CRIANÇA
e FEMINICÍDIO
O Dia de Enfrentamento da Violência contra
a Mulher é marcado no 25 de novembro. Há a Marcha das Mariposas, em referência
às duas irmãs na República Dominicana que foram torturadas até a morte por
ordem do ditador da época porque combatiam a violência contra as mulheres. É um
tempo de Ativismo. Muitos números, muita expectativa de Políticas Públicas
efetivas. O desejo e a esperança de mudança deste comportamento de opressão
contra as mulheres. E, por conseguinte, contra crianças.
Não estou aqui romanciando o amor de mãe,
a bela maternidade. Mas o fato da mulher/mãe se profissionalizar, se tornar
indivíduo na sociedade civil, não quer dizer que ela passe a ser igualada ao
homem/pai. São funções distintas, ambas necessárias para o bom desenvolvimento
da criança. O vínculo afetivo materno é visceral. O vínculo afetivo paterno é
construído, sendo iniciado pela mediação da mãe. Vínculo não deve ser
confundido com convivência. Vínculo é afeto sentido que se acumula a cada dia,
por cuidados responsáveis recebidos. Não se “esquece” um vínculo. Ele só
adormece se não é alimentado nem à distância.
É possível haver substituições parciais,
temporárias ou permanentes, tanto da função materna quanto da função paterna.
Função também é distinta de título, de papel. A função, portanto, pode e, é,
exercida por outras pessoas mesmo quando aquele não se afastou. Os professores
e professoras são, frequentemente, colocados na função paterna e materna. A mãe
também pode exercer a função paterna. Um avô também pode exercer esta função. E
assim as pessoas são liberadas até para morrer. Erro pensar que um pai
biológico tem o direito à visita quando ele rasgou sua função de pai ao agredir
a mãe ou a própria criança. E que este “direito” é indispensável para a criança.
Muito pelo contrário. A criança necessita de um período para que sua mente
busque se regenerar de um ferimento de presença numa violência física contra
sua mãe ou de uma violência sexual contra ela mesma.
O 25 de novembro trouxe um número
alarmante. Refiro-me ao possível verdadeiro número. Como se não bastasse que
nos últimos 5 dias foram noticiados 5 feminicídios, temos mais 1.230.000, um milhão
duzentos e trinta mil, ocorrências de mulheres vítimas de violência, atendidas
pelo SUS. Só pelo SUS.
- Considerando que a subnotificação é em
torno de 1 ou 2 para cada 10 casos, temos um número alarmante,
-
Considerando que 2/3, em torno de 66,66% das mulheres/mães tem entre 2 e 3
filhos,
- Considerando que em 90% dos casos o
agressor é um ex, ou atual, (assim se auto-define),
- Considerando que, como é tipificado, doméstico,
estes crimes ocorrem no cenário interno dos lares,
- Considerando a existência das 2 Leis, a Lei Maria da Penha e a Lei do
Feminicídio,
URGE
A IMPLANTAÇÃO EFETIVA, EFICAZ E PERMANENTE DE UMA POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO,
QUE TRAGA O RESPEITO À LEI COMO CULTURA.
Não podemos nos enganar com dia disso ou
dia daquilo. Não podemos nos enganar com promessas de caça a votos. Não podemos
nos enganar com campanhas pontuais só para embaçar os olhos de todos. Não
podemos permitir que o Estado sonegue os Relatórios Trimestrais para as
Instituições Internacionais, como tem ocorrido. Não se calar é fundamental, mas
não tem sido suficiente. Há conivências com crimes para todo lado. Ignorância, preguiça,
insensibilidade, intencionalidade, troca de favores, e recebimento de dinheiro,
alimentam esta cadeia de perversidade.
A violência contra a mulher/mãe, que tem
caminhos seculares, assume várias formas. Mas, as mais perniciosas são 6. Você
sabe quais são? Sugiro que tente fazer este exercício. Tente responder quais
são estas 6 formas.
Números: mais de 500 mulheres agredidas
por HORA no Brasil. De 122 Feminicídios apenas 5 mulheres haviam feito BO
anterior ao seu assassinato, (4%). Entre janeiro e agosto de 2018, no RJ, foram
15.000 pedidos de medidas protetivas de emergência, e até dezembro do mesmo ano
foram 71 Feminicídios, em torno de 6 por mês.
O Feminicídio ocorre, em sua grande
maioria, na presença das crianças, filhos do ex/atual casal. Tomando o número das
violências físicas registrado no SUS, e fazendo uma conta simples, tomando por
base a indicação de 2 ou 3 filhos, chegamos ao número que estaria entre
1.623.600 – um milhão seiscentos e vinte e três mil e seiscentos crianças – e 2.435.400
– dois milhões quatrocentos e trinta e cinco mil e quatrocentos crianças – que
presenciaram, com os olhos e ouvidos da sequência continuada da violência lenta
e letal da mãe. O que podemos esperar destes milhões de crianças? Estamos
falando apenas do número registrado nos atendimentos do SUS para violência
física. E, se somássemos o número total de olho roxo embaixo dos óculos escuros
dentro de casa, a dor da costela quebrada sem tratamento, os hematomas
escondidos pelas roupas de mangas em pleno verão, as incontáveis quedas da
escada, a que número chegaríamos?
“Tinha 7 anos, eu lembro todos os dias do
meu pai arrastando minha mãe pelo corredor depois que ele deu 5 tiros nela”.
“Meu sobrinho tinha 10 anos e naquela
gritaria e sangue perguntava, chorando, para o pai por que ele tinha matado a mãe
dele, enquanto o pai continuava a atirar nas mulheres da família da mãe, até
que o pai apontou a arma para ele e atirou. Depois se matou.”
“Eu pedia chorando para ele não atirar
mais na minha mãe, me pendurava no braço que estava o revólver, tentando
segurar, e ele me empurrava na parede e continuava. Depois foi embora correndo
e me deixou ali. Só eu e minha mãe cheia de sangue.”
Quando crianças houvesse, deveria se
chamar maternicídio/infanticídio, ou melhor, Familicídio. É a família que é
assassinada.
P.S. A física, a
sexual, a psicológica, a moral, a patrimonial e a institucional. Ah! a
violência institucional.
Artigo publicado no Jornal Fatos &Notícias - Edição 327.
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