Turismo. Empregos. Arrecadação. Prazeres.
Diversões. Este é o lobby que é feito em prol da legalização dos jogos de azar.
Sou consciente que não é a ilegalidade que soluciona. Sabemos todos que eles só
são ocultos, mas existem. Alguns, ficam nas esquinas, sentadinhos apontando, auxiliados
em seu serviço por árvores e postes onde exibem os resultados diários. E, mais.
Temos conhecimento, pela mídia, do funcionamento de empresas de caça-níqueis,
de cassinos clandestinos. E, no país que os jogos são proibidos e combatidos
como contravenção e crime, temos um cardápio de loterias, que não raro são alvo
de escândalos. O que é proibido, é praticado pelo próprio governo. Para alegria
do povo, talvez. Quantos, para viver esta “alegria”, gastam um dinheiro escasso
que serviria para algum equilíbrio financeiro? Tudo em nome da ilusão de
ganhar, do sonho infantil de, magicamente, virar rico! Vender ilusão é uma
prática humana corrente.
Não por acaso, articulistas diversos têm
escrito, praticamente, todos os dias, sobre as vantagens de legalizar os jogos
de azar. São muitos. A velha estratégia de falar muito para naturalizar,
efetivando o lobby. A técnica do
convencimento por reconhecimento subliminar. E, claro, que essa banalização do
mesmo conteúdo repetido à exaustão planta uma “familiaridade” e uma ilusão de
pseudo-verdade. Assim, passa mais fácil. Não duvido que a porteira está aberta
para passar a manada de jabutis. Talvez na véspera do próximo feriadão. Mesmo
em tempos de pandemia, isto funciona bem. Não se discute com a sociedade civil,
que acorda um dia com a lei votada. Mas, pela familiaridade plantada
meticulosamente, acha até que vai ser boa. Foi exatamente assim com a lei de
alienação parental, numa noite, ao apagar das luzes, durante a Copa das
Confederações. E ela saiu do Congresso com o apelido de ser uma lei de proteção
da Criança. Hoje, já temos um livro que expõe as suas perversidades contra
Crianças e Mulheres, invisíveis. Mas, já se tornou dogma jurídico que nutre uma
cadeia alimentar sobre a dor desta invisibilidade de atrocidades. E, quem se
atreve a contestá-la, é visto como alguém que é contra a Criança. A inversão é
uma estratégia perversa, mas, eficiente.
No caso da legalização dos jogos de azar,
fala-se de aumento de empregos, incremento no turismo, e entrada de arrecadação
de impostos. Todos, benefícios, vistos superficialmente. É sonegado o “x” da
questão nestes discursos. Cassinos e caça-níqueis são frequentados por
dependentes. Os frequentadores são portadores de uma das doenças da compulsão.
E, se fizermos uma rápida avaliação sobre nossas Políticas Públicas de
tratamento de outras compulsões, álcool e drogas, por exemplo, vamos encontrar
um vazio de atitude política séria e consistente. Programas existem, ideias
ótimas são muitas, mas na efetividade, quase, quase nada. Não damos conta de
nossos alcoólatras, nem dos nossos cocainômanos, nem dos nossos, recentes e
degradantes, usuários de craque. Estes últimos, zumbis, são varridos daqui e
dali em meio às grandes cidades.
Políticas Públicas Sociais para estes
doentes da nossa sociedade? Onde? Não há nem para a sobrevivência ou o combate
à morte provocada por um vírus. Talvez o “Glamour’ justifique a defesa deste
lobby da vez. Certamente, vão argumentar que nem todos sucumbem ao vício do
jogo. No entanto, há que se reconhecer que são os viciados que sustentam estas
indústrias de ilusões. Todas. E os adoecidos, se inutilizam para a vida em
sociedade. Precisam de ajuda técnica, dentro de programas de Políticas
Públicas. E, quais?
Interessante prestar atenção ao argumento
do incremento do turismo. Jogadores frequentadores de cassinos, não fazem
turismo. Não viajam com a família, que poderia fazer turismo. A família
atrapalha o jogo. Crianças, nem pensar. As esposas também não, vão demandar a
presença para ir ao restaurante. Não saem das mesas, exceto quando o cansaço
lhes parece estar atrapalhando a sorte. Aliás, os empresários do Jogo,
aprenderam que a melhor localização para um cassino é dentro de um hotel de
luxo. Assim eles só se ausentam das mesas e das roletas para pegar o elevador,
descansar um pouco no quarto confortável, e pegar o elevador de volta para a
mesa de jogo. Este é o turismo deles. Não se interessam por nenhum monumento,
nem praia, nem mesmo um rápido city tour. Como alegar incremento de turismo?
A outra alegação é a de arrecadação de
impostos. Mas, é do conhecimento de todos que jogadores da sorte não são muito
claros nos negócios. Além disso, sabe-se também que o jogo, muitas vezes, vem
acompanhado com outros “negócios”, tráficos variados e não explícitos. Também
na hora de pagar impostos, muitas vezes, vale a arte de blefar. Afinal, faz
parte do jogo.
E os empregos. Vamos abordar na próxima
semana estes “empregos” porque eles fazem parte de um combo, muito bem
elaborado, onde cabe prostituição juvenil, e redes de tráfico. Vamos nos deter
nesta parte que diz respeito à adolescência e juventude no próximo artigo. Aqui
há o nascedouro da tese da diminuição da maioridade, que vem sendo vendida como
referente aos adolescentes infratores, que não ultrapassa os 5% do total de
crimes. É a casa de jogo e suas redes que precisam de novinhas e novinhos.
Precisamos refletir mais sobre esta fábrica
de ilusões, antes que este jabuti cruze a porteira.
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