Ontem
foi o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes.
Ontem 18 de maio de
2016 pensei em escrever aqui. Mas preferi deixar para hoje, o dia depois da
data. Data que tem muito mais a lamentar seu motivo. Hoje me deparei com um
dado alarmante: 76% dos pedófilos do mundo, é brasileiro. Não posso garantir
este dado, mas é difícil suspeitar de uma imprecisão. O conjunto formado por
ausência de uma política pública consistente e consequente, o primeiro
indicador, seguido pelo instituto dogmático da Alienação Parental misógina, a
cultura recursal, a cultura da transgressão que tem como ícone o jeitinho, garantem
a impunidade. Este é um cenário muito favorável à pedofilia, a perversão que
deixa sequelas graves e permanentes.
O irmão do Woody Allen, cineasta de
sucesso, casado com uma enteada, acusado por uma filha natural de abuso sexual,
de lobby fortíssimo, como é a regra dos pedófilos, divulgou uma carta onde pede
desculpas pela sua omissão, pelo seu medo, pela vergonha que sente do irmão. Durante
este tempo em que sua sobrinha vem sendo alvo de severas hostilidades, se
manteve calado, mas agora, ao ver mais uma vez a impunidade triunfando, confirma
o que a ela disse.
Um Juiz, em nossa Federação, absolve um
delegado de polícia que havia estuprado sua própria neta de 16 anos.
Justificativa: consentimento dela. Não se sabe como um juiz de Vara de Família
desconhece que não é possível entender como consentimento um congelamento
diante do avô, a ascendência afetiva e de autoridade, ainda mais sendo um policial,
e que termina por ordenar que o que ali se passou, fica ali, nada se fala. Ela
obedeceu. Mas tempos depois foi encontrada com uma arma na mão que apontava
para sua própria cabeça. Neste momento último de vida, ela acabou por revelar o
que a atormentava a ponto de preferir a morte. Mas, o Juiz absolve porque ela
consentiu. Consentiu? Quando é adolescente este argumento para sentenciar a
favor do pedófilo. O que acha o Juiz do comportamento de um homem que tem
relação sexual com a neta? É homem, então é normal? Ou foi ela que o seduziu? Coitadinho!
E se é criança que relata um abuso intrafamiliar é logo taxado de mentira, fantasia,
construção cognitiva, falsa memória implantada pela mãe histérica, é sempre
Alienação Parental. O machismo entranhado nestas posições, agora protagonizadas
pela Alienação Parental, vem matando a alma de nossas crianças e adolescentes.
Uma jovem de menos de 30 anos recebeu a
autorização para o procedimento de eutanásia. Ela tinha sido estuprada dos 05
aos 15 anos. Esta repetição do estupro intrafamiliar por toda a sua infância e
adolescência deixou nela a tatuagem infeccionada em sua alma. Sofria de
estresse pós-traumático, de anorexia severa, de depressão crônica e de
alucinações. Todas, doenças e distúrbios causados pelos 10 anos de estupro. Uma
junta médica fez 03 avaliações e constatou que ela estava em pleno uso de suas
faculdades mentais. A dor diuturna
profunda e silenciosa que desenhava seu sofrimento na deformação do corpo pela
anorexia, que sentia a tristeza do holocausto subjetivo, e que alucinava
retornando à cena da opressão dos abusos, foi insuportável durante toda a sua
curta vida. Exatamente o que temos afirmado há anos pela experiência clínica
com inúmeros sobreviventes do incesto e do abuso intrafamiliar. A dor
psicológica, pela primeira vez, foi dimensionada respeitando-se os limites
humanos, e foi reconhecida pelos médicos como tão insuportável quanto uma dor
neoplásica de um paciente terminal que fundamenta as autorizações deste
procedimento nos países em países onde a eutanásia é legalizada.
E hoje, depois da “Data”, qual o combate
que estamos praticando? O cartaz do Disque 100 da SDH diz: QUEM NÃO DENUNCIA, TAMBEM VIOLENTA.
Já
ouvi muita gente desabafar: “mas para que denunciar se o abuso tem que ser
provado e não acontece nada com o abusador”.
Na Cegueira Deliberada que vigora, logo no início do processo, o Abuso é
transformado em Alienação Parental.
Precisamos ter escuta para esta dor
psicológica. Torcemos para que a sensibilidade e a responsabilidade, de todos,
cuidem destes sobreviventes da tortura do abuso sexual. Nosso tributo à menina
que nos mostrou com a vida a dimensão insuportável desta dor.
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