quarta-feira, 23 de agosto de 2023
A importância do brincar para a Criança
A importância do brincar para a Criança
No entanto, quando o brincar está preso aos joguinhos eletrônicos, este
imaginário vem pronto e pobre no cenário e no automatismo do jogo. E, sem
diálogos. As falas reproduzidas são da maior importância. Elas são constitutivas
das relações interpessoais de todas as nuances de afetos. Nos brinquedos
prontos, o imaginário não é alimentado quando não tem libe rdade, em mínimo de
cerceamento. P ara a Criança, brincar é coisa muito séria. Ao observar uma
Criança falando sozinha, reproduzindo diálogos de personagens, com entonações,
gestuais e expressões faciais que mudam ao mudar de personagem, podemos até
comentar ou pensar “é coisa de Criança”, com um certo desdém. Mas, ali está se
passando a cena de aprendizagem e xação de várias competências. Não parece, mas
é brincando que a criança constrói seu desenvolvimento cognitivo. A imitação é
um comportamento que é visto pelo ambiente como engraçado, mas está inscrito e
pre v isto na S emióti c a do desenvolvimento cognitivo, quando a criança começa
a adquirir a c apa c idade de simbolizar coisas e emoções. O sorriso inaugura
este imitar. É imitando, com gestos, palavras, expressões faciais
, comportamentos, que a criança pequena experimenta encenar o mundo que ela
observa a seu redor. Todos lembramos os pequenos que, em algum momento,
calçaram os enormes sapatos do pai ou da mãe, com salto, que, por vezes,
estragava, e apareciam na sala orgulhosos do que entendiam como “ cando igual a
gente grande”. Se observarmos a brincadeira predileta, o faz de conta, veremos
que estão sendo encenados ali a postura, a curiosidade, os diálogos, os
comportamentos da mãe e do pai. Naquele primeiro teatro, a criança descobre,
imita, organiza o pensamento, e faz esboço das regras afetivas e sociais.
Emoções e sentimentos estão sendo experimentados sob suas ordens. B one c a , e
s c ol a , lut a d e personagens são, talvez, os campeões de ocorrência. A
maternagem e seus cuidados são trazidos e, expressam, muitas ve z e s, medos e
angústi a s experimentados. Da fome à doença, aquela pequena mamãe da boneca
cuida e “resolve” a angústia contida no script. Se observarmos, sem atrapalhar,
constatamos que a criança consegue se isolar e mergulhar num universo do
imaginário. Esta atividade imaginativa é fundamental para fundar a capacidade
criativa. Autores se debruçaram sobre o b r i n c a r d a c r i a n ç a . O
psicanalista inglês Winnicott escreveu “o brincar e a realidade”, e, entre nós,
a psicanalista Sônia Carneiro Leão escreveu “brincar é coisa séria”, marcando a
importância da relação entre o brincar na infância e a saúde mental da idade
adulta. Mas, para que esse brincar p a t r o c i n e o b o m desenvolvimento,
ele tem que ser o mais livre possível. Ou seja, é necessário que o tema, o
tempo, os retornos à realidade que continuou no entorno, tudo esteja muito livre
para a criança dirigir o faz de conta. Muitas vezes nos equivocamos promovendo
“socializações” nesta fase. As crianças até aceitam um amiguinho ou amiguinha,
mas logo se observa que elas brincam sozinhas, uma ao lado da outra. Cada uma
segue o seu próprio processo de enriquecimento pelo brincar. Isto é saudável. O
brincar a dois e a mais vai ganhando espaço, mas o brincar sozinho acompanha a
criança por toda a sua infância. Por isto, é importante que ela tenha um tempo
do não fazer n a d a . É o tempo de sua imaginação. Por outro lado, é
equivocado pensar que, pelo fato da criança deslizar com facilidade para o mundo
imaginário, ela é refém dele. Este é um campo de domínio dela. A criança, desde
os três, quatro anos, é capaz de fazer a distinção entre seu mundo de fantasia e
a realidade, portanto ela visita e sai do seu imaginário quando ela quer. E sabe
quando está num lugar ou no outro. O brincar tem mais uma função importante. Ele permanece na vida adulta como traço de humor, dando leveza às
situações. A fantasia daquele mundo de faz de conta, em medida não excessiva,
estimula as relações amorosas nas fases de 'apaixonamento'. E ainda, este
brincar conservado é indicativo de inteligência e saúde mental. Capacidade
imaginativa, imitação construtiva , mecanismo de defesa para
mitigar con itos, frustrações e traumas, emoções, sentimentos, medos, raivas,
busca de Poder, comport amentos afe tivos, aquisição da capacidade de
simbolização, o brincar é o patrocinador pelo faz de conta de toda esta
expansão. E, seguindo um princípio básico que norteia todo o nosso campo
psicológico, é a quantidade que distingue o que é o brincar a saudável tentativa
de compreensão da realidade, e o que é o brincar como a fuga da realidade, o
refúgio que uma Criança se esconde. Mas, é preciso garantir, para a criança, o
tempo de não fazer nada, o devaneio. Brincar é muito mais do que brincar.
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