quarta-feira, 23 de agosto de 2023
Como nasce e cresce a inteligência da Criança.
Como nasce e cresce a inteligência da Criança
Se não houver intercorrências obstaculizantes durante a infância, aos 14/15 anos o adolescente será capaz de responder: “Edite é mais loira
que Suzana, Edite é mais morena que Lídia. Qual é a mais morena das 3?”.
Nós, humanos, nascemos muito incompletos e, por isso, dependentes de alguém que nos cuide. A respiração, a alimentação, a higiene, o sono,
tudo deve ser administrado por alguém que pratique este cuidado de qualidade para conseguirmos sobreviver. Quando olhamos uma criança
aos seis meses, ou aos dois anos, aos seis anos, muitas vezes, não nos damos conta da supermáquina que está em funcionamento ininterrupto na
direção da aquisição de autonomia.
Pela fragilidade do corpo/pessoa, o desenvolvimento psicológico segue quatro vetores que formam este eixo: a inteligência, o motor, a
linguagem e o vetor do afeto que permeia todos. E esta movimentação se dá ao mesmo tempo, um vetor puxando o outro no sentido da sobrevivência e da autonomia.
Escolhi iniciar pelo desenvolvimento cognitivo. Faz-se necessário compreender melhor o funcionamento do pensamento da criança, porquanto muitos
pseudo conceitos e pseudociências reinam com
armações descabidas, por vezes, absurdas. Apesar de parecer desconexo ou repetitivo o comportamento de um bebê recém-nascido, e o é,
estes comportamentos, em sua maioria espasmos motores aleatórios, vão se processando, gradualmente, numa seleção que demonstra cada vez mais
precisão. Nestes espasmos motores aleatórios, descargas continuadas, o bebê, por exemplo, esbarra em um chocalho pendurado no
carrinho ou no berço, e um ruído é produzido. Este estímulo composto da sensação tátil do tocar o chocalho e da sensação auditiva do som que
foi produzido será registrado pelo bebê. Ainda aleatoriamente, ele esbarra outra vez no chocalho e o resultado se soma à primeira
experiência. Mesmo dentro de sua imaturidade neurológica, estes registros são arquivados, grosseiramente, como protocientistas permanentes.
Eles estão sempre num laboratório, seguindo regras rígidas de tentativa de compreensão permanente do mundo. Colhidos estes dados
pela repetição aleatória que produziu os estímulos tátil e auditivo, o bebê parte para buscar estes estímulos. Ele acrescenta intencionalidade ao
seu movimento dos bracinhos e obtém o som do chocalho. Nasce, então, a inteligência. No início é a simples repetição do movimento que vai se
aprimorando. Segue-se a esta linha direta, acréscimos de novos movimentos, do uso de outro objeto para obter a mesma resposta, variações de
outras respostas, sempre, de posse de uma precisão, o bebê abre espaço para sua curiosidade que cresce a cada momento.
Este padrão do uso da experiência como instrumento para a aquisição do conhecimento, qualquer que seja ele, será mantido por toda a
infância até os 12 anos, mais ou menos. Nada escapa à observação de uma criança, mesmo quando ela não dá sinais de que está observando.
Ou seja, todo o conhecimento que uma criança vai adquirindo se faz pela experiência, pelo raciocínio concreto que usa os cinco
sentidos que temos. Não há nenhuma possibilidade de abstração na infância. A experiência governa o desenvolvimento cognitivo usando leis que, a partir da percepção concreta, visão, tato, audição, olfato, paladar, levantam hipóteses , consideram dados anteriores armazenados, e concluem
dentro da lógica. O desenvolvimento cognitivo que se inicia na experiência, puramente, sensório-motora, como no exemplo do chocalho,
vai buscar a representação mental do conhecimento, caminhando pelo terreno da imitação, do jogo simbólico, do desenho, das imagens mentais e
da linguagem. O pensamento pré - conceitual sofre da possibilidade de erro pela impossibilidade, ainda, de raciocinar com duas variáveis
ao mesmo tempo. Altura x largura pode levar ao erro mesmo que seja feita a transposição do conteúdo diante dos olhos da criança, ela
irá considerar apenas a variável
da altura e dirá que há mais quantidade no frasco mais alto. Este erro do pensamento préconceitual permanece em algumas pessoas, em alguns
itens, e formam os preconceitos que ocasionam discriminações e intolerâncias. A aquisição da capacidade de seriação e de classicação,
explicitada pelo período na infância do gosto pelas coleções e álbuns são a evidência desta importante capacitação para o
estudo da matemática e a organização do pensamento.
As regras vão sendo estruturadas para que o pensamento possa trafegar mais livre e seguro. Os códigos são elaborados a partir destas
aquisições experienciais.
O período das operações abstratas chega por volta dos 12 anos. A partir deste momento a criança se torna cada vez mais
capaz de prescindir do objeto concreto ou figurativo para pensar. Aqui ela é capaz de completar seu desenvolvimento cognitivo
com o pleno pensamento lógico, através do raciocínio hipotético dedutivo que utiliza, ao mesmo tempo, todos os dados de uma questão.
A noção da permanência do objeto é seguida pela descoberta da irreversibilidade, aquilo que não retorna mais. A
morte é a irreversibilidade por excelência, e é neste momento que aparece o medo da perda por morte das pessoas amadas.
O período das operações concretas se estende até os 12 anos, pelo menos, se há um desenvolvimento saudável onde todos os itens de
requisitos vários são contemplados. Quando você tem carência de qualquer ordem, no próprio vetor cognitivo, ou nos outros
vetores, no motor, no linguístico e, sobretudo, no vetor afetivo, há um atraso. Se há uma situação traumática continuada, como a violência
física e/ou o abuso sexual intrafamiliar, tem-se uma obstrução no desenvolvimento afetivo, concorrido também por acometimento neurológico
como já vem sendo demonstrado por pesquisas científicas de várias Universidades de vários países.
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