sexta-feira, 24 de maio de 2024

E a Criança, quem olha por ela? Parte IV

E a Criança, quem olha por ela? Parte IV Mais uma vez me vejo diante de uma grande plateia formada por muitas pessoas que desconhecem as leis, ditas, de proteção à criança, outras pessoas sabem um pouquinho mais, mas já com uma dose de contaminação de estereótipos que desviam o teor dos artigos, e outras tantas que só navegam nesses estereótipos, nos preconceitos, nas raivas quase explícitas contra o grupo que deveriam proteger. Dessa vez, era uma Universidade em São Paulo. O silêncio acolhedor que emanava de rostos que se expressavam, em muitos momentos, acentuadamente, me fazia sentir que eu era um deles, que estávamos juntos, todos, viajando naqueles horrores que eu relatava e fundamentava. As palavras eram teóricas, eram técnicas, mas, sobretudo, eram vivenciadas, humanas e humanizadas. Os horrores cometidos por humanos contra pequenos humanos são muito difícil de serem vistos de frente, de serem escutados claramente, e o escorrega desenhando uma curva é uma saída para o escape. É mentira da Criança, afirmam logo. Mas, Criança não mente. Muito pelo contrário, Criança não tem filtro social nas palavras, sofre de “sincerismo” crônico do tempo da infância. Só quando ela adquire as várias camadas de socialização, quando entende a complexidade das figuras sociais, já beirando a puberdade, ela começa a conseguir se conter e esperar para falar. Essa progressão de amadurecimento corresponde no desenvolvimento cognitivo à aquisição do raciocínio por classificação. Figurinhas de álbuns, por exemplo, fazem parte dessa etapa do desenvolvimento do pensamento lógico na infância, a classificação. A Criança é um conglomerado de vetores em desenvolvimento contínuo, que se entrelaçam, se complementam, e todas essas vias são alimentados por afeto. É muita complexidade, que para ser saudável, deve ser harmoniosa. Faz-se necessário, portanto, o conhecimento científico para não se cometer equívocos reducionistas que prejudicam a vida da Criança. No entanto, o que vem acontecendo é que essa área do conhecimento se tornou um balaio de pseudociências as mais variadas. Não há compromisso com o Princípio do Melhor Interesse da Criança. Muito pelo contrário. Os absurdos atribuídos à Criança prescindem até de bom senso. Parece que segue-se, cada vez mais, aquele médico generalista que inventou o termo alienação parental e defendia, explicitamente, a pedofilia. Esse senhor instruiu em seu livro a proteção e permanência do pedófilo incestuoso dentro da família. Ele escreve que a sociedade deve abolir a proibição da prática da pedofilia, e cada vez estamos mais perto disso. As denúncias de violência sexual intrafamiliar são travestidas em alienação parental da mãe e a Criança é entregue, por ordem judicial ao genitor que a Criança aponta como o autor dessas práticas advindas de quem desconhece a lei humana da Interdição ao Incesto, o Marco Civilizatório Fundamental para a evolução humana. A desqualificação da Voz da Criança é de praxe. Criança mente, Criança fantasia, Criança tem “falsas memórias” implantadas pela mãe louca, desequilibrada, inconformada com a separação, a interesseira no dinheiro do genitor. Falta bom senso, para ser educada. A Criança tem falta de filtro, funciona em raciocínio concreto até os 11/12 anos, só memoriza o que vivencia. As mães não são mais espécimes da década dos anos 30, 40 do século passado. São profissionais de sucesso, exitosas, muitas, em suas carreiras financeiras, são as mais numerosas nos pedidos de divórcio. O inconformismo alegado nessa falácia de depreciação da mulher alimenta os índices de Feminicídio. E as pseudociências de concentradas em crenças, se multiplicam fornecendo “soluções” ilusórias e superficiais para as questões que são crimes em família. A tentativa primeira, segunda e terceira, é o reducionismo. Reduz-se crime a conflito em família. Reduz-se busca de proteção através do cumprimento do art. 13 do ECA, a obrigatoriedade da denúncia de violação de Direitos da Criança, à Disputa de Guarda, e em sequência à alegação de denunciação caluniosa, para acobertar o crime de violação contra a Criança. Reduz-se a estágio de deficiência mental a Criança que revela a prática do Estupro de Vulnerável, desenhando-se, assim, uma imagem de Criança robô que obedece à mãe, atropelando as teorias do desenvolvimento cognitivo ditadas pela Ciência da Psicologia. Reduz-se o crime da violação da Criança à seita que “descobre”, na linhagem da mãe, claro, o ancestral, de várias gerações passadas, predador que estava determinando que o genitor abusasse da Criança, desresponsabilizando, por completo, o pobre (?!) genitor estuprador. Assim, estamos seguindo, cada vez mais, as instruções escritas pelo médico pedófilo. E, em circuito fechado, o alegado afastamento desse genitor que só apareceu em reação ao BO de Estupro de Vulnerável, rapidamente, por meio dessas pseudociências, sem nenhuma comprovação científica, é transformado em entrega dessa Criança violada ao seu violador por ordem do juízo. Instala-se a Privação Materna Judicial, porque o mesmo objeto jurídico, a alienação do genitor pela mãe, é “solucionada” pela alienação da mãe, dessa vez em Violência Vicária, executada pela instituição justiça. E seguimos mutilando afetiva e socialmente Crianças, somando sequelas irreversíveis. Onde se perdeu o bom senso? E a Criança, quem olha por ela?

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