PERFIL
DO ABUSADOR -I
Quem é o abusador sexual de crianças
e de adolescentes? A resposta é: uma pessoa comum, que você nunca suspeitaria,
e, mesmo depois de tomar conhecimento deste seu desvio de caráter, você se pega
duvidando. A sua perversão, a pedofilia, este indivíduo, aparentemente comum, guarda
embaixo de sete capas. Esta característica, a dissimulação, é ponto essencial
de seu perfil. O abusador tem uma divisão em sua mente: o lado sociável e o
lado da compulsão da perversão. O lado sociável fica a serviço da camuflagem da
perversão. Esta segunda parte, nunca admitida por ele, é vivida apenas pela
criança/adolescente com quem ele pratica o abuso.
Como é compulsivo, o abusador
repetirá sempre seu comportamento de abuso. Nada o deterá. Restrições, por
exemplo, impostas pela família ou pela Justiça, não conseguem detê-lo porque o
caráter compulsivo é sempre imperioso. Faz-se necessário que se entenda esta
compulsão como um vício oculto, semelhante ao vício do álcool ou de uma droga.
O alcoólatra, na falta da bebida convencional de sua eleição, apela para
qualquer outra bebida, e na falta delas, para o álcool etílico, para os
perfumes, os desodorantes, os produtos de limpeza, guardados em seus
respectivos armários, de maneira que não levantam nenhuma suspeita sobre a
ingestão do álcool. Assim também funciona o vício do abuso. Determinante. Quando
na presença de outro adulto, por exemplo, nas visitas monitoradas determinadas,
equivocadamente, pela Justiça, o abusador reduz esta restrição a um desafio
para ele. Desafiar a lei é sua maior excitação e seu maior prazer. Pois, não é
o prazer sexual que ele busca. Este, ele não tem nas sessões de abuso. É o
prazer da sensação de onipotência, do controle do proibido – a excitação
compulsiva por condutas sexualizadas se utilizando de um corpo que não possui
atributos de sensualidade - enfim, é o prazer infantil de enganar a todos a
cada dia, e ninguém conseguir descobrir.
Por este motivo muitos abusadores ousam,
com sucesso, abusar em público. Os gestos são discretos e rápidos, o olhar
altivo, e, misturados a abraço, beijo e aparente carinho, a mão desliza por
entre roupas pelo caminho determinado pela compulsão perversa até alcançar
algum ponto excitante da genitália da criança. Pronto. Não precisa muito tempo
ou muita coisa. O desafio foi vencido. O vício cumprido. A ousadia é tamanha
que cega às pessoas presentes em torno da cena. E o triunfo, instantaneamente
como uma droga, lhe preenche o buraco interno de sua perversão. Olha a todos com
desprezo. Como não foram capazes de ver o que ele acabou de fazer? É superior a
todos naquele momento. Solta a criança com esta sensação secreta de
onipotência, e volta para o mundo dos pobres mortais, até o próximo impulso,
quando repetirá o ritual abusador.
Esta é uma marca do comportamento do
abusador presente em todas as formas de pedofilia. Se o ritual é restrito ao
aconchego do lar, se a compulsão desafia os olhares em volta em situações
familiares/sociais, ou lugares públicos, ou se a tecnologia é o veículo, o
prazer do abusador está neste desvio, na sensação de poder sobre o vulnerável e
sobre a vulnerabilidade das instituições, completamente, fracas no combate e na
punição desta patologia que deixa danos permanentes.
A sensação de impotência
experimentada, precoce e intensamente, pela criança, irá permanecer como um
traço de seu comportamento diante de qualquer situação em que se depare com um
poder do outro. Sua reação será sempre a de encolhimento diante do outro, não
importando a sua situação real de possibilidade de enfrentamento. Este
prejuízo, por vezes, a leva à invalidez social quando da natural
competitividade da vida adulta. A pedofilia é equivalente à necrofilia: ambas
as perversões buscam tirar sensações e prazeres sexuais de corpos inertes. O
objetivo sexual é, essencialmente, de posse absoluta de um corpo.
Por outro lado, a criança abusada
terá um descrédito nas leis, e poderá, por identificação com o abusador,
trilhar os caminhos da transgressão com o desrespeito aos limites da vida
afetiva e social. Tanto uma linha de desenvolvimento quanto a outra, compromete
o processo de cidadania. Aprisionada na sedução do abusador, entre promessas e
ameaças, o amadurecimento de sua competência relacional fica obstruído por esta
manipulação que se estende por toda sua infância. Iludida pela fantasia de que
“super-amada” pelo abusador, a criança vai sendo arrastada na restrita tarefa
de guardiã do segredo. Esta competência do abusador é central em sua
personalidade porque lhe dá mais uma sensação onipotente. O abusador não ama a
sua vítima, ela serve apenas para lhe fornecer estas sensações narcísicas de
onipotência transgressora.
Sendo um crime de difícil
comprovação, as marcas se inscrevem na mente da criança abusada, o abusador,
conta ainda com a impunidade, a marca de nossa sociedade. E, fazendo jus à sua
psicopatia, quando ele é denunciado, lança mão de sua exímia capacidade
manipuladora e inverte o sentido da acusação. É quem revela seu segredo
perverso que é o culpado, é a criança que está inventando, é a mãe da criança
que está levantando calúnia contra ele, ficando de vítima, e alojando-se até em
figuras jurídicas, como falsas acusações de alienação parental, para gozar da
proteção da Justiça.
Como psicopata, o abusador não adquire o
sistema de capacidade empática, tendo também defeituosa sua afetividade, de
padrão narcísico e bastante anômalo. Ele não tem compaixão porque é incapaz de
se colocar no lugar do outro e, assim, dimensionar o que o outro está sentindo
em um sofrimento. A capacidade de empatia é responsável também pela aquisição
da capacidade de sentir culpa por falhas e erros cometidos. Um abusador nunca
sentirá culpa pela sua perversão, pelo que imprime à sua vítima. Portanto, ele
não poupa a criança, intimidando-a, chantageando-a, ameaçando-a, de todas as
maneiras que forem necessárias para garantir a sua própria proteção. Assim, o
pai/abusador, (cerca de 85% dos casos são pais e padrastos), sem sentir culpa
pelo que faz com filho/filha, não exerce mais sua função de pai, ou seja,
incapaz de assumir a responsabilidade do cuidado, ele é maléfico ao
desenvolvimento saudável daquela criança que ele molesta, rasgando o marco
civilizatório da interdição ao incesto. Em tempo de reformulação de conceito de
pai e mãe, é espantoso que se apele para a consanguinidade, item já
relativizado pela ciência e atualizado pela Justiça, em seu Direito de Família.
Quantas crianças já possuem seu registro com filiação a dois pais ou a duas
mães. Pai é o cuidador, mãe, é a cuidadora. O cuidado de boa qualidade é que
conceitua a função de mãe e de pai.
O abusador é um torturador que substitui a dor para obtenção da
informação, a política, pelo prazer da manipulação sexual para a não obtenção da
informação. Nesta tortura o prazer é usado para guardar o segredo, o abuso. Os
elementos são os mesmos invertendo-se os sinais. A tortura de prazer por
excitação sexual é praticada por ele, aprisionando a criança a ele. Torturador
e torturado passam a formar uma amálgama indissolúvel, com uma cristalizada
dependência recíproca. Mas, apenas o torturado, a criança abusada, conhece o
sofrimento.
Ana Maria Iencarelli.
Novembro de 2013.
Ola, Dra. eu estou passando por essa situação, a minha filha de 3 anos me contou que o pai a abusava, entao eu dei entrada na delegacia e no poder judiciario, mas estou desde maio de 2013 esperando uma solução e tendo que leva-la nas visitas assistidas, dentro do forum, para ver o pai/abusador. já teve uma audiencia, e a juiza disse que era alienação e que iria levar a minha filha para um abrigo, e agora eu so estou esperando o laudo do perito, que esta insunuando que isso nao passa de uma fantasia da minha filha....Dra. nao sei o que eu faço...me ajuda!!!!!! grata
ResponderExcluirPriscila, lhe respondi com atraso pelo e-mail, recebeu? Gostaria de ter notícias, conseguiu alguma coisa a favor da sua filha? A proteção à criança é cada vez mais impossível de se exercer. Coragem! Abraço, Ana Maria.
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