terça-feira, 26 de novembro de 2024
Quando começamos a pensar sobre a morte? Parte I.
Quando começamos a pensar sobre a morte? Parte I
No momento, a todo momento. Não é o começo deste pensar, é um continuar ininterrupto deste pensar. No contexto atual, em meio a uma pandemia avassaladora, a morte é pensada por vários ângulos. Todos os dias, tomamos conhecimento de quantos ela venceu, seja pela mídia, seja domesticamente, quando os números passam a ter rostos. Foi a vovó, foi o tio, foi o pai do amigo, ela vence pela falta de leito, ou pela voracidade em vencer no leito mais completo. Dramas e tragédias que nos tocam a quase todos.
Passamos por um tempo antes inimaginável. Há um inimigo mortal invisível lá fora de nossas casas que pode entrar até por mais controlado e desinfetado que seja o espaço para dentro da porta. Comportamentos estranhos, até então, são adotados, mas não há segurança de controle do inimigo invisível. As crianças imitam. Passam a lavar as mãos, usar máscaras, mas não sabem medir 1 metro e meio de distância, e não querem. Elas têm necessidade do contato físico, do aconchego. Não podemos nos esquecer que o corpo delas é usado como medida para muitas coisas, muitos conhecimentos que buscam. O seu corpo é o parâmetro que a orienta nas comparações e localizações de estímulos externos. As relações interpessoais novas são guiadas pelo tamanho do corpo, ela não vai provocar a raiva de um “grande” até ter a confiança da relação com ele. O estranho, desde que esteja dentro desta medida de tamanho, não lhe assusta. Ou seja, ela é capaz de brincar com uma criança que nunca viu, mas não se aproxima de pronto de alguém muito maior, e por isso a sedução do “doce” é tão recomendada pelas mães. Só com sedução um adulto consegue a aproximação rápida de uma criança. O estranho “grande” representa uma ameaça à sua integridade, mesmo que, para ela, não haja uma noção clara deste perigo.
Neste nosso tempo, a criança está muito exposta à ideia de morte. Excessivamente. E este excesso não tem respeitado sua fase de desenvolvimento. Apesar dos cuidados de muitas famílias para evitar sobrecargas para as crianças, é impossível que elas não se confrontem com o morrer e a morte. A sensação de um morrer da escola, dos amigos, dos prazeres dos passeios e da praia, coloca a criança em frente à ideia de morte.
Mas a noção de morte faz parte de seu desenvolvimento cognitivo e depende dele. É preciso que ela tenha adquirido a noção de irreversibilidade do objeto. E isto ocorre por volta dos 7 anos. Antes desta idade, a criança não tem a condição de pensar a morte. Uma criança pequena se equivoca quanto à conservação da matéria, que precede a noção de irreversibilidade. Esta aquisição cognitiva mudará sua ingenuidade de pensar que tudo que quebra, conserta, ou, tudo que para, volta a funcionar. Enfim, que tudo tem jeito. O experimento sobre a aquisição da noção de conservação de volume e de peso evidencia esta ainda deficiência do raciocínio da criança que só consegue lidar com uma das duas variáveis, a altura. Em frente à criança, o pesquisador lhe mostra dois recipientes de vidro: um largo e baixo, o outro fino e alto. Ele derrama uma quantidade de pérolas dentro do recipiente largo e baixo. Depois, ele derrama esta quantidade de pérolas contidas no recipiente largo e baixo no recipiente estreito e alto. Isto feito na frente da criança. Então lhe pergunta onde tem mais pérolas, ao que a criança responde que é no recipiente estreito e alto. A criança ainda não consegue raciocinar com 2 variáveis ao mesmo tempo, ou seja, altura x largura, horizontal x vertical, mesmo que ela tenha acompanhado a transferência das pérolas sem nenhum acréscimo de um recipiente para o outro. E a altura, ainda pelo parâmetro da altura de seu corpo, a variável do vetor vertical, será o único dado a ser considerado por ela.
Portanto, quando expomos uma criança à saturação precoce, como é agora a questão da morte, de um dado que ela ainda não adquiriu o recurso necessário para elaborá-lo, estamos forçando sua mente a dar uma resolução precária que pode vir a lhe custar, caso isso seja antecipado de maneira traumática. E isto acontecerá com todos os excessos precoces que por ventura lhe sejam impostos. No campo afetivo, no campo motor, no campo sexual, no campo intelectual, as exigências acima de sua capacidade de desenvolvimento, custarão caro.
Para a criança, o fechar os olhos é equivalente ao morrer, e por isso ela fica tão agoniada quando encontra a mãe de olhos fechados, ou dormindo, e, imediatamente, abrem os olhos da mãe, puxando as pálpebras. Abrir os olhos é “viver de novo”. É o olho fechado que angustia a criança pequena, como se esta fosse a representação do morrer.
Há uma equivalência desta representação com um costume de um povo nativo brasileiro. Os indígenas pintam dois círculos abaixo, no ângulo do rosto que representa os olhos abertos. Assim, se a morte vier buscar durante a noite, enquanto dorme, a morte será enganada porque verá o “olho aberto” o círculo pintado.
Pelo mistério que envolve esta que é a única verdade humana inabalável, ao mesmo tempo em que nunca vista pelo próprio mortal, a morte está em tentativas figurativas sempre em tom de maldade, de crueldade, de violência determinada, sem rosto, com sua característica foice que parece representar o momento em que corta a cabeça de quem veio buscar. Não há representação do aspecto natural.
Criptomnésia, Criptografia, Criptomoeda e Criptonita. Parte II
Criptomnésia, Criptografia, Criptomoeda e Criptonita.
Parte II
“Criança mente, mente, mente!” Frase de quem não estudou o desenvolvimento cognitivo na infância. Frase repetida à exaustão para desqualificar a voz da criança que aponta seu violador incestuoso. Frase que formata o alicerce da falácia da alienação parental, garantindo a proteção dos predadores sexuais de criança.
A criança que relata cenas sexuais em que era partícipe, com detalhes, expressando emoções, constrangimento, irritação, raiva, e medo, sempre medo, está tendo um fenômeno de criptomnésia. Parece que a criptomnésia é detentora de uma dimensão que atinge vários sistemas na criança. Não basta relatar com palavras o que foi “introduzido” na mente por um adulto “alienador”, no caso pela “mãe alienadora”, porquanto essa é a incrível maioria, talvez a totalidade, dos casos. Segundo registros de casos, (apenas compilação de números), de mães que estão em processo de perda de guarda ou que já perderam e estão “alienadas” d o filho vítima, 100% dos casos de denúncia de comportamentos de lascívia perpetrados pelos genitores, esses genitores usam como defesa a lei de alienação parental, revirando para a mãe a questão que passa a ser tratado como simples “conflito familiar”, esvaziando, assim, o crime cometido.
A criança que comunica uma violência sexual sofrida por parte do genitor, é sempre desacreditada. Afinal, criança mente, mente, mente. O que não se explica é como a genial mãe alienadora faz com que a criança além de relatar com detalhes que evidenciam a vivência porque elementos estão em incoerência em relação a seu estágio de desenvolvimento cognitivo, impossível de acontecer. Mas a superdotada mãe alienadora, além de produzir na mente da criança esse relato com palavras que expõem um conhecimento ainda não alcançado, ela produz, não se sabe como, a reprodução espontânea, em desenhos, cenas de atos sexuais, com a nomeação das figuras das cenas. Essa proeza da mãe gênio não é explicada por defensores desse termo alienação parental. Além de desenhar cenas onde se vê com clareza o medo, a opressão, a dominação assustadora, da figura apontada como o genitor sobre a criança, é frequente a encenação com os bonecos no faz de conta que, pela nitidez, se torna também uma comunicação que deveria ser considerada pela técnica da Escuta.
No entanto, continuamos a nos deparar com juristas que insistem em promover uma defesa dogmática da existência dessa invenção de um médico pedófilo que era adepto da pedofilia, como escreveu em seus livros. Ele, o guru da alienação parental, afirmava que as atividades sexuais entre adultos e crianças são benéficas, e que é a reação draconiana, (termo usado por ele), da sociedade que traz o trauma, e não a manipulação sexual do corpo infantil. Mesmo assim há quem tente atestar a existência da alienação, termo sem comprovação científica, sem se dar conta que os comportamentos de ressentimento, de raiva, pela frustração de um projeto de vida a dois que acabou, comportamentos que são comuns aos dois ex-cônjuges. A manipulação, a mentira, a injúria, buscando a culpabilização pelo término da relação são comportamentos tanto mais frequentes quanto mais imaturos são as pessoas frustradas. Hoje temos o Feminicídio que enchem os noticiários tendo como motivo a frase repetida: “ele não se conformou com o término do relacionamento.”
Quando encontramos um discurso jurídico discorrendo sobre a Criptomnésia da criança que denuncia seu violador intrafamiliar, nos perguntamos: por que? Por que atacar a criança que, com esforço, quebra o pacto do segredo estabelecido pelo seu agressor? Por que dizer que toda mulher/mãe que denuncia um estupro de vulnerável é louca, é desequilibrada, é inconformada com o final da relação, é interesseira em dinheiro? Por que inverter as posições e colocar o genitor, suspeito ou confirmado, no lugar de vítima dessa mulher/mãe e dessa criança? Curioso que muitas vezes o ex-casal administrava o compartilhamento da convivência e aquela mãe só passa a ser “alienadora” quando a criança relata os abusos que sofre. Então a mãe, até então sem essa acusação, imediatamente, vira alienadora de alta periculosidade.
O prefixo grego, cripto, aponta em comum para um oculto, um falso. E, considerando a Criptonita, um mineral extraterrestre, aquilo que contém uma arma contra o Poder do Super Homem. Assim também, na alegação infundada da criptomnésia, mas difundida como última moda, é uma arma que esvazia o Poder da Voz da Criança. Para isso ser bem completado, temos o segredo de justiça, que protege o criminoso, porque a criança fica exposta em seu círculo escolar e social como aquela que a mãe fez uma coisa muito grave para que o juiz a proibisse de estar com o filho ou filha nas comemorações, nas festinhas dos amigos, nas atividades escolares, nas fotos. Essa criança não é protegida pelo tal segredo de justiça. Nem sua mãe. O genitor criminoso, sim.
A Criptomnésia acusatória à criança parece ser uma projeção, mecanismo de defesa do ego, que explica como a mente lança mão daquilo que pratica para se livrar da responsabilização, e cola no outro. A vítima é que é tem culpa e dolo. A acusação de Criptomnésia é uma verdadeira criptomnésia de quem a defende. Uma retórica bumerangue, jogado para acertar o pescoço da criança que denuncia.
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Criptomnésia, Criptografia, Criptomoeda, Criptonita. Parte I
Criptomnésia, Criptografia, Criptomoeda, Criptonita.
Parte I
O que esses termos têm em comum? Pela etimologia das palavras, todos têm o prefixo “cripto”, do grego kruptós, que significa oculto, escondido, secreto. Temos aí uma pista do que une esses termos: a alusão a algo que está escondido.
As Cripto moedas são a própria ocultação. Uma invenção virtual que tem um código secreto para cada transação feita. É um esquema monetário, que rapidamente se espalhou pelo mundo, com tramitações e investimentos num mundo paralelo que prescinde, totalmente de um mínimo de concretude. O oculto dessas moedas vale como a garantia absoluta do secreto.
O mundo virtual escrito também é garantido, absolutamente, pela existência, do início ao final de qualquer mensagem, pela criptografia. Vivemos um tempo em que o segredo, o oculto, é mais importante que o real.
A Criptonita: mineral ficcional de origem extraterrestre e com propriedades tóxicas que enfraquecem a personagem do Super homem. A pedra verde nessa ficção que atravessa várias gerações, sorve os poderes extraordinários da personagem que encanta as Crianças com suas proezas que habitam o imaginário onipotente infantil. Voar, vencer todos os malfeitores, e não ser descoberto, guardar o segredo da identidade, é um desejo de todas as Crianças que vivem a infância mergulhadas na ampla vulnerabilidade dessa etapa da vida.
E o que seria a Criptomnésia? É o novo apelido da tentativa de emplacar as falsas memórias nos relatos da Crianças vítimas de lascívia, de estupro de vulnerável. Como está sendo usada a Escuta Especial, Lei 13.431/2017, a voz da Criança relata, claramente, os atos lascivos incestuosos cometidos, passou a ser necessária a desqualificação da sua palavra. Então surgiu mais um termo falacioso, sem comprovação científica. Mesmo tendo sido alterada a Metodologia da Escuta Especial, desfigurada em sua premissa fundamental do acolhimento que mudou o paradigma anterior voltado para a inquirição, a perseguição de chamadas “contradições” para anular o conteúdo do relato da vítima. Um grupo obstinado em condenar mulheres à Interrupção da Maternidade, e Crianças à Privação Materna Judicial, quebraram a segurança da vítima com uma parede de espelho unilateral. Essa parede esconde pessoas, juiz, promotor, advogados e o genitor, inclusive, e o procedimento dentro da sala fica sob a direção do juiz oculto.
Não é difícil se colocar no lugar de uma Criança, que denunciou seu genitor de praticar abuso sexual em seu corpinho. E saber que esta pessoa que ela apontou como um violador está ali atrás junto com o juiz, que na sua inocência infantil é a maior autoridade, aquele que prende quem faz coisa errada. O genitor que “faz coisa errada” está junto de quem “manda em todo mundo”, e ela, a Criança, sozinha com uma examinadora desconhecida, conversa com alguém no ouvido dela, o ponto ligado ao juiz. Esta é uma maneira nada, nada, adequada de assegurar uma Criança que rompeu o escondido, rompeu o segredo, e trouxe à realidade o seu sofrimento. Uma parede de espelho, que pertencia ao modelo antigo e ineficaz da Câmara de Gesell, detona a Metodologia correta da Escuta Especial, tem como propósito o retrocesso ao modelo que foi abandonado por essa razão a instabilidade emocional que provoca. O medo é o elemento mais proeminente, e empurra a Criança para a volta ao segredo, ao oculto, ao escondido. Poderíamos apelidar de criptoabuso sexual, já que a moda é explorar a semântica e dar novos nomes, muitas vezes parecidos ou próximos, para confundir. É o caso, que já falamos, do recém lançado “Protocolo da Escuta Especializada da alienação parental”, para confundir com a Escuta Especial de vítimas de violência sexual. Especial passa a Especializada.
Mas, o que seria a Criptomnésia?
Esse termo já passeia por linhas de sentenças judiciais. Afirmado como um “fenômeno psicológico”, que não é, aparece para dar vulto à frase alardeada pela “perita expert”, “criança mente, mente, mente”. O agente de justiça afirma, equivocadamente, que a criança fundi fantasia com realidade, misturando tudo, como se não fosse capaz de diferenciar desde os 3/4 anos o que é realidade e o que é fantasia. E escreve que a criança é mitômana, mas usa outro termo, dizendo que a criança aprende a mendácia com os adultos. Mendacidade é a capacidade de mentir, de falsificar. Assim, nada que venha da voz de uma Criança, já que fica gravado, tem qualquer validade. Extermina-se assim a dignidade da Criança.
O exercício irregular da profissão é praticado como se opinar sobre um termo sem etiologia científica fosse legal. Agora a bola da vez é a Criptomnésia das crianças que denunciam abusos sexuais intrafamiliares.
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Pai bom existe. Parte III
Pai bom existe
Parte III
Precisei interromper essa série sobre o pai por causa de um tema emergente e preocupante. Volto a ele.
Ter um bom pai é um privilégio. E cada vez mais. O modelo das gerações anteriores caiu em desuso, com razão. A figura autoritária, distante, que não se envolvia com as questões afetivas nem as questões educativas, mas que tinha o temido cedro da punição, que cantava nos corpinhos das crianças, de todas as idades.
Evoluímos. Aprendemos que a palmada não educa, só amedronta e apresenta a Criança ao espectro da opressão, aprendemos que o afeto é um alimento tão importante para o desenvolvimento quanto o nutriente, aprendemos que crianças não podem ser tratadas como propriedades. Na verdade, estamos ainda aprendendo, alguns de nós ainda na fase de alfabetização desse conhecimento. Ainda estamos longe do respeito à Criança.
No entanto, parece que, dialeticamente, escorregamos para o outro extremo e houve uma grande intervenção ao exercício da paternidade. E nos arvoramos a ensinar os homens a se tornarem pais. Como se fosse possível. Não há manual de instrução para ensinar a ser pai. Palavras não dão uma habilitação porque a função pai é sentida, é empática, é um afeto responsável.
Da mesma maneira que o filhote humano, necessitando de, além de uma mãe, um pai, não tem o dom da palavra, mas se comunica, a função pai também prescinde da palavra em seu alicerce. Ela é estruturada intuitivamente, embebida em emoção e afeto para assegurar a confiança de descobrir um mundo enorme, por vezes, assustador. E, enquanto anterior à linguagem, é, essencialmente, não verbal.
O que vemos, contudo, é uma proliferação de instruções e de afirmações preconceituadas, porquanto descoladas da função que é única porque experimentada por uma dupla, pai-filho, que é única. Cada filho tem um pai único em seu momento de vida, em sua temporalidade, em sua experiência vivida como filho, portanto, em seu contexto espaço-temporal-afetivo.
São “professores” e “professoras” que creem na escolinha de papais. Muitas vezes encontramos “escolas” que servem de cobertor para genitores que nunca se tornarão bons pais. A ilusão trazida pelo prazer em se sentir o “dono de um saber” proporciona essa proliferação de técnicos que distribuem mandamentos de paternidade, pretensa, acreditando no maior empoderamento masculino em detrimento da desvalorização feminina.
Como se fosse uma competição, os exageros levam a distorções que minimizam a função materna, dispensando até o cumprimento de fases como a do aleitamento natural. Em nome de uma ilação que prescreve uma importância exacerbada à presença da figura do pai, incluindo a obrigatoriedade de uma convivência pai-filho muito acima da sua possibilidade afetiva, atropelando seu processo natural de se paternalizar. O que não é considerado é que nem sempre, ou melhor, quase nunca a judicialização dos afetos e emoções não dá certo. Muito pelo contrário, ela vem para privilegiar o Poder de quem deveria cumprir o compromisso com a Proteção dos pequenos vulneráveis.
A falácia de que essa obrigação de um “gostar” da Criança pelo seu pai é um “direito da criança”, é o desvirtuamento do propósito da Proteção dela. Serve para garantir o acesso de pais delituosos e criminosas a suas presas, seus filhos. É, claramente, a garantia do Direito do adulto, do genitor, quando não se respeita a necessidade de restauração psíquica da Criança. Não se obriga ninguém a gostar de outra pessoa, e diria ingênuo e ignorante do lado psicológico a crença de que obrigando a Criança vai “amar” um pai que a maltratou. Sabemos que essa crença faz parte do equívoco nocivo de que a mãe manda a Criança rejeitar o genitor e introduz um chip em seu cérebro com lembranças que não aconteceram.
Não podemos esquecer que o bom pai não atacará a mãe de seus filhos, mesmo que ele tenha queixas e raivas dela. Bom pai não tira a mãe do filho da vida dele.
Pai bom, existe sim.
Abuso sexual incestuoso acabou, a pá de cal da justiça. Parte V
Abuso sexual incestuoso acabou, a pá de cal da justiça.
Parte V
A barbárie segue. Lembram aquele menino que foi arrancado do seio da mãe, que foi espancada, algemada mesmo tendo tido o cotovelo fraturado por agentes policiais? Já tem mais de 2 meses e nenhuma notícia do menininho, que está diagnosticado no espectro autista. Isso seria sequestro do Estado? Quando uma mãe foge para se proteger e/ou proteger o filho/filha, é chamada de sequestradora e responde pelo crime de sequestro de incapaz. Nunca vi nenhum pedido de resgate nesses “sequestros maternos” para proteção do incapaz. Mas nesse caso em pauta, por similaridade, caberia ser denominado de sequestro do Estado de um incapaz? Dependente ainda do aleitamento materno, seria uma ruptura traumática de seu desenvolvimento já comprometido pelo autismo, trauma causado pelo desmame abrupto em meio à violência contra sua mãe? Poderia ser considerado como maus-tratos?
Faço muitas perguntas, algumas que nem ouso escrever pela perspectiva de represália, porque não tenho inteligência, nem conhecimento técnico suficiente diante de tantas incongruências infundadas, mas dogmáticas, que estão sempre a serviço de outrem, não da Criança.
Decisão judicial que determina Medida Protetiva para a Mulher por prazo de 30 dias não renováveis. Sim. E os pedidos para Crianças espancadas ou, comprovadamente, estupradas, são sempre negadas ou cassadas se outra Vara tiver concedido. Criança não deve ser protegida de um predador quando ele é intrafamiliar. O calo social dita que pai é pai e tem todos os Direitos sobre suas presas domésticas. E, assim, sob os auspícios do sistema que deveria proteger, crianças e Mulheres são expostas à violência, de variadas formas.
E, para completar o horror, encontramos em decisões judiciais, além do prazo de validade curto, como se a violência fosse desaparecer, magicamente, em 30 dias, a autorização do uso da força policial, se necessário, em determinações de busca e apreensão de Criança. Deveria ser denominada de busca e prisão de Criança, porque é assim que essas ações são vivenciadas pela Criança. A polícia invade a casa onde ela mora, ou a escola onde estuda e a carrega à força, sob a alegação de que está se debatendo porque a mãe é alienadora e lavou seu cérebro com “rejeições” àquele genitor. Como se toda Criança, que queixa de abusos físicos ou sexuais sofridos dentro da família, fosse um fantoche abobalhado da mãe.
Como lavar o cérebro da Criança, que ainda não adquiriu a linguagem, a tal ponto que a Criança se torna capaz de encenar uma dramatização da mais alta qualidade se não fora um fato vivido? Assistimos tantas vezes essa crença determinar a perda da guarda e o afastamento da mãe com a entrega da Criança ao genitor que ela aponta como sendo o seu predador. A alienação da mãe é permitida e recomendada como se fosse um dogma de uma seita. Essa não faz mal à Criança, mesmo que venha com busca e apreensão, com o uso da força policial contra a mãe, com o desmame traumático de um bebê.
A mim me parece deveras estranho uma ação de busca e apreensão de uma Criança. Não é um carro alienado, não é um pen-drive ou um HD de registro de transações ilegais, não é uma gaveta de documentos em papel para executar crime de falsificação. Uma Criança não é um objeto, não é uma prova a ser juntada em processo que irá para o Ministério Público para se constituir em denúncia de crime escrito no Código Civil ou no Código Penal. Aliás, tentaram incluir no Projeto de Reforma do Código Civil, mas não conseguiram. Então, aparece essa manobra estratégica que parte de uma confusão de títulos – Lei da Escuta Especial da Criança e Protocolo da Escuta Especializada – confusão proposital para afirmar depois que é a mesma coisa. A primeira se refere à Criança Vítima e Criança Testemunha de Abuso Sexual, foi estudada e fundamentada na Teoria e explícita na Metodologia, já está sendo desvirtuada com uma confusão, também proposital, que compõe uma versão disfarçada do antigo procedimento do Depoimento Sem Dano, onde havia uma parede de espelho que dava lugar a Juiz, Promotor, advogados, e, pasmem, o acusado de ser o abusador da Criança, que era informada e já estava, devidamente, intimidada por esse agressor. Claro. Esse método traiçoeiro para a vítima foi abandonado exatamente por esse motivo, a intimidação e a insegurança vivida pelo saber e não ver. Enquanto o Protocolo da Escuta Especializada parte, preconceituosamente, do princípio da existência do termo não científico da alienação parental. Já surgiu a “EAP”, Escala de Alienação Parental, publicação divulgada que propõe ajudar à detecção do dogma da alienação parental da mãe. Essa tal escala deve incluir, a família extensa, os profissionais da escola e até psicólogos que atendam a Criança. Ou seja, em se tratando desse dogma de alienação, a invasão ao princípio da confidencialidade, pilar da terapia psicológica, pode ser ferido. Ética? Talvez se apoiem no equívoco que Criança não deve ser levada tão a sério e não merece sigilo profissional.
Quando vamos aprender a Respeitar a Criança? O que estamos fazendo da sua Dignidade, prevista em Lei.
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Abuso sexual incestuoso acabou, a pá de cal da justiça. Parte IV
Abuso sexual incestuoso acabou, a pá de cal da justiça.
Parte IV
Herodes vive.
Quem imaginaria que o talentoso e divertido P. Diddy Combs era essa pessoa que carrega mais de 120 acusações de assédios e abusos sexuais, praticados com grandeza e sofisticação em suas “festas brancas”? Estupros, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, chantagens com gravações de cenas pornográficas de pessoas públicas, tudo permeado e mergulhado no singelo branco obrigatório. Branco da pureza, da paz. Por acaso que o Diddy fazia essa exigência obedecida por todos? Pureza e Paz estavam simbolizadas pelo Dinheiro e Poder.
Entre nós temos vários Diddys. Em versões também criativas e perversas, mas tropicais. Por vezes, tenho a impressão de que eles se multiplicam e germinam espontaneamente. Juntam-se aos ativos, aos fiéis ortodoxos, os omissos que engrossam as fileiras das milícias psicológicas.
Conselho Nacional de Direitos de Crianças e Adolescentes, (CONANDA), Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, Ministério da Mulher, Defensoria Pública da União, (DPU), Conselho Federal de Psicologia, Conselho Federal de Serviço Social, Conselho Nacional de Saúde, Centro Especializado para a Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, NUDEM-SP, Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, (Campanha Faça Bonito), e no âmbito internacional a Resolução do CEDAW, a CIDH-OEA e a ONU, apontando altos índices de corrupção no sistema de justiça, e se posicionando pela Revogação da lei de alienação parental. E, na 83ª Reunião Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos Humanos, há poucos dias, foi aprovada a Resolução pela Revogação da lei de alienação parental. Nada adianta. A distorção de conceitos psicológicos, consagrados e reconhecidos pela Academia desse Conhecimento, são desconsiderados, ignorados, para garantir, com essa distorção, a desresponsabilização de predadores.
Mas, apesar desse parágrafo de Instituições sérias repudiando a lei de alienação parental, surge o “Protocolo da Escuta Especializada da lei de alienação parental”. Através da estratégia de confundir, propositalmente, a nomenclatura para “familiarizar” é usada. Além desse título, surgiu um livro que parece copiado do já existente, sobre a invisibilidade de crianças e mulheres, uma excelente ferramenta de conhecimento sobre a perversidade dessa lei. O lobby é muito forte, muito articulado em todos os Poderes, e segue impávido destruindo Mulheres e Crianças, atacando mortalmente o Direito à Maternidade.
É repugnante assistir os malabarismos para tornar dogmas, afirmações vazias de fundamentação teórica e até de bom senso, proferidos por juristas e agentes de justiça. Mas o Poder sustenta e massacra mulheres e crianças que ousam denunciar as várias formas de violência sofridas. Até aquelas violências físicas e sexuais, com materialidade constatada pelo órgão público médico-legal, são ignoradas para acobertar criminosos domésticos.
Crianças arrancadas do seio da mãe, literalmente, para serem entregues ao genitor que desaparece sob os auspícios da justiça e de seus representantes. Surdez total diante do desespero de uma Criança que repete 86 vezes que não quer ver o pai porque ele mexe no bumbum dele e dói muito, entrando numa crise de ansiedade e angústia, sentado na calçada, tendo precisado ser socorrido por ambulância, ou aquele menino que saía da “visita assistida” direto para o hospital pela crise nervosa com descontrole total dos esfíncteres, acompanhado de vômitos convulsivos. Todos eles foram olhados pela justiça como vítimas de alienação parental da mãe, e foram, violentamente, obrigados à convivência com aquele que eles apontam como seu bárbaro algoz. Como se essas mães e as outras, fossem capazes de produzir uma tarefa impossível, fossem capazes de montar falsas memórias, o que, aliás, não existe na infância. A memória da Criança está atrelada ao desenvolvimento cognitivo que é concreto até os 11 anos. A Criança só memoriza o que vivenciou, concretamente, pela sua percepção.
As práticas processuais nos mostram juristas, advogados, operadores de justiça, todos não psicólogos, fazendo e sentenciando em verdadeiros terrenos psicológicos. Trazem teses desconhecidas pelos profissionais dessa área, afirmam patologias, caminham em linha sem fundamentação teórica, mas exibindo uma empáfia assustadora. São pequenas amostras de exercício ilegal da profissão. Tudo vale para atacar a maternidade.
Quando nos debruçamos sobre a tentativa de compreensão desse comportamento de violência contra a mulher, nos deparamos com a constatação de ódio expelido, visando uma espécie de extermínio em vida.
Por que a Câmara retirou da pauta, em outubro de 2022, o endurecimento das penas para pedófilos? E, colocou em pauta, na mesma ocasião, os jogos de azar eletrônicos. Hoje, um ano depois, já temos evidências incontestáveis que uns crescem em número e em perversidade, enquanto os outros estão produzindo um endividamento colossal de uma enorme parcela da população. E respondemos validando ainda mais a lei de alienação parental, essa lei emboscada que é mias uma forma de violência contra a criança e a Mulher.
E, sempre que falamos de violência contra a Criança, ficar sem mãe, taxada de “alienadora”, é uma violência inscrita na Constituição. Mas, constituição? ECA? Bom senso? O que são essas coisas em extinção?
Herodes vive, sim.
sábado, 5 de outubro de 2024
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça. Parte III
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça.
Parte III
Sabe-se da riqueza que envolve a comercialização e a judicialização do abuso sexual incestuoso. Um vídeo pornográfico de estupro de bebê é vendido por 50, 70, 80 mil na deepweb, sem maiores dificuldades, nem para o vendedor, nem para o consumidor. Vale ressaltar que é uma nova forma de exploração do trabalho escravo infantil. E sexual. Um laudo pericial também pode custar os mesmos valores, sem maiores problemas nem para o contratante, nem para a contratada, que não precisa gastar tempo com horário marcado porque grande parte desses laudos afirmando que não houve abuso sexual, que todos eram “atos de alienação parental” da mãe, não houve nenhum contato da profissional com a mãe e a criança. São os laudos à distância. Por vezes escapa um erro grave, a descrição de uma prole de 3 filhos, com nomes e idades, quando na realidade a criança é filha única. Mas, claro, que isso é uma bobagem, compreendida, perfeitamente, pelo juízo, dito como um erro de digitação. Nomes e idades de irmãos inexistentes, foi apenas uma digitação erradinha. Se não precisa conhecer nem a criança vítima e sua mãe, que mal haveria em dar existência a inexistentes? Desde que diga que a mãe é alienadora, está tudo certo.
A confusão na nomenclatura do título do protocolo que surge, super célere, não seria por ignorância da existência do Protocolo da Escuta Especial da Criança Vítima e Criança Testemunha de Abuso Sexual. É lei desde 2017, e quem trabalha nessa área já “ouviu falar”, pelo menos. Atropela com um título de “protocolo de escuta especializada de alienação parental” a difícil, pela resistência e pelo negacionismo da existência de abuso sexual incestuoso. Parece-me que da nomenclatura ao conteúdo que valida um termo sem comprovação científica, essa confusão de línguas, conceito psicanalítico nomeado e estudado por Ferenczi, é uma evidência de um desvio de propósito. Pegando carona no que já é um entendimento cuidadoso da importância desse relato, o novo protocolo copia e distorce elementos psicológicos traumáticos para desviar o foco para a mãe, a culpada, a louca, a desequilibrada, a ressentida, a interesseira. A função materna é bombardeada para fragmentar a força dela ao defender sua cria. A desqualificação da palavra da criança é selada. “Não se deve levar a criança tão a sério” afirma a professora de alienação parental em vídeo publicado por ela mesma.
São evidências da depreciação severa de crianças e mulheres/mães. O ódio pela maternidade, e a violência para atacá-la, detonam a criança e sua mãe. As 6 principais formas de violência oferecem um cardápio que enche os noticiários de feminicídios, o pico da escala. Mas não há muita organização nem escalonamento. O Feminicídio pode ser uma das primeiras manifestações da violência. E com a desvalorização da palavra da mulher, se ela pede proteção, isso pode, rapidamente, ser interpretado como exagero, se tiver filhos, é alienação parental. E ninguém tem notícias dessas crianças depois de assistirem a mãe ser assassinada a facadas, por exemplo, afinal o segredo de justiça é seguido à risca, e não há nenhum comprometimento do Estado em acompanhar, com qualidade, essas crianças tão cruelmente traumatizadas. Crianças importam?
Vivemos um tempo de palavras ao vento. Não é preciso que tenham fundamento. Ciência e seus Métodos? Caíram bastante. Então copiar/colar, como no caso acima, para promover a confusão, tornou-se corrente. Estudos apontam para a incidência de 1 abuso sexual contra a criança a cada 8 minutos, e 1 estupro de mulher a cada 6 horas. Esses resultados se referem ao que chega às delegacias especializadas, sabendo-se que a subnotificação é da ordem de 1 caso notificado e 7 não notificados. O medo, a vergonha, a rejeição social, a vulnerabilidade criada pela denúncia, são algumas das razões que impedem as notificações.
Quando penso nas pessoas que se prestam a montar estratégias de milícias psicológicas, sem se importar com a regra teórica ou, até o bom senso, me pergunto se não se preocupam com o que estão praticando. Mas se considerarmos que inventamos uma “profissão” que dita regras, opiniões, que pode lacrar algo ou alguém, ou inflar de vento algo ou alguém, e as pessoas se orgulham em dizer que são “seguidoras”, o que há alguns anos era chamado de “maria vai com as outras”, temos a constatação do esvaziamento da verdade científica e da seriedade.
A expertise da manipulação da sociedade, por palavras faladas como verdades absolutas, faz com que as apostas dos cassinos eletrônicos, bet, bet, bet, por exemplo, assim como os abusos sexuais incestuosos, tenham explodido em números. Similar à subnotificação, 1 em cada 6 reais do dinheiro assistencial é gasto em jogo eletrônico de apostas. Há um endividamento imenso de uma parte da população, o vício do jogo camuflado em brincadeirinha. Similar também na lei em vigor, os jogos de azar são proibidos no país. Assim como os abusos sexuais contra crianças, também proibidos. Mas há uma espécie de legalização camuflada que acoberta essas duas misérias humanas.
É a pá de cal que todos, todos, estamos jogando.
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça. Parte II
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça.
Parte II
Por que será que o negacionismo da pedofilia é tão bem garantido? Tudo tem indicado que há um Projeto de Naturalização, em marcha, dessa prática. Só há alienação parental sem cientificidade, sem estudos, penalizando mulheres e crianças, desproporcionalmente, em perspectiva de futuros prejuízos, não comprovados, posto que não é possível afirmar danos atuais na criança. Mas, essas mulheres são tratadas no presente como sendo de alta periculosidade. Não estamos minimizando os efeitos da violência psicológica numa mente em formação. Estamos falando da evidente discrepância entre a forma de violência que é classificada, junto com a violência física, tipificadas por cientistas como o impacto de extremo estresse, que, seguindo seus estudos e pesquisas, apontam para sequelas neurológicas, quase sempre severas, que afetam estruturas e funções cerebrais, doenças psiquiátricas, e invalidez social. Essas duas formas de violência contra a criança são contiguas pela impotência vivenciada por imposição, impotência no mais alto grau. Um adulto espancando uma criança ou abusando sexualmente dela, não há como impedi-lo.
O Protocolo de Escuta Especializada de alienação parental está a serviço do estabelecimento da tutela total da mulher. Parece que há um projeto de Distopia, com a tônica na opressão de vulneráveis mulheres/mães e crianças, que apraz os pretensos, e hoje contemplados, “Donos do Poder”. Fundamentalistas, não se importam com o desumano que promovem, obstruindo, por exemplo, o processo de maternidade em mães e filhos. A lei de alienação parental suplanta a garantia das mulheres homicidas de pagarem sua pena em prisão domiciliar por causa dos filhos menores de 12 anos. A lei de alienação parental promove a privação materna, não permite que a mãe taxada de alienadora, se aproxime do filho, entregando-o aquele que é suspeito, ou comprovado, de praticar abusos sexuais com a criança. A homicida pode criar o filho e a mãe com a alcunha de alienadora não pode? Onde foi parar o princípio da isonomia? Todos éramos iguais perante a lei. Menos as alcunhadas de alienadoras.
O totalitarismo desumano também aparece quando uma perita judicial, serventuária, faz um vídeo criticando o que ela não aceita como atualização conceitual dos crimes sexuais contra crianças. A Justiça, a mesma a que ela serve, estabeleceu que é chamado de estupro de vulnerável todo ato libidinoso, incluindo até os atos que o abusador não toca no corpo da criança, por exemplo, se masturbar na frente da criança ou assistir a um filme pornográfico com ela, todo ato libidinoso é chamado, juridicamente, de estupro de vulnerável. Não acredito que essas pessoas não tenham tido tempo de se atualizar, de ler esse conceito jurídico atual. É negacionismo mesmo, proposital, para esconder a perversidade. E nos deparamos com uma agente da justiça que minimiza um ato de sexo oral numa criança, falando com todas as letras, em vídeo de “esclarecimento”, segundo ela, que se classificado como estupro de vulnerável é uma exagero, porque não é nada. Estupro é outra coisa, segundo a “expert”. Quando foi a Justiça que propôs e executou essa classificação. Não há limites para a onipotência de um totalitário. Ele se sente acima da lei e dos pobres mortais que são obrigados a obedecer suas regras desumanas, regidas por um princípio adverso ao do Melhor Interesse da Criança.
Um Protocolo nascido em 4 meses de um comportamento “copiar/colar” em cima de um trabalho de estudo e pesquisa de 4 anos, que já de saída ganha um apelido novo, “diretrizes”, para tentar uma diferenciação de partes que não devem continuar confusas e confundidas, Escuta Especial da criança vítima de abuso sexual, (Childhood Brasil), e Escuta Especializada de alienação parental, (GT hegemônico do CNJ), reafirmam o propósito da confusão na expectativa de angariar a confiabilidade da respeitada Instituição. Haveria outra intenção nessa confusão de títulos e de conteúdos?
Não alcanço a justificação para a legalização pelo Conselho Nacional de Justiça, o zelador da efetivação da Justiça, de um termo que já vem com a obrigatoriedade de obediência a um preconceito, “casos de alienação parental”, porquanto parte de uma afirmação preconceituosa para encobrir um crime intrafamiliar. Não consigo entender a fundamentação dessa legalização se o termo é considerado como pseudociência, ou seja, sem fundamentação científica nem comprovação. Não vai demorar a assistirmos a legalização de outros protocolos sobre termos falaciosos que pretendem, por exemplo, saber de mortos de gerações ascendentes uma “verdade” sobre o pobre genitor que só serviu de cavalo ao espírito do morto, o verdadeiro criminoso. Ou a legalização das garrafadas, que prometem curas, para doentes em CTI. Talvez até pelo método intravenoso possa ser estabelecido. Se não precisamos da Ciência, então...
O “Protocolo de Escuta Especializada de casos de alienação parental” coloca a criança e o adolescente na posição de julgadores de suas mães. Sim, responder sobre o comportamento da mãe, a tal “campanha de alienação do genitor” é julgar a mãe. Estamos falando no feminino porque essa é a realidade, seguindo os estereótipos que encarceram a mãe no lugar de louca, desequilibrada, interesseira, ressentida e vingativa. Nenhum desses adjetivos é atribuído ao genitor. Mas, são eles que executam o feminicídio, justificado pela polícia como sendo resultante de não ter se conformado com o término da relação. Apenas um ponto. Será que importa?
Esse “protocolo” defere a maior importância à violência psicológica, alçada a “coação moral” praticada contra a criança, atribuindo altíssima nocividade à falácia de alienação parental. No entanto, a violência psicológica causada pela desqualificação da palavra da criança ao relatar os atos libidinosos, não são nem tocados. Só é pernicioso quando é alegada à mãe essa “campanha”, termo inventado pelo médico pedófilo que defendia a pedofilia como benéfica ao desenvolvimento da criança. A violação do corpo da criança, não é nada, como diz aquela perita. E o órgão zelador da justiça, embarca nessa canoa? Soltam-se mentiras sobre as automutilações realizadas por crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, para punir o corpo que se tornou sujo e é rejeitado, como se fossem atos de crianças vítimas de pressões psicológicas da tal alienação, o que teórica e tecnicamente não encontra sustentação, porquanto não é o corpo o local, como nos abusos sexuais.
Estamos matando crianças e adolescentes com a Privação Materna Judicial promovida. Crianças de 7 anos de idade, abusadas e obrigadas à convivência com seu agressor, com ideação suicida, e tentando. E agora, com mais essa violência, vamos enterrá-las vivas mortas.
Herodes vive. E está sendo comemorado.
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça. Parte I
Abuso Sexual Incestuoso acabou, a pá de cal da justiça.
Parte I
Precisei fazer um intervalo no tema do pai bom. Mais uma catástrofe contra crianças e mulheres/mães. Por que tanto ódio? A tristeza é profunda. A decepção enorme, apesar de não surpreender, conheço o potencial destrutivo das milícias psicológicas. A sofisticação das manobras sórdidas é cada vez mais antecipatória.
Ocorre que hoje está sendo comemorado uma nova armadilha que carece de decência científica. Foi aprovado um “protocolo” que colocará a criança na posição de julgador de sua mãe, a “alienadora”. Comecemos por sublinhar que o termo alienação parental não pertence à Ciência, ou seja, foi inventado por um médico pedófilo que se suicidou com várias perfurações, inclusive dilacerando seu órgão genital quando teve conhecimento de que o FBI, após investigação por acusações de abusos sexuais em crianças, estava fechando a sua intimação/prisão. Entre nós, o termo inventado por ele tornou-se lei, e tem seu nome referido na justificação dessa lei. Somos o único país no mundo que mantem uma lei em cima de um termo de pseudo-ciência.
Mas, por aqui, isso não importa. Ciência e seus rigores? Para que? Os sofismas e as mentiras travestidas de certezas bastam. Fundamenta-se uma violência contra a criança e a mulher/mãe com dois palitos. A Violência Vicária habita a mente de pessoas que fazem questão de insistir em não ver a realidade. E o Estado não se nega, nem questiona nada que lhe chega como dogmático, e segue cometendo perversidades em crianças e mulheres invisibilizadas pelo instituto do segredo de justiça. A Perita Internacional Sonia Vaccaro escreveu importante obra sobre a "Violencia Vicaria, golpear donde más duele”. Mas a leitura também anda em baixa por essas bandas. Para que ler livro, artigo científico, para que? É uma evidência que, em todos os campos humanos, a mentira ganhou da verdade. E na nossa terra, mais ainda.
Há uma linha que começou na retaliação à Lei Maria da Penha, 2006, aparece, misturada com o sangue de Joanna Marcenal, a primeira vítima letal desse termo, alienação parental, a lei em 2010. Logo foi seguida pela lei da guarda compartilhada, 2012, que foi “aprimorada” em perversidade pela lei que instituiu a sua obrigatoriedade sob todas, todas, as circunstâncias, em 2015. Em 2017 colocaram a alienação parental no ECA através da lei da Escuta Especial, construída para acolher, sem revitimizar, crianças, adolescentes e testemunhas vítimas de abuso sexual. Foi plantada na nova lei que respeita a vítima e sua dor. Em 2022 estabeleceram procedimentos investigativos na modificação da lei de alienação parental, em 2023 tentaram endurecer a lei de alienação parental introduzindo-a na Reforma do Código Civil, houve uma consistente reação, órgãos nacionais e internacionais de defesa de Direitos da Criança e da Mulher gritaram e está adormecido. Acho que hibernando, só. Então formaram um “grupo de trabalho’ com pessoas de um lado só, e eis que surge esse “Protocolo de Escuta Especializada em alienação parental”. Tudo pronto, e nada do que vem sendo alertado e recomendado por órgãos internacionais e tratados importa, nem mesmo aqueles que somos signatários.
O Protocolo da lei da Escuta Especial foi deformado e travestido em escuta especializada de alienação parental. Como pode acontecer uma coisa dessas? Se não existe alienação parental cientificamente, como um Órgão Nacional de justiça escreve 52 páginas sobre uma estratégia de massacrar crianças e mulheres. Sim, massacrar, porque esse procedimento, que já nasce obrigatório e mesclado com a perspectiva de gênero, não sabemos onde entra a proteção e respeito ao gênero, portanto, irá colocar a criança como julgadora da mãe dita, preconceituosamente, “alienadora”. Nessa perspectiva proposta a criança irá fazer um julgamento e dirá se a mãe fala mal do pai ou não, simplificando.
Não me parece que seja a maneira justa com a condição de vulnerabilidade inerente à infância. É descabido pressionar a criança para que ela caguete a mãe sobre uma suposta e já afirmada pelo examinador, porquanto é de alienação parental, está no título do protocolo, portanto, já feito acusação.
Estarrecida com a celeridade desse grupo de trabalho homogêneo, que matou dois coelhos com uma só cajadada. E vai matar milhares de crianças e mulheres/mães. A condenação, sempre prévia, por alienação parental da mãe patrocina a Privação Materna Judicial. Aliás é no mínimo curioso que uma alegação feita por um homem/genitor de que a mãe está praticando alienação parental move a justiça a garantir rapidamente a entrega da criança a ele, e a afastar a mãe. A justiça pratica alienação institucional contra a mulher/mãe, por meses, anos, sem nenhuma possibilidade recursal. Cada vez que a mulher/mãe faz uma petição, isso é entendido como mais uma “prova” de alienação. É uma lei circular, que pune com o mesmo motivo do processo. Dente por dente, olho por olho. Mas, o veio de ouro permeia esse desvio de propósito.
Com este golpe de hoje, o único instrumento de Escuta Especial, tão bem estudado e fundamentado pela Childhood Brasil durante 4 anos, foi, completamente, deturpado, e colocou de novo a criança na inquirição, no Poder de julgamento, expondo-a ao abuso sexual intrafamiliar, e legalizando, mais um pouco, a violência contra a mulher.
É a celebração do desamparo das nossas crianças. A pá de cal que faltava.
Pai bom existe. Parte II
Pai bom existe.
Parte II
Como construir uma Função Pai quando não se recebeu nenhum estímulo para ser um cuidador de qualidade? Está entranhado nas profundezas de sua existência as “emoções de homem”, como deve se comportar ancorado nelas.
Sem nenhuma orientação, deve descobrir sozinho as delicadas emoções da sensibilidade, da empatia, da espera, da impotência diante do não saber a que um bebê faz mergulhar. E, começar a aprender a suportar que, após seu enorme esforço, o bebê chora e pede, claramente, o corpo da mãe para se aconchegar. Não pode, e não deve ficar ressentido com isso. Ao contrário, deve ficar contente por ter escolhido uma mãe que o bebê, seu filho, gosta tanto e onde se sente tão confortável e seguro. Esse é um processo de constituição do vínculo afetivo. Aliás, é equivocado pensar que vínculo tem relação de dependência com convívio. Podemos construir um vínculo com um pai já morto. E é saudável.
A mãe dá continuidade a um tipo de vínculo afetivo de outra ordem. Ela já se sente vinculada sem nunca ter visto o bebê. Parece que ele também. Tudo indica. É um vínculo afetivo visceral, quase concreto, e que precisa fazer uma viagem de aprendizagem da separação de corpos, que vai demandar dela um outro tipo de percepção. Para ela, parece fácil se ligar ao bebê que saiu de sua barriga. Sabemos, no entanto, que não é tão simples assim. Nem é garantida a boa vinculação sentida desde o início pelo interior de seu corpo, por suas vísceras. Mas, olhando por um certo ângulo, pode ser facilitador, assim como pode ser atrapalhador.
Por outro lado, para o pai, a formação do bom pai parece vir em branco, ele precisa juntar cores, texturas, formas. Apenas a carga ancestral de modelos congelados que obstruem essa construção afetiva podem atrapalhar. Faz-se necessário ultrapassar essas barreiras que obstruem os afetos. Permanecer encastelado em preconceitos e medos, não permite a formação de um bom pai.
A oferta de um novo colo, de uma nova sustentação aconchegante, é muito importante. Inaugura a possibilidade de experimentar variação de emoções e afetos, que, em busca, de asseguramento, enriquecendo a vida afetiva. Preciso respeitar a morosidade da aquisição da segurança afetiva dos pequenininhos. Ser um bom pai inclui, principalmente, paciência para esperar o ritmo do filho, filha. E essa espera, por muitos meses é silenciosa, silêncio só quebrado pelo choro, a resposta é quase que oculta. Não há evidência dessa construção do vínculo afetivo, há pequenos sinais, ainda instáveis.
Para além da paciência, ele precisa aprender também a não ter resposta, a não ter certeza de que está atendendo seu bebê. Não há reciprocidade consistente, e é a generosidade que lhe garante continuar nessa empreitada, como se se movimentasse no escuro em lugar novo.
Mas, parece-me que a maior dificuldade está na solidão do pai que decide ser um bom pai. Solidão porque não há manual de instrução, não há incentivo nessa viagem pelas emoções delicadas que ele precisa conhecer, perder o medo, e se deixar inundar por elas, sem se perder dele mesmo. É errado pensar, e às vezes criticar, o homem que se esforça por fazer um vínculo afetivo saudável, o que é muito variado como é variada cada dupla pi/filho/a.
A sintonia necessária é construída aos pouquinhos. O desenvolvimento psicomotor, da linguagem, cognitivo, patrocinado pelo afetivo, trará novos desafios, mostrará mais as diferenças e divergências dos olhares do pai e da mãe. A triangulação se pronunciando mais e mais, provocando mais e mais amadurecimento aos três. É lastimável quando a triangulação denuncia uma incapacidade de um dos adultos de perder uma ilusão de Poder da situação da díade, mais primitiva. Todos perdem.
Pai bom existe. Parte I
Pai bom existe.
Parte I
Sim, pai bom existe. Para além do genitor, pai bom existe. O fato de existirem tantos homens tão maus, que usam das diversas formas de violência contra a Mulher/Mãe e contra a Criança, filho ou filha, não quer dizer que todos os homens sejam agressores, pedófilos, violentos ou refinados predadores dissimulados. E, em sua maioria, dissimulados. Há homens bons. Assim como há justos na Justiça.
Agora virou moda querer ensinar pai a ser pai, com “oficinas”, “cursos”, “resoluções”, para disfarçar a gana do controle pelo Poder. Quando é a Mulher/Mãe a quem é atribuída aquela conhecida acusação, sem comprovação porque não há cientificidade, é diferente. Tratamento psiquiátrico e psicológico compulsórios com Relatórios periódicos para o Juiz ler o que está sendo tratado nas sessões com os dois profissionais. A Ética fica de fora.
Mas, voltando aos bons pais, precisamos entender as dificuldades da construção desse Conceito de Função Pai, como é chamada na Psicanálise. Pai não é um título dado em Cartório. Ele está presente na Certidão de Nascimento, mas a relação pai-filho, ou pai-filha, é uma difícil construção. É pouco acompanhar o pré-natal, ir nas ultrassonografias, escolher o nome do bebê a caminho. Claro que são etapas que oferecem as primeiras oportunidades desse tecido que pode ter muitos fios como os lençóis egípcios de algodão puro, ou pode começar como uma renda, e assim continuar ou não. A firmeza desse tecido afetivo é multifatorial.
São emoções inéditas em sucessão que descortinam lugares afetivos novos. E que não se repetem nos outros filhos que podem vir porque são edificações relacionais únicas. O pai que exerce bem essa Função, não é o mesmo pai de cada filho seu. Se a genética aponta a mesma autoria, cada filho é um indivíduo e encontra um pai em ponto único em sua linha do tempo. Portanto, uma relação pai-filho/filha pode ser facilitadora com alguma aprendizagem, pela experiência vivida, mas não garante um diploma de “já sei como é”. Não sabe. É novo.
Seguindo os primeiros passos, o homem que quer se tornar pai daquele bebê tem que buscar cada pedacinho para essa construção. São muitos os elementos necessários, indispensáveis, que ele tem que adquirir, quase todos proibitivos aos homens. Mas vamos começar por pensar na quebra da onipotência masculinista de fundo, que vem carreando o medo, a sensibilidade, a postura diante de tamanha vulnerabilidade.
Não existe instrução nem cartilha que ensine afetos puros, emoções que desconcertam, muito menos que por um decreto-lei desinstale o modelo machista/patriarcal estrutural que está em vigência há séculos e séculos, e instale uma nova configuração. Esse trabalho de reformatação é solitário, repudiado pela maioria do entorno, homens e mulheres, e só conta com um respaldo da Mulher/Mãe que permite esse acesso ao bebê vivido nesse início como “algo da mãe.” A manutenção do modelo de “pai ótimo porque troca fralda de vez em quando” é confirmado sorrateiramente.
Como deixar chegar a impotência, a sensibilidade, o choro, quando a emoção é grande? E deixar ficar. Isso é essencial para fundar a relação pai-filho/filha. Deixar ficar sem escorregar para o modelo masculino vigente que usa o pequeno poder da agressividade ou do abandono por afastamento para se livrar da angústia provocativa da impotência. Suportar o choro do bebê sem saber seu motivo, e só restar aconchegar no colo forte, distinto do colo macio da mãe. Essa complementariedade é muito favorável ao desenvolvimento do bebê, quando os dois colos são de qualidade afetiva.
Como deixar se inundar por uma sensibilidade, por uma empatia, quando isso não foi estimulado em toda a sua vida. É desbravar um deserto e não uma floresta. A paciência é fundamental. A observação curiosa conduz a caminhos de compreensão daquilo que está sendo sentido pelo bebê e que ele está falando com o corpo.
Mas, é, exatamente, da impotência paciente que nasce a responsabilidade. A Função Paterna não é um Direito. É uma responsabilidade, é um cuidado afetivo, é um Dever. Tornar-se um bom Pai não se aprende na vida adulta com instruções que focalizam os “Direitos do Pai”. É construído ao longo da Infância de um menino, que precisa ser inserido na Cultura do Cuidado ao Outro, função atribuída apenas às Mulheres. Até nas profissões, vemos o Cuidado como feminino, enquanto a Racionalidade e Chefia são masculinas.
Faz-se necessário que o Cuidado Responsável da Criança, hoje já incluído como Valor Jurídico seja uma realidade vivida pelos meninos.
O nosso Apartheid, a guerra urbana, e os efeitos psicológicos nas crianças
O nosso Apartheid, a guerra urbana, e os efeitos psicológicos nas crianças.
Há alguns dias li um texto do Dr. Siro Darlan, ótimo, sobre os prejuízos escolares das crianças nas áreas deflagradas. Prejuízos incontestáveis, escolas fechadas a cada confronto de traficantes x traficantes, traficantes x milicianos, milicianos x policiais, policiais x traficantes das 3 principais facções conhecidas, uma por vez. Similar a um “campeonato”, todo mundo joga contra todo mundo. Só que falamos de “partidas” a bala de fuzil. Não ir para a escola ou, se já estiver lá, não poder sair dela, e ter um lugar pintado no chão do corredor, onde devem se amontoar na esperança de não serem achados por um desses inúmeros tiros, por horas.
Evidente que os prejuízos na aprendizagem da escolaridade se fazem logo visíveis. Atrasos das aquisições cognitivas, defasagem de desempenho intelectual em sua faixa etária. Facilmente, comprováveis. Mas, e os prejuízos psicológicos?
A adaptação ao estresse é uma saída de defesa psíquica contra o caráter traumático dos episódios sucessivos. Banalizar, fazer de conta que não é atingido, é tanto mais danoso quanto mais insensibilidade demonstra. A aparente adaptação nada mais é que a negação do medo sentido.
Na outra ponta fica o pavor que transborda, carreando sintomas de pânico que são, muitas vezes, invalidantes. Paralisam, provocam sintomas psicossomáticos severos. E o adoecimento prolifera semelhante aos quadros da antiga “neurose de guerra’ que acometeu tantos soldados que tinham estado na guerra.
Não temos instrumentos de aferição dessas sequelas. Não temos nem mesmo a quantificação das crianças e adolescentes acometidos. E aqui, nos deparamos com a invisibilidade do Apartheid em que vivemos. Silencioso, e, também, só escutado pelas crianças que moram em comunidades/favelas, ele se instalou, e não tem previsão para acabar. Tornou-se um modus operandi das forças de segurança e das forças criminais.
É uma guerra urbana. Está sendo naturalizada porque é diuturna. Mas, silenciosa e invisível, parece que não importa ao outro lado da cidade. E como se não bastasse toda a carência e a precariedade das condições de vida dessas crianças, elas estão sendo submetidas à opressão de doenças psicológicas consequentes aos tiros, às mortes. Uma Cultura da Violência promovida por todos nós, uns por ação, outros por omissão, mas todos estão implicados.
domingo, 1 de setembro de 2024
Onde está aquele menino?
Onde está aquele menino?
Adiamos o tema referente à paternagem de qualidade porque um menino sumiu de sua mãe, em situação de violência física praticada por Agentes do Estado. Esta arbitrariedade cruel habita minha mente há mais de 3 semanas. Onde ele está?
Qual menino? Não podemos falar. São muitos meninos. O manto da invisibilidade apoiada no Segredo de Justiça impede que saibamos os números e as histórias dessas Crianças. Com o ilusório argumento de que esse segredo vai proteger a Criança. No entanto, todo o entorno dela fica sabendo. Os coleguinhas na escola perguntam se ele tem mãe, se ela morreu, ela nunca aparece, ele mora com o genitor, ela não vai aos aniversários dele. Porque ela é uma “alienadora”. É como se ela tivesse uma doença altamente contagiosa, ou uma violência de alta periculosidade. Por isso, a “alienadora” é “alienada’ pela justiça. E, isso pode? Se faz mal afastar o genitor, por que faz bem afastar a Mãe que estava buscando proteção para sua cria?
A Privação Materna Judicial é danosa. Muito. Este menino, emblemático caso, tem um quadro psicopatológico, acompanhado por diversos profissionais de várias áreas. Tem apenas 3 anos e estava mamando no peito de sua Mãe quando foi arrancado de sua segurança, de seu refúgio. Assistiu ao espancamento da mãe, fratura, luxações, hematomas, e teve um desmame traumático e de grande dimensão. Seu mundo é muito restrito em consequência da sua patologia. Mas, nada disso foi considerado.
Esse menino não tem condição emocional e nem organização cognitiva para entender o que foi feito com ele. Ele é duplamente vulnerável. É de extremo estrago mental obrigar uma Criança tão pequena, portadora de uma deficiência de compreensão de mundo, ser esmagada por uma situação incompreensível até para um adulto em plena capacidade cognitiva e social.
Ele foi empurrado num abismo sem fundo. Não possui recursos para sofrer essa dor. Ele está sendo espancado em continuidade. Se Crianças bem socializadas suportam mal mudanças bruscas, perdas de referências, não é difícil imaginar o sofrimento dessa Criança. E não se vê nenhuma preocupação com a sobrevivência psíquica do menino.
Não vou entrar pela dor da Mãe, machucada no corpo e na alma. Agora com as complicações decorrentes do desmame abrupto traumático, precisando de atendimento hospitalar por causa do “leite empedrado”, como se diz no popular. A angústia beira o insuportável. Não come, não dorme, não para de chorar. Sabe bem como deve estar o desespero de seu filho.
Não vou também trazer motivos, fatos, porque não é permitido. A quem serve esse segredo? A Criança e a Mãe se tornam alvos de severos preconceitos e estigmas sociais, e não conseguem explicar nada, porque são proibidas de falar. E, mãe e filho, seguem sendo mortos socialmente. Não raro, acontecem mortes fisiológicas também.
Quantos meninos e meninas estão mortos de suas mães. Quantos meninos e meninas morreram completamente. As Milícias Psicológicas se encarregam de justificar o injustificável. Não há justificativa possível que explique tamanha crueldade cometida pelo Estado Brasileiro. Os Agentes “aloprados”, como se auto denominaram, estavam cumprindo uma ordem que não tinha sido registrada em nenhum papel, em nenhum cartório. É assim quando se é fora da lei. A Lei da Natureza deixa claro que não se faz isso com uma Criança de 3 anos que tem uma síndrome do Espectro Autista. Nem com Crianças de diversos perfis. Com nenhuma Criança. Não se arranca uma Criança do seio da Mãe. É inumano. É sub-animal.
Tenho ouvido muitos que perguntam como essas pessoas que executam essa cascata de barbaridades, deitam a cabeça no travesseiro e dormem, tranquilamente. Sim. Dormem sim. Não sentem culpa, não se responsabilizam pelo sofrimento que causaram à Criança, esta e tantas outras, não sentem nada porque são humanos atípicos. Muito atípicos.
Quantos meninos como esse José. Quantos Bernardos, quantos Henrys, quantas Joannas, quantas Isabellas, quantas Mariahs, quantos Ians, quantos Pedros, quantos Josés? Quantos? São muitos. E não temos possibilidade de tomar conhecimento, de saber suas verdadeiras histórias. A Mãe que ousa denunciar o homem genitor, cumprindo o Artigo do ECA, é louca, ressentida, inconformada com o término do relacionamento, interesseira. A Criança que, aos prantos, relata as práticas sexuais sofridas, para a agente que se diz especializada, consta na Ata como tendo reproduzido um discurso sugestionado por “terceiros”. É a desqualificação de praxe da palavra da Criança e da Adolescente. Depois que são entregues aos seus predadores sexuais, ou agressores físicos, pela justiça, apoiada na lei de alienação parental, termo inventado por um médico americano pedófilo, há uma sucumbência psíquica. A desistência se instala nessas Crianças e Adolescentes. E a justiça não se importa mais com o que ele está passando. Não há nenhuma notícia, nenhum relatório psicológico, nada. Foi entregue a um homem. Parece que isso basta. Quando o juiz “deixar” a Mãe ver o filho, de 15/15 dias, vigiada, os relatórios reaparecem apontando “inadequação” da mãe porque ela deu um beijo a mais no filho. É a vigia que determina quantos beijos pode. E o juiz obedece à indução da vigia suspendendo a precária convivência quinzenal.
E o Princípio do Melhor Interesse da Criança? Existe? Escrito ele é muito bonito. Onde ficou nesse caso emblemático do bebê autista de 3 anos que foi, literalmente, arrancado do seu mamar? E desaparecido da Mãe.
E, onde está esse menino? Como ele está agora? O que ele está sentindo? Foi contemplado com o Princípio do Melhor Interesse da Criança? De novo a mesma coisa se repete. Só que um pouco piorada. Fico com a sensação que estou me repetindo. Mas é a barbárie que se repete.
sexta-feira, 16 de agosto de 2024
O Umbigo, a marca dada pela Mulher-Mãe, e só por ela. Parte IV
O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e só por ela.
Parte IV
Umbigo, marca banal, mas universal. Todas as etnias, todas as nacionalidades, todos os tipos de corpos, mesmo que cada corpo seja único. A marca da vida, a marca da primeira relação que alimentou para aquela célula germinada se multiplique e se desdobre em vários tipos de sistemas diferenciados. Tudo patrocinado pelo que corre no cordão umbilical que deixará sua marca permanente.
Essa conexão visceral constrói um afeto. É um fato da Natureza, que ocorre também entre animais, principalmente, entre os da categoria dos mamíferos. Esse espaço de tempo entre o embrionário e o fetal, seguido do bebê, acontece entre Mulher/Mãe e criatura que vai chegar à luz do mundo.
Quando estamos nos debruçando sobre a origem do umbigo, sobre a primeira relação física-afetiva do bebê com sua Mãe, não estamos sacralizando a Maternidade. Sabemos que a Maternidade não é compulsória, não deveria ser exercida por algumas mulheres, muito pelo contrário, temos pleno conhecimento de que existem mulheres que teria uma contraindicação redonda para exercê-la. São pessoas que não têm vocação para essa experiência afetiva.
Estamos buscando uma reflexão para encontrar indícios primários da dificuldade de reconhecer o Direito a essa experiência, pela inveja da capacidade criativa do útero. Parece-nos que há um gotejamento de incômodo em mentes que negam que já estiveram nesse lugar do bebê atual, que já foram contempladas pela plenitude dessa experiência. A Misoginia, tanto de homens quanto de mulheres, tem raízes muito profundas, que circulam entre nós sem ser percebida facilmente. O Machismo estrutural também. Tem consistência de água que vai escorrendo sem ser vista, como as infiltrações nas paredes de nossas residências. Quando aparecem, já estragaram muita coisa por dentro.
Apontamos a Misoginia quando ela surge já banhada de violência, como a mancha na parede que solta o reboco, deixando à mostra, o que há muito acontecia por baixo da aparente tinta. Precisamos pensar na sua etiologia, onde está a fonte de tamanha violência que se torna, por vezes, assassinato.
A violência sexual é a forma mais esmagadora, talvez. Os números dos casos notificados, que são apenas uma parte dos casos existentes, são assombrosos. Um estupro a cada 8 minutos. Contra as Crianças, Meninas e meninos, incluindo os bebês, a estatística é ainda maior. E fica como estatística mesmo. A Lei de alienação parental, termo inventado por um médico pedófilo, venerado em nosso país, garante a invisibilidade dos criminosos intrafamiliares, e a inversão dos vetores. A vítima e sua Mãe é que são punidas. E cada vez mais nos aproximamos da criminalização da Mulher/Mãe que ousa denunciar o “pobre violador”, que é auspiciado pelo Estado no lugar de vítima, ganhando de bônus a Guarda Unilateral da Criança que é violentada por ele.
Muito nos inquieta a insistência desse termo, alienação parental, que aniquila o exercício da Maternidade. Sua eficácia é tão grande que tem arrebatado também situações de mágoas e ressentimentos em pais que não são violentos, mas que têm seguido ass instruções de advogados que consagraram essa lei. Juntam-se a eles, os profissionais de psicologia que emitem laudos sentenciais, sem nenhuma fundamentação nem de bom senso, onde decidem até o regime de Guarda e usam a lei como vingança contra Mães para destilar sua Misoginia.
Do mesmo jeito que existem mulheres que não deveriam nunca se tornar mães, pela incapacidade de empatia e de compartilhamento de seu corpo, existem homens que não deveriam se tornar pais porque não estão habilitados pela responsabilidade e pelo respeito à relação plena entre mãe e filho. Esses homens costumam atacar essa conexão, exibindo um “Poder opressor”, na busca de um acalento para a frustração, profundamente, sentida, na busca de um pequeno prazer embebido de dominação.
Não estamos nos referindo aos elementos que têm desvio de caráter e exibem seu segredo social, a violência física e a violência sexual contra a Criança, o que atinge, diretamente a mãe. O Estupro de Vulnerável é predatório. Também na situação inversa, ou seja, um homem que é um péssimo marido, que espanca a mulher, é um péssimo pai. Quando o homem bate na mãe, ele bate na família toda, em todos os filhos porque dói em cada criança, mesmo que ela não seja tocada. É falta de cognição adequada e é um atestado de misoginia, afirmar que um péssimo marido pode ser um ótimo pai. Falta um bom número de sinapses nesse cérebro.
Mas também encontramos homens que aprendem a exercer a paternidade de maneira saudável, mostrando que é possível respeitar e, até admirar uma Mulher/Mãe, respaldando sua função de maternar a cria deles, sem atrapalhar. Dar uma retaguarda para a Mãe é a pedra fundamental para edificar a boa relação Pai/Filho.
A Paternidade, no entanto, não recebe nenhuma condição da Natureza. Ela é uma construção difícil, que precisa lidar com preconceitos, estereótipos, marcadores sociais que aprisionam o homem em figurações que acumulam obstáculos. Toda a desvalorização do cuidado, atribuído, socialmente há séculos à Mulher, recai sobre o Homem. Sintonizar com um bebê, com sua linguagem corporal confusa, mas expressiva quando bem olhado, é tarefa desestimulada aos homens.
Assim como há Justos na Justiça, há Bons Pais entre os Homens. Continuaremos esse tema no próximo artigo.
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e só por ela. Parte III
O Umbigo, marca dada pela Mulher/Mãe, e só por ela.
Parte III
Uma mãe, sentada, com seu bebê ao colo, sendo amamentado, num espaço rural. Uma cena natural. Não.
Não vimos tudo ainda. Horrores brotam a toda hora. A produção de atrocidade é infinita, mesclada, sempre, com uma "lei" para induzir a sensação de legitimidade. A falsificação está cada vez mais em alta. A verdade foi fragmentada e relativizada. Perdeu a importância. Fala-se muito mais em "lados" do que se reconhece um fato. Fui criada em ambiente em que a palavra de honra era o que valia para meus pais, que nunca nos bateram, apesar da naturalidade desse método, tido como disciplinador à época.
Uma mãe sentada amamentando seu bebê, que começa a chorar e a demonstrar medo, pavor. Ela tenta acalmá-lo, mas ao levantar com ele, é acossada pelos 3 homens e uma mulher, que a cercam. E ouve-se: estou lhe dando a opção de ir por bem ou por mal. Onde estava essa opção de ir por bem? Não se vê.
A mãe vai ficando aflita, e as ameaças continuam: se você vai aloprar a gente vai aloprar também. Ela não tinha nenhuma arma. Já estava tudo armado. Foi espancada, teve o cotovelo fraturado, os dois joelhos atacados, técnica de derrubar bandido perigoso, ataque às articulações que acabam por causar consequência de comprometimento da mobilidade e da defesa. Muita dor. agarrada pelo braço quebrado, foi algemada. Jogada num camburão e jogado o bebê de 3 anos, portador de necessidades especiais. Muita dor. Muitas dores de vários tipos, em vários lugares no corpo e na alma.
A maior das dores que segue desesperando essa Mulher/Mãe é não ter visto mais seu filho. Nenhuma notícia. Ele foi subtraído pelo Estado. Não eram meliantes. Eram agentes.
Não daria para dizer que as lesões constatadas pelo Instituto Médico Legal foram consequência de ato de defesa dos agentes diante da ferocidade de uma mulher com uma Criança no colo, e 4 adultos treinados, sendo três, homens. Se assim fosse teríamos perdido algumas medalhas de ouro em lutas nas Olimpíadas que acontecem.
Além das Olimpíadas que ocupam nossos desejos de "ganhar do outro", com regras claras e respeitosas da dignidade humana, temos um outro ponto a ser destacado. O aniversário de 18 anos da Lei Maria da Penha. Essa é outra Mulher/Mãe que foi muito espancada por anos, na frente de suas três filhas, como aconteceu com essa Criança que viu sua mãe ser espancada por alguém que se auto intitulou aloprado.
É, no mínimo, vergonhoso que no aniversário de 18 anos da Lei que combate a Violência contra a Mulher, sejamos obrigados a assistir cenas tão deploráveis de Violência contra a Mulher, sob os auspícios do Estado. É uma exceção das exceções? Não. Conheço vários episódios quase iguais, e muitas variações dessa Violência Institucional e dessa Violência Vicária. Precisamos falar mais desse tipo.
O Estado será responsabilizado pelo dano irreversível causado a essa Criança? Que desespero desorganizador está sofrendo esse menino, arrancado de sua Mãe, a pessoa que lhe dá sustentação para aguentar o que lhe é tão adverso. É o vínculo afetivo e de sobrevivência para ele.
Para que ter leis tão bonitas se não as cumprimos? Nem nós, sociedade leiga, nem os agentes pagos para mantê-las e imprimi-las? A quem serve este estado de coisas às avessas? Alguém, está no comando desse avesso. Ou, alguéns. Um aloprado não está sozinho para cometer tanta insensatez.
A Lei Maria da Penha aos 18 anos está apenas engatinhando. A Cultura da Violência contra a Mulher é estrutural. Infelizmente, demoraremos décadas para reverter os números coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: uma Mulher é estuprada a cada 6 minutos, em 2023; o Feminicídio bateu recorde no mesmo período; uma Medida Protetiva é concedida a cada 1 minuto, no 1º semestre de 2024; Mas uma Lei não consegue mudar o comportamento do que é auspiciado, impunimente, por autoridades.
Todas essas vítimas de violência deram umbigos a seus filhos. Todas tiveram o tempo da relação mais plena que existe, deixando o umbigo como a marca indelével. O Poder da Maternidade, garantida pelo útero feminino, parece ser insuportável a mentes primitivas.
Se Freud, naquele tempo ainda mais machista, intuiu uma inveja do pênis, precisamos refletir sobre a inveja do útero, com tantas evidências exibidas. Mas negadas. Talvez estejamos diante da necessidade de reformar as invejas. A descrita por Freud é caracterizada por um sentimento de "inferioridade", de falta, como ele apontou. Gostaria de chamar a atenção para a outra inveja. Ela mata. Ela faz dor. Ela massacra. Só para ter um flash de um Poder esmagador que renega o acolhimento, a relação afetiva plena necessária a todos nós.
Não vou me furtar à interpretação psicanalítica mais simples e evidente do agente que acossou a Mulher/Mãe desse vídeo que já foi retirado do ar. Claro. Essa foi uma demonstração explícita do insuportável daquele menino no colo da sua Mãe, recebendo seu alimento, a nutrição e o afeto. Uma dependência absoluta cuidada pela Mãe. Ficou insuportável. E o rompimento daquele elo de afeto foi destruído pela ira da inveja. Uma barbárie.
O Umbigo, a marca dada pela MulherMãe, e só por ela. Parte II
O Umbigo, a marca dada pela MulherMãe, e só por ela.
Parte II
Banal. Invisibilizado. Mas ninguém pode não possuir o seu. No entanto, ele é diferente quando está no corpo de um homem ou no corpo de uma mulher. Nos corpos masculinos eles são invisibilizados por completo. Já nos corpos femininos eles adquirem uma conotação de sensualidade, são um ponto de referência na moda das roupas, para aparecer, ou para ser somente insinuado, ele ganha um charme sexualizado. Uma espécie de atrativo, chegando até a interpretação acusatória de que a mulher está pedindo para ser estuprada quando o deixa à mostra. Será que essa diferença de olhares, diferença de significados para a mesma parte biológica do corpo humano de todos os humanos, umbigo masculino e umbigo feminino, expressam alguma coisa? Por que? Para que?
Homens, mulheres, e todas as legítimas variações destas duas matrizes, são diferentes em seus agrupamentos, e dentro dos próprios grupos. Todos somos únicos. Mas todos vivem, iguais, absolutamente, a experiência umbilical. A relação de vínculo visceral que tem grande chance de se construir no afeto recíproco.
Não estou afirmando amor eterno e celestial. Esse mito desse amor é um cárcere social que obstaculiza a liberdade afetiva. Estou me referindo a afeto. e o amor é um elemento do afeto que deve ser fruto de decisão. O afeto se refere à responsabilidade, ao cuidado, em relação ao ser indefeso, vulnerável, em formação por muitos anos. Uma MulherMãe não deveria se sentir condenada ao amor, assim como um filho também não deve ser condenado ao ao amor a quem detém o título mas não exerce a função de mãe.
Pode parecer estranho falar de amor como uma condenação. Tão bonito e enaltecido ser mãe... Mas precisamos entender que não é mãe é mãe, ou pai é pai, títulos de cartório, que exercem a difícil missão do cuidado responsável afetuoso pela cria vulnerável.
O Umbigo, esse ponto tão significativo no corpo de todos os humanos, não recebeu nenhuma homenagem. Os monumentos desde o Egito antigo exibem a forma fálica que aponta para o céu. Os egípcios diziam que os obeliscos homenageavam o deus do sol, Rá, pedindo proteção a ele. Uma outra interpretação fala que o obelisco traz uma união de masculino , na forma, falo, e feminino na base, que não se vê. Não encontramos representações do feminino nos monumentos ao longo de nossa história. Falos estão por toda parte. Parece que para lembrar o Poder masculino, dizem, que contra os inimigos, os invasores. Mas o falo é um invasor por excelência. Mulheres se tornaram Arte, sim. Mas, não raro, em expressões de profundo sofrimento. La Pietá é emblemática.
Não nos furtaremos de fazer uma interpretação psicanalítica, afinal, é minha profissão, sobre esses falos espalhados em muitos, muitos lugares. Parece-me que eles imprimem, subliminarmente, uma sensação de opressão sexual sobre as Mulheres. Uma imagem de possível violência, uma intimidação velada.
Queremos analisar um pouco a motivação da sistemático alvejamento da Mulher, e, principalmente, da MulherMãe. Pensar sobre essa necessidade de um grande número de homens de desvalorizar a MulherMãe, o caminho escalonado do Feminicídio. Por que matar a Mãe? O que o Umbigo tem a ver com o Feminicídio?
O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e, só por ela. Parte I
O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e, só por ela.
Parte I
O Umbigo. Impressão concreta e incontestável da Humanidade. Sem nenhuma função depois que cicatriza. Sem nenhuma importância após a gestação daquela Mulher que começa a ser mãe através do cordão umbilical do filho. Não o conhece, nunca o viu, mas empresta, compulsoriamente, vida para ele.
É a Mulher que marca todos os corpos. Absolutamente, todos, mulheres, homens e todas as variações possíveis. Mesmo em se considerando que esse processo de construção de uma nova pessoa veio de uma conjunção homem-mulher, este é o sinal universal, e único, de que uma Mulher sustentou cada um de nós, para nos dar à luz. Interessante essa expressão: dar à luz. Saímos de um escuro, de uma subtração quase total de som e luz, que dura o tempo, pelo menos mínimo, para que possamos, com muito esforço, responder às luzes do mundo, que são muitas para um ser ainda tão precário, imerso em muitas incompletudes.
A dependência absoluta é um fato. A única comunicação para a sobrevivência durante esse primeiro tempo de crescimento intrauterino, era a nutrição ininterrupta pelo cordão. As demais condições que proporcionavam uma segurança eram mantidas estáveis ou, quando se alteravam, os processos adaptativos iam se desdobrando. Os demais estímulos, advindos das condições da gestante, medo, alteração de pressão arterial, falta de nutrição suficiente, também acionavam esses processos adaptativos. O medo sentido pela gestante é um patrocinador de instabilidades diversas do ser em formação.
Esta é a primeira relação afetiva com o outro que temos. E é assentada na sobrevivência, na vida ou na morte. Relação de conexão direta, anterior à linguagem porque tem uma linguagem intrínseca. Uma linguagem orgânica que só é compreendida pela dupla, de maneira não consciente, mas que concretiza as necessidades de cada momento.
A intimidade entre essas duas pessoas é de grau máximo. Não existirá na vida nem de uma, nem da outra, uma experiência de proximidade similar. E menos ainda, uma proximidade maior com outra situação relacional. Dialogar sem falar, disponibilizar as melhores energias corporais para trocar com o ser em formação que retribuirá em progressos adquiridos.
No entanto, mesmo que a Ciência traga imagens, medidas precisas feitas através do ventre da Mulher, essas coisas inexplicáveis, diria, que beiram mistérios, não são alcançados. É, essencialmente, uma experiência secreta. Para a gestante, que se volta para dentro de sua barriga, o mundo perde um pouco a luminosidade, o interesse. Ficar alisando a barriga é bem melhor. Para o ser em formação é uma vivência que se perde em seu inconsciente corporal, seus registros são irrecuperáveis, porque não há sinapses em funcionamento que proporcionem um mínimo armazenamento resgatável. Arrisco dizer, entretanto, que devem estar lá.
Por que deformamos esta que é a experiência prima por excelência de comunhão para designar o egoísmo? Essa é uma experiência, totalmente, a dois. Denominamos pessoas extremamente egoístas como aquelas que “só olham para o próprio umbigo”. Quando, na verdade, estamos nos referindo a uma experiência de comunhão extensa entre duas pessoas. O Umbigo é o começo e a sedimentação do dois, não do um. Olhar para o próprio umbigo é se remeter a essa experiência de diálogo direto, silencioso, mas contínuo e profundo.
Entendo que esse desvio de rota está apoiado no que falaremos na próxima semana, na raiva, na inveja, no sentimento de exclusão daquela dupla, por ser esse um ponto inalcançável às pessoas não mulheres, a particularidade única que antecede a vivência da maternidade. Caracterizar essa grandeza da Natureza como uma coisa desvalorizante, um ponto negativo, desqualificante, o egoísmo, aponta para o negacionismo da experiência única, e universal construída pelo cordão umbilical. Ele é a ligação, a mais forte e resistente, que permite dar à luz um novo Ser.
Sabemos que nem sempre é suportável, principalmente, para alguns, tomarmos consciência dessa união única. E apenas admirarmos. Também tivemos. Ao olharmos para nosso próprio Umbigo deveríamos nos encher de bem estar pelo período em que ele tinha a função de nos manter vivos, deveríamos tentar imaginar a comunhão vivida de sermos dois, permitida pela capacidade de doação de uma Mulher.
quarta-feira, 24 de julho de 2024
A Madrasta repaginada Parte II
A Madrasta repaginada.
Parte II
Nesse emaranhado de emoções e sentimentos em curso, um ponto muito importante também passa negado. a competitividade entre as mulheres. Do olhar aos gestos, passando pelas palavras ácidas, as mulheres têm muita dificuldade de sentir empatia pela outra. A sororidade fica nas campanhas. É preciso que sejam multiplicadas à exaustão.
Essa desunião/competição feminina não é originária das mulheres. ela é estrutural, um tentáculo do machismo. Enquanto os homens se defendem até quando não se conhecem, as mulheres se arranham tanto mais quanto mais se conhecem. Enquanto eles se unem se protegendo uns aos outros, elas se dividem se expondo umas às outras. Se você quer enfraquecer um grupo, promova sua fragmentação. É uma estratégia dos que mantêm o Poder. E aqui, não seria diferente. Sabemos que não haveria opressor se não houvessem oprimidos que se juntam a ele.
A Psicanálise, Anna Freud, explica bem essa atitude com o entendimento do Mecanismo de Defesa do Ego, chamado "identificação com o agressor". Depois, o estudo sobre a Síndrome de Estocolmo veio desvendar aquela mudança de atitude daquele que é torturado e que passa para o lado do seu torturador, aliando-se a ele. Por vezes, relações pseudo-amorosas surgem para embalar essa ilusão do Poder desfeito pela aliança que apareceu.
No âmbito doméstico, parece-me que a configuração instalada é a hostilidade velada ou explícita, ou em graduações entre esses dois pontos, onde o homem, ex de uma e atual da outra, fomenta essa encrenca porque isso o mantem numa posição privilegiada, patrocinada pelas duas mulheres. Posição muito confortável, aliás. Administra, de tempos em tempos, uma violência vicária, nomeando uma ou outra na "procuração" para executá-la.
No entanto, não devemos esquecer que a madrasta repaginada tem ainda uma reserva para atingir a mãe, quando ela a sente inalcançável. A Criança. Se alguém quer atingir uma mulher/mãe, use sua cria como veículo de agressividade.
Assim, tomamos conhecimento dos muitos, muitos episódios de violência praticados pela madrasta repaginada. Elas cometem todo tipo de violência, da física à psicológica, passando até pela sexual para agradar o genitor que tem taras com a criança. A misoginia entre as mulheres é extensa e, aparentemente, incompreensível. Mas, é incontestável o número enorme de Mulheres em Postos Públicos, atacando outras mulheres através de preconceitos, de falsas afirmações.
Precisamos lançar luz sobre o machismo das mulheres. É estrutural, e de difícil acesso. Estamos, apenas, iniciando uma reorganização humanitária onde homens, mulheres, e outros, todos, terão garantias de Direitos. Ainda um desejo incipiente diante de tanto fundamentalismo secular. O machismo é um gerador de ilusões de Poder, baseado no controle e opressão do outro mais vulnerável. Ele está em todos os segmentos de todos os grupos humanos. E Crianças, as mulheres, os lgbtqia+, os idosos, os indígenas, os pobres/pretos/periféricos, enfim, todos os desamparados são atrativos para essa ilusão de Poder esmagador. As Milícias Psicológicas são exímias lobistas de distorções que confundem muitas.
Esse desejo de Poder é almejado pelos mais fracos, pelos medrosos. Encontramos muitas mulheres/madrastas que se identificam com essa posição machista e exercem, assim, a violência contra a Criança. Escondem-se atrás da falácia da disciplina e batem nas Crianças, intimidando-as para que não relatem para a mãe.
A Madrasta repaginada precisa honrar o privilégio de uma substituição afetiva, da responsabilidade de acolher uma Criança que sofre aquela separação, ou está com a mãe ou está com o pai custa caro para ela. É leviano achar e publicitar que ter duas casas é melhor para a criança. Basta se imaginar mudando de casa sem parar que vamos ter uma leve percepção do transtorno que é se tornar mochileiro na infância. Ter duas casas é não ter nenhuma.
Precisamos de muitas boadrastas! Precisamos pensar a Mulher em sua essência, e não como chocadeira de um dono que se vale dessa posição social e submete mais uma mulher, a madrasta, a seus caprichos predadores.
PS. Não estamos generalizando. Como existem justos na Justiça, também há Homens feministas, e Mulheres que honram sua função na vida.
quinta-feira, 18 de julho de 2024
A Madrasta repaginada Parte I
A Madrasta repaginada
Parte I
Há muito venho querendo me debruçar sobre esta figura espaçosa das formações familiares atuais. Mais uma vez afirmo que não estou generalizando, como não generalizo sobre o perfil dos pais, muitos superam a questão genética e se tornam pais, exercendo muito bem sua função de responsabilidade afetiva. Também as madrastas que observaremos aqui, não são unanimidade. Existem ótimas madrastas, diria, ótimas boadrastas.
Comecemos por contextualizar. Longe das figuras antigas, a madrasta atual não vem para preencher um lugar que ficou vazio em definitivo, não há viuvez, não há orfandade. Portanto, a Madrasta atual vem em duplicidade com a figura materna que continua, e agora é condenada à guarda compartilhada, ou seja, a relação entre o pai e a mãe é exigida judicialmente, que prossiga com toda a proximidade. Em nome da “parentalidade permanente”, imagina-se, imagina-se, que a conjugalidade foi extinta por completo.
A madrasta, que está chegando num grupo já formado e com um histórico de vivências conjuntas, precisa garantir seu espaço. A competição é dobrada, a ex e a criança, ou as crianças, que ocupam muito espaço e muito tempo do seu novo amor. Diria mesmo, que guardadas as devidas proporções, a situação triangular e quadrangular se aproxima da posição de amante. É de difícil administração.
Não podemos pensar que são todos muito bem psicanalizados, amadurecidos, ou tratados com comprimidinhos que acalmam. Evidentemente, que as emoções e os sentimentos acontecem e se pronunciam, de uma maneira ou de outra, ou dirigidos à criança, ou à mãe, ou à madrasta, ou, até, ao varão. E vice-versa. Mas, não podemos esquecer que as emoções já estão judicializadas. Então, a espontaneidade já foi. O “bom comportamento” é o argumento almejado. Todos temem todos. Mas as emoções, as raivas, as críticas desqualificantes continuam.
De onde surgiu a idealização de que a parentalidade supera frustrações afetivas e construções de novas relações de conjugalidade, não conseguimos localizar. Uma harmonia utópica. Se fosse possível, o casal não teria se separado. Também não sabemos de onde surgiu a falsa afirmação que ter duas casas é melhor para a criança. Sabemos que é difícil mesmo manter essa presença dos dois pais no dia a dia da criança. Por objetivo, ela passa a ter convivência com um na ausência do outro. A menos que seja exigido um novo regime de relação conjugal a três ou a quatro, o que me parece ser bem mais complicado ainda.
Por outro lado, precisamos também lançar um olhar observatório sobre essa repaginação da madrasta. Saída dos Contos de Fada, por viuvez e orfandade, a madrasta carregava a característica, quase sempre, da maldade, da perversidade em relação a sua enteada, a seus enteados. Como no Conto da Branca de Neve, por exemplo, a madrasta entrava em competição pela beleza e pela juventude, para não permitir que o amado dividisse o olhar de admiração e afeto com a filha.
Talvez pudéssemos pensar que essa competição, atualmente, se concentra na representação que a criança imprime enquanto uma presença da mãe. Uma competidora fantasmada mas, concretizada na criança. O que promove dificuldades na construção de sua relação afetiva saudável direta com a criança.
Por outro lado, exige-se da criança que ela se relacione bem e de imediato com a nova “tia”. Aliás, uma denominação errada, que deveria ser evitada. Não raro, encontramos uma pressão sobre a criança para que chame a madrasta de “mãe”, o que é pior ainda. Esta é uma prática incentivada pela madrasta que tem determinado perfil, que chega se apossando de um pacote pronto. Não gestou, não amamentou, não ficou acordada noites e noites, e “recebe” um filho, uma filha pronta, já desfraldada, até. Essas são madrastas que, por vezes, fazem pacto de acobertamento de comportamentos abusivos, negligentes, inadequados, dos pais em troca dessa subtração do filho ou filha da outra mulher.
A madrasta tem uma posição espinhosa, é verdade. Mas a madrasta dos Contos de Fada tem sido vista em maquiagem nova, mas com a mesma veia de maldade. Quando vê a criança como um empecilho para sua relação amorosa, hostiliza, agride, maltrata o pequeno. Quando tem ambição de pular etapas para alcançar uma maternidade sem dores, ela se apodera da criança, e muitas vezes manipula o marido/namorado para afastar e desqualificar a mãe. O curioso é que também patrocinada pelas Milícias Psicológicas, a madrasta ganhou nos processos de Família um status igual ao da mãe.
A Criança precisa de boadrasta, alguém que seja maternal mas não queira ser sua mãe. Que seja acolhedora nesse momento tão sofrido da separação. Precisamos também nos convencer que um regime de guarda compartilhada não apaga as dores, divisões e frustrações da separação dos pais. Não adianta dividir a vida da Criança em duas.
As Milícias Psicológicas contra a Criança e a Mulher. Parte III
As Milícias Psicológicas contra a Criança e a Mulher
Parte III
As Milícias Psicológicas, como todas as Milícias, são compostas por elementos que se arvoram donos da lei, usam a opressão como arma, opressão que, nesse caso em pauta, se faz por palavras. As intimidações, no âmbito fora do doméstico, as ameaças e as penalidades são comunicadas em laudos, em manifestações escritas, em sentenças. Misturando fragmentos de termos técnicos com um enxerto de interpretações rasas e infundadas, está pronto o argumento maldoso que passa a ser a “regra dogmática”. As palavras se tornam armas e os pedaços distorcidos de termos técnicos são fuzis automáticos com silenciador. Aniquilam Mulheres e Crianças.
Se conseguimos ter uma Lei de Proteção para a Criança vítima de violência sexual, o negacionismo ganha espaço e a desqualifica. Afinal, a Criança é vista pelas pessoas que deveriam averiguar essa suspeita de violência, como um fantoche da mãe, um papagaio que repete o que a mãe manda dizer, uma marionete de ventrículo. Encontramos até quem se pronuncia postando que “não devemos levar a criança tão a sério”, referindo-se aos relatos das Crianças. Não foi um ambulante de calçada que pronunciou essa frase, com todo respeito aos que precisam se virar assim para poder se alimentar. São ataques letais à Dignidade da Criança. Sim, ela tem Dignidade. Mas tem sido aviltada por esse modus operandi miliciano.
A “avaliação psicossocial”, algumas vezes estendida para “avaliação biopsicossocial”, onde não se acha nada de biológico ou médico, porque até os Exames de Corpo de Delito feitos em Instituições Públicas, quando o médico legista indica que houve conjunção carnal adversa, uma psicóloga judicial esvazia e diz que ele foi precipitado pois precisaria ter visto várias vezes para completar assim o Formulário que é Padrão do Instituto Médico Legal. E este “argumento raso”, inadequado, invasivo na área de sua não competência, é aceito e o Exame de Corpo de Delito com positividade para violência sexual, é desprezado no processo. A extensão das Milícias Psicológicas é de sua própria determinação. Assim continuam a ser realizadas essas “avaliações psicossociais” por meses a fio, com acareação, em total revitimização.
A questão é que a Lei da Escuta Especial, Lei 13.431/2017, fundamentada em nova Metodologia, estudada e pesquisada pela Childhood Brasil por 4 anos, partiu desse mesmo ponto: a Revitimização que precisa ser evitada. Assim, a Metodologia, que muda o paradigma de investigação para acolhimento, escuta, tem no registro audiovisual a garantia do respeito à dor da Criança que sofre violência sexual, principalmente, quando ela é intrafamiliar. Continuar praticando a avaliação psicossocial é a desobediência à Lei 13.431/2017, que tem no seu enunciado que fica determinado que toda Criança só pode ser escutada dentro da Metodologia dessa Lei. Evidentemente, que acareação, nem pensar.
Para camuflar, camaleão é exímio dissimulador, espalhou-se que a Escuta Especial está sendo praticada. Uma mistura nociva que traz de volta a sala de espelhos, traiçoeira atitude técnica que engana a Criança, dando aos agentes da justiça, aos advogados da parte do genitor/agressor, e o próprio genitor/agressor a “direção” do que se torna, disfarçadamente, a inquirição retrógrada e massacrante. Essa é uma mistura que tem por objetivo a deformação da Escuta acolhedora da criança. Deforma, completamente, a postura técnica ao introduzir perguntas de pessoas que estão, misteriosamente, atrás de uma parede de espelho, quebrando, assim, a segurança e o acolhimento da Criança traumatizada pela violência incestuosa.
Essa é a lógica miliciana: não precisa revogar a Lei da Escuta, respeitosa. Basta manipulá-la, deformá-la, promovendo uma confusão de ideias misturadas ao bel prazer, destruindo assim seu objetivo protetor. Essa é uma confusão, Escuta Especial e Depoimento Sem Dano, muito garantido para a manutenção da impunidade.
Outro resultado exitoso das Milícias Psicológicas é o que se refere à crença de que o genitor é essencial ao desenvolvimento da Criança. Num país em que há milhões que não têm nem o nome no papel da Certidão de Nascimento, porque eles não assumiram a paternidade desde a primeira notícia da gravidez, e que nenhuma Vara de Família vai atrás para chamar à responsabilidade, lançar essa crença é paradoxal. Claro que o pai, digo o pai, exercendo sua função de pai, é muito importante porquanto promotor de desenvolvimento saudável. Mas genitor que reclama somente depois que é suspeito de cometer agressão contra a Criança, muitas vezes com evidências de inadequações , de negligência a doenças de dependências químicas, não pode ser considerado pai. No entanto, temos sentenças determinando Guarda Compartilhada a partir do nascimento do bebê. Sim. Todas as manhãs com o genitor, desde o 1º dia de vida. Sabemos que surgem várias perguntas sobre como viabilizar a vida de um recém nascido, partindo a rotina dele no meio do dia. Quem nunca teve o privilégio de acompanhar um filho, talvez imagine que existe um dia, um horário, uma organização cronológica nos primeiros dias, primeiras semanas, e até primeiros meses de uma Criança.
Também a outra crença, extensão da anterior, que determina que a visitação assistida não faz mal para a Criança que foi estuprada ou espancada. Há uma certa desconfiança sobre a veracidade dos relatos da Criança, do registro da Escuta Especial, quando a sorte bate à porta e ela acontece, mas aquela crença sobre o “direito do pai”, amparado na frase equivocada de que “pai é pai”, induzem ao erro de praticar uma revitimização continuada, muito maléfica e predadora. A Criança fica sendo obrigada a se aproximar daquele que lhe mete medo. Existem agentes de justiça que acreditam, tem sempre uma linha de credo, que ela vai se acostumando e que não tem perigo porque ela está acompanhada então não vai ser estuprada. Deletam da mente que apenas a visão de seu estuprador reativa toda a cena sexual repetida por inúmeras vezes. Ou alguém tem a ilusão que o tratamento para quem tem medo de barata é trancar a pessoa num quartinho com dezenas de baratas para ela se acostumar?
Milícias Psicológicas são compostas por pessoas sem escrúpulos, sem caráter, e plenas de perversão. A marca d’água dessas milícias está em todas essas e outras maldades intencionais. Precisamos identificá-la para promover a boa Proteção Integral da Criança, hoje desacreditada, desqualificada, oprimida, atacada em sua Dignidade pelas Milícias Psicológicas.
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