Mais
uma Lei Jabuti, a cortina de fumaça da legalização dos jogos de azar.
O combo que está contido na legalização
doas casas de jogos de azar, envolve a diminuição da maioridade de meninas e
meninos, novinhas e novinhos, para preencherem os “empregos” que proporcionarão
o atendimento total aos jogadores, incluindo serviços extras, que passam a
fazer parte. Afinal, os jogadores são o sustento das casas de jogos, e a
satisfação deles, o principal objetivo pela garantia de fidelidade às casas de
jogos.
É necessário atender a tudo que é
demandado pelo jogador. Entenda-se aqui que não é o jogo esporádico, o
recreativo, o dos curiosos, o que importa aos empresários dos cassinos. É o
jogador dependente, os nacionais e os internacionais, que dão sustentação ao
negócio. E nada que tire um jogador ou jogadora de uma sensação de fracasso na
mesa, quando perdeu uma fortuna, do que o prazer imediato dado por sexo com
alguém vulnerável, mas legal. É a recuperação ilusória, mas imediata, do Poder
perdido nas cartas ou na roleta. Revigorado vai retornar para seu trono,
voltando a alimentar sua sede de Poder, entrincheirado em seu castelo. Sua
socialização é, geralmente, escassa, ausente, ou dissimulada pois esconde seu
isolamento cristalizado.
Para garantir o melhor atendimento aos
jogadores, os mantenedores das casas de jogos, meninos e meninas, novinhos e
novinhas, na idade de deslumbramento com o consumo que lhes faltou na infância.
A redução da maioridade, que acena com o brilho da juventude dos meninos e
meninas que assim, aos 16 anos, podem entrar nesta roleta de vida. A redução da
maioridade está bem escondidinha embaixo do casco do jabuti, enquanto o
discurso gira em torno da alegação da delinquência juvenil, que, na verdade,
não ultrapassa o índice dos 5% na totalidade da criminologia. A redução da
maioridade vem por baixo de um pseudoargumento dos delitos e crimes, que são
cometidos, alguns com muita crueldade, e envolvimento com os crimes do tráfico,
para conceder autonomia aos jovens, retirando os impedimentos que viriam pela
necessária autorização dos pais ou responsáveis.
Além deste tentáculo do combo, a redução
da maioridade, facilitadora nos contratos e nas “transferências” internacionais
entre cassinos, sonho/pesadelo, existe outro tentáculo da profissionalização da
prostituição. Num primeiro olhar, também, parece algo bondoso com as mulheres
que trabalham com o corpo. Sedutor falar de carteirinha de SUS, aposentadoria.
Mas é com foco nas meninas e meninos que este tentáculo surge vestido de
bondade, em consideração a quem nunca é considerada ou considerado. Com
maioridade e número de INSS, meninas e meninos podem também ser cambiados para
outros países, sem a necessidade de autorizações. Vale lembrar que estas
meninas e estes meninos, ainda quase crianças, serão muito facilmente
manipulados e seduzidos por promessas de sucesso e dinheiro. Quantos sonhos de
encontrar em meio àqueles homens ricos, o “Príncipe Encantado” serão sonhados.
Ou a Rainha, em menor número, mas existem jogadoras compulsivas também, que
levará para um castelo para serem felizes para sempre. Vulneráveis. Mão de obra
garantida, para toda obra, muito maleáveis pela pouca idade e pela
inexperiência.
Por outro lado, prontos para trilhar as
vias que levam aos endereços dos cassinos, não o contingente dos necessitados
por sobrevivência, os necessitados por empregos, mas o contingente formado pelas
crianças e adolescentes que fazem intenso treinamento com os jogos virtuais,
treinamento que foi incrementado enquanto alívio para os pais quando todos
estavam restritos em casa. Temos milhões de crianças e adolescentes viciados
nos joguinhos eletrônicos, onde matar é banalizado, a regra é a rapidez
digital, e a mágica está acima da razão. A concentração é enorme, mesmo para os
que são dispersos nas tarefas escolares. O alheamento para um mundo paralelo é
similar ao alheamento do jogador de pôquer numa mesa.
Eles, parece, nasceram com um celular nas
mãos, tamanha a intimidade que têm com o aparelho. Hoje, é muito comum que se
imagine que é um sinal de mais inteligência uma criança bem pequena conseguir
mexer com o dedinho para mudar de imagem, atrás de uma preferência. Não é. Os
chipanzés também conseguem. E, vale ressaltar que este “dedinho que desliza”
vai tirar aquela criança de treinamento psicomotor que lhe é necessário: a
preensão dos 2 dedos, indicador em oposição ao polegar, que dá sustentação para
o lápis. Esta aquisição psicomotora é importantíssima porquanto se inicia no
lápis e progride para a caneta, o pincel de arte e o bisturi da cirurgia.
Lápis, caneta, pincel, bisturi, todos salvam vidas.
Preocupa-me muito pensar onde caberão
tantos indivíduos que vão vir de infâncias viciadas em joguinhos eletrônicos,
neste último tempo, ainda incrementadas pelo comportamento determinado pela
pandemia. Para os pais, ainda bem que há joguinhos nesta hora, para a criança,
o excesso de isolamento na telinha, só tem retardado de maneira comprometedora
a socialização e o desenvolvimento cognitivo. Sozinho, dentro daquelas imagens
rápidas, quase sempre binárias, acerto ou erro, onde não há possibilidade de
vivenciar a solidariedade e a empatia, será que haverá espaço para a
humanicidade?
Serão os próximos habitantes dos cassinos.
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